Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Mini contos

A esposa.

Já eram Duas horas da madrugada quando o estalido da bofetada ecoou pela casa. Glória caiu sobre o piso, com a mão recobrindo a face e lágrimas escorrendo em cascatas por seus olhos.

— Cadela duma figa — vociferou Irineu, acocorando-se ao lado da fragilizada esposa. — Coisa nojenta e preguiçosa. Qué sair de casa? Vai pra onde? Tua mãe já morreu. Teus irmãos te desprezam porque você não tem porra nenhuma... — Agarrou com brutalidade os cabelos da esposa. — Vai procurar outro macho? De uma puta suja como você não duvido nada. Mas que homem vai querer esse teu rabo fedorento? Você é feia, velha, gorda, porca. Eu te faço um favor te dando de comer. Você não passa de um lixo que não tem nem pra onde ir!

— Eu vou embora — Gritou a esposa que, com medo e envergonhada, sequer abriu os olhos.

— Então você tem outro macho — retorquiu Irineu, levantando-se com a mulher presa pelos cabelos. Moveu o braço com violência, arremessando-a contra o sofá que ficava no centro do cômodo.

O móvel sentiu o baque do corpo da esposa de Irineu e virou-se para trás, levando consigo mais uma vítima da realidade de nossa sociedade.

— Diga quem é o maldito — ordenou o ébrio, marchando até a esposa caída. — Eu mato você e capo o desgraçado filho duma quenga! Qual nome dele?!

— Ninguém! — Respondeu em meio a um gemido.

— Tem macho nisso tudo. Eu sei que tem! Me diz ou eu rasgo a tua cara feia, cadela suja!

O medo aos poucos tornou-se pânico:

—Eu juro que não tem homem. Eu juro — soluçou.

Irineu assentiu e ordenou que Glória lhe apanhasse uma cerveja, mas não antes de adverti-la:

— Cadela, escute bem: se um dia cê procurar a polícia, eles podem até me prender ou fazer alguma medida protetiva ou sei lá oque, mas eu dou um jeito de te matar — apontou para ela o estilete. — Pode marcar minhas palavras... te mato devagar... bem devagar!

Glória baixou a cabeça e caminhou até a geladeira. Apanhou uma latinha de cerveja. Afagou a bochecha que ainda queimava e deixou mais algumas lágrimas caírem. Estava cansada daquela vida. Se é que aquela realidade podia ser chamada de vida: A face ainda queimava, os pulsos latejavam e o escalpo chegava latejar, mas a pior das dores estava em sua alma. Cinco anos com aquele crápula, sendo humilhada e desprezada. Ela queria sair daquele brejo satânico, mas para onde quer que olhe só via pilhas de ossos e rios de sangue. Estava sozinha no inferno. De fato, não tinha ninguém a quem recorrer. Só havia uma saída para aquele pesadelo.

Glória apalpou a superfície fria acima da geladeira até encontrar um pequeno envelope de plástico que continha poucas 15 gramas de um pó negro como pólvora.
Ali estava a chance da libertação. Abriu a latinha de cerveja e o envelope transparente. Bastava misturar aquelas duas substâncias e daria fim a toda maldade.

Talvez acabasse apodrecendo dentro de uma cela de cadeia, pensou Glória, mas o maior dos medos dela não era as bofetadas ou as surras de Sábado para Domingo, mas desapontar a memória de sua mãe.

O que diria dona Eulália se soubesse que a filha matou ao esposo, esse pergunta era a maior de todas suas algemas morais.

Pode soar estranho para quem vê Glória, agora, toda submissa e amedrontada, mas, quando tudo começou, alguns meses após o casamento, Glória sentiu asco, revolta, repúdio pelo marido. O odiou com todas as forças. Chegou até a deixar o lar. Considerava o relacionamento com aquele homem uma escravidão insuportável; as bofetadas eram as amarras do sofrimento; e as os ciúmes de Irineu o açoite. Naquela época a mãe ainda estava viva, e foi nos braços dela que a moça buscou abrigo. Voltou ao primeiro ninho jurando nunca mais regressar ao inferno da casa de Irineu...

Mas voltou... voltou sete dias depois... e de lá nunca mais saiu.

— Cadê minha cerveja, porca gorda — Irineu bradou da sala, sua voz embargada pelo álcool que ingerira na última saideira.

Glória olhou para o envelope. Abriu sua lateral e despejou o pó dentro da latinha. Glória poria fim àquele pesadelo, mas não seria uma assassina. Seria, segundo sua crença, condenada aos amargores do inferno, mas não seria uma assassina!

O pó negro misturou-se com a cerveja, fazendo uma espuma branca subir e respingar no chão. Ali estava o fim. Ali estava a libertação. Mesmo com as mãos trêmulas, a mulher levou a latinha até os lábios. Bastava beber e tudo acabaria. Chega de surras, de agressões verbais e de abandonos. Bastava beber e estaria livre daquela escravidão abominável. Bastava beber.

*****

Algumas horas antes da chegada de Irineu, as luzes da sala estavam apagadas. A única claridade era a que vinha da tela da tevê que Glória assistia no volume mudo. Não tinha qualquer interesse em ouvir o que o apresentador gordo daquele programa humorístico dizia. Os olhos estavam fixos na tela luminosa, mas a mente vagava por um abismo lúgubre e sombrio que a sociedade atual conhece como “depressão”. Absorta, perdida, solitária e doente. Tantos problemas, mas tudo que Glória conseguia pensar era em Deus, em Irineu e na finada mãe.

Noite longa e angustiante como o frio e cinzento corredor da morte. Lembrava-se dos conselhos negativos da genitora. Será que falara a verdade? Será que ela merecia aquelas surras? Será que ela era mesmo tudo que saia da boca do marido? Àquela altura, a mulher acreditava que sim: mesmo nunca tendo tido outro homem, considerava-se adultera; mesmo tendo um belo corpo, considerava-se gorda; mesmo tendo na pele o perfume de mil rosas, considerava-se suja; mesmo sendo uma escrava dentro daquela casa, considerava-se uma inútil...

“Mãe, ele me surra noite depois de noite”, disse Glória à mãe na noite em que voltou para os braços, os punhos e as cacetadas de Irineu. “Como pode pedir isso?”.

“Até que a morte nos separe, lembra daquilo que jurou diante de nosso bom senhor Jesus Cristo?”, a mãe rebateu sentada com a filha no banco da varanda, admirando o descer do sol no horizonte. “E os homens são assim mesmo. Filha, o Senhor deixou a mulher para ser submissa ao marido”.

“Deus vai me perdoar. Só Deus e eu sabemos pelo que tenho passado”. Revidou, sentindo o peito pesar e a um nó dar-se na garganta.

“Você culpa seu marido, mas já refletiu se as condutas negativas não provêm de ti mesma?” a mãe indagou, segurando a mão da filha. “Tem feito algo que ferira a honra de seu esposo?”.

Glória saltou do banco. Não acreditava estar ouvindo tais palavras da boca da própria mãe.

“Eu fico em casa; nunca saí nem pra tomar café na casa das vizinhas; lavo, passo, cozinho; a casa sempre esteve um brinco; casei virgem, e mesmo se não fosse, nunca olhei para outro homem além de Irineu, e mesmo assim ele me bate. E eu sou a vilã?”. Glória levantou a blusa, exibindo os hematomas e os vergões na altura das costelas. “Ele me derrubou no chão com um tapa e depois me chutou até os ossos fazerem barulho. Ele é um monstro. Não volto nunca mais”.

A mãe soltou um riso escarnecido.
“Isso não é nada, minha menina. Você vai voltar para o seu marido e papo encerrado”. Voltou o olhar para o céu em chamas. “Lembre-se: a maior dádiva de uma esposa é a compreensão. Só você pode transformar o monstro do seu marido em um cavalheiro. Tenha paciência com seu marido”.

*****

Mais que no próprio Irineu, em Eulália foi que o espírito de Glória conheceu a ruína. Ver de um homem atitudes machistas até que a mulher compreendia, mas ouvir da boca da própria mãe as condutas do opressor sendo exaltadas e aprovadas... foi o cúmulo. A esperança de uma vida minguou até morrer.

Glória molhou com cerveja os lábios, sentindo o amargor da mistura lhe tocar a ponta da língua.

— Cadê minha cerveja, Gorda Nojenta. — Irineu bradou, da sala, interrompendo a libertação.

Glória puxou uma cadeira e se sentou à mesa, com a latinha suada e espumada repousada sobre a toalha florida.

— Eu não sou gorda nem nojenta.

“Se teu marido diz que você tá gorda”, sussurrou no ouvido de Glória a voz da finada mãe. “Se ele diz que você é nojenta, você é nojenta”.

— Mas mãe, mesmo que eu esteja gorda, precisa ele me tratar assim? Sair toda noite e voltar bêbado pra casa, cheirando a perfume de mulher, me batendo?

“Se ele tem uma mulher feito você em casa, tá mais que certo em procurar outras na rua. Você não se cuida... não tem zelo...”, uma brisa levantou de leve os cabelos de Glória e a voz continuou no outro ouvido. “Você é uma imprestável. Beba logo essa cerveja e morra”.

— Porra! Cadê a minha cerveja?!

“Você merece morrer”.

— Não mereço — retrucou.

“Você merece morrer”.

— Não!

“Você merece morrer”.

Glória sentiu um novo golpe na cabeça e a cadeira virou.

— Deu pra falar sozinha?! — Debochou Irineu, apertando o punho com o qual golpeara a cabeça de Glória. — Mandei você pegar minha cerveja! Nem pra isso você presta?!

Olhou para a mesa e apanhou a latinha ainda gelada. Segurou-a e entonou tudo em um único gole.

— Cerveja amarga do caralho — praguejou lançando a latinha contra a parede. — Deve estar choca!

Glória nada disse. A cabeça estava pesada demais. Poderia levantar dali fugir para longe. Mas preferiu, sorridente, apenas fechar os olhos e dormir. Na manhã seguinte acertaria as contas com a justiça e algum tempo depois com a deidade a qual era devota. Mas nada disso importava. Glória estava livre.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro