VII - Pandora Duncan
Pandora Duncan
Nicole estava se apoiando em mim enquanto eu tentava abrir caminho para levá-la até o banheiro.
A garota bebeu demais depois que descobriu que o rostinho bonito que havia visto anteriormente tinha uma namorada grávida. E, como sou uma boa amiga, eu a acompanhei em cada copo, talvez um pouco mais, pois quando eu estava dançando, muitos garotos se aproximaram e eu acabei pegando os copos deles.
Muitas pessoas eram apenas borrões em minha visão, eu sabia que estava confundindo rostos e não reconheceria metade dos colegas que eu deveria reconhecer, porém eu apenas ignorei este fato, pois Nicole precisava mais de mim.
— Saiam da frente! — eu berrei para um grupo de garotos que estava conversando com três calouras ingênuas e inocentes.
Eles me olharam de soslaio, porém quando me reconheceram logo deram passagem e eu a arrastei para perto da porta do banheiro, batendo nela com tanta força que eu acredito ter machucado minha mão.
Eu só odiava ver Nicole naquele estado, mesmo que fosse uma das faces que eu melhor conhecia dela.
— Abra a porta! — eu gritei sentindo que ela não estava mais aguentando e meu vestido seria o seu alvo.
A porta se abriu e um casal saiu de lá as pressas — com tanta pressa que ele esqueceu de fechar o zíper de sua calça e ela não havia conseguido arrumar seus cabelos.
Humanos!
Entrei e quase arremessei Nicole contra o vaso sanitário quando ela começou a ameaçar vomitar. Segurei seus cabelos e a fiz ajoelhar no chão.
Olhei para o lado e do grupo de garotos de antes um deles ainda estava parado contra o batente da porta.
— O que?! — eu estourei com ele enquanto tentava ignorar o aroma desagradável que minha amiga expelia no vaso — nunca viu uma garota vomitar?
Ele sorriu e riu. Eu revirei meus olhos para ele.
— Cara, não brinca de provocar... ela pode morder — o amigo dele, um pouco mais, ou menos, sensato do que o idiota número um, falou segurando a porta.
Eu só não retruquei com toda a minha doçura, pois aquele era Frederico, e com ele eu não tinha a necessidade de mostrar que eu era intocável, pois ele já sabia disso.
— Pan... — Nicole me chamou com a voz rouca enquanto cuspia seu vômito da boca — eu... eu...
— Eu sei — comentei afagando os cabelos dela — está tudo bem, você pode dormir em casa hoje.
— Não... eu preciso...
— Não discute, Nic, você sabe que vai aceitar no final — eu sorri e ela continuou a cuspir.
— Obrigada.
Eu a ajudei a levantar e percebi que os garotos haviam fechado a porta do banheiro por mim.
Obrigada.
Eu a ajudei a parecer mais apresentável e abri a porta.
Ela abaixou a cabeça e a colocou contra as minhas costas — por ser mais baixa que eu sem seus saltos — e eu a guiei pela multidão.
— Pandora! — olhei para trás e lá estava Daniel, com a sua camisa aberta e uma garrafa de bebida em mãos.
Mais um bêbado para eu cuidar?
Eu só queria me divertir!
Ele veio aos tropeços na minha direção e me abraçou enquanto eu ainda tentava levar Nicole para fora daquela casa.
— Eu preciso ir, a Nicole vai dormir em casa e... — ele me interrompeu com um beijo — eu estou... — mais um — Daniel...
Ele passou seus lábios pelo meu pescoço e eu inclinei minha cabeça para trás, apenas para aproveitar o momento, então senti a cabeça de Nicole batendo contra a minha.
Eu o empurrei.
— Eu realmente preciso ir — comentei apontando para ela.
— O Gabriel pode levá-la — ele comentou e gritou o nome do amigo.
Pouco depois os dois garotos do banheiro apareceram cumprimentando Daniel com apenas um aceno de cabeça.
Oh não... Frederico e Daniel juntos? Isso não acabaria bem.
— Pode levar a Nicole para a casa da Pandora? — Daniel perguntou já me puxando para ficar ao seu lado.
— Eu não vou deixar minha amiga com esse cara! — eu intervim na situação.
— Por que não? — Gabriel tentou se defender.
— Olha o estado dela — eu apontei e ela se encolheu.
— Ei! Eu sou uma pessoa confiável.
— Mas nem em...
— Pan, está tudo bem — Nicole disse suavemente atrás de mim — acho melhor eu ir, mas você fica. Aproveite a festa.
— Não vou sem você!
— Vai sim! Só me dá a chave — ela abriu minha bolsa e pegou o que queria — quando eu chegar na sua casa eu mando uma mensagem.
— Mas Nic...
— Pode deixar, eu sei entrar sem fazer barulho para seus pais não perceberem — ela piscou, mas eu percebi que estava apenas tentando compensar o tempo que eu perco cuidando dela.
— Meu pai está viajando — eu comentei inutilmente.
— Melhor ainda.
Ela pegou a mão de Gabriel.
— Você vai me levar para casa dela e se tentar alguma coisa, saiba que eu tive aulas de defesa pessoal com a Pan — ela o alertou. Ele riu — e o meu pai sabe Krav Maga.
Ele engoliu a seco e os dois saíram.
— Pandora Duncan, e eu pensei que você conseguisse resolver todos os seus problemas com mágica — Frederico me provocou com seu sorriso sarcástico.
Eu revirei meus olhos e ele riu.
— Esquece o babaca — Daniel começou a me puxar.
Eu não sabia para onde estávamos indo, porém eu tinha certeza de duas coisas: Daniel estava bêbado e Daniel me queria.
Isso com certeza não acabaria bem, porém o meu bom senso havia se afogado em José Cuervo.
~*~
Ele estava sobre o meu corpo, em cima de uma cama, dentro de um quarto, com a porta trancada, naquela mesma festa de antes.
Suas mãos tentavam deslizar por lugares que eu não queria, então eu o parava, porém eu acho que ele não estava entendendo essas indiretas como deveria.
Eu estava bêbada, mas isso não significava muita coisa.
— Daniel, não! — eu tentei me separar dele.
— Faça com que eu pare! Faz uma mágica — ele segurou minhas mãos sobre a minha cabeça e seus lábios deslizavam pelo meu pescoço.
Antes essa era uma sensação acolhedora, porém, agora, eu só sentia medo do próximo passo dele.
— Daniel... — eu comecei a me remexer em seus braços a fim de me libertar, porém foi quase impossível.
Meu peito estava se contraindo pelo pânico que me subia. Eu gostava de Daniel, mas eu não confiava nele.
As mãos dele trabalharam com agilidade e subiram o meu vestido, fazendo-o se aproveitar do momento para sentir minhas coxas.
Seus lábios deslizaram do meu pescoço até o meu colo, com beijos ousados e sem pudores.
— Daniel, por favor — eu pedi com a minha melhor voz, porém eu sabia que ele não iria parar.
Não importava o que eu falasse, ele não iria parar.
— Relaxa, você vai gostar — ele comentou absorto nos beijos.
Senti sua língua contra a minha pele e eu continuei a me revirar ali, tentando, de alguma maneira, ser mais forte ou mais resistente do que ele. Sem sucesso.
— Me solta! — eu berrei.
Um calafrio percorreu meu corpo, desde as pontas do pé até o último fio de cabelo e tentei respirar fundo. Era como se o peso dele tivesse triplicado em cima de mim e eu estivesse sufocando. Era como se eu jamais fosse enxergar o amanhã — e verdade seja dita, minha visão estava começando a escurecer.
Será que eu estava tendo um ataque de pânico? Bem agora? Por favor, não!
Sua mão esbarrou na região entre as minhas pernas e eu me contraí, tentando fugir do toque nada acidental.
— Para com isso!
Ele riu e seus dedos voltaram a tentar fazer o que estavam fazendo, mesmo sabendo que eu não queria.
Eu não queria perder minha virgindade desta maneira!
Não queria!
Eu estava apavorada com aquela situação. Com medo do que aconteceria logo em seguida.
Batidas na porta começaram a ecoar pelo quarto enquanto vários garotos berravam babuinidades do lado de fora. Babuinidades sobre mim. Como eles...?
Ele não podia fazer isso comigo!
Novamente o arrepio percorreu meu corpo, porém, desta vez, ele não se esvaiu, ele ficou comigo, dentro de mim, como um tigre esperando para atacar sua presa, mas eu não entendia o que estava acontecendo.
Senti minhas mãos ardendo e, por um segundo, pensei que eu havia escapado das mãos de Daniel e havia deferido um belo tapa em seu rosto, porém não era verdade, pois ele ainda tinha posse de minhas mãos.
De repente, Daniel me soltou como se eu estivesse em chamas e saiu rolando pelo quarto, olhando para suas mãos.
Eu me levantei as pressas e arrumei meu vestido para sair daquele lugar.
— Pandora... — ele tentou me chamar, porém eu apenas abri a porta e vi todos os seus amigos do lado de fora com sorrisos conspiratórios no rosto.
— Olha só... eu quero ser o próximo, tudo bem? — um deles passou a mão no meu cabelo, eu apenas o empurrei e ele se esquivou, assim como Daniel o fez, como se eu o tivesse queimado.
— Pandora! — Daniel estava na porta com as mãos vermelhas.
Olhei para meu pulso e percebi que ele estava da mesma cor, porém eu não sentia a mesma dor que ele.
— Não fale comigo — eu o alertei, tentando me afastar de todos ao mesmo tempo.
— Amor...
— Não. Fala. Comigo! — as luzes da casa começaram a falhar e as lâmpadas explodiram, uma a uma.
O que? Mas...
Minha mágica.
Eu... eu era uma Duncan no final das contas.
Eu não sabia se isso me deixava alegre ou triste. Alegre por ser uma Duncan. Triste pela situação em que eu estava ao descobrir tal informação.
Eu desci correndo as escadas e saí da casa.
Eu iria embora... olhei ao meu redor, porém eu havia deixado meus sapatos e jaqueta no quarto em que estava com... com ele.
Não voltaria para buscar.
As pessoas estavam começando a comentar sobre o que aconteceu e eu ouvi o grupo de garotos amigos de Daniel falando sobre o que fariam quando encontrassem a... a bruxa.
Digamos que seus planos não eram muito animadores.
— Você se perdeu ou só está tentando se esconder? — alguém perguntou do meu lado.
Era Frederico e ele estava com um cigarro na boca — não sabia que ele fumava.
Eu olhei para o chão, recuperando-me do que tinha acabado de acontecer.
Olhei para minhas mãos e a encostei contra as ervas daninhas que subiam pela parede da casa. Fechei meus olhos na esperança que fosse funcionar. Quando eu os abri, elas estavam do mesmo jeito que antes, contudo as flores embaixo de meus pés pareciam mais... mortas.
Não era essa a minha intenção, mas isso deveria significar algo.
Agora eu tinha que perguntar para minha mãe o que estava acontecendo e pedir para ela me ensinar a controlar essa magia antes que a mesma me controlasse.
Eu estava com medo de mim mesma, pois parecia que eu era apenas... uma máquina de destruição.
— Eu só estou dizendo que se você estiver tentando se esconder, aqui não é um dos melhores lugares para tentar — ele mostrou a ampla visão da varanda da casa até a porta e eu sorri.
— Eu vou para casa — comentei com naturalidade.
— Só para constar que era uma aposta. Você era uma aposta, eu sinto muito — mas ele não parecia muito triste com isso, então deu mais uma tragada em seu cigarro e me olhou com piedade.
— Uma... aposta? — senti meu estômago revirando.
— Sabe como é... — ele soltou uma baforada e voltou a tragar — todos querem levar a bruxa para a cama.
Que péssimo senso de humor você tem.
O cigarro dele começou a pegar fogo ao invés de estar em brasas e ele o soltou antes que o queimasse. Porém, ao contrário do esperado, ele não aparentava estar bravo, apenas começou a rir.
— Mas que garota temperamental — ele comentou ainda rindo. Pegou outro de seu bolso e o acendeu na pequena fogueira aos seus pés e depois a apagou com um pisão.
Respirei fundo e passei por ele.
— Você quer carona?
— Não.
Pisquei uma vez meus olhos.
Minha visão estava embaçando.
Pisquei duas vezes.
Eu comecei a ouvir gritos de desespero.
Pisquei pela terceira vez.
Eu estava banhada em sangue.
A/N:
Finalmente posso dar quase completa atenção a PM!!!!! (eu digo quase completa, pois ainda tenho que me dedicar a Blablice)
Agora a história começa a se moldar, e olha que eu ainda vou lhes dizer que nada aconteceu direito hehehe
Tenham paciência que no final tudo se acerta.
Um beijoo!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro