Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

LXIII - Pandora Duncan


Pandora Duncan




Vai ficar aí rindo ou vai me dizer como chegar até...? — não terminei minha frase, pois fui nocauteada no chão por um pedaço de madeira invisível. Ou, ao menos, tinha a textura de um pedaço de maneira, então coloquei a mão em minha testa, sentindo-a latejar.

Eu só estava cansada de ser machucada por objetos ou criaturas que eu não enxergava. Chegava até ser ridícula a maneira como eu não conseguia dar dois passos sem ajuda.

Senti algo se prendendo ao meu tornozelo e olhei o que era, porém, como sempre, não havia nada ali, então eu suspirei e tentei me levantar, contudo este algo misterioso apenas puxou-me e eu voltei a cair no chão.

Senti minha cabeça batendo no chão e coloquei a mão nela, temendo estar sangrando ou tê-la partido, porém ela era mais dura do que estes espíritos raivosos esperavam.

Tentei soltar-me daquilo que me prendia, contudo quando eu passava minhas mãos em meu tornozelo, nada havia ali. Eu estava solta, porém me sentia presa. Puxei minha calça para cima para tentar ver se minha pele aparentava ter algo a prendendo, contudo ela estava normal.

Será que eu, finalmente, enlouqueci de vez?

E então, com um solavanco, eu estava sendo arrastada para trás, sentindo o tempo passar mais rápido do que o esperado enquanto minhas mãos tentavam se agarrar a qualquer pedaço de vida que existisse no Inferno.

Minha barriga estava sangrando, pois sentia o chão áspero a rasgando com suas pontas afiadas, concomitantemente estraçalhava minhas mãos, impedindo-me de agarrar algo para salvar minha vida.

Por algum motivo, eu não estava em pânico. O motivo para eu não estar em pânico ao ter a grande chance de morrer no Inferno — sonho de qualquer garota com dezoito anos e alguns desejos — poderia ser pelo simples fato de eu estar conformada com essa fatalidade?

Senti minhas pernas perdendo contato com o chão e logo o meu corpo inteiro estava apenas caindo no abismo que há pouco eu havia visto.

Soltei um grito de terror — finalmente percebendo que eu realmente morreria — e tentei agarrar o nada sem sucesso algum.

E era assim que a minha história e de Frederico Bertolini terminaria. Eu estava fracassando em salvá-lo pela segunda vez.

~*~

Oh, Céus! — eu berrei assim que abri os olhos e percebi que eu estava deitada no chão, no mesmo lugar que o objeto, que parecia uma madeira invisível, me atingiu.

— Eu acho que tu estás no lugar errado, então — a voz de Virgílio logo encheu meus ouvidos. Eu revirei os olhos mal tendo cinco minutos para acertar as pulsações do meu coração com minha respiração.

Aquele lugar estava brincando comigo, testando meus limites — limites que eu não gostaria de ultrapassar, porém eu o faria para chegar até Frederico, o garoto que morreu por causa de uma maldição.

Maldição jogada por Virgílio, o mesmo homem que estava me guiando pelo Inferno para que eu conseguisse quebrar esta maldição.

Algo em minha recapitulação dos fatos ainda me dizia que eu estava deixando uma peça escapar dos meus pensamentos. Eu só ainda não havia entendido o que estava errado.

— O que foi isso? — eu grunhi, colocando o braço sobre meus olhos, de repente, enxergando luz demais nas trevas.

— Uma bela queda, alguém passou uma rasteira em ti, literalmente.

Eu suspirei e me levantei tentando olhar, porém a barreira ainda estava entre meu corpo e o de Frederico... e estava ele!

Seu corpo estava sentado em um banco de madeira podre com os cotovelos em seus joelhos enquanto suas mãos davam apoio ao seu queixo. Uma de suas pernas tremia compulsoriamente enquanto seus lábios se mexiam sem parar, falando e falando e falando.

Inclinei minha cabeça para o lado, sentindo lágrimas de alegria encontrarem meus olhos e meu coração parar de bater apenas para apreciá-lo também, para não interferir no momento.

Ele era o mesmo, o mesmo Frederico Bertolini que eu conheci com os olhos astutos, o sorriso sacana nos lábios e os cabelos meticulosamente bagunçados. Sua pele continuava a ter aquela coloração bronzeada que lhe era comum e seu corpo possuía as antigas proporções. Ele não mudou nem mesmo com a morte.

Suspirei, sentindo um soluço escapar de meus lábios quando eu comecei a bater na barreira que me separava dele, com toda a força que eu possuía, e a sentia me empurrar para trás a cada tentativa.

— Por que eu não consigo usar minha magia? — eu murmurei para mim mesma sem conseguir senti-la dentro de mim.

— Teoricamente tu estás morta, não precisas de magia.

— Não estou morta.

— Mas tu estás no Inferno, o que é basicamente a mesma coisa se formos pensar no sentido teórico da vida.

— Então a única maldita maneira de eu passar por essa barreira é cometendo o pecado da luxúria? — eu indaguei e cruzei meus braços, tentando pensar em como trapacear no próprio Inferno — o que significa luxúria, além de sexo, de qualquer maneira?

Virgílio tentou passar pela barreira e me deixar do outro lado sozinha, porém eu apenas o peguei pela gola de sua blusa, o impedindo, sentindo as vibrações iradas da barreira com a minha insistência em atravessá-la.

Era como se ela fosse viva.

— Queres saber sobre luxúria? Tu estás falando com a pessoa correta, pena que eu não gosto de Viajantes — ele sorriu para mim e eu chutei sua canela, pois ele conseguiu colocá-la no caminho do meu real objetivo — Significa uma atração pelos prazeres carnais, ou, falando de uma maneira mais simpática, a luxúria é entregar-te a paixão desmedida.

Trinquei meu maxilar, sentindo minha mão arder e queimar com a barreira ainda tentando me repelir.

Tudo o que eu precisava era ter uma má fama tão grande quanto a de Frederico? Não, luxúria era a atração, era o se entregar, em nenhum lugar Virgílio comentou algo sobre a realização do sexo ou...

Fechei meus olhos e respirei fundo, sentindo-o tentar se soltar da minha mão de ferro — algo que seria um pouco mais difícil do que alguns dois ou sete puxões com força.

Lembrei-me do primeiro momento que eu enxerguei Frederico como homem, e não como um amigo de infância ou apenas mais um dos mortais ao meu redor.

E não, não foi no dia em que ele bateu na minha porta, não sou tão clichê quanto isso.

Era como se eu estivesse revivendo aquela cena.

Eu estava acordando no carro de Frederico Bertolini, sem ter a menor ideia de como eu havia parado ali, ou o que eu faria para escapar sem que ninguém me visse.

Foi no dia da festa. O dia da carona. Quando Daniel Travler... bem, foi nesse dia.

Lembro-me dos meus olhos se abrindo para o teto do carro. Havia um corpo impedindo que a lua tocasse meu rosto.

Levantei-me com calma e me mantive baixa, com medo de que os amigos de Daniel, que estavam passando naquele instante, me vissem e resolvessem criar uma nova Inquisição apenas para acabar com uma bruxa.

Assim que eles passaram, eu percebi que Frederico continuava ali, como se esperasse algo ou alguém, o que ele provavelmente poderia estar fazendo, afinal ele era Frederico Bertolini e tinha uma lista de garotas beijando seus pés por uma chance de irem para a cama com ele.

Toquei sua mão com a minha para que ele me olhasse.

Eu tinha um plano simples: eu lhe agradeceria pela ajuda e lhe deixaria saber que eu conseguiria sobreviver a partir daquele momento sem a sua ajuda. Contudo, todo este meu plano, assim como as palavras, fugiram do meu ser quando ele olhou para a minha mão, para depois olhar o meu rosto.

Ele parecia um pouco assustado e um pouco surpreso, porém nenhuma das emoções demonstrava que ele repudiava a minha presença — e seus olhos, aqueles olhos que estavam contra a luz, aqueles olhos que eu apenas enxergava um leve esboço da sua silhueta, foram o suficiente para eu entender o que uma garota sentia quando acordava ao lado dele.

— O que...? — eu tentei perguntar, com todo o esforço do mundo para formular uma pergunta inteligente e não obviamente estúpida, todavia ele não prestou muita atenção, apenas olhou de soslaio para o lado, abrindo a porta do carro e se jogando sobre o meu corpo — o que...?

Novamente, ele não me deixou terminar a frase, porém, desta vez ele não foi tão sutil quanto antes, apenas colou seus lábios sobre os meus, sem realmente me beijar.

Ouvi alguns assovios, e comentários extremamente machistas e censuráveis sobre a cena — eu teria respondido poucas e boas para eles, porém estava ocupada demais em entender o que Frederico estava fazendo comigo, para me concentrar naqueles garotos.

Em nenhum momento, ele tentou se aproveitar da situação, nada de mãos para um lado e pernas para o outro, e, muito menos, me forçou a realmente beijá-lo — e eu soube, naquele momento, que eu não teria recusado se ele tivesse tentado.

Logo, os barulhos desapareceram e ele se afastou um pouco de mim, ainda esperando para ter certeza que eu estava segura.

Quando seus olhos voltaram a encontrar os meus, eu quis perguntar o que ele estava vendo e se ele gostava, pois a maneira como seu olhar era intenso sobre meu rosto, quase me fez corar. Quase.

Era como se ele estivesse vendo Pandora Duncan, a tentação encarnada, e estivesse procurando minhas falhas, contudo ele não as procurava como as outras pessoas, apenas para jogá-las na minha cara e tentar se sentir superior com a minha miséria. Não, muito pelo contrário, ele parecia me ver de uma maneira que nem mesmo eu sabia como.

— Quer carona para casa? — ele me ofereceu já longe do meu corpo, andando até o banco de motorista.

Eu não sabia muito bem o que fazer, então apenas limpei minha garganta e me certifiquei que não havia nenhuma testemunha vendo que eu estava com Frederico neste carro, pois não queria que ele entrasse em problemas por minha causa — saí do banco traseiro e me dirigi até o de carona.

O que ele estava pensando?

As lembranças da maneira como eu me senti usada por Daniel varreram meu corpo, assim eu abracei minhas pernas na esperança de que elas pudessem preencher o espaço em que minha dignidade costumava estar.

Senti algo pesado e quente sobre meus ombros, e eu logo me sobressaltei, pensando em todas as piores opções do que aquilo poderia ser, para, depois, perceber que era apenas Frederico tentando colocar o seu casaco sobre meus ombros.

— Pelo amor de Deus, Pandora! Não vou machucá-la — ele colocou o casaco em meus ombros, deixando-me maravilhada com o seu aroma e conforto — vou levá-la para casa, tudo bem?

E eu apenas concordei com a cabeça, pois soube que se eu abrisse meus lábios, as borboletas que estavam em meu estômago fugiriam por minha boca.

Parecia que este momento estava guardado em minha memória, como se eu tivesse nascido com ele já inscrito em mim.

Minha mão ainda ardia e a barreira não havia me deixado. Eu estava quase perdendo as forças quando percebi que eu precisava ser mais ousada para poder passar pela barreira da luxúria.

Que assim fosse.

Lembrei-me da maneira como seu corpo de encaixava no meu, desejando poder eternizar este pequeno toque. Lembrei-me de como seus lábios moldaram os meus em um beijo que não tinha nada de erótico, porém que foi o suficiente para me deixar ofegando por mais. Lembrei-me de como ele já havia visto meu corpo da maneira que eu vim ao mundo e me perguntei o que ele achou — o que ele achou do meu corpo quando eu estava vestindo sua blusa?

O que ele achava de mim em um sentido mais amplo?

De repente fui puxada para dentro da barreira como se eu estivesse sendo sugada e caí em cima de Virgílio, que parecia atordoado com o que havia acontecido.

— Como? — ele franziu suas sobrancelhas.

— Desejos, Virgílio, muitos desejos — eu respondi saindo de cima dele e percebendo como eu, Pandora Duncan, havia conseguido ser aceita no círculo da luxúria ainda sendo virgem.

Minha mãe ficaria orgulhosa — ou não. Ela não precisaria saber sobre isso, eu acho. Espero.

Olhei para frente e percebi que Frederico não estava sozinho, ele conversava com um homem rechonchudo de cabelos enrolados — uma pessoa que eu jamais havia visto antes em minha vida.

— Aquele é Minos, ele poderá se tornar o substituto de Maleki caso tu quebres a maldição, porém eu espero que tu não o faças — Virgílio disse como se estivesse sentindo que eu precisava de assistência — e ele dará ao teu amado o castigo que o corpo pecador dele merece.

— O que? Como assim? O que acontecerá? — eu olhei ao meu redor, percebendo que não havia uma pessoa ali, viva ou morta, além de nós quatro.

Isso me surpreendeu, pois sempre pensei que a luxúria fosse um pecado muito comum e fácil de ser cometido, porém, aparentemente, eu estava errada.

Senti uma brisa gelada e desconfortável em meus cabelos e olhei para cima, percebendo, assim, a localização de todos os pecadores que eu senti falta enquanto olhava para o chão.

Eles voavam, ou melhor, eram arremessados de um lado para o outro, atormentados por um eterno furacão que os machucava fisicamente, como se a cada dor que eles sofressem, um pouco menos pecadores eles se tornavam.

Percebi que Minos estava se preparando para enrolar algo ao redor de Frederico, enquanto o mesmo continuava a falar como se não conseguisse se controlar e não quisesse.

Eu corri em sua direção, chamando a atenção daquele homem, fazendo-o parar o que estava fazendo para me olhar, respirando profundamente como se algo podre tivesse atingido seus olfatos, então ele olhou raivosamente para Virgílio.

— Uma Virgem? — ele perguntou — tu me insultas ao colocá-la dentro de meu território.

Ele falou a palavra virgem com tanta fúria que parecia que aquilo era um adjetivo próprio para mim, como se, a partir daquele momento, meu nome fosse Virgem, e não mais Viajante ou Pandora Duncan.

— A garota possui desejos que tu nem imaginas — Virgílio me empurrou para frente e eu dei alguns passos.

— Não o arremesse — eu pedi, terminando os passos que faltavam para eu ficar entre Frederico e Minos, percebendo que Fred havia parado de falar, porém não havia reconhecido minha presença — por favor.

— Por quê? Ele pecou mais vezes do que o número de respirações que tu dás em um dia — Minos resmungou — ele merece apodrecer em...

— Não! — eu abracei Frederico, colocando-o atrás do meu corpo e sentindo lágrimas de desespero escorrendo pelos meus olhos.

— Ora, torna-te sumida, garota — ele grunhiu, tentando alcançar Frederico em uma dança eterna, em que eu o protegia com meu corpo enquanto ele procurava uma maneira de chegar ao seu alvo sem me levar junto. Acho que até mesmo no Inferno havia um código de honra sobre quem poderia ser punido e quem não — trouxeste uma bruxa aqui? — ele respirou mais fundo, arregalando seus olhos — uma Viajante? Uma Viajante Virgem?

— Acredite em mim, velho amigo, eu tentei impedir que este estrupício chegasse até aqui. Eu até a matei — Virgílio comentou, cruzando os braços e me olhou — é verdade. Eu não posso mentir para ele.

— Tu mataste uma Viajante? — Minos berrou como se aquilo fosse absurdo.

— Um dos Guardiões do Caos a matou, porém ele estava sob meu comando.

— És louco — ele voltou a me olhar — saia da frente que teu...

— Por favor — eu abracei Frederico e enterrei meu rosto em seu peito — por favor, ele é uma boa pessoa.

Houve um momento de silêncio, eu tive certeza, porém o que isso significava era algo bem mais complexo do que eu esperava.

— Boa pessoa? Ele seria uma boa pessoa se estivesse aqui?

— O que eu preciso fazer para você deixá-lo ir embora comigo? — eu pedi, voltando a olhar para o senhor cabeludo.

— Ainda bem que eu nunca encontrei com outra Viajante, senão já teria me aposentado.

— Não podes te aposentar — Virgílio insinuou, indignado.

— Infelizmente.

Virgílio e Minos começaram uma discussão homérica sobre como seria possível se aposentar se o Chefe deles não teria uma pessoa se quer para substitui-lo — e eu não sabia que havia alguém um cargo a mais que Virgílio.

Eu realmente deveria ter lido a Divina Comédia antes de embarcar nesta aventura.

— Certo, ela pode ir, mas tu tens que me prometer que eu serei o juiz e minha palavra será lei — Minos apontou o dedo para Virgílio.

— Como se ela conseguisse chegar até o final da missão dela — ele revirou os olhos e meu se senti ultrajada — bem, Pandora Duncan, Viajante, tu podes sair com o corpo de Frederico.

— O corpo? E o que acontece com a sua alma? — eu voltei a olhar para cima imaginando se eu havia chegado tarde demais.

— Ah, jovem, a alma de teu amante está no Paraíso a tua espera — ele sorriu para mim — perder-te no Paraíso também implica em não quebrar a maldição, só para constar.

— Eu não quase morri tantas vezes para morrer na praia — eu comentei segurando com força na mão de Frederico entendendo, finalmente, o motivo para ele não estar respondendo aos meus toques, pois ele era uma casca oca e vazia.

— Morrer na praia? Estamos no Inferno, Virgem — Minos coçou a cabeça.

Eu e Virgílio reviramos os olhos, decidindo silenciosamente que não iríamos comentar sobre isso.

— Agora, boa sorte — os dois se despediram, simultaneamente, de mim.

~*~

Abandonada, eu vaguei, sem soltar a mão de Frederico, pelo caminho reverso ao que eu havia feito até chegar ali — sendo quase morta algumas vezes a mais do que quando eu estava com Virgílio, contudo eu já estava preparada, então não me desesperei, apenas esperei que eles se cansassem de mim ou pensassem que eu havia desistido.

Há, como se eu desistisse com tanta facilidade.

Era difícil levar Frederico comigo, pois ele acabava tentando tomar o caminho oposto, querendo voltar até o Vale dos Ventos, como se o lugar o estivesse chamando, porém eu resistia — com todas as forças que eu quase não possuía mais — para arrastá-lo até perto do abismo.

Então estávamos nós dois ali, de frente para uma queda que eu já havia sofrido em um sonho, enquanto eu calculava o que eu precisava fazer para sair dali.

Como eu cheguei, em primeiro lugar?

A resposta logo apareceu em minha cabeça. Era Caronte. Eu precisava de Caronte para sair dali.

— Caronte! — eu berrei seu nome para as trevas. Nada. Nem ao menos um eco.

Nas lendas antigas as pessoas entregavam moedas de ouro, porém eu não tinha nada parecido com isso, então comecei a apelar para o que eu de fato tinha em mãos.

Joguei meus brincos, relógios, colares, pulseiras, e qualquer coisa que eu consegui me desprender, todas as vezes berrando o nome de Caronte para que ele me ouvisse.

Ainda fiquei sem resposta, observando a última peça que eu possuía em mãos.

Por que eu estava hesitando? Não é como se meu pai tivesse pegado uma herança de família, como ele fez com Aponi, e me dado. Não, ele apenas mandou a sua secretária comprar um anel para mim.

E mesmo depois de pensar assim, eu não consegui me ver jogando o anel de meu pai para que Caronte me ouvisse.

Ajoelhei no chão, colocando minhas mãos sobre meu rosto e respirando fundo. De que adiantava me deixar entrar no Inferno se eu não teria como sair?

— Queres meu anel? — eu sussurrei para mim mesma sem perceber que estava puxando o sotaque deles — quer? — eu pensei bastante antes de falar.

Retirei o anel do dedo e o arremessei o mais longe possível, ouvindo-o cair no chão, porém nada de Caronte aparecer, então apenas voltei a me sentar no chão, brincando com as pedras ao meu redor.

Olhei para Frederico, todavia ele apenas me parecia vazio. Não era o mesmo garoto por quem eu havia me apaixonado. Não era o garoto que entrou em brigas e morreu por mim. Não era o garoto que dormiu ao meu lado e me beijou. Não era. Não era. E eu o queria de volta mais do que qualquer outra coisa.

Suspirei e senti algumas lágrimas de pânico descendo pelo meu rosto, porém, desta vez, não havia Frederico para limpá-las para mim. Eu só estava com medo de ele simplesmente não voltar a ser quem ele era antes.

Morrer muda as pessoas, sabe?

— Chamaste? — meu coração quase saltou com a voz, porém eu apenas olhei para cima e vi Caronte segurando o meu anel.

— Leve-me até o Paraíso para eu recuperar a alma dele — eu apontei para Frederico — por favor?

Ele me olhou, ou eu acho que aquilo era o seu olhar, e meneou minha cabeça, fazendo meu coração se despedaçar em milhões de fragmentos com a desesperança apossando-se do meu corpo.

— Não? — minha voz misturou-se com um soluço e eu senti que não aguentaria aquela resposta — então...?

— Eu disse que não posso levar teu amado pelo preço deste anel — Caronte comentou, colocando o anel dentro de sua túnica negra — esta peça tem apenas valor sentimental para ti, por isso paga apenas a tua passagem.

— Mas...?

— Mas não paga a dele — ele apontou, com o seu remo, para Frederico e eu entendi — trazer um morto de volta a vida? O preço é caro, Pandora Duncan.

— Quanto? Ou o que? Qualquer coisa — eu falei antes de pensar e não me arrependi de minhas palavras.

— Algo que tu amas tanto quanto o amas — por um leve momento, eu pensei que Caronte estava sorrindo para mim — tua magia, Viajante.




A/N:

E agora? O que será que pandora vai fazer?


Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro