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Capítulo 7: Kang Seulgi


Aquele cara é louco. Pirado. Eu tenho certeza disso.

Primeiro, ele começa a fazer uns comentários nada a ver de como eu deveria tratar a minha família. Quando falo algo um pouco mais pessoal, simplesmente me ignora. Depois me pede internet e sai surtando quando considero por apenas alguns segundos a possibilidade, só para brincar um pouco.

Ainda estou pensando sobre a situação quando encontro o meu lugar dentro do avião. Finalmente estou indo para Ilsan e, apesar de tudo, não vejo a hora de chegar. Preciso me concentrar no trabalho e entregar o vídeo o quanto antes para a Sooyoung.

Quando me acomodo no assento da janela, fico olhando as luzes que piscam do lado de fora. Nem parece que uma tempestade havia fechado o aeroporto. Não chove mais e um arco-íris começa a se formar no céu. Tóquio. Sorrio ao pensar na cidade que havia me abraçado. Agora estou retornando para a minha cidade natal, para minha família, e já posso imaginar a confusão que será.

Paro de olhar pela janela quando um passageiro a minha esquerda começa a se acomodar. O sorriso sincero que eu tinha no rosto é substituído por uma expressão de descrença.

O garoto maluco.

— Só pode ser brincadeira... — digo baixinho pela centésima vez no dia, apoiando a testa na janela.

Ele também não parece ser a pessoa mais feliz do mundo por me ter como companhia porque confere algumas vezes o cartão de embarque para ter certeza de que aquele é o seu lugar. Eu ignoro, deixando que fique desconfortável sozinho.

Dou uma olhada no painel e vejo que o aviso para desligar os aparelhos eletrônicos ainda não foi ativado, então resolvo abrir o Snapchat para dizer que estou saindo da cidade. Porém, no primeiro toque o celular desliga. Está sem bateria. Ótimo.

Na minha visão periférica consigo ver que ele sorri e isso me irrita ainda mais.

— Que foi?

— Nada, é só... — Ele balança a cabeça, derrotado. — Eu tinha decidido pedir desculpas para que você, por favor, compartilhasse a internet comigo porque era muito importante.

— Pra falar com sua namorada? — Eu me arrependo no momento que as palavras começam a sair. Não consigo ter controle sobre a minha própria boca!

— Namorada? — pergunta ele, confuso.

Fui longe demais e tento consertar.

— Ah, desculpa, não tenho nada a ver com isso. Enfim... eu não queria realmente falar nada. Vou calar a boca.

Ele ri com sinceridade. É a primeira vez que ri daquela forma. Um sorriso meio de lado, que transforma os olhos dele em riscos, e aparece uma covinha discreta do lado direito. Bem bonitinho, para falar a verdade.

— Não tenho namorada — admite ele.

— Então era trabalho? — Não consigo conter minha curiosidade.

— Também não.

AH, QUAL É! Será que ele não poderia simplesmente contar logo? Ou está se divertindo com as minhas perguntas?

— Ok, vou parar de perguntar. — Desisto, mas relutante, pois quero realmente saber do que se trata.

Ele então respira fundo e começa a explicar:

— Era a minha irmã. Ela me fez um pedido e eu queria muito poder atender.

Inclino a cabeça de lado, pensativa. Que fofo... Um pedido para a irmã. Mas o que poderia ser tão importante?

— E precisava de internet?

Ele concorda com a cabeça.

— Ela ia me passar algumas informações e... — Ele se interrompe para então mudar de assunto. — Tudo bem, tá? Não deu certo. Fui um pouco idiota também, então me desculpe.

— Também fui, então estamos quites — digo, sorrindo. Chego à conclusão de que o cara não é tão maluco afinal, mas ainda fico desconfiada, pronta para uma mudança repentina de humor. Vai saber, né...

Atenção tripulação, portas em automático — anuncia o comandante.

Eu aperto o cinto e sorrio para a paisagem que vejo pela janela. Dali, posso ver a asa e logo estaremos voando.

— Lá vamos nós... — diz o rapaz com a voz trêmula.

— Medo de avião?

— Um pouco — admite ele. — Só a parte que sobe e desce.

— Certo.

Volto a olhar pela janela. Ele não gosta das partes mais legais. Eu odoro o momento de emoção de levantar voo e depois pousar. Na verdade, posso dizer que gosto de quase tudo em viajar de avião. Parece que estou em outra realidade.

— Ei — chama o rapaz. Ele está começando a suar e respirar com dificuldade. — Você pode... pode conversar comigo?

Eu olho para ele em dúvida e sem saber o que fazer. Nossas conversas não podem ser classificadas como boas.

— Preciso me distrair — completa ele. — O avião vai voar e... acho que posso vomitar.

Bom, isso me convence.

— Ok.

Tento pensar em alguma coisa interessante para falar, mas nada parece bom o bastante. Começo a ficar nervosa porque ele não parece nada bem, está de olhos fechados e segurando com firmeza os braços da poltrona.

— E aquela senhora, hein?

— Ela também deu conselhos pra você? — pergunta ele com dificuldade.

— Sim! — confirmo. Que loucura! Será que ela falou aquilo tudo para ele também? — Ela começou a contar umas histórias do passado dela...

— Ela me disse que você era bonita. — Ele abre os olhos para me encarar e sorri. — Ela tem razão.

Meu coração dá um salto e fico sem saber o que fazer. O elogio repentino me deixa atordoada, e mal percebo quando o avião começa a deslizar mais rápido pela pista. Mas é o bastante para que o garoto feche os olhos novamente e segure com mais firmeza os braços da poltrona.

Por instinto, seguro a sua mão direita e ele não puxa de volta. A pele está gelada e tento passar o calor das minhas mãos para ele. O gesto parece acalmá-lo, mas ele ainda mantém os olhos fechados. Eu o observo com mais atenção e percebo que naquela situação ele se encontra vulnerável. Com aparência mais jovem: não passa de um garoto com medo. Bem diferente da dureza no aeroporto.

O avião levanta voo e eu fico feliz. Fecho os olhos para aproveitar aquele momento em que tudo pode acontecer. O coração para por um segundo e sinto um frio na barriga.

Chego à conclusão de que a sensação de voar é ainda melhor quando seguramos a mão de alguém. O avião se estabiliza no ar e então me dou conta. Abro os olhos, assustada, e vejo que o rapaz está olhando para mim em silêncio.

Soltamos rapidamente as mãos, como se estivéssemos tocado lava. Envergonhados pelo gesto de intimidade. Nós nos separamos e olhamos para pontos diferentes. Dessa vez, não poderemos fugir daquele lugar, e a senhora conselheira havia sido substituída por um avião lotado que nos obrigava a passar mais algum tempo juntos.

— Obrigado — agradeceu o rapaz.

— O quê? — pergunto ainda pensando no momento constrangedor.

— Fico com muito medo em aviões, então... obrigado.

Eu sorrio timidamente, ainda um pouco envergonhada por ter segurado sua mão enquanto o avião estava subindo. Não sabia o motivo, mas era o que parecia ser certo.

— Mas agora passou, né?

— Um pouco. — Ele sorri, nervoso. — Posso viajar muitas e muitas vezes, mas nunca vou me acostumar com uma coisa tão pesada voando, sem pensar que pode cair a qualquer momento.

— Mas você sabe que o risco de sofrer um acidente de carro é bem maior, né?

— É?

— Sei lá, sempre me disseram isso — respondo, dando de ombros sem ter completa certeza. Eu nunca me importei em checar se era um fato comprovado ou não.

— Ok, isso não adiantou muito então.

— Você é daqueles que tudo é preto no branco? Oito ou oitenta? — pergunto, inclinando a cabeça, bem-humorada.

Gosto da sensação de deixá-lo sem jeito. Ele agora parece um pouco mais nervoso por eu estar fazendo novamente uma pergunta pessoal do que com o avião que está viajando a muitos quilômetros por hora pelo céu.

— Digamos que sim — admite.

— Certo — concordo. Ele não vai explicar mais que isso.

— Certo.

Nos calamos, e tento pensar rapidamente em alguma coisa que poderia falar, mas nada vem à mente. As nossas conversas só saem motivadas por sentimentos ou situações extremas. Será que eu preciso fazer algo a respeito?

Continua...

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