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8




Vinícius mal reagiu quando me observou caminhando até ele. Apenas olhou de um lado para o outro, talvez para tentar entender quem eu era e por quê me aproximava.

Coitado. Doce ignorância.

A praça era tão silenciosa aos sábados e domingos. Durante a semana tinha sempre um pessoal ouvindo música no celular (sem fone de ouvido) ou lutando capoeira ou pedindo dinheiro para os passantes (sem necessidade, já que estudavam todos em escola particular).

Estendi minha mão para um cumprimento.

— Oi, Vinícius. Sou irmã mais velha da Rafaela.

Os olhos dele praticamente dobraram de tamanho. Ele ergueu as palmas das mãos, num gesto ambíguo de inocência e culpa:

— Olha, desculpa, eu não...

Para mim, foi tão bizarro perceber que ele estava realmente me enxergando como alguém "mais velha", uma adulta, talvez, alguém que veio brigar ou exigir uma prestação de contas.

Do meu nariz escapou um riso involuntário. A situação era uma completa tragicomédia.

Sentei-me ao seu lado no banco e esfreguei compulsivamente meus joelhos com ambas as mãos.

— "Prove que não é um robô". — Dei um sorriso constrangido e ergui um ombro, meio sem jeito. — Há um motivo. Nós desconfiamos porque não somos confiáveis.

Pensando bem, hoje em dia, penso que a tela azul de morte expressa nos olhos vazios e distantes do Vinícius deveria ter sido meu primeiro alerta. Mas eu apenas prossegui o programa, como se nada tivesse acontecido.

— Acho que agora é o momento de confissões... — gaguejei e me senti ridícula pelo tanto que eu tremia. Eu realmente gostava desse rapaz. Ou da ideia de quem ele era. Dos seus pensamentos. — Eu...

— Está bem, eu confesso — Vinícius exclamou, de repente, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

Minha boca ainda estava entreaberta com meu discurso preparado pronto para sair.

Parei e o encarei.

— Oi?

— Eu não planejei. Eu nunca quis mentir pra ela. Tudo o que eu queria era...

Não quis... mentir para ela?

Só aí que percebi que os alertas em minha mente gritavam e gritavam em vermelho-sangue.

— Pera lá e volta a fita, Wickham. Do que diabos você tá falando?

— Eu fiquei com vergonha e não queria piorar a situação. Depois de quase atropelá-la, ainda ter uma discussão pelo celular? Como eu ia ficar?

— Péssimo — sugeri com a minha melhor expressão de blefe, na esperança de que ele prosseguisse.

— Pois é. Juro que só queria saber como reagir, mas, cara, ele tinha as melhores respostas do mundo. Foi inevitável.

Ah, socorro.

— Quem é ele?

— Meu tutor. Meus pais pagam professores particulares para mim.

Vinícius estava verde. Parecia que ia vomitar ou desmaiar a qualquer momento.

— Além das aulas de francês?

As vantagens de ser podre de rico.

— Francês, música, esgrima, matemática... No caso, foi meu tutor de literatura. A Rafaela é uma gênia, cara. Não dá para competir.

Elevei ambas as mãos e cobri meu nariz e boca, os olhos lacrimejando pelas risadas que estava tentando conter. E, talvez, por vontade de chorar também. Eu já não sabia de mais nada.

— Então, o que você está dizendo é que... esse tempo todo seu professor, fingindo que era você, estava conversando comigo, fingindo que era a Rafaela?

— Quê?

E foi aí que comecei a rir. Histericamente.

Vinícius claramente não estava entendendo nada. Eu me dobrei, encostando a cabeça contra os próprios joelhos, meu diafragma balançando incontrolavelmente com cada gargalhada.

— Basicamente, há mais coisas entre a rede mundial de computadores e a vida real, Horácio, do que foram sonhadas na sua filosofia — eu disse, quando finalmente consegui aquietar um pouco minha respiração.

— Quem é Horácio? — ele perguntou e meu ataque de risos retornou inclemente.

— Desculpa — falei, enxugando as lágrimas. — Não estou rindo de você. De verdade. — Mordi os lábios e consegui ficar um pouco mais séria. — Você não é um mal garoto. Essa situação toda é apenas um tanto, digamos... absurda?

Ele coçou a nuca, claramente perdido. Parecia tão inseguro e juvenil. Como uma criança.

Por que diabos eu estava rindo tanto? Era para eu estar me sentindo patética, humilhada, enganada, desiludida. O príncipe encantando que imaginei sequer existia. Provavelmente era um senhorzinho careca e banguela que viveu a vida toda dentro de uma biblioteca.

Mas, eu tinha que apreciar a ironia da situação.

"Prove que não é um tutor".

Será que fizera todo aquele discurso idealista sobre não desconfiar das pessoas só para me despistar? Será que alguma coisa do que contara era verdade ou tudo fazia parte do papel?

— Você algum dia se apaixonou? — questionei de repente, um pouco mais alto e intensamente do que planejara. — Por uma garota complicada e perfeitinha?

— Não, ainda não — ele disse, balançando a cabeça rapidamente. — Nem por uma garota simples e... imperfeitinha.

Suspirei aliviada. Ou desconfiada? Eu não sabia de mais nada.

Que droga.

— Complicada e perfeitinha, é? — Ele coçou o queixo e sorriu sem jeito. — Isso não é aquela música antigaça daquela banda... Ramones?

— Raimundos — corrigi.

— Isso. É massa. O Fernando vive escutando.

Foi nessa ocasião que descobri que a tela azul da morte realmente existe nos seres humanos.

Meu cérebro apagou total por vários e vários segundos. Minutos, talvez. O que era ridículo porque existiam dez bilhões de pessoas com esse nome no planeta.

Afinal, o que havia de especial num nome? "Uma rosa por outro nome teria ainda o mesmo perfume", considerara meu mestre Shakespeare séculos atrás. E um Fernando por qualquer outro nome continuaria sendo um maldito dum filho da mãe, certo?

— O... Fernando? — eu me forcei a pronunciar.

— Ah, o meu tutor. É um amigo da minha família que estuda Letras na Universidade, aí meus pais acharam que seria uma boa se ele me ensinasse alguma coisa.

Ralph Waldo Emerson escreveu que apenas pessoas superficiais acreditam em sorte ou acaso. Pessoas fortes acreditam em causa e efeito. Isso significava que se tratava de carma. Ou Lei da Semeadura. O que quiser chamar.

Eu estava pagando por minha culpa. Só podia.

Infelizmente, como já dizia nosso autor favorito, as desgraças nunca vêm sozinhas. Elas sempre vêm ajuntadas em pequenos batalhões raivosos.

— Descansa, espírito perturbado — uma voz masculina declamou por trás de mim. — Acima de tudo sê fiel a ti mesmo. Disso se segue que a ninguém serás falso jamais.

Sem conseguir encará-lo, fiz uma careta amargurada para o nada.

— Meu Deus, Shakespeare era um merda mesmo — respondi. — Não sabia de porcaria nenhuma.

Olhei para trás e o vi, de pé, com os braços cruzados, me observando com um olhar simultaneamente admirado e zombador. Ele caminhou até mim, passo a passo, e a cada passo mais meu estômago embrulhava.

Ele deve ter percebido o choque e... o nojo na minha expressão, porque parou quando estava à distância de um braço e perguntou:

— Jura que você não sabia que era eu?

— Como diabos eu poderia saber?

Ele deu de ombros.

A verdade é uma coisa tão rara que é uma delícia contá-la — falou, contraindo os olhos e franzindo as sobrancelhas.

— Quê?

— Foi a primeira coisa que você me disse quando a gente se conheceu lá no projeto do jornal, esqueceu?

A lembrança imediatamente retornou à minha mente, mas eu não quis dar o braço a torcer. Pisquei algumas vezes, me fazendo de desentendida. Seus olhos me sondaram antes de continuar:

— Eu estava dando uma carcada no Marcão e aí você me falou que eu estava sendo um babaca e cretino que se aproveitava da posição oh-super-poderosa — ele deu um meio sorriso irônico — de editor da escolinha para fazer bullying com os mais fracos. Eu perguntei se você era sempre tão direta e aí você falou...

— Já lembrei, obrigada — eu disse bruscamente, tentando interromper a enxurrada de lembranças dos onze meses seguintes. As memórias mais inconvenientes e dolorosas, as dos "bons velhos tempos". Isto é, tudo que aconteceu antes de se confirmar aquela minha primeira impressão, a de que ele era um babaca, no momento em que decidiu terminar tudo só porque ia para a faculdade. Tá certo que apenas dias depois daquele primeiro encontro fui descobrir que o Marcão era um folgado mesmo que nunca foi capaz de escrever uma linha própria na vida. Plagiava colegas e artigos de internet sem dó e merecia totalmente aquela bronca.

— Foi naquele mesmo dia que você me apresentou Emily Dickinson e toda aquela cambada de autores clássicos em língua inglesa que você amava. Eu fiquei louco por você. Desde o primeiro dia.

Não o suficiente, é claro.

— Ah, poupe-me. — Revirei os olhos, sentindo meu estômago revirar. Eu não sabia se queria chorar ou espancá-lo. Então, resolvi desviar o assunto da direção em que ele estava levando. — Quer dizer que você sabia que era eu e não a Rafaela o tempo todo e me enganou, é isso?

Ele cruzou os braços e umedeceu os lábios com a língua, os olhos semi-cerrados, dando a ele um aspecto cético e irônico, ao mesmo tempo.

— Pode guardar esse tom crítico e julgador pra você mesma. Porque eu dei a você um benefício da dúvida que você, claramente, não merecia. Deixei a possibilidade aberta de que, imagina!, você não enganaria deliberadamente um garoto. De que você realmente soubesse quem eu era. Será que você não percebeu que eu estava usando o tempo todo citações que você conhecia só para provocá-la a se manifestar? Quer dizer, e aquela história da Feira de Ciências?

Cruzei os braços de volta, sem entender a relação, e esperei que continuasse.

— Quando você me contou essa história, achei que realmente já soubesse que era eu do outro lado. Achei que estava tentando me mostrar que sabia. Não só isso: achei que era seu jeito de tentar se reconectar, de mostrar que tinha mudado. Porque quando sua mãe mencionou o incidente, você fez de tudo para fugir do assunto e não me explicar. Era uma das milhares de coisas que você escondia de mim e isso me deixava louco.

— Péra. — Dei um passo para trás. — Então, "complicada e perfeitinha" era eu?

Ele deu um passo à frente e suspirou. Seus olhos brilharam de uma forma diferente e seu tom imediatamente mudou para algo solene:

— Nós já sabemos quem nós somos, mas não sabemos o que podemos ser.

Sorriu, enquanto recitava a frase de Hamlet, a peça de Shakespeare que mais amávamos... nos "bons velhos tempos".

— Uma pessoa pode sorrir e sorrir e ainda assim ser um vilão — rebati com outra da mesma obra.

— No meu coração havia uma espécie de luta que não me deixava dormir — ele prosseguiu no que lentamente se tornava uma competição.

— Palavras, palavras, palavras. — Repliquei com acidez e ergui uma sobrancelha.

Isso estava começando a ficar divertido. Queria só ver como ele iria responder essa.

— O resto é silêncio.

Droga, ele era bom.

Gaguejei, mas achei uma saída:

— Bem... Que se parta, meu coração, porque agora preciso calar-me.

Fernando deu mais um passo à frente e, com as mãos nos bolsos, se curvou levemente de forma a se aproximar da minha altura.

— Sou muito orgulhoso, vingativo, ambicioso. Com mais pecados à roda de mim do que pensamentos para manifestá-los, imaginação para lhes dar forma ou tempo de os pôr em prática — sussurrou. — Mas, se todos os homens fossem tratados segundo o seu merecimento, quem se livraria da chibata?

Vilão baixo e sujo. Usando Shakespeare para pedir por perdão?

— Duvida de que a estrela em fogo as nuvens fira — continuou. — De que se mova o sol na cerúlea amplidão, duvida da verdade, e torna-a por mentira, porém do meu amor nunca duvides, não.

Eu conhecia as palavras de cor.

E odiava que elas se tornavam novas e mais comoventes quando pronunciadas por seus lábios. Havia tanta sinceridade no seu olhar que quase me fazia esquecer que as palavras que falava não eram suas.

Devia ter alguma parte em mim que não só recitava poesia, mas ainda acreditava nela. Alguma parte em mim cujo sonho de ouvir palavras como essa dos lábios do Fernando sobrevivera.

E eu me odiava por isso.

Eu me odiava porque todos sabem que não devemos aceitar o embuste de um ex sacana de volta. Que não devemos sentir nada por eles. Que qualquer tipo de afeição deve ser morta e enterrada e esquecida para toda a eternidade.

É como deveria ser.

E quem não pensa assim... quem ousa perdoar, quem ousa dar uma nova chance para um vacilão desses é totalmente trouxa.

Ou desesperadamente romântica.

Ou ambos.

— O Diabo tem poder para assumir a forma de um anjo — tentei rebatê-lo mais uma vez, mesmo me sentindo sem munição e enfraquecida.

Como isso acontece? Por que justo no instante em que baixamos a guarda é quando o ataque vem?

— Nada em si é bom ou mau; tudo depende daquilo que pensamos.

— Amei-te, um dia — confessei, em lágrimas. — Mas você cagou e andou pra isso.

— Eu... — Ele inspirou fundo e tirou uma mecha caída torta sobre a minha testa. — Eu... não me recordo dessa citação.

Ele me deu um semi-sorriso súplice. Eu estava rindo, mas estava chorando.

— Não posso, sabia? Assim não. Preciso de um tempo — respondi.

— É claro — assentiu com a cabeça. — Estamos nos reconectando há menos tempo que uma maratona da edição estendida do Senhor dos Anéis.

Engoli em seco.

— Tá. Agora você está me assustando. Eu falei isso ontem à noite.

— Sabe o que o mestre falou? Que um grande amor nos sustos se confirma.

Franzi o nariz e revirei os olhos.

— Acho que chega de citações por hoje.

— Aleluia — ele exclamou, espalmando uma mão contra o peito e fingindo um ataque cardíaco. — Fiquei com medo de esgotar todo meu repertório num só dia.

— Para quê a economia? — perguntei, aceitando que me desse a mão e ainda debatendo internamente se eu estava sendo uma trouxa.

— Porque eu ainda quero surpreendê-la por toda a vida — sussurrou.

Seu rosto se tornou sério, de uma forma como nunca vira nos tempos em que estivéramos juntos. Foi só então que percebi o quão diferente o Fernando estava agora. O olhar amadurecido, focado, as linhas de suas expressões mais firmes.

Parece que o amor às vezes enxerga com os olhos e com a razão.

Não resisti, como resposta, um último versinho:

— A expectativa costumeiramente falha onde ela faz maiores promessas.

— Mas, costumeiramente vence quando a esperança é mais fria e o desespero mais propício —  rebateu imediatamente.

Nós ficamos ali, no meio da praça dos maconheiros, nos encarando por um longo tempo.

Sinto que devo citar o que aconteceu, depois de tudo isso, com o Vinícius e a Rafaela. Afinal, essa história era sobre os dois. Os dois namoraram durante uns cinco meses antes de terminarem por motivos tão estúpidos quanto os que os uniram. Não foi legal e a Rafaela falou, por fim, que eu tinha plena razão. Que jamais dançaria num campo minado de novo.

Eu falei que ela estava sendo dramática. Que às vezes a gente se machuca, mas se cura e se levanta novamente.

Mas, tudo bem, que próxima vez ela o faça de forma consciente.

E, não, eu e o Fernando não vivemos felizes para sempre.

Vivemos de vez em quando felizes, muitas vezes estressados e, na maior parte do tempo, um misto entre ambos. Perdi as contas de quantas vezes ele usou aquela bendita frase, para escapar das consequências de alguma mancada:

— Se todos os homens fossem tratados segundo o seu merecimento, quem se livraria da chibata?

Toda as vezes eu revirava os olhos e ria. Porque a resposta era fácil, é claro:

Apenas aqueles que sabiam citar Shakespeare.


THE END

* * *

Oi, pessoal! O que acharam desse final???

Eu sei de ao menos duas leitoras que tinham desconfiado (POXA, VOCÊS! Deixa eu surpreender, HUNF. kkkkkkkk). Alguém mais?

Espero que não tenham ficado muito revoltados com o fim do ship Renatícius ou Rafanícius *sorriso amarelo*

Se você ainda não superou essa história, a boa notícia é que tem um CAPÍTULO BÔNUS que acho que é meu capítulo favorito. É o PONTO DE VISTA DE OUTRO PERSONAGEM. E tenho certeza que vocês vão gostar.

AMO VOCÊS!

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