Capítulo 2 Primeiros passos
Amber Dellarusso
Caos, era apenas isso que surgia diante de meus olhos. Uma cidade inteiramente desértica, prédios, casas e comércios totalmente destruídos.
Essa seria exatamente a visão de um sobrevivente apocalíptico. A realidade de muitas pessoas, o futuro de muitos inocentes simplesmente extintos por um vírus altamente contagioso.
Sobre o sol quente, andei boa parte de São Francisco, pretendia chegar na próxima cidade o mais rápido possível. Pelo caminho, procurei por algum prédio que pudesse ter mantimentos ou pelo menos uma loja em que eu possa conseguir algo melhor do que um bastão de baseball para me defender.
Andando um pouco mais a frente, consegui encontrar uma loja de artigos de pescaria e de Caça. Resolvi entrar nela, passando pela vidraria quebrada as prateleiras estavam todas bagunçadas com varas de pescas de tamanhos variados, nas paredes se encontravam alguns animais empalhados e sobre os cacos de vidros notei um pouco de sangue seco.
Andei até ao balcão de vidro e suspirei aliviada ao encontrar duas pistolas juntamente de mais uma caixa e meia de balas. Olhei mais uma vez pelo local me certificando de que não tinha nenhum mutante ou infectado e peguei meu bastão.
Com um movimento quebrei a tampa de vidro de cima, peguei a primeira arma e a guardei em minha cintura, guardei as balas sobre o bolso de minhas calças e peguei a outra pistola, notando que ela estava carregada.
Todo o tempo atenta ao meu redor, receando de alguém ter escutado os barulhos que não consegui evitar. Mas o que não saía da minha cabeça era o nome que o homem havia dito e logo após morreu em minha frente me deixando com esse enigma.
Por sorte, tudo estava calmo. Procurei algumas facas que me serviriam bem caso precisasse em alguma emergência, encontrei algumas delas quase no fundo da loja, as guardei na bolsa e peguei um facão com bainha e ajustei sobre o cinto.
" Agora sim estou pronta".
Voltei a caminhar em busca de comida, logo iria precisar comer o pão que trouxe da última parada no posto de gasolina e não sobraria nada para mais tarde. Arrisquei atravessar a rua assim que notei um supermercado aberto. Por incrível que pareça não estava tão danificado assim e avaliando as hipóteses, poderia ter alguém por perto.
Peguei a arma carregada da minha cintura e a destravei. Caminhei em passos largos e adentrei o local. Haviam alguns corpos em decomposição perto do caixa. Segurei a respiração passando por eles e comecei a minha busca, algumas prateleiras estavam vazias, mas alguns passos e lá na frente consegui encontrar umas barras de cereais, ervilhas em conserva e alguns pacotes de pães fechados.
Abri a mochila e guardei tudo o que consegui encontrar. Peguei alguns utensílios de higiene pessoal e uma toalha de banho. Ajeitei tudo na mochila e me virei para sair do local.
Notei movimento na rua, me escondi atrás de uma prateleira de uma forma que conseguisse ter boa visão do lado de fora.
Gemidos roucos e baixos fizeram minha nuca arrepiar, os barulhos se assemelhavam a alguém engasgado, mas não era uma pessoa qualquer e sim um infectado que arrastava uma perna destruída.
" Droga! E agora?"
Ele estava caminhando lentamente pela calçada, segurei mais firme em minha arma quando notei que ele tinha parado de frente com a saída e farejava o ar em busca de minha presença. Acalmei a respiração, olhei para fora novamente e notei que seus passos vagarosos tornaram a serem ouvidos, para o meu alívio ele voltou a caminhar.
Dei mais alguns passos chegando perto dos corpos putrefatos ao lado da entrada, segurei a respiração e vigiei a rua para ter certeza de que poderia deixar o local sem ter a minha presença notada. Ao longe estava o mesmo transformado caminhando lentamente, olhei para o lado oposto da rua e para o outro lado, como previsto não havia ninguém.
Sai do mercado com cuidado, desejando não chamar atenção desnecessária. Atravessei a rua e a segui em frente, sempre olhando pelos cruzamentos e tendo mais cautela com locais escuros e sem saída, esses eram os piors lugares por onde um sovrevivente se arriscaria estar.
Passei por cinco quadras e mais adiante avistei um estacionamento. Com sorte, talvez eu conseguisse encontrar algum veículo funcionando, mas duvidaria se houvesse algum depois de ter se passado quatorze anos de epidemia.
Porém não me custaria nada se eu tentar...
Fui até lá, a maioria dos carros estavam danificados. Alguns inteiros, mas sem a chave, outros completos, porém faltando o combustível. Foi aí que encontrei um carro pequeno que, pelo milagre, deu partida. Senti calafrios, por instinto olhei para a saída do estacionamento, engatei a primeira macha e segui rumo a próxima cidade.
Antes de cruzar a fronteira de São Francisco parei o carro em um posto de gasolina e abasteci o máximo que pude, porque a viagem seria longa. Dirigir sem poder apreciar o local não era a forma que desejava conhecer o mundo, estava me sentindo péssima, talvez por não ter conseguido salvar aquele homem ou pelo fato de não saber muito sobre o meu passado.
Fiquei imaginando como o mundo seria antes de tudo vier para a podridão que se encontra hoje, se as pessoas eram mais solidárias consigo mesmas, se a inocência das crianças eram mesmo preservadas.
Ficar sem o convívio com elas me trouxe muitas dúvidas, tais como os sentimentos. Eles não me serviam para nada quando os momentos pediam por escolhas pela própria sobrevivência.
Chorar e lamentar por tudo isso, é um exemplo de que quero dar a todos de que, certas coisas podem ser em vão, assim como aquele homem estranho se sacrificou pela minha vida.
Talvez eu tenha que levar essa culpa por todo o tempo que pode me restar nesse fim de mundo. Desliguei a bomba quando percebi que o tanque estava quase completo, então deixei a mangueira no lugar e dei a volta no carro entrando no mesmo.
Dei a partida tentando deixar para trás todo o meu remorso de ter parado e dado ouvidos para aquele homem e prometi a mim mesma que nunca mais colocaria a vida de ninguém em risco.
Enquanto dirigia para o meu próximo destino, escutava a rádio na programação de Nova York onde militares responsáveis da base diziam que estavam tomando medidas provisórias para os recém chegados.
— " Os portões estarão sendo vigiados. Na ala Leste serão feitos testes obrigatórios que são necessários para identificar se há algum infectado…"
Todas as informações sendo dadas direto pelo capitão das forças armadas, as pessoas deveriam tomar muto cuidado para não serem mordidas ou levarem arranhões, caso contrário não poderão conseguir um refúgio por lá. Mas o meu caso é diferente, estava mesmo em busca de respostas sobre o meu passado e como fui parar naquele lugar.
Viver apenas com resíduos de memórias e ou fragmentos em sonhos não é a mesma coisa de saber quem realmente você é. Meus pensamentos divagaram por entre muitas delas, principalmente na infância onde sempre tive pouco contato com outras pessoas, e quando decidi fugir daquela clínica e acabei ficando sem um braço.
A parte do braço para mim ainda é um mistério, apenas acordei com a prótese e me esforçei em sair de lá sem ser vista por ninguém. Na época foi difícil, sempre encontrando com algum transformado pelas ruas que hoje é consideirada a ninhada do problema para todos nós.
A rádio apenas transmitia informaçẽs sobre o vírus enquanto percorria mais alguns quilômetros, levei a mão no botão para desligar, mas fiquei com o braço estendido enquanto escutava uma voz grave falar, os pelos do meu corpo começaram a se arrepiar enquanto passava em cima de uma espécie de ponte improvisada feita de toras de pinheiro.
— "Estudos dizem que quase setenta por cento da população dos Estados Unidos, são de infectados. A infecção do Vírus NChornic 30 sofreu variações que fazem com que o organismo da vítima seja afetado de forma ainda mais rápida."
— "...Os cientistas juntamente da base militar de Nova York estão em uma operação ao Leste do país onde a infestação se encontra mais concentrada."
Balancei a cabeça de forma negativa, as pessoas sempre tentam fugir dos problemas. Apredi isso com o pouco de convivência que tive nas ruas, nesse tempo de horror, todos vão sempre priorizar a sua própria sobrevivência e raramente ajudariam o seu próximo. O medo tem um papel importante nessa influência natural das coisas, esse sentimento também é o causador da adrenalina que precisamos em um ato de coragem e é assim que ele tem efeito em meus instintos.
Desliguei o rádio a fim de ter pelo menos um pouco mais de paz, a paisagem das àrvores foi diminuindo até dar lugar para um espaço desértico com rochas montanhosas, a estrada era feita de pedregulhos ao invés de asfalto.
Seria difícil de se encontrar algum infectado nessa região, pelo menos era o que pensava até um aparecer no meio da estrada, a metade do seu máxilar se encontrava reclinada para baixo e uma parte de seu rosto foi arrancado, passei bem do seu lado e percebi que seus movimentos mudaram de inofensivos para ofensivos, começou a correr atrás do carro me fazendo acelerar.
O carro estava alcançando grande velocidade, mas não imaginava que o transformado pudesse me alcançar. As mãos dele estavam agarradas na janela traseira que se encontrava aberta, os gritos roucos que saía de sua garganta arrepiou todos os pelos de meu corpo. Deliberadamente tentei fazer algumas manobras pela pista na intenção de o arremessar para longe.
Mas dessa forma seria quase que impossível, na primeira oportunidade o morto vivo se jogou contra o vidro traseiro o quebrando e entrando dentro do veículo. Os batimentos do meu coração aceleram quando o infectado começa a arranhar o banco do motorista me obrigando a esquivar para os lados. Em meio aos movimentos bruscos, tentei alcançar uma arma que estava caída no chão embaixo da poltrona do passageiro, o infectado tentou me arranhar e me defendi colocando o braço biônico na frente bloqueando o seu ataque.
Nesse mesmo momento, o carro começou a derrapar na pista e meus dedos faltavam tão pouco para alcançar aquela pistola, mas o peso do corpo em cima de meu braço me impedia de me esticar mais para poder pegar, então decidi frear o caro e empurrar o rapaz deformado que estava faminto e pronto para me devorar.
Peguei a arma e mirei em sua cabeça, os respingos do líquido escuro me atingiram. Abri a porta do carro sentindo a revolta me consumir, dessa vez o cheiro iria ficar impregnado em mim até a próxima oportunidade de um bom banho. Respirei profundamente, essa não era a hora de ter chiliques, então tomada de coragem voltei até o carro e arrastei o corpo para fora deixando-o na beira da pista.
Tomei o lugar do volante e prossegui para a próxima cidade, não sabendo ao certo o que esperar que aconteça nela.
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