Capítulo 5
Anastasia Steele
Seis meses depois
Seis meses já se passaram desde o dia que retornei à minha terra natal, minha Porto Alegre. A cidade hoje é muito maior do que minhas lembranças de menina me diziam, mas ainda tem algo especial nesse lugar que o torna diferente de tudo. Fui muito feliz em São Paulo com minha mãe, mas hoje mais do que nunca sei que aqui é minha casa, minha querência², como se diz no bom e velho "gauches".
Por falar em minha mãe, ela se recuperou bem da cirurgia, até voltou ao trabalho antes do previsto. Já esperava por isso. Nós duas nos falamos todos os dias, mas não é a mesma coisa e não tem um só dia em que eu não insista com ela para que venha para cá ficar comigo.
No meu trabalho me sinto completa e realizada. É um sonho estar naquele hospital fazendo o que amo. Ainda me lembro do dia em que fui me apresentar, fiquei encantada com a beleza do lugar. Pode parecer estranho dizer isso de um hospital, eu sei, mas não há outro modo de descrever. Tudo aqui remete a infância e ao lúdico. As paredes coloridas são decoradas com ilustrações baseadas nas obras do poeta gaúcho Mario Quintana. Citações dos poemas do escritor também estão gravadas pelas paredes.
Aperto meu casaco contra o corpo enquanto subo a Rua da Praia³ em direção ao hospital. Eu tinha esquecido do quanto o frio poderia ser intenso nesse lugar. As ruas do centro ainda estão vazias, muito provavelmente por ser domingo e não ser nem sete da manhã ainda.
Encaro o tradicional calçamento de paralelepípedo em mosaico de granito lembrando de quando minha mãe me trazia ao centro e eu brincava de pular nas pedras como se fosse uma gigante Amarelinha. Movida pela nostalgia das lembranças dobro minha perna direita e pulo exatamente como eu fazia quando era só uma guriazinha. Rio de mim mesma me sentindo uma boba.
— Bom dia, doutora. O de sempre? — pergunta o simpático atendente da cafeteria do hospital assim que me vê entrando.
— Bom dia. Sim, por favor. — ele me passa meu café com leite e eu agradeço tomando um longo gole da bebida quente e deliciosa.
Paguei por minha bebida e segui para a sala dos médicos. Era a troca do plantão, portanto a sala estava cheia de médicos saindo e chegando. Cumprimentei a todos e fui guardar minhas coisas.
A maioria deles me ignorou como de costume enquanto outros poucos acenaram sem emoção, eu ainda era a novata e além do mais alguns de meus colegas de profissão tendem a ser antipáticos e arrogantes. Somente Isabela e Renata sorriram para mim genuinamente. As duas também eram novas como eu, fomos contratadas juntas. Isabela era oncologista enquanto Renata era otorrino.
Renata estava contando sobre seu encontro fracassado da noite anterior quando me aproximei. Isabela havia insistido que ela saísse com um médico bonitão que Renata estava de olho, mas ao que parece o cara havia sido um idiota.
— Aceitem, estamos destinadas a solteirice eterna. — debochei enquanto vestia meu jaleco.
— Me nego a ficar para tia. — disse Isa com cara de pesar.
— Pois eu já aceitei. — concordou Renata, abri os braços e sorri para as duas.
— Tenham um bom dia, doutoras.
Minha manhã passou rápida, mal tive tempo para sentar ou para um café. Visitei meus pacientes internados, atendi alguns casos na emergência. Aqui no hospital todos os médicos atendem na emergência independente da especialidade. Quando me dei por conta já era quase onze e meia, pensei em parar para comer alguma coisa fui chamada mais uma vez na emergência.
— Bom dia! — cumprimentei ao entrar no consultório — Eu sou a doutora Ana. O que houve com ele, mãe?
— É... eu não sou a mãe, doutora. Sou a babá dele. O Léo estava brincando na escada e caiu.
— Bateu a cabeça?
— A cabeça e o braço doutora. — responde a babá.
— Ok. Léo, a tia precisa te examinar, pode ser?
— Mas tá doendo, tia.
— Onde que dói?
— Aqui. — ele mostra o bracinho.
— Deixa a tia ver? — ele assente com um bico fofo e eu o coloco sobre a maca — Quantos anos você tem? — pergunto enquanto o avalio.
— Cinco.
— Que legal. Olha aqui no meu dedo. — movimento meu indicador de um lado para outro avaliando seus reflexos — Ótimo, Léo. Muito bem! Agora a gente vai precisar fazer um raio X desse braço.
— O que é raio X?
— É uma foto do teu osso.
— Vai doer?
— Não. — desço ele dá maca e me sento para falar com a babá. — Eu já solicitei no sistema o raio x dele. É no final do corredor a direita. E assim que ficar pronto eu chamo vocês novamente.
— Tia Pati, eu não quero. — ele abraça a babá choramingando baixinho.
— Vai ser rapidinho, amor. — sorrio, ela parece gostar dele.
—Léo, vamos fazer um combinado. Você vai lá, faz o exame direitinho que na volta eu te dou um pirulito. — ele afirma com a cabeça.
Os dois saem da sala e eu me preparo para chamar a próxima criança, mas o telefone toca.
— Doutora Ana.
— Aqui é do raio x doutora, não estamos conseguindo realizar o exame que a senhora solicitou. O paciente não está colaborando. — a voz sem emoção do outro lado da linha me leva a crer que ele nem deve ter tentado muito acalmar o menino.
— Certo, estou indo aí.
Quando cheguei na sala Léo chorava desesperado abraçado na sua babá, enquanto o colega do setor esperava de braços cruzados e uma cara de poucos amigos. Lancei um olha severo a ele.
— Léo, o que aconteceu amiguinho? — o menino espia com um só olho — Lembra que a tia falou que a gente precisa tirar uma foto do seu bracinho? — ele se vira pra mim ainda chorando, mas faz que sim com a cabecinha. — Você ficou com medo? — outra vez ele assente — E se eu ficar com você, do teu ladinho, tu faz?
— Eu quero o papai, tia. — ele volta a chorar
— Teu pai tá vindo Léo. Logo ele chega. — ela explica
— Tive uma ideia, vamos fazer essa foto boba logo e quando seu pai chegar ele vai ficar todo orgulhoso.
Finalmente Léo cede e o técnico consegue realizar o exame. De fato, ele havia quebrado o rádio e infelizmente ele teria que engessar.
Expliquei tudo para o pequeno e o encaminhei para a enfermaria. Adoraria ter o ajudado mais, mas esse estava sendo um domingo bem movimentado e eu tinha muitas crianças a atender.
O restante de meu dia passou como um borrão e eu nem consegui parar para me alimentar. A emergência encheu mais que o normal com alguns casos mais graves, um bebê deu entrada em estado grave por conta de um acidente automobilístico e precisou ser internado e tive que acompanhar a evolução do caso mais de perto.
Estava cansada demais, mas morrendo de fome então pedi comida pelo aplicativo e comi no sofá da sala vendo série. Quase podia ver minha mãe brigando comigo por eu estar comendo besteira. Ela certamente estaria me esperando com aquela comidinha gostosa e teria dito para eu comer na mesa. Que falta ela me faz, não só por cuidar de mim, mas pela presença amorosa dela na minha vida. A saudade hoje estava grande, então peguei meu telefone e liguei para ela.
— Oi filha! — atendeu ela daquele jeito sempre amoroso.
— Oi mãe. Como você tá?
— Eu tô bem e tu?
— Cansada. Tive um dia daqueles.
— Só isso?
— Só. — faço uma pausa — Deu saudade. Ando me sentindo sozinha aqui.
— E suas amigas que você comentou outro dia?
— Ah mãe elas são legais, mas eu sinto falta da senhora. — ouço a risada dela.
— Mas que guria insistente essa minha filha.
— Digamos que talvez eu tenha a quem puxar
— Vamos fazer assim, eu vou tirar uns dias de férias eu vou te visitar no próximo final de semana. Mas é só uma visita Anastasia, tire já esse sorriso vitorioso do rosto. — foi a minha vez de rir.
— Obrigada, mãe. Estou muito feliz.
— Isso é só o que eu quero nessa vida meu amor. Te amo, tchau.
— Tchau, mãe.
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