Capítulo 6
A primeira coisa que faço quando piso meus pés na sala de aula é contar tudo que aconteceu no bar ontem à noite para minha melhor amiga. É claro, omitindo a parte em que liguei para Nicholas. Isso levaria a perguntas que acabariam no maior drama da minha vida: meu casamento. Então, apenas digo que o novato apareceu do nada e me salvou. Detestei colocá-lo nessa posição de príncipe do cavalo branco, mas tive que engolir esse sapo para não ter que contar a verdade. Não quero que Caitlin saiba sobre nós. Não quero que ninguém saiba. Duvido muito que as pessoas entenderiam que só estou fazendo esse sacrifício para ajudar meus pais e realizar meu sonho. O ser humano é rápido demais para julgar. Com toda certeza, me chamariam de prostituta e interesseira. Ou, talvez, algo muito pior.
— Meu Deus, Alison! - Caitlin leva a mão a boca, preocupada. — Agora me sinto totalmente culpada! Devia ter ido te chamar para ir embora! Eu sou uma péssima amiga. - Ela funga, e sei que está prestes a chorar.
— Para com isso, Caitlin. Você pensou que eu estava me divertindo, não precisa se sentir culpada. - Tento tranquilizá-la, apertando sua mão.
— Eu vou ficar te devendo uma, é meu pedido de desculpas.
— Tudo bem, se isso vai te deixar melhor... - Dou de ombros.
Caitlin me dá um abraço de urso que quase extingue minha respiração. Então, vemos Pietro aproximando-se de nós duas e ela me solta imediatamente para arrumar o cabelo. Uso todas minhas forças para não revirar os olhos. Vai começar a melação.
— Oi. - Ele diz sorrindo, ao estar próximo o suficiente.
— Oi. - Caitlin responde, corando.
— Oi, Pietro! - Chamo sua atenção, sorrindo sem mostrar os dentes.
— Ah, oi Alison! Eu nem te vi. - Pietro ri, envergonhado.
— É, eu percebi. - Ergo às sobrancelhas. Pietro sorri mais uma vez para Caitlin e senta-se na cadeira do seu lado.
Eu não tenho nada contra Pietro. Ele parece ser um cara legal, é só que... eu nunca vi Caitlin assim, nunca a vi namorando. Nem eu, para falar a verdade. Éramos só nós duas com o foco total nos estudos. É claro que já ficamos com alguns caras, mas nada sério demais. E agora ela está caidinha por ele e ele por ela. Logo eles vão começar a namorar e eu vou ficar sozinha, com um casamento forçado e infeliz.
— Srta. Campbell? - Ouço a professora me chamar, me fazendo sair de meu estupor.
— Presente! - Respondo automaticamente.
— No que estava pensando? Ela te chamou três vezes. - Caitlin me olha desconfiada.
— Eu? Em nada. - Desvio o olhar para meu caderno. Com minha visão periférica, vejo minha amiga cruzar os braços e me encarar.
O lado ruim de ter uma melhor amiga é que ela te conhece muito bem e sabe quando você está escondendo alguma coisa. Como agora, por exemplo.
— Tem a ver com o novato? - Pergunta.
— O quê?! - Quase me engasgo com minha própria saliva. — Não!
— Desde que ele chegou você tem agido estranha. Ontem ele até te salvou! Como ele apareceu assim do nada? Você ligou pra ele? - Insinua, semicerrando os olhos.
— Claro que não! Tá maluca? Eu nem ao menos tenho o número dele! - Minto descaradamente. — Só não estou me sentindo muito bem. Acho que vou ao banheiro.
Me levanto rápido, sem dar chance de Caitlin me interrogar ainda mais. Penso no que aconteceu ontem e tudo que vem acontecendo na minha vida. E penso em Nicholas, também. Argh, como eu odeio esse garoto! Mesmo tendo me ajudado com a cópia do Mr. Bean, ele continua sendo um babaca, e deixou isso bem claro quando me deu uma carona até em casa. Bufo e fecho meus punhos, irritada. Quando entro no banheiro, acabo esbarrando em alguém forte demais para uma garota.
— Ai! - Levo a mão aos seios, devido o impacto. Levanto a cabeça para descobrir em quem esbarrei e arregalo os olhos. — O que você está fazendo aqui?! - Pergunto, quase gritando.
— O que você está fazendo aqui? - Nicholas ergue às sobrancelhas.
— Como assim? Estou no banheiro... - Ele me interrompe.
— Masculino.
Pisco. Olho em volta e abro a boca quando percebo que estou realmente no banheiro masculino! Meu Deus, o que eu estou fazendo aqui? Sem dar resposta a Nicholas, me viro para sair, mas quando abro a porta vejo o inspetor vindo em nossa direção, olhando para o lado. Rapidamente, entro novamente no banheiro e fecho a porta, apavorada. O inspetor sempre confere os banheiros a cada meia hora, devido a... acontecimentos passados. Se ele me pegar aqui, vai achar que eu e Nicholas...
— Me esconde! - Digo para meu noivo, antes de concluir meu pensamento.
— Quê? - Ele franze o cenho.
— O inspetor está vindo, ele não pode me ver aqui ou serei suspensa! - Explico, com os nervos a flor da pele. Não posso manchar meu histórico com uma suspensão. E não posso virar chacota da faculdade por conta de um mal entendido, principalmente com Nicholas!
— Hum... deixa eu pensar... - Ele coloca a mão no queixo e finge pensar. — Acho que não. - Sorri maliciosamente.
— Isso é sério, Nicholas! Será que você pode parar de ser um idiota por um minuto? - Elevo o tom de voz, ficando ainda mais irritada com ele. Ouço os passos do inspetor se aproximando e a irritação dá lugar ao desespero. — Por favor!
Em menos de cinco segundos estou sendo puxada para a última cabine do banheiro, onde nós dois entramos. Quando olho para o chão e vejo uma barata, involuntariamente dou um grito, arregalando os olhos em seguida. Nicholas coloca um dos dedos indicadores sobre sua boca e o outro sobre a minha, fazendo "shh!" para que eu fique quieta.
Ouço a porta do banheiro se abrir e em seguida a voz do inspetor:
— Eu ouvi um grito. Quem está aí?
— Droga, ele me ouviu. - Digo baixinho, apenas para Nicholas escutar. — Se ele vier até aqui, vai ver meus pés e descobrir!
Fecho os olhos com força. Tudo por conta de uma barata idiota! Agora seremos pegos, e estamos numa situação muito mais suspeita do que antes, o que só vai piorar tudo.
— Fique quieta. - Nicholas sussurra em meu ouvido, me fazendo arrepiar com sua proximidade e a rouquidão de sua voz.
Então, de repente, meus pés não estão mais tocando o chão, e eu tenho que usar todas as minhas forças para não emitir nenhum som, porque agora estou nos braços de Nicholas. E não simplesmente nos braços dele. Eu estou... montada nele! No segundo seguinte que Nicholas me pediu para ficar quieta, ele segurou minhas pernas e as entrelaçou em seu tronco. E eu não sei se estou mais surpresa por ele ter me levantando sem esforço, por estar nessa posição ou por estar tão próxima dele que percebo que seus olhos são do tom de verde mais lindo que já vi.
— Sou apenas eu. - Nicholas responde para o inspetor, parecendo sentir dor. Será que sou tão pesada assim?
Tento me mexer para deixá-lo mais confortável de alguma forma, mas ele aperta minhas coxas com força, me impossibilitando. E é então que eu percebo. Estou de saia e as mãos de Nicholas - que são bem grandes, aliás - estão em contato direto com minha pele. Novamente, fico arrepiada. Mas dessa vez, é diferente, porque não é apenas uma parte do meu corpo que se arrepia, mas ele todo.
— Por que o grito? - O inspetor para em frente a nossa cabine. Meu coração acelera com o medo de ser pega.
— É que... eu... - Nicholas fecha os olhos, tentando pensar em alguma coisa. É isso, estou arruinada. Também fecho os olhos, porque não quero ver quando tudo der errado. — Eu tenho prisão de ventre. E essa é a primeira vez em duas semanas que estou... você sabe. Então é meio doloroso.
Imediatamente, abro os olhos. Não consigo acreditar que Nicholas realmente disse isso. Sou tomada por uma vontade de rir absurda, mas aperto as mãos na boca para não fazer.
— Ah! Tudo bem. Eu... hã... boa sorte aí, garoto. - Diz o inspetor, desconcertado. Ouço seus passos se distanciando e em seguida a porta batendo.
Nicholas e eu nos encaramos, esperando silenciosamente alguns segundos antes de sairmos. Apenas por via das dúvidas. Mas não consigo esperar muito, porque de repente começo a me sentir incomodada e inquieta com seus olhos e mãos sobre mim e comigo sobre ele. Então, saio de seus braços e abro a porta da cabine, inspirando fortemente.
— Essa foi por pouco. - Digo alisando minha saia, simplesmente porque sinto que preciso fazer alguma coisa nesse exato momento.
— É melhor sairmos daqui antes que mais alguém entre. - Nicholas responde, passando por mim e abrindo a porta para verificar se a barra está limpa.
Quando ele assente, saio atrás dele e nos afastamos da porta.
— Nicholas, eu... - Tento agradecê-lo por me ajudar, mas sou interrompida.
— Não faça isso. Não somos amigos e não gosto de você. - Dito isso, ele me dá às costas, indo embora.
Abro a boca, sem acreditar. Como ele pode ser tão bipolar? Em um minuto me ajuda e chega até a me colocar em seu colo para isso e agora age como se eu não fosse nada?
— Babaca! - Digo alto o suficiente para que ele possa escutar e também lhe dou às costas, seguindo meu caminho.
***
— Alison, acorda. - Ouço minha mãe me chamando.
— O quê? - Pergunto ainda grogue, sem abrir os olhos. Eu só lembro de chegar da faculdade, comer alguma coisa e apagar.
— Vamos escolher o seu vestido de noiva, se arrume logo. - Ela diz, saindo do meu quarto em seguida.
Abro os olhos, acreditando que tudo não passa apenas da minha imaginação. Mas não é. Respiro fundo e expiro. É tudo tão difícil. Eu poderia desistir desse casamento idiota, mas... e os meus pais? O que seria de mim? O que seria do meu sonho de ser médica? Infelizmente, esse sonho depende do meu casamento com Nicholas. Abraço meus joelhos e fico pensando em meu futuro, que não será nada do que eu havia planejado.
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