Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

6

Nós caminhamos, lado a lado, em silêncio.

No fundo da minha mente, pulsava um senso de que eu tinha direito de estar brava com a Rafaela.

Mas eu não estava.

Eu estava enfurecida.

Agora eu tinha uma ligeira noção de como a Elizabeth se sentiu ao perceber que a Lydia tinha fugido. Era muita estupidez de uma vez só.

— Achei que você ia contar a verdade.

Rafaela levou um susto ao som da minha voz.

— Eu contei — respondeu, erguendo as mãos na defensiva. — Ele só... levou super na boa.

— É mesmo? — repliquei num tom sarcástico. — Conte-me mais a respeito disso.

— Eu contei para ele que... que eu não sabia tudo aquilo de cor.

— E como, por favor, a senhorita explicou suas citações?

— Procurei no Google? — Ela abriu os lábios num sorriso sem graça.

— Ah, faça-me o favor.

Comecei a caminhar mais rápido, ciente de que ela não poderia me acompanhar com aqueles sapatos.

Mas, isso não a impediu de tentar.

— Eu sei, tá? — gritou, enquanto corria com passos curtos ladeira acima. — Eu sei que eu sou uma tonta, mas, por Deus, se você soubesse o que é... o que é estar no vórtice da atenção daqueles olhos castanhos! Por que você está tão brava? — Ela freou de repente e cruzou os braços, me encarando com sobrancelhas franzidas. — Eu sei que o que eu fiz foi errado, mas por que está afetando você tanto assim?

Eu me voltei para ela e suspirei, deixando parte da violência dos meus sentimentos esvairem-se com o gás carbônico.

— Porque... — Hesitei. Eu não queria ter que falar a verdade, mas este era apenas um daqueles momentos onde não há escapatória. — Porque eu não quero que você se machuque.

Ela piscou os olhos repetidas vezes, como se esperasse algo a mais.

— Eu falei para você, Tata. Eu só estou tentando me divertir.

— Vocês, jovens, são inconsequentes.

— Pare de falar como se fosse uma vovó. Você só é um ano mais velha do que ele, menina!

Ignorei esse comentário e prossegui meu discurso:

— Você vive sua vida de uma forma... como se entrasse num campo de batalha sem sequer ter ideia de que há uma guerra explodindo lá fora. E quando você não sabe... quando você não se prepara... você é atingido e ferido gravemente. O mundo está repleto de pessoas mutiladas, aprisionadas em suas lembranças e dores, mas nesse tempo todo, apenas coçam a cabeça e se perguntam o que diabos fizeram de errado. Todos dançam no campo minado porque a música está tocando.

Ela suspirou impaciente.

— Você tirou isso dos seus livros?

— Não, princesa — respondi, imediatamente. — Eu dancei no campo minado também.

— Você é tão dramática, cara.

— A gente tenta se convencer de que essa dor é normal, porque todo mundo passa por ela — continuei. — E a gente oculta ela aqui dentro esperando que simplesmente desapareça. Mas ela nunca se vai. E todos fingem que não sabem que todos nós agora somos apenas metades. Mas não porque, como Platão teorizou, há uma outra parte original de nós escondida no outro. Mas porque nós mesmos a jogamos fora quando entramos bailando de olhos vendados na zona de ataque.

— Certo. Eu te declaro oficialmente insana — Rafa disse, retomando a caminhada. Mas, em sua postura havia uma seriedade contemplativa. Ela sabia que havia uma verdade no que eu estava dizendo.

Após alguns minutos de reflexão, ela disse:

— Você acha mesmo que o Vinícius me machucaria desse jeito?

— Olha, nem se trata do que ele pode fazer. Se trata do que você faz com você mesma. Daquilo que a gente entrega, da energia e do tempo que nos custa. Estamos nos entretendo com romance e, enquanto isso, perdendo de vista o amor. Das pessoas que nos cercam.

— Desculpa, mas seu discurso parece livro de auto-ajuda. — Ela fez uma careta. — Genérico e pré-fabricado pra fazer a gente pensar "uau, que profundo", quando na verdade não tem muito conteúdo, né?

— Nossa, sua grossa — comecei a rir. — Quando eu falo em voz alta soa ridículo mesmo. Mas, tem um significado pra mim.

— Que é?

— A vida não para enquanto você brinca de ser adolescente. Enquanto você se entope de histórias vazias e, por puro tédio e carência, sonha com sofrer de amor, enquanto você justifica suas idiossincrasias e faz o que quer quando quer porque é jovem e só se vive uma vez, a batalha continua. Há decisões a tomar. Há injustiças para combater. Coisas a aprender. Por que desperdiçar os seus melhores anos?

— Você definitivamente soa como uma vovó.

— Carrego comigo a idade de todos os meus livros.

Nós duas rimos e silenciamos.

Quando já estávamos chegando perto de casa, ela começou a falar num tom suave:

— O jeito que ele me olhou... era diferente, sabe? Não tinha malícia. Ele me enxergou. Eu todinha. Ele é inteligente, você percebe na postura do cara. Jesus, acho que se eu perguntasse ele saberia descrever até as pequenas nuances da forma como eu sorrio, coisas que nem eu mesma sei a meu respeito. Você entende?

— Acho que sim.

— Eu queria só descobrir quem eu sou, já que ele parece já ter sacado tudo. Será que isso faz um pouquinho de sentido?

Assenti com a cabeça, peguei a chave e abri o portão do prédio. Subimos dois degraus e abri a porta do hall de entrada. Assim que a porta do elevador se fechou, coloquei as mãos em seus ombros e a girei para o espelho. Então, disse:

— Ele não é capaz de mostrar para você quem você é, Rafa. Ninguém pode. Por mais que se esforce, tudo que ele conseguiria expressar da sua identidade é uma fatia ínfima, uma perspectiva limitada, de todo o valor que há em você. Acredite. Eu estou ao seu lado desde seu primeiro suspiro e até hoje você me surpreende. O que espera de um garoto que só passou a enxergá-la agora? Ainda mais com uma mentira como ponto de partida.

Ela olhou nos meus olhos através do espelho e falou em tom de apelo:

— Talvez essa fatia ínfima seja o que eu precise. Talvez seja a peça faltando. Porque eu tenho todos esses pedaços de mim, todas essas possibilidades, e no conjunto da obra nada ainda faz sentido. As coisas não se encaixam, minha vida não se alinha.

Abracei seu pescoço e beijei-lhe a têmpora. Ela continuou:

— Às vezes penso que se um Vinícius fosse capaz de amar não só o meu corpo, mas desvendar a minha alma, talvez não seria mais tão problemático, sei lá, continuar a andar a pé até a escola, mesmo agora que a greve acabou e ele não tem mais desculpas para não vir nos ver.

Só aí que realmente entendi.

— É disso que se trata, então?

— Sim — ela respondeu de imediato. Depois hesitou e revirou os olhos. — Não. Eu não sei. — Suspirou. — Talvez seja só vontade de dar uns pegas no Vinícius mesmo eu esteja tentando racionalizar tudo isso.

Eu ri, mas peguei suas mãos e as beijei. O elevador chegou no nosso andar, mas não saímos.

— Eu me recuso a acreditar que o fato de que as coisas ao nosso redor, e o fato de que o pai é um perdido da vida altere alguma coisa a respeito de quem nós somos. Ou do nosso valor. Isso é inegociável. Nossa identidade não é reajustada de acordo com a cotação do dólar ou da atenção que recebemos de um bonitinho que fala francês.

— E recita Shakespeare — ela completou.

— E que é muito bonitinho mesmo.

Nós duas rimos e saímos com os braços sobre os ombros uma da outra do elevador.

— E aí? Como foi o beijo? — perguntei, enquanto entravamos no apartamento.

— Foi.... — Mais risos. — Foi estranho.

— Estranho? — Não era o que eu esperava.

— É. Tipo... eu já tinha treinado com o gelo no copo e na minha própria mão como as meninas disseram pra fazer — ela murmurou com um meio-sorriso constrangido. — Mas nada é capaz de prepará-la para uma estrutura viva, coberta de pele, que se move por debaixo dos seus lábios.

Explodi gargalhando.

— Você já pensou em escrever poesia? — Perguntei, enxugando uma lágrima, e incapaz de conter as risadas. — Você conseguiu fazer seu primeiro beijo soar como a coisa mais asquerosa do mundo.

À essa altura ela também estava berrando de rir.

— Eu sei. Terrível, né?

— Não se preocupe. O meu também não foi grande coisa.

— Ah, não?

Não. Foi mágico e incrível porque eu achei que estava apaixonada. Mas a forma como ele terminou as coisas perverteu minhas lembranças como um câncer que cresce e sobrepuja todo tecido saudável.

Dei de ombros e fui para o meu quarto.

Mais tarde, depois do jantar, sussurrei baixinho para ela:

— Eu quero pedir uma coisa.

Ela assentiu com o olhar.

— Você desfrutou da companhia dele por mais um dia. Será que eu poderia desfrutar também por mais uma noite?

Ela piscou confusa antes de me passar, por baixo da mesa, o celular.

Eu tinha algumas palavras finais que queria falar antes de contar toda a verdade.

Por quê? Eu não sabia. Talvez achasse que o Vinícius sacasse quem eu era. E me enxergasse de verdade. Inteira.

Não com os olhos, mas com o coração.


* * *

Socorroooo! Alguém aí MORA EM SÃO PAULO??? Eu vou na FLIPOP (feira de literatura juvenil) dia 30 de junho e ia adorar conhecer alguns leitores / algumas leitoras :D

Perdão que ainda não pude responder a todos os comentários! Estou numa correria preparando minha viagem para o Brasil *__*

BEIJOS COM CARINHO!

CONTINUA...

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro