Ontem tinha tudo para ser minha pior noite de sono, mas surpreendentemente, foi a melhor. Dormi como um bebê e acordei tão descansado e disposto que é até estranho. Porém, ainda não levantei, ou sequer me mexi. Alison está dormindo abraçada a mim, com um do braços em volta do meu tronco e uma das pernas enroscada nas minhas.

Pego uma mecha de seu cabelo e brinco com ela, enrolando entre o dedo indicador. E aí, como se tivesse acabado de sair de um transe, eu percebo. Estou deitado e abraçado com Alison, brincando com seu cabelo e sem me mover simplesmente para não acordá-la. Além do fato de que tive uma das melhores noites de sono da minha vida, mesmo com a cama ruim e barulhenta, a tempestade e a pousada meio acabada. E tudo isso porque ela está aqui, ao meu lado.

De repete, começo a me sentir claustrofóbico. Me sinto preso a cama, mas principalmente a Alison. E a sensação é... de total impotência. Minha respiração começa a falhar e fico agoniado. Me desvencilho aos poucos da garota e respiro fundo quando fico de pé. Resolvo então tomar banho, porque é algo que sempre me ajuda a relaxar. Pego minha toalha, roupas e objetos de higiene pessoal, tranco-me no banheiro, me dispo e entro debaixo do chuveiro.

Inclino a cabeça para trás, de olhos fechados e sentindo a água escorrer por meu rosto. Conviver com Alison me causa um misto de emoções e sentimentos confusos que não sei lidar.  De primeiro, achei que fosse pirar. Ela é teimosa e nunca me escuta. Mas depois, meio que me acostumei com sua presença e todas as opiniões que ela insiste em dar mesmo quando não pergunto. E agora, não consigo imaginar minha vida sem ela. E, não acredito como vivi tanto tempo sem Alison nela. Eu sei, só posso estar enlouquecendo.

Termino meu banho e enrolo a toalha na cintura por enquanto que escovo os dentes. Depois, me enxugo e me visto. Quando saio do banheiro, Alison ainda está dormindo. Então, aproveito para descer e pegar café da manhã para a gente. Opto por torradas e ovos, suco de fruta e um pedaço de bolo de chocolate com cobertura e recheio também de chocolate. A comida está com a cara ótima, o que me surpreende. Depois de todas as más experiências com a pousada, achei que a comida seria igualmente ruim.

Volto para o quarto, carregando uma bandeja com comida nas mãos. Abro a porta com o ombro, e quase deixo tudo cair com o que vejo: Alison, coberta apenas por uma toalha que mal cobre suas coxas e demarca todas suas curvas, com os cabelos molhados e alguns pingos d'água escorrendo sobre seu corpo.

— Nicholas! - Ela arregala os olhos quando me vê. — Eu esqueci minha roupa e vim pegar.

— Claro. - Desvio os olhos para a comida em minhas mãos. — Trouxe nosso café da manhã.

— Ah! Obrigada. Só vou me trocar e já venho. - Dito isso, ela entra no banheiro apressada e tranca-se nele.

Sento na cama e ponho a bandeja também sobre ela. Estava decidido a esperar por Alison antes de comer qualquer coisa, mas minha mente me tortura, sempre voltando ao momento que em que a vejo de toalha. Fecho os olhos e suspiro, para me acalmar. Como não funciona, enfio um pedaço de torrada na boca, para distrair-me.

Escuto a porta do banheiro abrir-se, mas não me viro. Espero Alison vir se sentar em minha frente. Ela está com uma saia jeans curta e blusa vermelha, ombro a ombro. Os cabelos estão soltos, secando naturalmente, e parece não haver maquiagem em seu rosto. Ela está linda. Na verdade, Alison sempre foi linda, mas a detestava tanto que nunca parei para realmente perceber isso. Mas agora, consigo perceber porque... porque não a detesto mais. E não sei o que isso quer dizer.

— Estou morrendo de fome! - Ela exclama, ao mesmo tempo que pega uma torrada com ovos e morde o primeiro pedaço.

— Quando você não está? - Retruco, erguendo às sobrancelhas.

— Para ser sincera, não sei. - Alison dá risada, e é como música para meus ouvidos, então sorrio.

Terminamos de comer, arrumamos nossas coisas e descemos para a a recepção. Pago nossa hospedagem e vamos para o carro. Consigo sinal de internet e descubro que o passeio de hoje para Capri foi cancelado devido a tempestade. Bufo, decepcionado.

— O que foi? - Alison pergunta, me encarando com seus olhos cor de mel.

— A viagem à Capri já era. - Suspiro.

— Ah, sério? Sinto muito. - Ela faz um biquinho fofo.

— Perdemos um dia. - Balança a cabeça de um lado para o outro e entro no automóvel. Alison faz o mesmo.

— Não foi tão ruim assim. - Ela diz baixinho, virando a cabeça em minha direção.

Olho para Alison e me perco em seus olhos. Lembro de como foi tê-la em meus braços na noite passada e não posso deixar de concordar.

— É. Você tem razão. - Sorrio de lado. Em seguida, nos levo de volta para Milão.

                                  ***

Quando voltamos para a capital da moda, Alison não quis ficar em casa. Então, fomos a uma gelateria. Ela pediu um gelato de chocolate belga e eu de beso doble. Enquanto consumimos, caminhamos pela calçada de volta para o hotel.

— Nossa, é tão macio e cremoso! - Alison exclama, maravilhada. — Sem dúvidas, o melhor gelato que já provei!

— Concordo totalmente. - Balanço a cabeça, assentindo.

— Tyler amaria esse sorvete. - Comenta, sorrindo fraco. Sorrio também, lembrando do meu amigo. Sorvete é uma de suas coisas favoritas no mundo.

— Uma vez, quando éramos crianças, ele gastou toda a mesada em sorvete. - Confidencio a ela, que dá risada.

— E o que aconteceu?

— Bom, digamos que ele passou alguns meses para acabar com todo sorvete. - Olho para baixo e rio baixinho.

— Imagino que você tenha ajudado. - Ela me lança um olhar cúmplice.

— Com toda certeza. - Respondo. Alison bate o ombro em meu braço, brincando, e nós dois rimos. Então, lembro-me de algo. — Disse ao meu pai que ligaria hoje, daqui a pouco. É melhor nós irmos, Sra. Carter.

Chamá-la dessa forma é estranhamente bom. É como se... como se meu sobrenome tivesse sido feito especialmente para ela usar.

— Tudo bem, Sr. Carter. - Alison retruca, com um pequeno sorriso nos lábios.

Sorrio de volta. Passo um dos braços em volta dos ombros de minha esposa e ela não se opõe. Andamos assim até o hotel.

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Oi, gente! Tudo bem? Resolvi fazer esse capítulo na perspectiva do Nicholas para vocês saberem um pouquinho de como ele se sente em relação à Alison. Espero que tenham gostado, até segunda! Beijos! 😘❤️