Capítulo 1
Quando o despertador toca pela provável milésima vez, me forço a levantar. Olho para o visor e vejo que ainda me restam trinta minutos para me arrumar. Ok, vou precisar de um milagre. Hoje é o primeiro dia de aula na faculdade - que eu curso há dois anos - e não posso me atrasar de forma alguma. Os primeiros dias de aula são sempre como a primeira vez no campus, e é preciso causar boa impressão nos novos professores.
Me levanto ainda sonolenta e acabo escorregando no tapete, dando de cara com o chão. Gemo de dor. Ótima maneira de começar o dia.
Depois de um banho rápido, visto uma calça jeans e uma blusa social branca, com uma blusa de lã marrom por cima. Calço um vans preto e prendo meus cabelos loiros em um coque, porque estou sem tempo de fazer algo mais elaborado. Pego minha mochila - que graças a Deus eu já havia colocado tudo que iria precisar ontem à noite - e desço às escadas.
Meus pais e nem os funcionários estão em casa, o que é muito estranho. Minha universidade, Stanford, fica a 1,7 km de Palo Alto, a cidade que eu moro. Da minha casa até lá são uns 2 km. Não é muito, eu sei, mas eu estou atrasada, ainda preciso passar em uma cafeteria e o motorista está de folga hoje. Justo hoje! E não, eu não tenho carteira de motorista. Para minha total vergonha, não consegui passar em nenhuma das cinco provas que fiz. Na primeira vez fiquei tão nervosa em não conseguir passar que acabei não passando. Na segunda, fiquei ainda mais nervosa por não ter passado na primeira e acabei não passando novamente. E foi assim até a quinta vez. Então, desisti temporariamente.
Quando entro na cafeteria, faço meu pedido às pressas. Agora tenho só dez minutos antes da aula começar. Pego meu celular e mando uma mensagem para Caitlin.
"Hey!"
Aperto no botão de enviar e logo o meu celular começa a vibrar feito louco.
"ALISON CAMPBELL JOHNSSON!"
"ONDE VOCÊ ESTÁ?!"
A calmaria em pessoa.
"Tô na cafeteria. Já tô chegando, me atrasei um pouco"
Pego meu Expresso Mocha das mãos da atendente e pago por ele. Em seguida, me divido em correr o mais rápido que posso e beber meu café, o que obviamente acaba com respingos de café em minha blusa de lã favorita. Xingo alto mas continuo correndo, porque agora só me restam quatro minutos.
"UM POUCO? FALTAM 4 MINUTOS PRA AULA COMEÇAR! JÁ QUE VOCÊ GOSTA TANTO DO FLASH TENTA IMITAR ELE AGORA E CORRE! SÓ CORRE!"
Visualizo a nova mensagem de Caitlin e enfio o celular no bolso da calça. Dou o último gole em meu café, jogo o copo no lixo mais próximo e continuo a correr. Quando finalmente chego na sala de aula, estou tão cansada que minhas pernas estão bambas e consigo sentir o suor escorrendo pelo pescoço. Eu realmente preciso voltar para a academia.
Imediatamente, todos olham para mim, inclusive o professor Chase. Enrubesço na hora. Detesto ser o centro das atenções. Pelo menos, assim.
— Desculpe. - Digo baixinho. O professor Chase apenas assente sem parecer importar-se muito, e volta a escrever no quadro o que quer que seja que ele estava escrevendo.
De cabeça baixa, caminho até o assento ao lado de Caitlin.
— Chegando atrasada logo no primeiro dia, hein? - Ela arqueia uma sobrancelha.
— Quando acordei tinha apenas meia hora para me arrumar, tomar café e literalmente correr até aqui, então eu diria que até que fui rápida. - Me defendo, sentando-me na cadeira.
— Claro, como o Flash. - Ela ironiza.
Mostro meu dedo do meio para ela, que dá uma risadinha. Abro meu caderno e começo a escrever algumas anotações.
***
— Sabe, estou pensando em me mudar para os dormitórios daqui. - Caitlin comenta, enquanto coloca macarrão com almôndegas em seu prato.
— É, acho que pode ser legal. - Dou de ombros, colocando a mesma coisa que ela no meu prato. Eu ainda não tinha pensado muito sobre isso.
Após pegarmos nosso almoço, sentamos em uma das mesas do fundo e logo Anna vem sentar-se com a gente.
— Oi Ali, Oi Cai. - Ela diz sorridente.
— Eu detesto esse apelido. - Caitlin reclama, fazendo a careta de sempre.
— Eu gosto de Cai. - Digo pensativa.
— Eu também. - Anna sorri.
— Mas eu não! - Caitlin protesta, emburrada.
— Tá, então vou te chamar de... iCarly!. - Testo sua paciência.
— Ah, não! Fala sério! - Ela responde, fazendo com que Anna e eu riamos.
Caitlin e eu somos melhores amigas desde os nossos dois anos e meio de idade até agora, aos 19. Já enfrentamos e vivemos muitas coisas juntas, e todos os dias eu agradeço por tê-la em minha vida. Sem ela tudo seria mais difícil. Nós duas conhecemos Anna aqui mesmo, na Stanford. Ela cursa direito, é super gente boa e muito legal, não é considerada uma melhor amiga, mas podemos contar sempre com ela.
— Vou indo, gente. Tchau! - Anna levanta e acenamos para ela.
— Vamos também, você tem aquela mania chata de sempre querer ir ao banheiro. - Diz Caitlin, revirando os olhos.
— Eu tenho necessidades, ok? - Me defendo.
— Parece mais mania, isso sim.
Antes do intervalo acabar, já estávamos na sala. Não vejo a hora de ser pediatra logo, mas ainda vai demorar um bom tempo, então foco no presente: a aula. Quando dou por mim, a aula já havia terminado. Caitlin me ofereceu uma carona e eu aceitei. Meio receosa, mas aceitei. Coloquei o cinto de segurança e apertei os olhos, abrindo-os só quando já estava em casa.
— Até amanhã, boca de lata. - Me despeço.
Ainda no nono ano, Caitlin teve que usar aparelho e continuou com eles até o terceiro ano do ensino médio. Nos primeiros dias, ela mal falava e tentava a todo custo não sorrir. Foi engraçado no começo, por isso a apelidei de boca de lata. Com o passar do tempo, o apelido perdeu a graça, mas continuei chamando-a assim para irritá-la.
— Meu Deus, passaram-se cinco anos e você ainda não se esqueceu disso! - Ela bufa.
— E nem vou. Bye-bye! - Digo me virando.
— Tchau, quatro-olhos. - Ela revida. Há! Como se ela também não tivesse usado óculos.
Entro em casa com um sorriso no rosto, me sentindo leve e feliz. Porém, levo um susto ao encontrar meus pais me esperando no sofá com uma cara nada boa. Tento puxar na memória qualquer coisa que eu tenha feito de errado, mas nada me vem a mente.
— Precisamos conversar. - Papai é o primeiro a dizer. Apesar do semblante sério, noto tristeza em seus olhos.
— Ok... - Respondo, franzendo o cenho. Sento na poltrona e deixo minha mochila no chão, ao lado.
— A empresa faliu. - Meu pai revela, sem rodeios.
— O quê? Mas como? - Pergunto atônita. Até ontem estava tudo bem, como as coisas podem ter desandado em um dia?!
— O seu pai gastou todo o dinheiro em apostas e... com meu tratamento. - Minha mãe desvia os olhos, triste demais para me encarar.
— Apostas?! - Me exalto, sentindo o sangue ferver. — Você disse que já tinha parado com esse vício idiota! E que negócio é esse de tratamento?! - Me levanto e cruzo os braços, exigindo uma explicação dos dois.
— E eu parei, filha. Eu juro que parei! Mas mês passado um número de ações da Williams Company estava sendo apostado e eu... eu decidi participar. Eu estava certo de que ia ganhar! O jogo estava todo ao meu favor, mas houve uma reviravolta e... eu perdi tudo. - Ele abaixa a cabeça, envergonhado.
— No ano retrasado, no seu último ano do ensino médio, eu descobri que estava com câncer. Como você estava fazendo intercâmbio, pedi ao seu pai que não te dissesse nada. Eu queria que você ficasse feliz, e não preocupada comigo. Seu pai e eu precisamos gastar muito, e ainda temos uma enorme dívida com o hospital. - Mamãe explica, cabisbaixa.
Engulo em seco. Todas essas informações ao mesmo tempo foram como levar um soco no meu estômago. Eu não conseguia respirar. Tudo estava bem, e agora... agora tudo está ruindo ao meu redor.
— Câncer? - Pergunto sentindo lágrimas nos olhos.
— Desculpe por não te contar, eu só não queria atrapalhar a sua felicidade. Por favor, entenda. - Ela segura a mão do meu pai fortemente.
— Você deveria ter me contado. - Minha voz agora é quase um sussurro. Sentindo as pernas bambas, sento novamente no sofá, atordoada.
— Eu fiquei com medo, não queria que se assustasse. Você estava indo para o primeiro ano da faculdade e eu não quis te dar problemas. - Ela se desculpa.
— Mas não acaba por aí. - Meu pai se pronuncia novamente.
— Como assim? Ela está curada, não está? - Pergunto nervosa.
— Sim, mas eu tive que pedir muito, muito dinheiro emprestado ao banco e ao dono de outra empresa amiga, e agora tenho que pagar, só que não tenho dinheiro. E com a empresa falida... Não tenho como conseguir esse dinheiro. - Papai olha para mim, e apesar de estar tentando o máximo que pode permanecer controlado, vejo o desespero em seus olhos. Sinto uma dor aguda no peito em vê-lo assim.
— E a minha faculdade? - Indago, preocupada com meu futuro. Com meu sonho.
— O dono da empresa que eu estou devendo dinheiro nos ofereceu uma proposta... mas eu a descartei na mesma hora.
— Que proposta? - Meu coração estava palpitando de tanta ansiedade. Se essa proposta pode nos ajudar, então por qual motivo meus pais a recusaram?
— Você teria que se casar com o filho dele.
Abro a boca em um perfeito "o" e me recosto no sofá, atordoada. Depois, começo a rir. Porque só pode ser piada. Estamos no século XXI, pelo amor de Deus! Mas é então que olho para meus pais, vejo a seriedade no semblante dos dois e percebo que é real. Paro de rir no mesmo instante. Meu mundo virou todo de cabeça para baixo em menos de dez minutos.
— O quê?! - O choque em minha voz é perceptível.
— Eu tentei achar outra coisa, Alison, juro que tentei. Eu recusei a oferta por isso! Mas... mas não consegui pensar em mais nada. Acho que essa é a única solução... - Ele começa a dizer, mas o interrompo.
— Não! Não! - Grito enfaticamente, levantando mais uma vez. — Eu não posso fazer isso. Foi você que nos arruinou! A culpa é toda sua! Então por que eu que tenho que me sacrificar?! Você faz ideia do que está me pedindo para fazer? - As lágrimas brotam em meus olhos, ficando difícil enxergar qualquer coisa com clareza.
— Eu sei que a culpa é minha. Você não sabe o quanto me arrependo! Se eu pudesse voltar atrás, tudo seria diferente. - Ele responde. E apesar de não conseguir ver nitidamente, ouço sua voz embargada. Mamãe o abraça, tentando confortá-lo.
— Se não pagarmos as dívidas, seremos presos. E você... não vai lhe restar nada, Alison. Nada. - Minha mãe completa, em um sussurro.
Fecho as mãos em punho, porque de repente elas começaram a tremer. Meu coração acelera, as lágrimas rolam por minhas bochechas e eu ainda não consigo respirar. Tudo dói.
— Não, ela está certa. Não podemos pedi-la para fazer isso. Eu vou dar um jeito. Eu vou... eu vou fazer alguma coisa e vai ficar tudo bem. - Papai se levanta, andando de um lado para o outro, pensando em como nos livrar dessa situação.
Mas a verdade é que minha mãe está certa. Eles serão presos, eu vou ficar sozinha e sem nada. Sem nenhum tipo de amparo. E minha faculdade... meu sonho... ele nunca irá se realizar. Não existe outra saída além dessa. Na vida sempre haverá sacrifícios, e você decide por quem e pelo que fazê-los.
— Eu caso. - Digo as palavras sem pensar muito. — Caso com o filho dele.
Meus pais me olham surpresos com minha resposta, mas não fico para ver o que vão fazer em seguida. Apenas corro para o meu quarto e me tranco lá dentro, onde posso chorar pela vida que perdi. Porque quando disse àquelas palavras... Eu sabia que minha vida mudaria a partir dalí, a partir daquela decisão.
Quando as lágrimas cessaram, resolvi ir para uma festa. É uma decisão inconsequente, eu sei. Mas nada mais importa agora. Eu só quero esquecer por algumas horas de tudo que aconteceu, tudo que me contaram. Eu só quero, talvez pela última vez, ser uma adolescente normal. Então, eu visto a primeira roupa que vejo pela frente, limpo meu rosto e passo um pouco de maquiagem, apagando qualquer resquício de choro. Mando uma mensagem para um Uber e quando ele chega, saio sem olhar para trás.
***
Tiro os saltos antes de abrir a porta. Entro com cuidado e sem fazer barulho. Eu estou bêbada. E um pouco zonza também. Consigo ver três sofás, três televisões, três escadas... o triplo de tudo. E só consegui chegar em casa graças a uma garota - que não faço ideia de quem seja - que disse que eu estava bêbada demais para continuar na festa e me trouxe até em casa para que nada de ruim acontecesse comigo. Ela foi bem legal, aliás.
— Droga, quais são os verdadeiros? - Pergunto para mim mesma, enquanto os móveis continuam se triplicando.
Eu não devia ter bebido tanto. Eu nunca fui disso. Mas também, acho que tenho um desconto. Não é todo dia que tenho que me casar com um desconhecido só para salvar minha família. Então, dane-se tudo. Dou mais um passo cambaleante e tomo um baita susto quando a luz dos três abajures se acendem.
— Onde você estava? - Perguntam meus pais. Meus três pais, porque eles estão triplicados, o que é muito estranho. Porém, eles parecem mais preocupados do que bravos.
— Em uma boate, aproveitando a minha vida enquanto ainda posso. - Digo ríspida.
— Alison, você sabe que eu não queria isso para você. Tente entender, dói tanto em você quanto em mim. - Eles dizem, se aproximando.
— Bom, você deveria ter pensado nisso antes de ter arruinado nossa família! - Falo com os olhos cheios de lágrimas.
Passo por ele apressada, batendo em seu ombro sem querer. Subo às escadas que eu acredito que sejam as reais e fico feliz de que realmente sejam. Vou para meu quarto e tranco a porta, deslizando as costas por ela até estar sentada no chão. Então, começo a chorar como nunca antes.
---------------------------------------------------------
Oi pessoal! Esse é o primeiro capítulo da história e eu espero que vocês já tenham gostado dele. Não esqueçam de votar e comentar, é muito importante para que a história continue sendo postada. Bem, provavelmente vocês podem perceber uma certa divergência na minha escrita desse livro e de 15 Coisas Para Fazer Antes de Morrer, isso é porque eu escrevi esse livro há quase dois anos, já 15 coisas... é bem mais recente, e a cada livro eu tento aprimorar ainda mais a minha escrita. Espero que vocês se apaixonem pelos personagens assim como eu me apaixonei. Obrigada! ❤️
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro