Capítulo 23
Pov Ana
Não pude resistir a carinha do Léo, lambuzado de bolo me pedindo pra aceitar o convite do pai dele, mas confesso que agora estou um pouco nervosa. Onde eu estava com a cabeça, jantar na casa do irmão e da cunhada dele.
— Sonhando acordada, doutora? — Renata está apoiada no batente da porta do meu consultório, rindo de mim para variar — Deixa eu adivinhar, pensando no gato. — faço uma careta para minha amiga que se atira na cadeira a minha frente pronta para ouvir.
— Ele me chamou para jantar na casa do irmão dele. — ela ergue as sobrancelhas em confusão — Irmão, a esposa do irmão, o filhinho dele que é meu paciente e sabe se lá quem mais.
— E você tá surtando. — assinto e ela ri — Amiga, não é um pedido de casamento. Ainda!
— Renata! Você não tá ajudando.
— Ana, é só um jantar. E se quer minha opinião, eu acho que é uma ótima oportunidade para conhecê-lo melhor.
— Você acha?
— Claro! Tenho certeza.
—É, você está certa, eu vou. Obrigada! — me levanto em um salto e a abraço.
— De nada, mas eu não esqueci que você me deve uma conversa. E eu quero detalhes, muitos detalhes ouviu mocinha. — minha amiga beija meu rosto e sai. Arrumo minha mesa, desligo meu computador e saio.
Quando chego em meu apartamento já são sete e quinze, tenho apenas quarenta e cinco minutos para me arrumar. Achei que minha mãe se chatearia por eu sair mais uma noite, mas ao contrário disso, ela amou.
Tomei um bom banho e arrumei meus cabelos. Escolhi um vestido preto de frio com botas cano alto, ao contrário de ontem a noite estava gelada e o vento soprava forte.
— Tu está linda! — elogiou minha mãe sorrindo.
— Obrigada, mãe.
— Ele chegou.
— Eu já vou. Só pegar minha bolsa. — ela permanece parada me observando, o semblante sereno, o olhar terno — O que foi? — pergunto curiosa.
— Feliz em te ver assim.
— Assim como?
— Apaixonada. — dona Carla se vira e sai sem deixar que eu diga qualquer coisa sobre sua observação.
Dei uma última conferida no espelho e fui encontrar Christian. O que eu não esperava era ver Léo parado ao seu lado. Christian estava todo de preto e a coincidência me fez rir. Já o pequeno Léo estava com um conjunto de moletom cinza. Quando ele notou minha presença correu na minha direção.
— Tia. — disse ele pulando em meu colo.
— Oi amor.
— A tia Kate tem nenê sabia, tia? E o tio Elliot é muito legal e eles tem um cachorro que chama Bob. Minha mãe não me deixa ter cachorro. — despeja ele de uma só vez. Levanto os olhos e Christian está nos observando com um sorriso — Você gosta de cachorrinho, tia?
— Gosto sim, amorzinho. Agora deixa eu dar oi para o papai. — solto ele no chão e me aproximo de Chris. — Oi. — digo meio sem jeito por nossa pequena plateia. Ele ajeita uma mecha do meu cabelo atras da orelha.
— Você está linda. — Christian beija meu rosto e aperta minha cintura levemente. O gesto causa arrepios pelo meu corpo — Vamos?
A casa do irmão de Christian fica num condomínio elegante na área nobre de Porto Alegre. Léo ficou falando o tempo todo durante o trajeto. Me contando tudo o que pode sobre ele e o pai. Praticamente não tocou no nome da mãe, algo estranho para um acriança.
Assim que chegamos, um cara loiro alto nos espera, ao lado dele uma loira estonteante que julgo ser sua esposa a contar por sua generosa barriga de gestante. Léo correu na direção dos tios todo animado.
— Ana, esses são Elliot meu irmão e minha cunhada Kate.
— E a Mel, papai. — todos riem do pequeno.
— Muito prazer, Ana. — diz Elliot apertando minha mão gentilmente.
— Oi Ana. — Kate me abraça gentilmente — Estamos muito felizes em te receber na nossa casa. Vamos entrar. Fiquem à vontade.
Assim que a porta se abre um lindo cachorro da raça goldem retriever vem na minha direção.
— Oi cara. Que lindo você é. — afago seu pelo quando ele pula em mim.
— Para Bob. — ralha ela — Ele vai sujar seu vestido.
— Não tem importância. Eu adoro cachorro. — os três adultos trocam um olhar e percebo que Kate dá um leve sorriso. Finjo não entender o motivo.
— Um vinho, irmão? — pergunta Elliot dando um tapinha no ombro do irmão.
— Claro.
— Você aceita, Ana?
— Sim, por favor.
— E eu vou lá ver se está tudo bem na cozinha. — Kate se levanta com dificuldade. Sua mão vai direto para a base das costas.
— Quer que eu te ajude. — ofereço.
— Nada disso. Tu é visita.
— Capaz. Vai ser um prazer.
Kate é uma mulher simples e divertida. Gosta de fazer as coisas mesmo tendo suas funcionárias para ajudar. Tem riso fácil e ao que pude perceber é alguém que fala o que pensa. Sua gestação está no final e nem assim ela para quieta.
Agora aqui na casa deles vejo que meus receios por esse jantar eram sem fundamento. Elliot e Kate são duas pessoas maravilhosas e fizeram eu me sentir em casa.
— Pose meninas! — diz Elliot apontando o celular. Kate e eu nos abraçamos e ele bate a foto.
— Eu também quero. — Léo fez o tio tirar várias fotos dele, com Bob, com sua tia e até comigo.
Vou até Christian na sala de estar. Quando me aproximo ele me enlaça pela cintura.
— Tá gostando da noite?
— Sim. Kate é um amor.
— Eles são muito legais. — ele diz e me dá um selinho, ouço uma risadinha e junto a luz do flash.
— Eu vou te pegar seu sapeca. — Chris provoca e o filho corre pro tio.
Fico admirando a cena. Christian e seu irmão correndo pela sala atrás do Léo e Bob latindo na volta deles. Parece até cena de filme.
Nunca tive isso. Minha minúscula família é minha mãe e eu.
— Ele é maravilhoso! — Kate diz, não havia percebido que ela estava parada ao meu lado. Sorrio sem graça. — E não estou dizendo isso por ele ser meu cunhado. Chris é meu amigo e tudo que eu quero é vê-lo feliz. Ele passou por muita coisa com a broaca, sabe Ana. — Kate me olha nos olhos — Sei que pode parecer complicado, que ele tem uma bagagem bem forte, mas ele vale a pena.
— Ele vale. — concordo.
— Vem, vamos chamar eles para jantar. — pede ele me puxando pelo braço.
A refeição estava incrível. A companhia melhor ainda.
— Acho melhor a gente ir. — diz Chris apertando levemente minha coxa — Tem alguém com sono já.
— Eu não to com sono. — responde Léo bravo.
— Deixa ele aqui, Chris. Faz tanto tempo. — pede Elliot.
— Melhor não, Elliot. Não quero problemas com a mãe dele.
— Ah como adoro aquela mulher. — resmunga Kate nos fazendo rir.
— Adorei conhecer vocês, o jantar estava ótimo. — me despeço dos dois.
— O prazer foi nosso.
Mesmo esgotado Léo não se entregou ao sono. Foi conversando e cantando no carro. Me enchendo de perguntas sobre o que eu gosto ou não enquanto Christian sorria sem se envolver na nossa conversa.
— Vamos lá pra casa, ainda está cedo. — pede Christian pegando minha mão quando estamos parados no sinal.
— Melhor não. — respondo.
Não me sinto à vontade ainda para ir pra casa dele. Além do mais acho que é importante a gente conversar com Léo.
— Ah tia, por quê?
— A tia tem trabalho amanhã, meu amor. Marcamos outro dia.
O sinal abre e Christian segue pelas ruas agora quase desertas pelo avançado da hora. O celular de Christian toca, ele para o carro e ao conferir quem sua expressão muda.
— Alô! — diz ele ríspido — Porque você quer saber onde eu estou, Marcela? — sua expressão muda ao ouvir a resposta — Nós viemos jantar com meu irmão, qual o problema?
Christian desce do carro e bate à porta ruidosamente. Ele entra em uma acalorada discussão com sua ex.
— A mamãe vai ficar brava, tia. Ela vai briga!
— Se acalme querido, você não fez nada de errado e ninguém vai brigar com você.
— Vai sim, tia. Eu não posso.
— O que você não pode? Conta pra tia. — o choro do pequeno aumenta e ele não responde a pergunta, mas está cada vez mais claro que aquela mulher está ameaçando o menino.
Christian volta para o carro, seu rosto está vermelho, sua respiração ofegante. Ele fecha os olhos e respira fundo.
— Ela viu nossas fotos. Elliot postou. — explica ele me mostrando a tela do seu aparelho com uma postagem do Instagram com várias fotos da nossa noite, incluindo nós dois nos beijando com a legenda "Noite em família".
— Desculpa, papai. — sussurra o pequeno em meio ao choro.
Christian se vira para o filho e segura suas pequenas mãozinhas.
— Filho, você não fez nada de errado. Não precisa pedir desculpa. O pai não está bravo com você. O problema é que a mamãe ficou chateada que eu esqueci de avisar que ia sair com você.
Christian tenta amenizar, mas Léo não se acalma. Seu choro se torna mais intenso. Num impulso solto meu cinto e passo para o banco de trás.
Puxo Léo para meu colo e o aperto em meus braços enquanto repito que está tudo bem.
— Fica comigo tia. Não deixa a mamãe brigar.
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