VIII - Frederico Bertolini
Frederico bertolini
— Você viu para onde a bruxa foi? — mais um dos caras do time de futebol me perguntou no intervalo de dois minutos que o anterior havia tentado.
— Não, não faço ideia — eu dei de ombros e eles voltaram a sua busca pela procurada Pandora Duncan.
Essa garota estaria encrencada quando eles a encontrassem. Como nunca fui um grande amigo de Daniel, não me senti no dever de ajudá-los na busca, na verdade eu achei bem merecido o que ele levou, mesmo que eu mereça o mesmo.
Eu bem sabia o paradeiro de Pandora, contudo manteria aquela informação apenas para mim mesmo, pois ela não estava em condições de enfrentar o time de futebol inteiro.
Para ser mais exato, ela ainda estava desmaiada.
Sorte dela que eu estava ali para segurá-la e escondê-la dentro do meu carro. Azar, pois eu acabei, acidentalmente, queimando-a com o meu cigarro no momento em que fui segurá-la.
Eu sabia que meu charme era fatal, mas não esperava que as garotas desmaiassem de fato, principalmente uma garota como ela.
Senti uma mão gelada contra a minha e eu olhei para baixo, Pandora Duncan estava acordando com o olhar mais dissimulado e oblíquo — Machado que me perdoe — que uma mulher poderia oferecer a uma alma inocente como a minha.
— O que...? — ela começou a perguntar, porém eu vi alguns amigos de Daniel se aproximando, então abri a porta do carro e me joguei em cima dela, assustando-a — o que...?
Novamente eu a interrompi, fingindo um beijo ardente sem realmente beijá-la, apenas para o time de futebol pensar que eu estava ocupado demais para ser interrompido.
Eles passaram rindo e comentando sobre a cena, mas não ficaram por perto.
Com esta iluminação, neste ângulo, nesta posição, eu conseguia entender o motivo para Pandora Duncan ser o estereótipo de beleza da faculdade, pois, ao mesmo tempo em que ela demonstrava ser forte, seus olhos clamavam fraqueza — mesmo que eu jamais entendesse de onde essa fraqueza viesse.
Eu me afastei dela antes que ela percebesse o que havia acabado de acontecer.
— Quer carona para casa? — eu ofereci, novamente, me dirigindo para o banco do motorista.
Ela limpou sua garganta e olhou para fora do carro, saiu dele e sentou-se no banco de carona, ao meu lado.
O que estava pensando?
Ela respirou fundo e juntou as pernas contra o corpo, estremecendo de frio, puxou seus cabelos para o lado e eu avistei uma tatuagem que nunca tinha percebido antes além do seu infinito no pulso.
Eu retirei meu casaco para entregar a ela, porém antes que eu pudesse colocá-lo sobre seus ombros, ela se esquivou e me olhou com desconfiança, como se eu fosse um louco psicopata. Como se ela não me conhecesse.
— Pelo amor de Deus, Pandora, não vou machucá-la — coloquei o casaco sobre seus ombros e ela o apertou contra seu corpo — vou levá-la para casa, tudo bem?
Ela assentiu, levemente, deixando um pouco de silêncio preencher as notas musicais que faltavam em meu carro.
— Você lembra onde eu moro? — ela indagou com um pouco surpresa.
— Difícil não lembrar — dei um sorriso torto e ela assentiu, sem sorrir de volta.
O que era difícil mesmo era difícil de lidar com ela, ainda mais hoje.
Ela ficou calada. Eu liguei o carro. Ela continuou em silêncio. Eu coloquei uma música. Ela olhou para fora. Eu fiz a curva. Ela suspirou. Eu batuquei com meus dedos no volante. Ela me olhou. Eu fingi que não vi. Ela continuou a me encarar. Eu espirei de soslaio.
— O que foi? — perguntei ao desligar a música.
Aquilo não tinha sinfonia, apenas barulho.
— Obrigada — ela comentou já sem me olhar.
Eu absorvi as palavras dela.
Pandora Duncan estava me agradecendo.
— Um dia eu cobrarei o favor — comentei como se fosse algo normal e ela ficou tensa — o que foi?
— Bruxas não fazem favores — ela constatou com obviedade.
— Então digamos que estamos quites — eu virei a terceira rua. Estávamos próximos da casa dela.
— Quites pelo que?
— Olhe o seu ombro amanhã.
Ela não se aguentou e abaixou o casaco enxergando a queimadura do meu cigarro.
— O que você fez? — questionou-me em horror.
— Eu estava fumando e você caiu.
— Por isso você me queimou?
— Foi um acidente!
— Você me queimou!
— Não vai nem ficar a cicatriz... faz uma bruxaria e pronto, não precisa ficar toda brava por isso.
Ela ficou calada e recolocou o casaco. Acho que eu havia tocado em um assunto delicado.
Eu parei o carro e ela não se moveu, acho que não havia percebido que havíamos chegado a sua casa.
Limpei minha garganta e ela ainda não havia se movido, então eu cutuquei seu braço e percebi que seus olhos estavam encarando o vidro da janela com tanta intensidade que ele poderia se partir a qualquer instante.
Ela soltou o ar de dentro de seus pulmões com fragilidade e eu percebi o que a havia aterrorizado:
De dentro dela não estava saindo ar, estava saindo uma fumaça que congelou o vidro, criando uma fina camada de gelo a sua frente.
Seus dedos deslizaram pelo local como se ela estivesse alucinando.
— O que está acontecendo? — ela se perguntou em voz alta e eu contive o meu impulso de retrucar.
Como eu poderia saber?
— Chegamos — eu murmurei com calma perto dela, acordando-a do seu transe.
Seu olhar era desesperado e desesperançoso, contudo eu soube que não era para mim que ela o estava dirigindo, era para ela mesma.
— Eu tenho que ir — ela abriu a porta do meu carro com força e saiu correndo para dentro de sua “mansão” sem se preocupar que logo o sol iria raiar e era um dia letivo.
Ela ficou com minha jaqueta, não poderia fazê-la se esquecer de me entregar, eu gostava dela. Da jaqueta.
Olhei em direção do banco em que ela estava sentada e fiquei frustrado.
Ela tinha mesmo que congelar a trava da minha porta?
A/N:
MAIS UM CAPÍTULO
UHUUUL!
como se já não fosse óbvio que o casal da história é a Pan e o Fred <3 Fran <3 hihi
aqui é só um gostinho do que vem por aí
espero que gosteem, votem e comentem
beeijos
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