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Capítulo 28

Christian

Inacreditável como a cada segundo que passa essa história se torna ainda mais absurda. Estou vivendo dentro do meu pior pesadelo e ao que parece estou distante de acordar desse tormento.

— Patrícia! — tento chamá-la dando leves batidas em seu rosto, mas é em vão. Ela está gelada, sua respiração parece difícil.

— Coloque-a deitada no chão. — ordena Ana.

— O que tu está fazendo? Não toque nela. Devemos chamar um médico. — o policial tenta impedi-la com toda a sua arrogância.

—Eu sou médica, investigador. — Ana lhe dá um olhar firme, desafiando o homem a contestá-la.

Com cuidado acomodo Paty deitada sobre o tapete, Lucas me passa um travesseiro e ajeito sob sua cabeça dando um mínimo de conforto a ela.

— Os sinais vitais estão muito fracos. — diz Ana após examiná-la — precisamos chamar uma ambulância.

— Eu já chamei. Eles chegam a qualquer momento. — avisa o investigador parecendo mais humilde.

Minutos depois os paramédicos chegam e fazem o primeiro atendimento. A situação é grave segundo eles, Patrícia precisa ir para um hospital o quanto antes.

— Eu vou com ela. — avisa Ana apertando firme minha mão me dando a sensação de conforto e segurança. Mas tão logo ela se vai o vazio e o medo voltam a me assombrar.

Olho ao redor desse quarto azul cheio de lembranças e da presença do Léo. Sobre a mesinha de cabeceira o livro favorito dele. Pego o livro e minha mente recorda as incontáveis vezes que o li para meu filho. Ele me pedia para ler toda a noite essa história, as vezes até mais de uma vez.

Apoio meu rosto em minhas mãos e choro, deixo sair toda a minha dor e o meu medo.
Como pode o mundo se desfazer assim?

— Senhor Grey. — o investigador me chama — a equipe da perícia está vindo para cá. — assinto e ele se aproxima — Eu preciso que o senhor me acompanhe até a delegacia para prestar seu depoimento e esclarecer alguns pontos sobre a sua relação com a babá do seu filho.

— Eu já disse que não existe relação alguma — protesto e ele permanece me encarando impassível — Posso ao menos ligar para o meu advogado?

— Se o senhor acha necessário. — a postura desse homem está me irritando, mas decido ignorá-lo.

Pego meu celular e ligo para o doutor Diego pedindo que ele me encontre. Sei que ele está a par do que aconteceu, meu pai o avisou.

Ao chegar na delegacia sou atendido por um outro policial com o mesmo olhar julgador e desconfiado. Será que todos tem essa mesma cara?

O homem pede que eu aguarde um momento enquanto o delegado termina de conversar com outra pessoa.

Me acomodo nos desconfortáveis bancos da delegacia e confiro meu telefone, está cheio de chamadas e mensagens, mas nenhuma delas me diz que meu filho vai ficar bem. Solto um suspiro pesado me sentindo pesado de uma forma que mal sei explicar.

Por sorte o tal Lucas sumiu para dentro de uma sala, já não aguentava mais seu jeito.

— Olá senhor Grey.

— Obrigado por vir, doutor.

Conto ao meu advogado sobre a ida até a casa da Marcela e tudo o que aconteceu lá, mas nossa conversa é interrompida quando Rafael, pai da Marcela, vem pra cima de mim e acerta meu rosto com um soco bem em cheio. O empurro para longe de mim pronto para descontar nele minha raiva, mas somos impedidos.

Meu advogado me segura pelos braços enquanto um policial segura Rafael.

— Christian, não vale a pena. - adverte doutor Diego.

— Contenham-se os dois ou eu mando prender todo mundo. — encaro o homem grisalho a minha frente que me analisa — Você deve ser Christian Grey.

— Sim, senhor.

— Me acompanhe. — diz ele em tom firme — Sentem-se. E o senhor quem é?

— Doutor Diego, advogado do senhor Grey.

— Certo. Antes de começarmos a nossa conversa vou pedir que consigam um gelo para seu rosto.

O delegado sai, mas volta logo em seguida com um bolsa de gelo em mãos e seguido pelo investigador Lucas.

Os dois policiais se acomodam na nossa frente. Apoio o gelo no rosto sentindo uma sensação de alívio imediato.

— Nós precisamos fazer algumas perguntas. — diz Lucas e eu assinto.

— Antes de mais nada, você já conhecia a doutora Ana? — pergunta ele.

— Sim, Anastasia é minha namorada.

— Mas segundo que o que consta nos meus registros o senhor é casado com a mãe do menor. — questiona o delegado.

— Legalmente sim, mas já entrei com o pedido litigioso de divórcio já que ela se nega a assinar.

— E o relacionamento de vocês tem quanto tempo?

— Estamos nos conhecendo há algumas semanas, mas começamos a namorar de fato a poucos dias.

O delegado faz diversas perguntas sobre meu relacionamento com Marcela, então relato a ele sobre o casamento conturbado que tivemos, as brigas, as diversas vezes que ela foi desrespeitosa com funcionárias por conta de paranoias, as chantagens e tudo mais.

— E com isso o senhor decidiu pediu o divórcio litigioso?

— Não, de início tentei de forma amigável pelo bem do meu filho.

— E ela disse não? — assinto.

— E os cuidados do menino ficam sob a responsabilidade de quem? — pergunta Lucas.

— Quando deixei a casa tentei levar meu filho comigo, mas a mãe dele não permitiu dizendo que o menino só sairia de lá com ordem judicial.

— E ela cuidava pessoalmente do Leonardo ou vocês tinham ajuda?

— Marcela nunca cuidou do filho, Leonardo tem babá desde que nasceu.

— E como era seu relacionamento com a babá?

— Profissional apenas. Ela sempre foi ótima com Léo e meu filho a adora.

— E ela estava com ele nessa noite?

— Sim, meu filho estava comigo hoje mais cedo, mas Marcela foi ao meu apartamento transtornada. Ela fez um escândalo ao ver que Ana estava lá e chegou  me ameaçar dizendo que eu me arrependeria, mas eu nunca imaginei... — balanço a cabeça quando em minha mente volta a imagem do rosto assustado do meu filho na tela do celular enquanto aquela desgraçada tentava tirar a vida dele.

— E o senhor permitiu que ela levasse o filho de vocês mesmo assim?

— Eu nunca pensei que ela tentaria algo com nosso filho e a babá estava junto, o que me dava certa segurança. Patrícia até entrou em contato durante o dia dizendo que meu filho estava bem. E a noite...

— Senhor Grey, conta pra gente como foi que aconteceu.

— Era tarde, eu acordei com o celular. Vi que era Marcela por vídeo e ignorei a chamada, mas ela insistiu então resolvi atender. Ela estava no carro dela em alta velocidade e disse que havia ligado para se despedirem, foi aí que notei que Léo estava junto. Meu filho chorava muito e isso deixou ela mais irritada e então ela virou a câmera para a estrada. Eu vi ela invadir a pista contrária enquanto um caminhão vinha na direção do carro. — já não seguro a emoção e choro — A chamada cai logo em seguida, eu tentei retornar mais de uma vez, mas foi em vão.

— Bom senhor Grey, segundo as informações que temos até o momento, sua ex-esposa dopou a babá do seu filho para conseguir executar o plano de tirar a própria vida e a do filho de vocês. Segundo alegação do senhor Rafael, a filha dele sofre de transtornos psicológicos, causados pelo senhor.

— Ele é louco. — esbravejo.

— Como eu ia dizendo, a suspeita está em estado de coma e não sabemos se ela vai se recuperar, mas caso ela acorde será feita uma avaliação psiquiátrica.

— E o que isso muda? Ela tentou matar o meu filho.

— Isso vai definir se ela vai responder ou não criminalmente. — explica meu advogado.

— Isso é um absurdo. Depois de tudo o que aquela mulher fez ela ainda pode sair impune.

— Nós terminamos por aqui, qualquer coisa entraremos em contato com o senhor.

Quando volto para a sala de espera fico grato por não ver mais o Rafael. Não suportaria mais um de seus surtos para defender as loucuras da filha dele.

— Bom Christian, eu vou acompanhar a investigação de perto, qualquer coisa aviso.

— Obrigado.

Sigo para o meu carro, sentindo meu corpo cansado, mas acima de tudo com a sensação de incapacidade.

Antes de dar a partida resolvo ligar para Ana.

— Oi amor. Como foi?

— Não sei.

— Como assim Christian?

— A polícia sabe o que aquela desgraçada fez, mas ela não vai pagar.

— Como não?

— Se Marcela sair do coma, ela vai ser submetida a uma avaliação psiquiátrica. A família dela está alegando insanidade.

— Isso é um absurdo.

— E Paty?

— Já está fora de perigo. Fizeram uma lavagem estomacal. Agora ela precisa só descansar para se recuperar.

— Que bom! Ao menos uma notícia boa. Eu vou para o hospital agora, quero ver o Léo.

— Amor, você precisa descansar. Não vamos ter notícias pelo menos até amanhã pela manhã.

— Eu sei linda, mas não sei se consigo ir pra casa.

— Vai lá pra casa. Eu tô no uber indo pra lá, mas a minha mãe está em casa.

— Não sei.

— Por favor.

— Tá bem. Você venceu.

Obrigada por lerem!
Deixem suas estrelinhas! 

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