Bucky não conseguiu dormir de ansiedade naquela noite. Nem mesmo cinco minutos. 

Às seis da manhã, já estava na cozinha comendo. Claro que levou, ao menos, mais duas horas para Natasha acordar e começar a reclamar da quantidade de gordura que ele ingeria. 

-Ah, me deixa, Natasha! - Bucky reclamou, rolando os olhos. 

Sam e Steve entraram juntos. Natasha voltou a falar. 

-Não mesmo! Eu ainda vou ver você morrendo porque perdeu uma longa batalha contra o coleterol... 

Sam deu uma risada alta e aguda. Bucky bufou. 

-Uma lomga batalha contra o colesterol! -Sam se dobrou de rir. - Meu Deus! 

Steve também tinha um pequeno sorriso no rosto. Bucky e Natasha discutiram mais alguns minutos, até Siena entrar na cozinha. 

O olhar dela cruzou com o dele durante segundos. Nenhum dos dois fez absolutamente nada. Então, ela saiu da cozinha, rapidamente. 

Bucky evitou suspirar ou parecer decepcionado, afinal, Steve estava o encarando seriamente. 

Quando achou que as piadas de Sam sobre ele e um x-burguer gigante lutando e o olhar minucioso do amigo eram demais para ele, levantou e foi assistir televisão, esperando dar uma hora da tarde. 

Ainda eram nove e trinta e cinco. Zapeando pelos canais sem se entreter com nada, e pensando como a burocracia atrapalhava a vida de todo mundo, levou um susto com a campainha. 

Levantou e abriu a porta, observando um enorme buquê de rosas vermelhas parado na sua frente. Também viu o mesmo buquê se desviando para o lado e revelando... 

-Ah, oi, Bucky! Quanto tempo! 

-Hm... E ai, Cav... Richard! Como está? 

Richard deu um enorme sorriso. 

-Tô maravilhosamente bem! Siena está por aqui? 

Bucky percebeu que odeiava o sotaque caipira do homem. 

-Não faço idéia. - Bucky, teoricamente, não mentiu. Virou na direção da cozinha. - Steve! Sabe se a Siena está em casa? O Richard quer ver ela! 

Steve passou rapidamente, cumprimentando Richard e subiu as escadas dizendo que ia chamar ela. 

-Que Richard? - Sam entrou na sala, distraído, olhando para o celular. - O Cavalão? 

Bucky riu. Sam ergueu os olhos e ficou branco. Richard deu um sorriso. 

-Por quê Cavalão ? 

Nenhum dos dois respondeu. Natasha chamou Sam e o poupou do constrangimento. 

Bucky voltou a sentar no sofá e Richard deve ter encarado isso como um convite, pois sentou também, junto ao buquê de rosas. 

Ficaram em silêncio alguns segundos. 

-A Siena é sua prima? - Richard indagou. 

-Não. 

-É sua amiga? 

-Muito menos. 

Mais silêncio.  

-Como se conheceram? 

-No trabalho. 

-Engraçado... - Como Bucky não questionou o que era engraçado, Richard continuou. - Ela fala demais de você... 

Bucky cruzou os braços. Não ia perguntar, não ia questionar nem demonstrar o mínimo interesse. 

-É? 

-Sim! Tipo assim, cara, tu é quase o herói dela, sabe? 

Bucky ergueu as sombrancelhas. 

-Richard? 

Siena entrou na sala e pareceu bastante surpresa, aos olhos de Bucky, ao ver ele e o enorme buquê. 

-Oi, Sie! Toma, eu trouxe para você! 

Siena arregalou os olhos e pegou o buquê, dando um leve olhar de lado para Bucky. Ele virou para a televisão e cruzou os braços, declarando para ninguém em específico: 

-Eu já estava aqui! 

Richard deu um pequeno sorriso e coçou a a nuca. 

-Não tem problema, Siena. Eu não posso demorar muito mesmo... 

Siena parecia um pouco perdida aos olhos de Bucky, mas Natasha apareceu para a salvar. 

Bucky continuou imóvel no sofá, enquanto Os outros três, com exceção de Sam, estavam na cozinha tomando café. 

O olhar que Bucky dirigias às flores poderia ter secado algumas delas. 

-Ele é um ridículo, Não? - Sam pulou no sofá e encarou as flores junto a Bucky. - Isso foi totalmente desnecessário! 

Bucky balançou a cabeça. 

-Eu preferia me matar a concordar com você... Mas sim, foi totalmente desnecessário! 

Sam começou a sorrir. Bucky suspirou. 

-O que foi agora, Pardal? 

-Falcão. - Sam corrigiu. - E se a gente colocasse ele para correr daqui? 

Bucky ergueu uma única sombrancelha. 

-Como é? 

-Olha... Sei que você não quer ter nadaa ver com a Siena, óbvio. Entendo que ela não devia ter mentido para você... Mas nós dois nunca, jamais, em hipótese alguma, gostamos do Cavalão, gostamos? 

Bucky não hesitou em responder. 

-Não mesmo! 

-Ótimo! Me segue, Soldado! 

Bucky pulou do sofá junto com Sam e o seguiu até o lado de fora da casa. Sentaram, "inocentemente" na grama, nos fundos da casa e começaram a cavucar a terra. 

-Isso não é muito infantil? - Bucky questionou, rindo. 

-Na verdade, é, sim! Mas isso não vem ao caso! Não vou deixar a Siena se apaixonar por aquele imbecil! 

Bucky o encarou e sorriu. 

-Você gosta muito dela, não? 

-Adoro! A Siena é como se fosse minha irmã mais nova! - Sam fez uma pausa. - E você? 

Bucky pensou em não responder, mas achou mais digno dar de ombros e enfatizar o erro dela. 

-Se ela não tivesse mentido, eu podia gostar mais. Já tá bom? 

Sam sorriu, afirmando. Os dois pegaram os baldinhos cheios e entraram pela cozinha, de propósito, sujando o chão todo. Sabiam que Natasha ia dar um verdadeiro ataque. 

-Aaaaaah, eu não acredito que vocês dois estão sujos de lama, emporcalhando o chão inteiro! - Natasha levantou da cadeira e ficou roxa de raiva. 

-Calma, Nat! - Sam ergueu as mãos. - Só fomos pegar comida para dar para uns passarinhos que nasceram no telhado... 

-Não quero saber! Anda! Vão os dois trocar de roupas e voltem aqui para limpar o chão! 

Depois de uma acalorada discussão, Sam e Bucky saíram, relutantes, da cozinha. E esperaram. 

-Mas o que é...? - Ouviram Natasha reclamar. - Ah, pelo amor de Deus! 

Uma confusão se seguiu, onde gritoa histéricos foram ouvidos, mesa, cadeira e balde, derrubados e várias risadas. 

Bucky e Sam voltaram a tempo de verem Richard se debatendo com o colo cheio de minhocas grossas, lisas e grandes, enquanto Steve corria para ajudar ele e Siena e Natasha se dobravam de rir. 

Mas como, realmente, tinham ficado sujos e não queria levantar suspeitas de que deixaram os baldes em cima da mesa, na beirada, de propósito, subiram correndo e foram para o banheiro se lavar. 

Primeiro Sam, depois de uma enorme luta corporal com Bucky, onde ele apenas ganhou por ter feito cócegas no Soldado. 

Depois que entrou, enfim, no banheiro, Bucky tomou outro banho e trocou de roupas. Estremeceu ao abrir a porta e dar de cara com Richard. 

-Acabou a água quente... - Bucky avisou, mas Richard o pegou pelo braço. 

O primeiro reflexo de Bucky foi agarrar o pulso dele com o braço de metal. 

-O que é agora, Richard? 

-Quero falar com você, amigo... 

Bucky não gostou do tom de voz usado, mas mesmo assim, soltou o braço de Richard e deixou ele entrar no banheiro. 

-Então... 

-Eu sei que você e Siena são mais que meros colegas de trabalho. Se não fossem, ela não tinha chorado a noite inteira naquele dia no bar. - Richard falou, calmamente. - Sim, eu vi você lá. 

Bucky não respondeu absolutamente nada. 

-E sei também que você vai embora daqui a pouco, então vim te agradecer por facilitar as coisas para mim. Com você aqui, é um pouco difícil conseguir a atenção da Siena e ela é mulherão demais para ter que ficar dividindo as atenções. Me entende? 

Bucky entendia. E entendia muito bem. Controlando o impulso de socar a cara do idiota, se obrigou a dar um meio sorriso. 

-Você não quer a Siena, Richard. Você quer o que ela pode oferecer... 

-Ah, vamos, Bucky! Não aproveitar um corpo daqueles enquanto ela está disposta a dar tudo é um desperdício, Não? 

O punho de Bucky fechou e ele fez esforço para controlar a respiração. 

-Mas, meu amigo, Não se preocupe! Eu e ela vamos nos divertir muito enquanto ela estiver por aqui. Então, boa viagem e... 

-Que viagem? 

Richard franziu a testa. 

-A Siena comentou que vocês brigaram e por isso, você vai voltar para Nova Iorque... 

Bucky deu um sorriso de lado. 

-Ah, isso... Eu ia. Mas meu chefe já me ligou avisando que resolveu o problema sozinho. Não vou a lugar nenhum, Richard. 

O rosto de Richard era uma pedra. Bucky recontinuou. 

-E aliás, obrigado por me informar que sim, eu tenho alguma chance com a Siena. 

-Ela está saindo comigo... 

-Nada que não mude caso eu comece a sair com ela. 

Richard sorriu. 

-Isso não precisa ser uma competição. 

-Ah, mas não vai ser mesmo! Até porquê, nós dois sabemos quem ia ganhar, não concorda? 

O músculo no queixo de Richard tremeu. 

-Bucky... Você acha que a Siena, realmente, vai olhar para você? Olhe quem você era, olha o que você fez! Você pode ser um "Vingador" agora, mas e antes? 

Bucky sorriu amplamente. Encostou na pia e o encarou. 

-Richard, está perdendo seu precioso tempo! Não são os ricos que dizem que tempo é dinheiro? 

-Ela vai ser minha, Bucky. Eu tô avisando! 

Bucky perdeu o pouco de paciência que restava a ele. Agarrou Richard pelo colarinho e o fez bater com as costas na parede do banheiro, aproximando o rosto, ameaçadoramente dele. Se Bucky não soubesse que se livrou do Soldado Invernal, teria achado que ele tinha assumido o controle, tamanha raiva que estava sentindo. 

-Avise o quanto você quiser, Richard. Eu não quero que isso seja uma competição, a Siena não é um troféu! Mas nós dois sabemos que se eu entrar no páreo, não resta absolutamente, nada para você! Quer tentar a sorte de ficar com ela? Deixa suas intenções ordinárias bem claras! Se ela só quiser diversão, assim como você, eu não vou estar nem aí! Mas se eu souber que você brincou com ela, a machucou ou a enganou, eu juro, eu vou socar tanto a sua cara que vai ficar parecido com uma carne moída! Estamos entendidos, Richard? 

Richard, à contragosto, assentiu. Mas Bucky ainda não o tinha soltado. 

-Aliás... Se eu fosse você, Não voltava a mandar flores para ela. Ou muito menos, vinha aqui e me ameaçava. 

-Eu não ameacei. 

-Ah, ameaçou... Será que vou ter que socar você para se lembrar? 

A porta do banheiro abriu de supetão. Lentamente, os dois rostos se voltaram ao rosto surpreso de Siena. 

Bucky largou o colarinho da camisa de Richard. O homem quase caiu no chão. 

-Espero que estejamos entendidos, vizinho! - Bucky passou por ele e bateu continência. - Passar bem! 

Enquanto saía pelo corredor, Bucky ainda conseguiu escutar a voz surpresa de Siena, dizendo: 

-Mas que diabos aconteceu aqui?!