Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

1 - Tempestade invisível

SE ALGUÉM PERGUNTASSE para Josiane qual era o cheiro de Blumenau, ela responderia "cheiro de uva".

Talvez a maior parte dos moradores da cidade discordasse.

Mas ela havia crescido na vinícola dos tios. E mesmo na idade adulta, quando o trabalho a levava para outros lugares, o gosto e o cheiro das uvas permaneciam marcados em sua alma.

Da janela por onde o vento se esgueirava, Josiane tinha uma vista privilegiada do vinhedo de seus tios. Galgando as encostas, as vinhas se entrelaçavam uma à outra, pincelando as cores quietas da noite, subindo e tomando todo o terreno.

Se fechasse os olhos, podia se ver menina outra vez, correndo pela plantação com suas primas Alice e Sueli, rindo e sentindo o aroma das uvas que marcara toda a sua infância.

As memórias adocicadas, de uma época onde não existiam preocupações, foram cortadas pelo toque abrupto do seu celular.

E lá vamos nós.

Josiane puxou o aparelho, imaginando se seria chamada para comparecer a uma cena de crime ou executar algum interrogatório àquela hora da noite.

Contudo, assim que seus olhos fitaram o número, ela percebeu que aquilo nada tinha a ver com seu trabalho como investigadora.

Podia sentir o sangue latejando nos ouvidos, o ar entrando e saindo em chiados fracos de seus lábios.

Josiane ficou encarando o número no visor do aparelho.

O celular tocou, tocou, tocou.

No último instante, ela decidiu atender à ligação.

Mas a pessoa do outro lado da linha desistiu e desligou.

Josiane bufou. Não estava nem um pouco surpresa.

— Josi! — Alice gritou da cozinha. — Vem jantar!

— Já vou! — ela gritou de volta para a prima, guardando o celular no bolso da calça. Pelo resto da noite, fingiria que não tinha recebido nenhum telefonema.

Mas ela tinha certeza de uma coisa.

Podia chamar de instinto, de intuição; uma percepção desenvolvida ao longo dos anos em sua carreira criminal.

Aquela ligação ainda causaria uma tempestade em sua vida.


**************


O dia mal havia amanhecido em Belo Horizonte, a agitada capital de Minas Gerais, e Tomás já se via dentro de seu carro, indo para o trabalho, com os óculos de sol disfarçando as olheiras de uma noite mal dormida.

Ele se dirigiu para uma das partes mais pobres da cidade, com construções, irregulares, armazéns abandonados e alguns pontos comerciais. O crime havia acontecido em um hotel; um dos poucos estabelecimentos daquele tipo que havia na região.

Assim que desceu do carro, Tomás observou a fachada decadente do hotel e contraiu o canto da boca. Como alguém tinha coragem de se hospedar em uma espelunca como aquela?

Pois bem, meu trabalho é responder a essas perguntas. Vamos lá.

E, bom, cada um sabia onde o próprio calo apertava e o limite de suas condições financeiras. Mas, mesmo com pouca grana, concluiu que aquele hotel seria uma de suas últimas opções.

— Bom dia, investigador Tomás.

— Teremos um dia agitado pela frente, Tomás.

Conforme passava pelas faixas amarelas, os policiais o cumprimentavam, e ele retribuía cada um dos cumprimentos. Tomás atravessou a recepção, retirando os óculos escuros, e subiu as escadas estreitas, já que o "hotel" não possuía elevadores. Ao alcançar o corredor do segundo andar, já conseguia sentir o cheiro típico de sangue.

Assim que o viram, os policiais e os peritos abriram caminho, permitindo que ele entrasse no quarto transformado na cena de um crime.

O cheiro de sangue ficou mais forte.

Os olhos treinados de Tomás percorreram o quarto, registrando cada detalhe que ficaria arquivado em sua mente, para que pudesse analisar mais tarde. As vítimas eram dois homens. Um deles, vestido em um conjunto social, estava caído no chão. O outro morrera jogado em um sofá. Também vestia roupas sociais.

Tomás franziu o cenho.

Dois homens bem vestidos, aparentemente de posses, morreram em uma espelunca em uma das áreas mais remotas de Belo Horizonte.

— Causa da morte? — perguntou para Naim, o chefe da perícia.

— Tiros à queima-roupa. Um tiro preciso em cada vítima.

— Já sabemos quem são as vítimas?

— Sim. Hélio Milani e Josué Cabral.

Os nomes soaram familiares aos ouvidos de Tomás.

— Os dois são deputados federais — Naim completou a peça do quebra-cabeça que faltava para ele.

— Espera um pouco, Naim... — Tomás franziu o cenho. — Eles não são de partidos diferentes? Que estão sempre em conflito?

— Exatamente. Hélio Milani é daquele partido ultraconservador. E o Josué Cabral é de um daqueles partidos de esquerda. Não me lembro qual.

A cabeça de Tomás processava as informações enquanto corria os olhos pelo cômodo e pelos dois corpos mais uma vez. Josué Cabral era a vitima jogada no sofá, com o tiro no centro do peito e a camisa ensopada de sangue. E Hélio Milani era o homem baleado na cabeça.

— O que dois deputados de Brasília, de partidos rivais, estavam fazendo em um hotel de baixa categoria de Belo Horizonte, que os fez serem assassinados dentro do mesmo quarto?

O chefe da perícia soltou um assovio.

— Esta é a pergunta que vale um milhão de reais.

— A imprensa já sabe?

— Não, mas é questão de tempo.

— Isso significa que logo teremos Alana Ramos andando pelas redondezas e furando os bloqueios policiais.

— Aquela jornalista é uma figura. — Naim deu um riso divertido. — Gosto dela. O marido também é muito gente boa.

Embora achasse Alana Ramos enxerida e intrometida na maior parte do tempo, Tomás tinha que reconhecer que a jornalista era boa no que fazia. Mesmo quando a curiosidade a colocava em enrascadas. Mas, quando a situação se complicava, o marido dela, Alex, sempre aparecia para ajudar. Eram um casal unido.

Tomás até poderia admirá-los — se ainda acreditasse em casamentos, relações duradouras ou em qualquer outra merda semelhante.

Antes que pudesse fazer mais perguntas a Naim, Tomás captou, com o canto dos olhos, a aproximação do delegado.

— Temos um problemão em mãos, chefe. A mídia vai cair matando em cima dessa história.

— Como sempre. Quero você encarregado do caso, Tomás. Quero isso resolvido o mais rápido possível.

— Entendido. Já há alguma atualização que eu deva saber?

— Nossos peritos encontraram o celular de uma das vítimas na cena e estão examinando o aparelho.

— Já temos alguma informação relevante?

— Temos mais perguntas do que respostas. — O delegado soltou o ar, correndo os dedos pelos cabelos que começavam a ficar ralos. — Quando foi a última vez que você viu ou conversou com Josiane Monteiro?

Josiane.

Josi.

Feito uma ondulação, o nome da antiga colega e amiga de trabalho rebateu e ecoou dentro dele repetidamente, como o toque de um sino, o sussurro do vento, o deslizar da neblina.

Foi tão abruto que ele quase vacilou.

E ele odiava perder qualquer tipo de controle sobre si mesmo.

— Faz mais de um ano desde que ela se mudou para Blumenau. — Tomás enfiou as mãos no bolso, tentando acalmar aquela agitação inesperada que parecia ter vindo do nada e o atingido em cheio. — Por conta da correria dos nossos trabalhos, quase não conversamos mais. Por que quer saber, chefe?

O delegado soltou o ar outra vez.

— Porque esta história — ele apontou ao redor da cena de crime infestada de peritos — ficará ainda mais complicada para nós.

Tomás arqueou as sobrancelhas, aguardando as explicações.

Através da janela do quarto, o céu brilhava em azul resplandecente, disfarçando a inquietação que crescia dentro dele; uma tempestade invisível que ainda não podia ser vista, mas que estava ali, no anúncio do ar, no contorno das nuvens, e que atingiria a todos eles a qualquer momento.

Nota de curiosidade: A personagem Alana Ramos, citada neste capítulo, é a protagonista do meu livro "Pecado Sagrado", que atualmente está disponível na Amazon e no Kindle Unlimited ♥

A participação de personagens de outros livros nas minhas histórias é apenas uma brincadeira que costumo fazer.

Nenhuma leitura anterior é necessária para o entendimento do enredo.

Cada livro é independente um do outro ♥

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro