Depois da Briga
A primeira coisa que reparou, assim que Bucky acordou, foi que dormia com a cabeça entre os braços, na mesa da cozinha, com uma xícara há muito tempo fria, de café, em sua frente.
Depois, reparou em Steve, sentado em frente a ele, cortando batatas e o encarando.
-Descobriu sobre a Siena? - Steve foi direto ao ponto.
Bucky fingiu ignorar ele. Esfregou os olhos e percebeu que estava dolorido, Só não sabia se de ter ficado com o pescoço pendurado para um lado, ou pela tensão da discussão.
Se levantou e andou até a geladeira, pegando uma jarra de suco e bebendo direto na boca, sem copo. Sentou no mesmo lugar. Steve não tinha tirado os olhos dele um único segundo.
-Por quê você não me contou? - Bucky percebeu que sua voz estava rouca, ainda, e limpou a garganta. - Quero dizer... Você sabia disso? Que a gente teve um caso?
Steve assentiu, observando, aparentemente, a batata com muito interesse. Bucky bufou.
-Por que vocês não me contaram?
-Porque a gente não sabia nem por onde começar! - Natasha entrou na cozinha e foi direto ao colo de Steve, encarando Bucky. - Não sabemos que tipo de relação vocês tinham... A Siena só disse que vocês tiveram um caso durante os meses que você ficou no Maine e que você... No caso, o Soldado Invernal, prometia que ia fugir com ela.
Bucky ficou imóvel, tentando controlar a raiva que invadiu o corpo. A culpa não era dele se o outro cara fez mil promessas vazias e idiotas. Ele não tinha prometido nada!
-E ela acreditou? - Bucky articulou, se concentrando nos próprios dedos para não perder a paciência.
Natasha ficou um longo tempo em silêncio.
-Sinceramente? Não. Primeiro que, analisando bem, ela sabia que você "nunca" sairia da Hydra. E segundo... Mesmo que você não tenha prometido nada a ela, Bucky, acho que a Siena não consegue te olhar e não lembrar do que aconteceu.
Bucky ergueu o olhar, de queixo caído. Como que Natasha podia sempre saber o que se passava na cabeça dele? Ou de qualquer um?
Steve deu um sorriso, com a cabeça encostada no ombro de Natasha e a agarrando pela cintura. Bucky, de repente, se deu conta de que estava segurando vela e ficou com muita vergonha alheia.
-Se eu fosse você... - Steve tentou argumentar, mas Bucky olhou para ele, sem fazer questão de esconder a fúria.
Não, exatamente, fúria. Mas uma raiva bem forte.
-Você não se metia, não é, Steve? Não pôde me contar isso, não pode falar absolutamente nada!
Bucky levantou de supetão, pondo a jarra de suco vazia. Saiu da cozinha com Steve em seu encalço, o observando.
-Você vai sair? - Steve perguntou.
Bucky demorou a responder. Estava concentrado em calçar as botas.
-Vou.
-Para onde?
-Não sei.
-Bucky...
-Me deixa em paz!
Bucky perdeu a paciência e saiu da casa, ajeitando o casaco. Bateu a porta com um pouquinho mais de força que o necessário, mas não estava nem remotamente preocupado com isso.
Estava irritado e não queria esconder isso.
Andou até a calçada e esperou até parar de tremer. Pegou o maço de cigarros e passou cerca de trinta minutos fumando, apoiado em uma árvore.
Assim que retomou o controle, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e começou a andar sem rumo, apenas pensando.
Tá... Agora muita coisa fazia sentido, claro.
Mas muita coisa tinha ficado ainda mais confuso.
E era óbvio que ele não queria ser responsabilizado, não queria ter que assumir as rédeas de tudo que o Soldado Invernal disse.
Ele não gostava de Siena ainda. Ele só a achava engraçada, divertida e atraente. E ele era homem. Do pior tipo, sabe? Do que não liga no dia seguinte e nem se lembrava mais do nome da metade que ficou.
Mas ainda assim, uma pequena (quase mínima) parte dele, sentia um pouco de pena por não sentir nada por Siena. Afinal, a culpa não era dele.
Chutando uma pedrinha até se deparar com um bar, continuou refletindo.
Não, ele não pediria desculpa.
Foi Siena quem mentiu, manipulou e enganou ele. Foi Siena que o seduziu quando se conheceram. Foi Siena quem transou com ele por conta de um contrato!
Ela que se desculpasse se quisesse... Ele não ia mover um músculo para tornar a vida dela mais agradável. E nem mesmo fazia mais questão dessa missão, pensava seriamente em voltar para Nova Iorque e deixar o fardo pesado com Steve e Natasha e o idiota. No fim, ele estava certo: Ela não passava de uma ex-mercenária, golpista e ladra. Não havia nada dentro dela.
Depois de umas duas horas, Bucky teve que admitir: Ela não era tão ruim e também estava tentando proteger os próprios sentimentos (Se é que ela tinha!). Mas ainda assim...
Quando já se sentia mais leve e tinha uma opinião formada sobre essa história (já que se lembrava, com clareza, de todos os encontros deles), ele decidiu que ia para casa. Se virou na mesa para procurar o garçom mas...
Seu sangue gelou. Primeiro achou que era Darla. Uma rápida olhada mais minuciosa garantiu que era Siena.
Depois, sentiu o sangue ferver enquanto se questionava o que diabos ela fazia alí. Será que tinha seguido ele e estava por lá aquele tempo todo? Mas para quê?
Então, o sangue de Bucky gelou novamente, mas também ardeu. Quase como se ele tivesse uma bala de hortelã percorrendo por toda sua corrente sanguínea.
Richard Cavalão se sentou ao lado de Siena. Os dois estavam bem próximos, já que estavam sentado em uma mesa com poltronas macias no lugar da cadeira.
Bucky avistou o garçom que tinha percebido o gesto dele, o chamando.
-Pois não, senhor? Vai querer mais uma cerveja, presumo?
Bucky nem mesmo encarou o coitado do homem que devia estar tentando entender como, após catorze cervejas, ele ainda não demonstrava o mínimo sinal de embriaguez.
-Vou... Pode apostar que vou.
O garçom saiu e voltou na hora certa. Afinal, se concentrar na cerveja era melhor do que tentar entender o porquê ver Richard apertando a coxa de Siena por baixo da mesa, enquanto ela sorria provocantemente, era tão...
Bucky não sabia a palavra certa. Mas o mais próximo seria perturbador e desagradável. Pertubadoramente desagradável, para falar a verdade.
Tentou, em vão, não olhar novamente. Afinal, analisando bem, Bucky percebeu que ela não fazia idéia que ele estava por alí. Muito menos, a observando.
Richard e Siena começaram a se beijar (descaradamente), Bucky achou melhor ir ao banheiro. Levantou do balcão e se dirigiu, rapidamente, ao quadradinho que era o banheiro do bar. A música country que tocava estava o encomodando...
Lavou o rosto com bastante água gelada. E encarou o reflexo no espelho. Soltou os cabelos e ignorou o lado da mesa deles, decidindo que também ia querer uma companhia naquela noite. Afinal, por conta de Siena, tinha vários dias que não ficava com ninguém.
Não teve que esperar demais. Alguns minutos, sorrisos e piscadelas depois, tinha uma morena estonteante sentada no seu colo.
É claro que Bucky sabia onde aquilo ia parar e estava adorando.
Até perceber que Siena já tinha saído com Richard.
Mesmo assim, não perdeu tempo com a garota. Mas ao sair, finalmente, do bar, percebeu que, mais uma vez, foi um ato vazio. Como sempre.
Aquela melancolia que ele sentia com a vizinha, ou com a Agente da Shield e até com a moça da padaria, ainda estava lá, o cutucando com força.
Talvez, pensou, só estivesse ficando velho demais para fazer aquilo... Afinal, pelas suas contas, já devia passar dos 34 pelo menos, nos aspectos físicos.
Agradecendo a Deus por não ter ninguém acordado, foi sorrateiramente até o próprio quarto. Claro que fingiu (para si próprio) não reparar que o quarto dela estava aberto e vazio.
Deitou na cama, mas não conseguiu dormir. Sabia muito bem o motivo.
Só que Bucky era orgulhoso. Não importava quantos homens dormiam com ela, ele não ia pedir desculpas. Ele não ia voltar atrás. Ia ligar para Fury e o avisar que estava voltando a Nova Iorque. E, especialmente, ia tirar Siena da sua mente.
Céus... Ele sempre teve a impressão de que ela ia deixar ele maluco e no fim, estava mesmo certo.
Sem conseguir conter a curiosidade, levantou e foi até a janela. O quarto de Richard estava longe demais para se enxergar lá dentro, mas Bucky conseguia, através na sombra da cortina, perceber que havia uma movimentação lá dentro.
Uma movimentação que ele preferia não ter visto.
Se jogou na cama novamente. Fechou os olhos, mas a imagem dela não saia da cabeça dele. Do modo como sorriu para Richard, da forma que corou quando ele disse algo em sua orelha, da forma que o beijou...
Não tinha essa mania e odiava, mas sem perceber, começou a bater o pé. E a coçar o braço de metal, mesmo que fosse impossível ele sentir qualquer coisa.
Ele sempre achou que a ignorância era uma benção e ele preferia continuar ignorante quanto a eles. Se não fosse por Darla, provavelmente, depois daquele dia, Siena ia estar alí, na cama dele, ou dela, com ele.
Bucky socou o travesseiro ao ver que estava pensando nela de novo. Com um leve susto, escutou a porta da frente abrir e se dirigiu a porta dele, olhando por uma frecha. Siena veio descabelada e corada pelo corredor, sorrindo levemente. Sem olhar uma única vez para o quarto dele, se trancou no seu.
Bucky respirou mais aliviado, afinal, ela não estava dormindo na casa de um completo estranho, estava apenas dormindo com ele.
Ou melhor, fazendo qualquer coisa, mas não dormindo.
Assim que amanheceu, Bucky já estava de pé, guardando as coisas em umas sacolas. O problema era como ia do Texas até Nova Iorque sem transporte, afinal, duvidava que Natasha emprestaria o carro dela.
Saiu cedo, indo até a sede da Shield, do Texas, e indagou várias coisas, além de conseguir contato com Fury, avisando que chegaria em uns dias.
Fury, claro, pediu para que ele não fizesse isso, mas Bucky se mostrou tão determinado que o chefão não teve outra escolha além de autorizar e liberar o carro para ele.
Bucky esperou até a hora do jantar e (ignorando, deliberadamente, a presença de Siena na cozinha), anunciou que voltaria para Nova Iorque no dia seguinte.
Todos o olharam, espantados, porém, resignados. Sabiam que ele era mais obstinado e duro que uma porta.
Terminou de reagrupar tudo que era dele de madrugada. Finalmente, voltaria para a vida dele e que Siena se danasse. Ele que não arriscaria mais o pescoço por ninguém que não amasse.
-Bucky? - Steve enfiou a cabeça para dentro do quarto. Bucky ergueu a dele e o encarou. - Posso entrar?
-Claro.
Bucky se sentou e esperou Steve fechar a porta e andar até a cama, sentando ao lado dele.
-Achei que você ia precisar de uma chave para entrar no apartamento. A sua ficou lá, não?
Bucky riu.
-Eu nem lembrei! Mas, com certeza, ia acabar arrombando a porta...
Steve riu junto.
-Ainda bem que lembrei! Natasha te esfolaria vivo!
Eles ficaram em silêncio quando as risadas passaram. Steve voltou a se pronunciar.
-Sabe... Acho que essa decisão é precipitada...
-Precipitado foi eu sair do meu apartamento, do meu conforto, por em risco o meu pescoço por uma... - Bucky se controlou para não xingar. - Por uma garota qualquer que mentiu, me manipulou e me enganou! Isso não é precipitado, isso é ser coerente!
Steve não respondeu nada. Só sorriu.
-Okay, então... Vou sentir sua falta.
-Eu também. Mas já ficamos mais tempo separados, Steve. E como eu acho que a Siena vai acabar se rendendo às investidas da Darla, vamos nos ver logo e...
-Por que você não gosta da Siena, Bucky? - Steve o interrompeu.
Bucky parou, com a boca aberta. Depois, franziu o cenho.
-Oras, porque ela é uma ex-Assass..
-Bucky, o verdadeiro motivo!
-Esse é o verdadeiro motivo!
-Nós dois sabemos que não, Bucky!
-Então, você está errado, Steve! Eu não gosto e nunca vou gostar, de verdade, dela. Especialmente por saber que ela gostava do soldado invernal. Pelo amor de Deus! Quem gosta dele?!
Steve suspirou.
-Bucky...
-Não me venha com Bucky...
Steve suspirou novamente.
-Você devia, ao menos, se desculpar.
-Não!
-Deixa de ser orgulhoso, orgulho não leva à nada!
-Muito menos, hunildade!
-É claro que leva!
-Não nesse caso!
-Mas você é um imbecil mesmo, não é?
-Imbecil?! Você disse que eu sou um imbecil? O que houve com o "Olha a língua, Tenente!" ?
Steve bufou.
-Eu acho que sim, você devia, ao menos, se retratar por ter gritado com ela.
-Não vou.
Steve levantou de uma vez e saiu do quarto, parando na porta.
-Beleza, mas eu só queria entender porque, pqra você, é tão ruim o fato de que você sente atração por ela!
-Porque ela não sente por mim, caramba! Ela sente pelo Soldado Invernal. E não sei se você sabe, Steve, mas temos o mesmo rosto!
Steve sorriu. Bucky afundou na cama, sabendo que disse tudo que Steve precisava saber para...
Bem não sabia o que Steve queria. Mas isso, pareceu uma confissão. E a mais idiota. Afinal, ele tinha acabado de entregar, e de bandeja, que queria que Siena gostasse dele.
Dele.
Não do Soldado Invernal.
Mas do Bucky.
Com um grito de irritação, abafado pelo travesseiro, Bucky se enfiou na cama e foi dormir.
Só para ter o "desprazer" de sonhar com ela e uma Floresta gelada novamente.
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