Capítulo 23
Escuto batidas na porta e desperto de meu sono. Me espreguiço lentamente e só então me sento, ainda sentindo-me um pouco sonolenta.
— Pode entrar. - Permito, enquanto coloco minha roupa no lugar.
Uma fresta da porta é aberta e Nicholas coloca a cabeça. Seus cabelos loiros estão bagunçados, o rosto amassado e os olhos verdes levemente mais escuros do que de costume. Provavelmente, acordou há pouco tempo. Assim como eu.
— Fiz comida. Você quer? - Ele pergunta. Imediatamente, me animo.
— Quando se trata de comida, a resposta é sempre sim. - Puxo os lençóis de cima de mim e pulo da cama.
Nicholas vai na frente, mas eu vou primeiro ao banheiro escovar os dentes. Depois, visto um shortinho e uma blusa e amarro o cabelo. Pego o celular para verificar as horas e só então lembro da mensagem de Caitlin. Respondo na mesma hora.
Alison
Nós estávamos no London Eye e meio que rolou um clima. Nos inclinamos e nossos lábios roçaram um no outro. Não passou disso. A roda gigante mexeu e nos separamos. Desde então, tenho tentado não surtar por isso. Quanto mais conheço Nicholas, mais percebo que ele não é nada do que eu pensava.
Jogo o celular na cama e vou para a cozinha. Encontro Nicholas e dois waffles com uma cara ótima. Minha barriga ronca em resposta.
— Você demorou. - Ele diz, me encarando. Depois, aponta para um dos waffles. — Prova. Acho que estou melhorando minhas habilidades culinárias. - Ele sorri de forma presunçosa.
— Eu vou me arrepender? - Arqueio às sobrancelhas.
— Provavelmente. - Responde, o que nos faz rir.
— Ok, vamos lá.
Sento à mesa, corto um pedaço do waffle e o levo a boca. Está ótimo. Uma delícia. Mesmo assim, mastigo em silêncio, sem revelar nada em meu semblante, apenas para deixar Nicholas curioso.
— E aí? - Pergunta, com ansiedade.
— Humm... - Murmuro, lambendo o lábio inferior. — Está surpreendentemente... bom.
— Pode dizer que está ótimo. Não mata, sabia? - Ele provoca, comendo um pedaço.
— Convencido. - Retruco. — Porém, está está realmente muito bom. Tenho que admitir. - Enfio mais um pedaço na boca. — Então, o que vamos fazer hoje? Quero visitar alguns lugares.
— Por mim, tudo bem. Estou pensando em irmos a Capri, amanhã. É onde fica a Gruta Azul e quero muito conhecer.
— É muito longe? - Coloco o último pedaço do meu waffle na boca.
— Umas nove horas.
— Nove horas? - Ergo às sobrancelhas. — Nossa, é muito. Dá preguiça só de pensar.
— Eu sei, mas o lugar é lindo. Acho que vale a pena. - Ele dá de ombros.
— É. Estamos aqui para aproveitar mesmo. - Concordo, e em seguida me levanto, animada. — Vou me arrumar!
Corro para meu quarto e tiro da mala meu look do dia: uma blusa off white colada, sem decote e com as mangas até os pulsos. Calça cáqui, sobretudo e bolsa bege e um tênis branco. Seco o cabelo e faço babyliss. Depois, passo maquiagem e coloco meu óculos escuro no topo da cabeça. Vou para a sala e encontro Nicholas já arrumado, trajado de calça, blusa e sapatos pretos. O único destaque é seu sobretudo cinza escuro. Respiro fundo. Ele está... lindo.
— Combinamos no sobretudo. - Ele aponta para minha peça de roupa, com o queixo.
— É. Combinamos. - Sorrio fraco. Provavelmente estou com cara de boba.
Em seguida, saímos do hotel, pegamos um táxi e fomos direto para a Catedral de Milão. Tivemos que esperar na fila por quase três horas, mas valeu a pena. Chamar o lugar de lindo seria eufemismo. Fiquei maravilhada com a construção e toda a beleza que ela exalava. Era algo surreal. Depois, fomos visitar a Galeria Vittorio Emanuele II, outro lugar incrível. Aproveitei para fazer algumas comprinhas na Savani, Louis Vitton e Prada com o cartão que o pai de Nicholas nos deu para gastarmos em toda viagem.
Após gastarmos nossas energias, decidimos recuperá-las com a culinária italiana. Começamos comendo uma Tagliatelle Bolognese, que estava simplesmente divina. Em seguida, pedimos também o famoso Ossobuco, um risoto feito com açafrão, manteiga, cebola, arroz, vinho branco, caldo de carne e queijo, com um pedaço generoso de uma carne super macia, que vem da panturrilha da vitela. E, para finalizar, pedimos um tiramsu de sobremesa. Nem preciso dizer que estava igualmente delicioso.
— Mal posso esperar para chegar amanhã e nós comermos mais. - Digo a Nicholas, enquanto andamos pela praça Piazza del Duomo.
— Vai acabar explodindo desse jeito. - Ele ri.
— Bom, explodirei feliz. - Suspiro, feliz, e depois faço uma careta. — Mas será que podemos voltar para o hotel a pé? Estou precisando caminhar para ajudar na digestão.
— Com certeza. - Nicholas topa na hora, o que nos faz rir.
Caminhamos tranquilos, como se tivéssemos todo o tempo do mundo. De vez em quando, parávamos e tirávamos algumas fotos. Tudo em Milão é lindo e fotografável. Tenho certeza que Caitlin e mamãe adorariam a cidade, principalmente por ela ser conhecida pela moda. Talvez um dia possa voltar aqui com as duas.
— Ei, Alison. - Ouço Nicholas dizer.
— O quê? - Pergunto, distraída com a beleza da cidade ao meu redor.
— Eu te devo desculpas.
Viro a cabeça para olhar para ele, sem acreditar no que acabei de ouvir. Nicholas está com as mãos dentro dos bolsos da calça e encara o chão.
— Como é? - Pergunto, franzendo o cenho.
— Por aquele dia na faculdade. Quando deixei todos pensarem que você dormiu comigo. Eu fui... um babaca. Me desculpe. - As palavras saem de sua boca com sinceridade. Nicholas volta a cabeça em minha direção, fitando meu rosto.
— Eu... - Começo a dizer, surpresa com seu pedido de desculpas. — É claro. Eu te desculpo. Principalmente porque você teve o que mereceu. - Nós dois sorrimos.
— E como! Caitlin bate forte, aliás. - Ele ergue às sobrancelhas, me fazendo rir.
— Geralmente, ela não é violenta. - Defendo minha amiga.
— Mas eu mexi com a melhor amiga dela, entendi. - Ele assente. — Eu faria o mesmo por Tyler, então tudo bem.
— Você fez por mim também, quando bateu na cópia do Mr. Bean. Isso nos faz amigos? - Semicerro os olhos e passo a andar de costas, olhando para Nicholas.
— Você também bateu nele por mim. Isso nos faz amigos, Alison? - Ele retruca, sorrindo de lado.
— Bom, eu perguntei pri... Ah! - Grito de susto quando quase caio por chegar ao fim da calçada, sem perceber.
Por sorte, Nicholas consegue me pegar a tempo. Ele segura em minha cintura e me puxa contra ele, o que faz nossos corpos colidirem um no outro. Nossos rostos ficam apenas a centímetros de distância, e quando olho em seus olhos... simplesmente esqueço de respirar.
— Eu acho... - Nicholas começa a dizer, um pouco ofegante. — Que nunca poderemos ser amigos.
Meu coração bate mais forte dentro do peito e eu engulo em seco. Estava prestes a perguntar porque nunca poderemos ser amigos, quando meu celular começa a tocar. Viro o rosto para o lado e solto a respiração. Então, me afasto. Ao olhar para o visor do celular, vejo que Matt está me ligando. Dou uma última olhada para Nicholas e atendo, me distanciando alguns metros dele.
— Hey, Matty! - Digo, tentando parecer empolgada.
— Oi, amor! Você está ocupada? Espero não ter atrapalhado nada.
— Não, não. Claro que não. Eu estava só passeando pela cidade.
— Ah, que bom! E como é aí em Milão?
— Lindo. É... perfeito.
— Legal! Espero que esteja tirando várias fotos para me mandar.
Olho na direção de Nicholas e não o vejo. Giro para todos os lados, até encontrá-lo do outro lado da rua, dando a mão para pegar um táxi.
— Matt, nos falamos depois, ok? Preciso ir. Tchau! - Desligo sem esperar resposta.
Corro até Nicholas e o alcanço no exato momentos que um táxi para em sua frente.
— Ei! Você ia mesmo ir embora sem mim? - Pergunto, desacreditada.
— Eu deveria esperar você terminar de falar com seu namorado? - Rebate, grosseiro.
— Não seja idiota. - Franzo o cenho.
— Bom, essa é minha especialidade. - Nicholas ergue às sobrancelhas para mim, e em seguida, abre a porta do táxi e entra.
Me recuso a pegar o mesmo táxi que ele. Se Nicholas quer agir como um idiota, ótimo. Eu não me importo. Assisto o carro partir e viro às costas.
***
Não há sinal de Nicholas quando chego no apartamento. Ou ele saiu ou nem chegou a voltar. No entanto, eu não ligo. É bem melhor que ele não esteja aqui. Tiro meu sobretudo e jogo em cima da poltrona. Depois, tiro também os tênis e os deixo no meio da sala mesmo. Então, sento-me no sofá e fico remoendo o que aconteceu mais cedo. Nicholas me pediu desculpas por ser um idiota em um minuto, e no outro, foi exatamente um idiota! Pensei que estávamos finalmente nos entendendo, mas toda vez que acho isso, ele me mostra o contrário.
Então, me lembro do que Nicholas disse antes de Matt me ligar. Eu acho que nunca poderemos ser amigos. Ele tem razão, nunca poderemos ser amigos. Porque mesmo quando quero gostar dele, Nicholas me faz detestá-lo. Bufo, irritada. Então, pego meu celular para me distrair e ver se recebi alguma mensagem de minha amiga.
No entanto, Caitlin ainda não vizualizou minha mensagem. Na verdade, ela não esteve online o dia todo, o que é bem estranho. Da última vez que nos falamos, ela e Tyler estavam juntos. Será que os dois saíram novamente? Ou, talvez, ela esteja com Pietro. Suspiro fundo. Cansada de alimentar paranóias, deixo o celular de lado.
Ligo a TV e assisto um programa de culinária para passar o tempo. Porém, estava tão entendiante que acabei pegando no sono e só acordei uma hora depois, com meu celular tocando.
— Alô? - Atendo sem nem me dar o trabalho de olhar quem é. Ainda estou despertando.
— Olá, Alison. - Meu sogro. Ótimo. — Liguei para Nicholas umas três vezes, mas ele não me atendeu. Está tudo bem por aí?
A porta se abre no mesmo segundo, com Nicholas entrando por ela. Olho para ele com raiva e respondo a Tom:
— Ah, oi sogrinho. - Afino a voz e sorrio falsamente. — Nicholas não atendeu o celular porque eu o esfaqueei, e agora estamos no hospital. Mas juro que foi legítima defesa! Ele tentou me matar asfixiada com o travesseiro e colocou a culpa no sonambulismo que sabemos que ele não tem. Enfim, tive que me defender.
— O quê?! - Exclama, nervoso. Espero que ele não tenha um infarto.
— Você está maluca? - Nicholas pergunta, tomando o celular de minhas mãos. — Pai, sou eu. Sim, estou bem, foi só uma brincadeira de mau gosto da Alison. Eu estava passeando pela cidade e meu celular descarregou, só isso. Tudo bem. Tchau. - Quando termina de falar com o pai, ele me encara, sério e cheio de raiva. — Por que fez isso?
— Desculpa, não consegui evitar. É minha especialidade. - Uso sua frase contra ele. Em seguida, pego minhas coisas e vou para meu quarto.
Tomo um banho de água quente, para relaxar. Escovo os dentes, visto meu pijama e vou me deixar. Assisto Diário de uma paixão pela quinta vez, na Netflix, e só depois vou dormir.
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