19. ready to talk?
VINCENT HACKER, point of view
Seattle, Washington DC – USA
Tessa está me evitando há uma semana. Rose tentou me convencer de que ela apenas andou bastante ocupada planejando a festa, se preparando para a formatura e mais um milhão de coisas, mas não acredito.
Uma coisa é estar ocupada e avisar, mas ignorar minhas mensagens e sempre ter uma desculpa para não sairmos juntos é outra coisa totalmente diferente – eu chamo isso de evitar.
Tessa está claramente incomodada com algo ao meu respeito. E não sou idiota o suficiente para não saber o porquê: foi o beijo.
Só há duas alternativas: ela me beijou apenas por carência – e porque estava bêbada –, se arrependeu e ficou com vergonha, ou ela entendeu totalmente errado o que eu quis dizer no meu quarto, no domingo.
Sendo uma ou outra, vou descobrir isso logo.
São oito da noite, e acabei de estacionar o carro atrás da fileira de outros carros na rua de Tessa. Posso ouvir a música mesmo daqui, e suponho que já tenha bastante gente.
Nailea é a primeira que eu encontro ao entrar. Ela e Rose – que veio comigo – se abraçam, sorrindo e tudo mais. Mas esse sorriso se fecha quando ela me olha.
─ Tá brava comigo também? ─ questiono.
─ Não, não brava. ─ ela responde. ─ Mas tem algo de errado rolando com você e a Tessa, e ela já chorou o suficiente para um ano em menos de um mês por causa do Jordan. Só estou tentando proteger minha amiga.
─ Eu fui seu amigo antes dela, lembra?
─ Lembro, claro que lembro. Mas você perdeu seu posto quando foi embora pra LA, meu amor. ─ ela pisca. ─ Preciso ajudar a tia Pam na cozinha, tchau.
Nai sai com Rose, me deixando sozinho na sala. É a primeira vez que entro na casa de Tessa; a sala é fechada, um pouco menor que a da casa dos meus pais, com dois sofás, televisão, uma estante pequena e um abajur grande. Mas não há quase ninguém na sala, então sigo a música até o lado de fora.
A piscina está cheia, assim como a área em si. Reconheço alguns rostos como sendo de algumas pessoas em que esbarrei no baile, mas é irrelevante. Meu objetivo é encontrar Tessa e conversar com ela.
Mas fui encontrado primeiro. Não por Tessa, mas por outra Channing. Katie Channing me abordou, com um sorriso pintado de vermelho e um vestido colado escuro.
─ Oi! ─ ela diz, animada. ─ Não acredito que você está na minha casa! Eu te sigo no Tik Tok há meses!
Sorrio, mas engulo a frase formada – de que essa não é realmente a casa dela.
─ Oi! Katie, não é? ─ pensei que o sorriso dela não poderia ficar mais largo, mas me enganei.
─ Sim, isso. Katie Channing. ─ para não ser mal educado, a abraço rapidamente. ─ Você veio trazer sua irmãzinha? Eu sempre quis ser amiga dela, sabe?
Aham, aposto que sim.
─ É, isso também. Mas eu vim mais pela Tessa. Sua irmã, não é? ─ o sorriso dela vacila um pouco.
─ Minha irmã, sim. ─ ela inspira. ─ Achei muito fofo da sua parte, sabe, dançar com uma fã. Sério mesmo, muito legal.
Rio, alto e genuinamente.
─ Ah, não, Katie, não foi isso. Sua irmã não fazia ideia de quem eu era. ─ sorrio verdadeiramente agora. ─ Na verdade, nós nos conhecemos uns cinco minutos antes daquela dança. Ela estava chorando, você sabe, deve ser ruim encontrar o namorado beijando a irmã dela... ─ mexo os ombros. Katie não esconde a surpresa. ─ Ela precisava de um par, e eu me ofereci. Foi isso.
Katie coça a garganta, envergonhada.
─ Falando nela, você a viu por aí?
─ Não, não vi. ─ agora ela força um sorriso. ─ Boa festa.
─ Igualmente.
Volto a perambular pela casa mais uma vez, os olhos atentos enquanto procuro pela aniversariante.
Encontro Tessa dez minutos depois, em um corredor lateral que se conecta com o jardim da frente. Mas ela não está sozinha – aquele Jordan está na frente dela.
─ ... você não me deixa falar! ─ ele reclama, nervoso.
─ Não quero ouvir nada que você tenha a dizer, Jordan! É difícil entender e respeitar a minha decisão pelo menos uma vez? ─ Tessa bate os braços nas coxas.
Ela tenta se virar e sair, mas ele a puxa de volta.
Opa opa opa. Aí não, cara.
Me aproximo dos dois ao mesmo tempo em que ela puxa o braço de volta, reclamando.
─ Tessa! ─ a chamo. Tanto ela quanto ele me olham. ─ Você me deixou esperando, sabia?
Ela não demorou mais que dois segundos para responder.
─ Não tive escolha. Alguém não sabe o significado das palavras limite e privacidade. ─ ela diz, olhando direto para o ex. ─ Enfim. Vamos?
Tessa agarrou meu braço e me puxou de volta para o meio das pessoas. Mas ela não me soltou lá. Ela continuou me puxando pelo braço até as escadas, e depois até o segundo andar. Por fim, entramos em um quarto, que, somente pela estante de livros, sei que é o dela.
─ Obrigada. ─ ela diz, baixinho.
─ Sem problemas. ─ respondo. ─ Tá pronta pra me explicar o porquê você me evitou por uma semana? ─ me sento na cadeira da escrivaninha, e ela se senta na ponta da cama.
Tessa suspira antes de começar a falar.
─ Quando eu vi o Jordan com a Katie naquele dia, eu chorei. Mas não chorei por causa de um coração partido ou qualquer coisa que remeta a sentimentalismo. Eu chorei por mim, por ter me humilhado tanto por tanto tempo, quando aceitei em engoli as coisas que ele fazia ou dizia. ─ ela funga. ─ Já ouvi que sou gorda, que meu rosto é estranho e desproporcional, que minhas pernas são feias, que ele tinha nojo de olhar pro meu corpo por conta de alguma estrias e celulite. Eu aguentei tanto, Vinnie, tanto. E quando eu finalmente tive uma boa desculpa para me afastar, eu chorei. Eu não entendia naquele momento, mas era um choro de alívio, de felicidade, porque eu nunca mais teria que sentar e ouvir coisas horríveis sobre a minha aparência. ─ ela ri fraco. ─ Aquele foi o último pisão dele na minha autoestima, entende? E foi o pior de todos; ele conseguiu dizer, sem sequer usar palavras, que Katie é melhor que eu.
Tessa seca os olhos, sem borrar a maquiagem.
Continuo quieto.
─ Eu consegui passar por isso. Foi bem rápido, na verdade. Tive o apoio de algumas pessoas. ─ ela sorri, e eu também. ─ E eu fui me moldando em volta do meu escudo. Mas aí... ─ ela perde o sorriso. ─ Depois que eu te beijei, você veio com o clássico "nós somos amigos, não quero perder a sua amizade", e esse escudo rachou mais uma vez. Eu vim pra casa naquele dia, deitei na cama e fiquei pensando: por que eu não sou boa o suficiente? Por que ninguém nunca se contenta comigo? Por que, depois de três semanas de eu ter perdido meu namorado para a minha irmã, um cara lindo, gentil e que, aparentemente, me curte tanto quanto eu curto ele, me deixou beijá-lo apenas para me rejeitar no dia seguinte? ─ ela balança a cabeça. ─ Foi por isso que eu te evitei, Vinnie. Porque eu precisava me remoldar, pelo menos o suficiente para poder olhar nesse seu rostinho bonito e não me contorcer de vergonha e frustração por dentro.
Ela já não chora mais.
─ Me desculpa por ter deixado tão na cara que eu estava te evitando, mas eu precisava de um tempo pra mim.
Me levanto da cadeira.
─ Não peça desculpas por isso, Tess. ─ me abaixo na frente dela, segurando suas mãos. ─ Eu peço desculpas por ser um idiota. Eu não tinha como saber tudo isso, mas acho que lá no fundo já tinha uma ideia. ─ sorrio fraco. ─ Foi por isso que eu dei aquela desculpa da idade, sabe? Porque, de alguma forma, eu sabia que você não estava cem por cento pronta para se relacionar com alguém.
─ E você não estava errado.
─ E foi por isso que eu te disse aquelas coisas no domingo, porque eu pensei que você tivesse se arrependido, sei lá, algo assim. E aí, pra você não ficar com vergonha se explicando, eu decidi falar primeiro. ─ Tessa ergue as sobrancelhas.
─ Jura? Foi por minha causa?
─ É claro que foi, Tessa. ─ sorrio. ─ Eu te adoro, você sabe disso. Faz um mês que nos conhecemos, e faz um mês que eu não saio sem você, e, se saio, fico imaginando se você gostaria do lugar. ─ vejo as bochechas dela ganharem um tom avermelhado. ─ E eu estou mais do que disposto a te ajudar a se remoldar, se você precisar.
Fico de pé, e Tessa também.
─ Você é mais do que suficiente, Alteza. Nunca pense o contrário. ─ sorrio para ela. ─ Não te acho gorda, Tess. Não acho que seu rosto seja estranho ou desproporcional. Acho que suas pernas são espetaculares. ─ desço o olhar rapidamente, para enfatizar. ─ E eu, de verdade, não me importo com estrias ou celulites; são detalhes do corpo, certo? Detalhes merecem ser admirados, não questionados. ─ seguro o queixo dela com suavidade. ─ Você não é nada do que aquele desgraçado disse, Tessa. Nada mesmo. E eu faço questão de repetir isso em toda e qualquer oportunidade que eu tiver.
Acho que, se Tessa abrir um pouco mais o sorriso, o rosto dela pode se rasgar.
─ Posso te fazer uma pergunta?
─ Manda.
─ Você tá com tanta vontade de me beijar quanto eu estou de beijar você? ─ a voz dela está baixa e entrecortada.
Tessa está muito mais próxima de mim agora. Sinto sua respiração no meu rosto.
─ Porra, e como!
O19 | a autora se encontra cadelando este nao-casal
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