Capítulo 15
Tenho uma surpresa desagradável quando me olho no espelho. Estou um lixo. Meu rosto está inchado, molhado de lágrimas e o nariz vermelho. A última vez que me lembro de chorar assim foi quando descobri que teria que me casar com Nicholas, o que já faz um bom tempo. Puxo um pouco de papel higiênico para me assoar e vou me deitar em minha cama, pegando meu notebook antes. Abro o e-mail e vejo várias mensagens, mas clico direto na da faculdade.
Prezados (as) aluno (as),
É com imenso choque e tristeza que viemos notificar por meio do presente e-mail que vários prédios e instalações da Universidade Stanford foram vítimas de ataques terroristas na madrugada desta segunda-feira. Por isso, precisaremos de um tempo para reformá-los e também para garantir a segurança de todos vocês, nossos preciosos e queridos alunos. Portanto, declaramos que a partir de amanhã vocês estarão oficialmente de férias antecipadas, que durarão até data imprevista. Estaremos recebendo doações de todos que se dispuserem a ajudar.
Atenciosamente,
Reitoria da Universidade Stanford.
Abro a boca em um perfeito "O". Ataque terrorista? Meu Deus, que coisa terrível! Imediatamente, desligo o notebook e vou correndo para a sala assistir o noticiário. Talvez algum idiota tenha hackeado o e-mail da universidade e resolveu fazer essa brincadeira sem graça. Ao chegar no cômodo, sou surpreendida ao vê-lo completamente limpo, sem resquícios algum da festa. Ótimo, Nicholas não fez nada mais que sua obrigação. Mudo para o canal do jornal e vejo a reportagem sobre o que aconteceu na Stanford. Sento no sofá segurando o controle nas mãos, ainda chocada por isso ser realmente verdade.
A porta se abre de repente e eu levo um susto, relaxando ao ver que se trata de Tyler.
— Não faz nem uma semana que pedi transferência para a Stanford e já houve um ataque terrorista! Isso é sorte ou azar? Prefiro acreditar que seja sorte. - Ele entra sem cerimônia, indo até o balcão e deixando uma sacola em cima dele.
— Você pediu transferência para Stanford? Achei que estava aqui só de passagem. - Digo, surpresa.
— Por quê? Está me expulsando de volta para o Canadá? - Ele semicerra os olhos.
— Não, claro que não. - Afirmo, balançando a cabeça. — Gosto de ter você aqui.
— Que bonitinha. - Tyler faz biquinho, apertando minha bochecha em seguida. Dou um tapa em sua mão, rindo.
Ele abre a sacola, revelando um pote de sorvete de flocos. Pega duas colheres azuis que vieram junto e me estende uma.
— Nossa. - Ele me encara, erguendo às sobrancelhas.
— O quê? - Pergunto, pegando a colher de sua mão.
— Você está uma porcaria. - Diz com sinceridade.
— Uau, obrigada. - Franzo os lábios.
— O que aconteceu? - Pergunta, ao mesmo tem que abre a tampa do pote.
— Briguei com a minha melhor amiga. - Dou de ombros, desanimada. Em seguida, pego um pouco de sorvete com a colher e levo a boca. Quando olho para Tyler, vejo-o me encarando com uma expressão de "quero detalhes". Suspiro e conto tudo.
— Mulheres... sempre fazendo tempestade em copo d'água. - É a vez de Tyler suspirar.
— Isso não é verdade. - Defendo meu gênero.
— É claro que é. - Ele afirma, comendo um pouco de sorvete.
Escuto o som de passos, e logo Nicholas aparece, juntando-se a gente. Ele rouba minha colher, pega quase uma bola de sorvete e põe tudo na boca.
— Ei! - Pego minha colher de volta, indignada.
— Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. - Tyler recita, pegando o pote de sorvete e indo sentar-se na poltrona da sala. Lanço um olhar fuzilador (se é que essa palavra existe) para Nicholas.
— Qual é, vai ficar com raiva só porque falei para você limpar a casa? - Ele ergue às sobrancelhas.
— Viu? Tempestade em copo d'água. - Tyler se pronuncia, com a boca cheia de sorvete.
— Eu estava triste e chorando e ele me disse para limpar a sujeira que a festa dele causou! - Me defendo novamente, ficando levemente exaltada.
Tyler começa a rir e se engasga. Nicholas e eu esquecemos nossa discussão do dia e começamos a rir. Ouço a campanhia tocar repentinamente e vou atender, me surpreendendo com quem está do outro lado da porta.
— Oi. - Caitlin sorri timidamente, sem mostrar os dentes.
— Oi! - Digo surpresa, ainda sem acreditar que ela está aqui. Sinceramente, não esperava vê-la tão cedo.
Em questão de segundos, vários fios vermelhos estão grudados em meu rosto e meu corpo é apertado. Então, percebo que Caitlin está me abraçando.
— Desculpe por ter ido embora. Fiquei chateada por ter mentido, mas entendo porque fez isso. - Ela se afasta, olhando-me nos olhos.
— Claro! - Sou rápida em desculpá-la. Detesto brigar com Caitlin. — Me desculpe por ter mentido. Você é a única pessoa que posso confiar e eu deveria ter feito exatamente isso.
— Tudo bem. Sem ressentimentos! - Caitlin sorri, alegre.
— Sem ressentimentos. - Repito, também alegre e sorrindo. — Você quer entrar?
Minha amiga assente, passando pela entrada. Depois que ela entra, fecho a porta. Quando me viro, me deparo com Tyler e Caitlin encarando um ao outro surpresos.
— Você. - O canadense diz com reconhecimento. — Se eu soubesse que Palo Alto me traria tantas boas surpresas, teria me mudado para cá há muito tempo.
— Tyler. - Diz Caitlin, também com reconhecimento.
— Ah, fico feliz que tenha escutado meu nome. - Ele sorri largamente. — E lembrado também, é claro.
— Você gritou. Literalmente. - Ela explica, como se fosse óbvio. — Não sou surda. E nem tenho amnésia.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? - Chamo atenção dos dois.
— É, como vocês se conhecem? - Nicholas pergunta, parecendo tão perdido quanto eu.
— Ela é a garota do elevador. - Tyler explica para o amigo, que apenas solta um "ah". Isso comprova minha teoria de que homens também fofocam.
— Garota do elevador? - Caitlin pergunta, franzendo a testa. — Que pouco criativo.
— Você preferiria garota da blusa manchada de café? Ou, talvez, ruiva esquentadinha? - Tyler inclina a cabeça para o lado, sorrindo largamente. — Ah, já sei! Garota que tira a blusa na frente de estranhos.
Arregalo os olhos.
— Caitlin? - Olho para minha amiga, pedindo uma explicação.
Minha amiga explica como, quando e onde conheceu Tyler e só então paro de me sentir um peixe fora d'água.
— Enfim, estamos de férias. O que acha de fazermos alguma coisa? - Caitlin se dirige a mim. Estava prestes a responder, mas Tyler é mais rápido.
— Eu adoraria! Que tal boliche? - Ele propõe, levantando-se. — O que acha, mano? - Tyler passa um dos braços ao redor do pescoço de Nicholas.
— Parece uma boa ideia. - Meu marido (acrescente um emoji revirando os olhos e outro vomitando) responde.
— Vocês não foram convidados. - Caitlin rebate.
— Tudo bem, será meninas contra meninos. - Me pronuncio. — Estou ansiosa para acabar com eles. - Sorrio maliciosamente para minha amiga, que retrubui.
***
— Merda! - Caitlin reclama quando arremesa a bola pela segunda vez e consegue derrubar apenas quatro pinos.
Nicholas e Tyler comemoram com um high five. Estamos na penúltima partida do jogo, perdendo por cinco pontos. Porém, ainda podemos virar o jogo. Me recuso a deixá-los ganharem, sou competitiva demais para isso.
Levanto do banco e me aproximo da pista. Pego a bola com as duas mãos, enfio o polegar, dedo médio e anelar da mão direita nos três buraquinhos, levando-a a altura do peito. Concentrada, miro a linha central da pista, curvo-me levemente, solto o braço como se fosse um pêndulo e finalmente arremesso a bola. Prendo a respiração enquanto espero a bola parar de rolar e chegar ao seu destino. E quando acontece, todos os dez pinos são derrubados. Strike!
— Yes! - Grito empolgada, ao mesmo tempo que pulo com os braços para o alto. Caitlin faz o mesmo, porque agora estamos na frente.
— Não fiquem tão animadas, assim a decepção será maior. - Nicholas tenta cortar nosso barato, mas não ligo, apenas mostro minha língua para ele.
É a sua vez de jogar. Nicholas caminha para a pista ao lado da minha e eu o observo, de braços cruzados e com um semblante de indiferença. Ele repete o mesmo processo que eu: enfia os dedos longos nos buraquinhos e leva a bola na altura do peito. Impensavelmente, me pego olhando para seus bíceps flexionados, que parecem maiores desde que nos conhecemos. Ele se curva um pouco e mira a linha central da pista, assim como eu fiz, e parece tão concentrado que comoção alguma o tiraria de seu estado. Então, ele joga o braço para trás e depois para frente, arremessando a bola e fazendo também um strike.
— Isso! - Nicholas soca o ar, com um largo sorriso no rosto.
Caitlin resmunga, Tyler comemora e eu... eu deveria estar esboçando alguma reação, mas me perdi no exato segundo em que Nicholas sorriu alegre e despreocupado. Ele fica bonito assim. Mais do que o costume. Quando percebo que rumo meus pensamentos estão tomando, balanço a cabeça para os lados e desvio os olhos.
É a vez de Caitlin jogar. Minha amiga se levanta decidida e focada, como se nada pudesse abalá-la. Ela joga a bola e acerta sete pinos, o que lhe dá direito de jogar mais uma vez. Ao jogar a bola pela segunda vez, Caitlin faz um strike e nós comemoramos. Agora é a vez de Tyler. Ele será o último a jogar, encerrando nossa disputa de vez. Rôo as unhas, nervosa. Nicholas observa o amigo sem nem piscar, e Caitlin parece prender a respiração. Se Tyler conseguir, no mínimo, derrumar sete pinos e fazer um strike, eles são vencedores. Parecendo divertir-se com nossa tensão, o canadense se espreguiça e depois se alonga, adiando o resultado do jogo.
Então, depos de uma série de xingamentos nossos, Tyler lança a bola. Ela segue rolando rapidamente e em linha reta. Consigo quase sentir o gosto da derrota quando a bola desvia para o lado e acerta apenas dois pinos. Caitlin e eu pulamos de nossos assentos, gritando de alegria, porque mesmo que Tyler consiga um strike em sua segunda jogada, não há mais como eles vencerem. Abraço minha amiga e pulamos juntas. Em seguida, fazemos nossa dancinha da vitória, jogando os braços para o alto e remexendo os quadris para os lados. Lanço um olhar rápido para Nicholas, apenas para ver sua reação com sua derrota e me surpreendo quando o pego me encarando com um sorriso contido nos lábios.
— Vocês estão nos devendo chocolate! - Caitlin exclama.
— E por que só sabemos disso agora? - Nicholas rebate, semicerrando os olhos.
— Porque existia a minúscula possibilidade de vocês vencerem. - Explico, entrando na onda de Caitlin. — E não queríamos pagar para vocês.
— Nossa, que pão duro, Alison! - Tyler diz em tom de brincadeira.
— Me desculpe, estou falida. - Dou de ombros.
Nós quatro nos entreolhamos e começamos a dar risadas. E essa é a primeira vez que a falência de minha família e meu casamento com Nicholas não parecem tão ruins assim.
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