Capítulo XII
https://youtu.be/jT-PxMGcTZI
Para melhor experiência, recomendo que escute essa música enquanto lê o capítulo.
I
Natsu continuou nosso tratamento durante o restante do inverno, tomando o lugar qual Cecília empenhava para mim. Ele fez uma alteração na nossa dieta: adicionou leite, vinagre, óleo de rícino, sulfato de magnésia, carvão ativado e substâncias quelantes, algo assim; e rica em ferro, cálcio e vitamina C. Ele dizia que isso ajudaria a eliminar o chumbo do nosso organismo e a fortalecer o nosso sistema imunológico. Ele também nos dava chás de ervas e poções de sua própria receita. Ele tinha um conhecimento incrível sobre plantas, minerais e magia. Algo realmente surpreende.
Helena melhorou conforme os dias, mas suas pernas; os nervos; tinham sido muito afetados devido à prolongada exposição ao chumbo. Ele a fazia massagens, espetava agulhas – chamava de "acupuntura" –, dava choques leves por meio de feitiços simples; posicionando as mãos sobre as têmporas – usando o tratamento galvânico. – Até banhos quentes e frios a deu para tentar alguma reação. No fim era irreversível. Nem curandeiros teriam o que fazer devido ao tempo do dano.
Já eu, duas semanas depois, estava nova em folha...
II
Cecília estava quieta, trancada no quarto durante todo o tempo. Os empregados mantinham uma distância de cinco passos de sua porta. Olhos assustados. Encolhida na cama. Vestia trapos. Pensava bastante também sobre suas atitudes.
Com o esfriar de minha raiva, pensava melhor no que fazer com ela. Mantê-la até o retorno de Wendy acabava sendo a opção mais favorável e ideal, Cecília não era minha serva, porém, compaixão tinha por sua pessoa ainda; por ser humana, somente isso.
Vivia enclausurada num quartinho dos fundos, se eu desse seis passos largos bateria na parede, e isso em qualquer direção. Na verdade lá, no passado, tinha sido um quartinho de depósito, só; mas, para acomodar mais pessoas, foi transformado por minha irmã em um aposento – acho para punir servas desobedientes. Lembrava uma solitária. Nem janelas tinha. A única luz, de lâmpada, vacilava às vezes.
"Como está?"
Chamei-a, sentando-me num banquinho de madeira.
"Não estou mais com raiva de você. Não vou te mandar para o Templo."
"Verdade?..."
"Sim, porém, você é propriedade de minha irmã. A conhece mais do que eu."
A vi enfiar novamente a cabeça entre os braços, fungando. Sentada no colchão, no cantinho da parede. Uma figura digna de pena.
"Helena talvez não possa mais andar... Não como antes..."
Tossi um pouco. Lá fedia, e fedia a mofo também.
"Olhe para mim, Cicília. Me responda quando te pergunto algo, ok?"
"O-ok... Lady..."
Ergueu novamente o rosto. Olhos fundos, vermelhos, tristes e vazios. Chorava ainda, mas lágrimas somente não saiam mais.
"Por que a Helena?"
"Tomando o lugar dela... Poderia te envenenar mais facilmente... Eu; eu.... Achava que o chumbo era como veneno, sabe? Não sabia que era tão lento..."
"Para alguém tão inteligente como você, é difícil acreditar nisso. Você estava gostando de nos ver definhar. Olha, Cecília, não vim discutir sobre se estava gozando ou não com o que fez. Vim discutir sobre o que farei com você, se aceitar por mim ser punida mais uma vez."
"Hum?..."
"Seu crime é capital. Vão considerar um pouco caso saibam que foi punida por uma nobre, porém, ainda assim, ou vai viver em um cubículo menor do que esse, ou, sabe o que te espera dos carrascos da Corte. Queria te oferecer a terceira via, mas é sua escolha: eu, Wendy, ou Império?"
"Qual é a diferença?... Tô na merda de qualquer forma..."
"A Wendy é capaz de te enviar para o Templo de Afrodite; o Império estuda a arte de fazer sofrer; mas eu... eu quero te usar para ressarcir seus danos, mas com sua vida."
"Perdão?..."
"Seu corpo será meu; todo seu ser será meu; sua vida vai me pertencer, para que possa pagar pelos seus crimes e dor que infligiu à mim, à Helena, e... indiretamente, também à meu professor... Claro, você vai deixar de lado algumas coisinhas que deve saber da minha relação especial com ele, se me entende. É inteligente..."
"Quer que eu seja seus olhos?"
"Bingo! Viu? É inteligente. Obviamente, muitas coisas estão em jogo. O que é meu; o que seu... como sua família..."
"Você não seria baixa a esse nível..."
"Eu? Claro que não! Porém você é burra em alguns momentos. Quando você aceitou o pagamento, você simplesmente; diretamente; como um cão, botou uma coleira no próprio pescoço. Não se faz um contrato com um Marveel em plena guerra pela sucessão. Tu acha mesmo que, se souberem que você pode deixar alguma informação vazar de quem pediu pela nossa cabeça, vão te deixar ir?... E sua família?... Seus irmãos..."
De supetão dei um pulo da cadeira, subi na cama dela e agarrei-a pelo rosto, forçando olhar em meus olhos.
"Sua vida e da sua família depende de mim por sua causa; por causa do seu ódio; e por ser burra. Estou oferecendo sua saída; a proteção para sua família... Inocentes podem morrer por causa do egoísmo. Você desonrou sua família e sua linhagem quando pegou aquele dinheiro. Se eles sabem, te matam; se eu te entrego, até a terceira geração da sua família vão ser escória..."
Finalmente ela tinha tomado juízo. Violentamente balançava com a cabeça, negando; e sua boca, ela murmurava não, não, não, não!
"Ah... Você entendeu onde se meteu... Eu irei, só dessa vez, perdoar seus crimes... Pois o que feriu foi a mim e a minha propriedade. Tenho esse poder. Poderá voltar a servir essa casa como outra empregada; inferior? É, mas sobre isso não posso fazer muitos... Ao ferir Helena, você meio que, bem... Muitos gostam dela."
Alisei seu rosto, tocando suas bochechas. Estava mais magra. A dieta à base de arroz frio tinha seus resultados.
"Eu pensei bastante depois daquela conversa que tivemos... Não posso controlar o destino, mas o presente eu posso. E você é minha chave para isso. Por isso estou oferecendo meu perdão e regalias; como novas roupas; um quarto melhor; e proteção à sua família. Sua dignidade como mulher... Até vir nesse quarto eu vim... Entende o quão sério estou falando?"
"Sim, lady..."
"Qual é sua escolha?..."
Cecilia engatinhou pela cama, desceu e se ajoelhou à minha frente. Percebi sua intenção. Sua escolha tinha sido feita. Sorri de canto, erguendo minhas palmas à ela, que colocava suas mãos entre as minhas. Trêmula. Ela prometeu-me fidelidade; e perdoei-a por pura convivência. O gesto foi selado com um toque de lábios. Suave e rápido. Minha inimiga; minha serva. Quem devotaria sua existência a mim. Agora eu era sua lorde, não mais Wendy.
"Fez a escolha correta, Cecília."
Mas agarrei com força seu rosto, ao ponto de marcar sua pele.
"Porém se eu sou sonhar que você irá repetir seu erro... Nem sua família vai escapar... Vou atrás de cada membro..." Alisava seu rosto, brincando com a mecha de seu cabelo. "Amigos, primos, irmãos... pais... tios... Toda linhagem; porque ferir algo meu é pior do que me ferir... Entendeu?"
"Uhum! Uhum!"
Engolia à seco sua saliva.
"O que aconteceu fica entre nós duas... E apenas nós duas..."
Sentei-me na beirada daquela cama, sentia nojo daquele lugar. Sujo, tudo era sujo.
"E limpe esse quarto, está horrível! Como ousa aceitar sua senhora em um ambiente tão deplorável?"
Levantei-me, esfregando minha boca usando a manga.
"Perdão, lady..."
Suspirei de forma pesada, erguendo meu rosto.
"Estarei de olho em você, Cicília. Me agradeça; a dor de cabeça que me vai me causar!..."
"Eu agradeço, minha lady!... Obrigada... Muito obrigada!..."
"Eu sei que, na sua primeira oportunidade, irá contar para seus mandantes. Deve ter o contato deles – para conseguir o restante do dinheiro –, logo, seja esperta com as palavras que for usar. Se lembre bem, você agora é minha propriedade; e um cão que morde o dono... Sabe o que acontece."
Toquei seu queixo e o ergui suavemente. Sua pele tatiei no processo.
"Agora tem um dono um pouco melhor que o antigo, não queira que eu te devolva, Cecília."
Eu tinha de proteger o que era meu. E se usar Cecília pudesse garantir um pouco de estabilidade para mim, usaria. Mas... Por que eu valia tanto? Essas perguntas eu fazia, caminhando pelos corredores de minha casa. O inimigo sorrateiro, percebendo sua falha, logo tentaria novamente. Mais ousado, mais malicioso. O cuidado deveria ser redobrado sem alarde.
Essa tensão fazia minha cabeça doer, eu enjoar e meu estômago arder. Vomitei minha bile, apoiada na parede. Sozinha. No silêncio daquela casa. No corredor vazio, frio... Eu precisava relaxar um pouco. Precisava... distrair minha mente. – Uma mão tocou minhas costas, gentil e quente. Tremia toda, apoiando-me no chão com minhas mãos, olhando meu vômito; olhando a neve caindo do outro lado pela janela. Lágrimas escorriam de meus olhos, caindo e se unindo à bile no chão de madeira.
"Eu estou aqui, Carla."
Natsu acolheu-me em seus braços, limpando minha boca e me deixando chorar em seu ombro. Gritei, chorei e o abracei com tanta força, cravando minhas unhas em sua carne; porém isso não o fez mover nenhum músculo. Estava comigo. Ele sabia o que tinha feito. Mesmo assim lá estava, ajoelhado à minha frente, segurando-me...
"O que eu faço?..."
Murmurei.
"Eu não sei..."
Fechando-me em seu peito, me cobrindo com seus braços.
"Vamos; tem que descansar um pouco."
Cuidadosamente me conduziu para meu quarto. Me deitou e me cobriu. Fungava um pouco.
"Anda bem chorosa esses dias, em."
Brincou, porém, percebeu que eu não havia gostado tanto.
"Eu não sabia sobre a... Guerra da sucessão dos Marveel."
Admitiu, colocando a palma sobre a minha.
"Eu não consigo imaginar pelo que está passando, minha Carla..."
Pela primeira vez tinha me chamado daquela forma.
"Mas vamos ficar bem..."
"Como sabe disso? Helena talvez não possa mais andar direito... E eu... Eu não sei em quem posso confiar, Natsu..."
"Em mim... Confie em mim; e em Helena."
"Não mereço todo esse carinho..."
"Não estou afim de discutir quem merece ou deixou de merecer, Carla."
Beijou meu rosto, e me abraçou, deitando-se em minha cama, ou quase.
"Nada irá te acontecer... Eu prometo..."
"Promete, Escudeiro?"
"Pela minha honra de cavalheiro."
Aquelas palavras alcançaram o lugar mais profundo de meu coração.
"Obrigada, meu cavalheiro..."
Tão perto seu rosto estava do meu. Podia sentir seu hálito contra meu rosto; o cheiro do vinho; da hortelã. Misturava-se ao meu.
"Ah. É mesmo. Quase esqueci..."
"Do que?..."
"Da sua punição."
Apoiava-se nos cotovelos contra colchão, pressionando seu corpo contra o meu de maneira suave. Lembro de deslizar meus dedos pelos seus cabelos, os segurando. E mais uma vez nossos lábios se roçaram perigosamente perto.
"Qualquer coisa... Eu aceito com gratidão..."
O canto da minha boca elevou-se à sua resposta.
Nossos corações batiam no mesmo ritmo; unidos em um só.
Nada mais importava.
"Obrigada."
Sua boca era macia, quente e doce. Ao provar seu sabor, ele me adoçava a boca. Uma carícia lenta; entre a minha necessidade, nossa paixão e o afeto; também existia audácia dessa relação. O agarrei com força, para que ele não escapasse de mim. Segurei-o com as unhas, para que cada parte de meu corpo soubesse que ele estava lá. No mesmo pulsar do coração; um só ser. O fogo da vida me tirou o ar; quando, finalmente, o tive. E nada nesse mundo o levaria de mim.
"Eu te amo..."
Sussurrei.
"Eu também te amo."
Disse-me antes de voltar a me beijar...
A boa dor tem como fim a coragem e a compaixão.
As duas primeiras respostas à sua primeira pergunta.
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² O beijo é um gesto de carinho e afeto que consiste em encostar os lábios nos lábios de outra pessoa de forma suave e rápida. Na antiguidade, o beijo entre pessoas do mesmo sexo também era utilizado como uma forma de representar o perdão, especialmente entre os cristãos. Segundo alguns estudiosos, o beijo era uma forma de cumprir o mandamento de Jesus de amar o próximo como a si mesmo, e de perdoar os inimigos. O beijo era uma forma de expressar a reconciliação, a paz e a fraternidade entre os irmãos na fé. O beijo também era uma forma de selar um pacto ou uma aliança entre as partes envolvidas. Também era usado para selar pactos em ordens, como ocorria na templária, ou proclamar servidão, como é no contexto.
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