Summer Ballard-Hunt

Passo as mãos pela saia rodada do vestido, ela é toda de cetim, o tecido parece brilhar quando o sol que entra pela janela e bate contra o tecido.

O corpete é bem justo e cheio de brilhos espalhados, o decote é em V até o meio dos meus seios e as mangas são curtas até o meio do meu braço.

As costas são abertas e consigo sentir o frio na espinha enquanto minha mãe ajeita o véu que vai ficar apenas durante a cerimônia. Ele está preso na coroa de diamantes.

Meus cabelos estão presos em uma coroa de tranças para dar destaque à abertura nas costas. Mexo meus dedos pela saia tentando me acalmar e respiro fundo.

-Você está linda, filha.- minha mãe limpa as lágrimas e eu sorrio lentamente.

-Você não devia chorar, vai estragar a maquiagem.- falo com calma.

-Minha filhinha está casando e acha que não vou derrubar lágrimas?- ela pergunta e rio.- Ainda não sei como já não fiz um lago aqui.

-No dia do seu casamento, você ficou nervosa?- me observo no espelho.

-Fiquei, mas sabia que Daniel seria o único com quem eu me casaria.- ela sorri.- Nunca existiria outro. Isso me deixava menos nervosa.

-Sei que não é o casamento ideal.- abaixo os olhos.- Mas eu acho...que estou feliz.

-Isso é bom.- ela acaricia meu braço.- Isso é ótimo, querida.

-Ah, pelo amor de Deus, vocês estão chorando?- minha avó entra.- Não podem borrar a maquiagem!

-Não estamos chorando, mãe.- minha mãe bufa e sorri para mim.- Eu vou avisar que está pronta.

-Ok.- mexo a cabeça.

Minha mãe sai da salinha em que estamos e minha avó se aproxima de mim cuidadosa, a observo no vestido azul escuro e os olhos dela brilham ao olhar para mim.

-Você está linda, Summer.- ela sorri orgulhosa.

-Eu sei.- mexo os ombros e ela ri.

-Você parece tanto com a Mia.- ela sussurra.

Já tinha ouvido falar da Mia, ouvi falar que ela ficou todos os dias durante o coma da minha bisavó. Ouvi falar que ela foi muito importante para todos e ouvi falar que depois que ela e Willie morreram o filho deles levou toda a família para a Austrália.

-Bonita?- levanto a sobrancelha.

-Com um gênio forte.- ela fala e eu rio.- Sabe, tenho dó de Matteo.

-Você e o resto do mundo.- suspiro.

-Não acredito que estou aqui, vendo o casamento da minha primeira neta.- ela ri.

Fico calada e ela se aproxima, segura meu rosto com cuidado e curva minha cabeça para que encoste a testa na minha. Encaro os olhos azuis que parecem ser genética Ballard-Hunt e ela sorri para mim.

-Não importa quem seja ou com quem se case.- ela sussurra e eu presto atenção.- Você sempre, sempre vai ser uma Ballard-Hunt.- explica.- Você sempre vai ser da nossa família, Summer, e sempre vai ter para onde ir.

-Obrigada.- sussurro.

-Agora.- ela respira fundo.- Vou ter certeza de que ainda não mataram Matteo e o casamento vai começar em vinte minutos.

-Ok.- sorrio secando os olhos cuidadosamente com o pano.

Minha avó abre a porta e Izzy passa com um vestido verde turquesa das damas de honra, os cabelos pretos e longos estão para um lado e ela usa uma corrente bem bonita.

-Notícias?- pergunto.

-Todos estão aqui. Parece que Vegas e Los Angeles estão todos aqui.- ela fala animada.

-E os outros?- me viro e ela me observa.

-Chris e Dakota estão em algum lugar transando, James e Jake estão bebendo no bar pessoal do quarto do noivo, os pais estão espalhados recebendo todos e Logan está...

-Aqui.- ele aparece atrás dela.

Izzy sorri se afastando e Logan me observa ainda com as mãos nos bolsos, sorrio quando ele mexe as sobrancelhas de modo impressionado e olha para a coroa.

-Não sei porquê, mas eu esperava isso.- ele sorri.

-Alguma vez já me viu não dar o melhor de mim em um evento?- pergunto.

-Um evento.- ele ri.- Um casamento. O seu casamento, Summer.

-Ah, não me diga.- rio.

-Só quero que saiba, que tem um carro lá fora.- ele sussurra.- E que a qualquer momento posso ser seu piloto de fuga.

De alguma forma, essa ideia parecia distante, não queria mais fugir sabendo que de alguma forma não poderia viver sabendo que Matteo foi morto por minha causa.

Ele tinha me liberado do acordo, queimou aquilo assim que chegamos em casa depois do cemitério. Mas não conseguia pensar em fazer mais nada hoje além de casar.

-É muita gentileza.- mexo a cabeça.- Mas você pode perceber que eu estou gostando da atenção.

-Sua decisão.- ele segura meu rosto.- Sou seu irmão, vou apoiar você no que quiser.

Sorrio quando ele beija minha cabeça e sei exatamente que ele faria isso, se eu pedisse para ele me tirar dali e me levar para o lugar mais longe do mundo, ele perguntaria onde.

Mas eu quero estar aqui. Eu quero fazer isso.

☀︎︎

Matteo Martinelli

-E se você cortar o nitro?- Jake pergunta olhando para o copo de uísque.

-Tá louco? O nitro que dá o impulso.- James suspira encarando o teto.

-Vocês já estão bêbados?- Chris entra no quarto.

-Não.- os dois respondem na mesma hora, só os deixando mais suspeitos.

-Tenham vergonha...- Dakota entra de braços cruzados.

-Nós temos.- James sorri.

-Mas depois da quinta dose, a gente nem liga.- Jake completa.

-E você?- Dakota olha para mim.

-O que tem eu?- pergunto e Chris me lança um olhar cuidadoso.

-Não está bêbado, está?- ela olha para o meu copo.

-É água com limão.- Daniel entra no quarto.- Judith não o deixou beber.

-Ótimo.- Chris observa seu avô entrando também.

-Vamos deixar uma coisa bem clara.- Gabriel fala.- Lembra o que fizemos com o tal Kyle?

-Lembro.- falo tranquilo, já sabendo o que ele vai fazer.

-Vamos fazer bem pior se ousar machucar Summer.- Daniel é quem fala com as bochechas vermelhas.

-Se...- me levanto e eles ficam tensos.-...eu machucar Summer, então eu mesmo empresto o isqueiro.

Eles me observam e Dakota sorri lentamente enquanto cruza os braços, alguém aparece na porta e a chama. Percebo que ele tem uma marca de batom vermelho escuro na gola.

-Gente! Tudo tá pronto!- Izzy chega e fico surpreso, ela está com batom vermelho escuro.

Dakota e Chris saem para conversar com o tal cara e Izzy ajeita os gêmeos para saírem, Daniel olha para mim uma última vez e então sai do quarto.

Gabriel é o único que fica e ele vem se aproximando de mim, fico tenso e ao mesmo tempo relaxado. Eles não fariam nada comigo, não agora.

-Seu irmão.- ele fala e me surpreendo.- Vai ser um problema?

-Não.- falo sério.- Se depender de mim, ele não encosta um dedo nela.

-Eu posso estar velho, garoto.- ele murmura.- Mas eu tenho alguém que vai te estripar e gostar de fazer isso se algo a atingir.

-Quem? Dakota?- pergunto.

-Não.- ele ri.- Dakota é uma ótima assassina e faria você sofrer como nunca.- sussurra.- Mas tenho alguém que passa o dia todo com a mão na massa. E conhece muito bem as técnicas italianas.

-Achei que não se envolvessem com a máfia italiana antes de mim.- ergo o queixo.

-É o que todos acham. É o que é para acharem.- ele se afasta e então vai até a porta.- Nada é o que parece, garoto, nem você.

E com isso, ele me deixa sozinho no quarto, não sei quem é esse cara de quem ele está falando, mas se sabe as táticas italianas do modo certo...pode me fazer sofrer de verdade.

Não me preocupo com isso, sei que morreria antes de acontecer algo com Summer e logo minha mente vai para hoje de manhã, no cemitério.

Eu dei a ela a chance de ir, e ela resolveu ficar. Um sorriso me toma e eu ajeito a gravata verde escuro, não vou fazer essa escolha ser em vão.

Vou fazer por merecer.