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1. MINHA MÃE FAZ UM AVIÃO SUBIR COM MOTOR DE CORSA

 EU DUVIDO QUE UM DIA ENTENDA DIREITO o que aconteceu comigo naquele dia.

Mamãe tinha me levado para tomar sorvete na sorveteria que ficava perto do nosso flat no Queens. Para comemorar, ela dissera, enquanto o namorado dela levava meu irmãozinho no pediatra.

Tudo era motivo de comemoração para Cristiane Azevedo. Tudo mesmo. Ela era aquele tipo de mãe que se eu acertasse só uma questão em uma prova inteirinha, a gente ia comemorar porque eu não tinha tirado zero. Juro! Mas dessa vez tínhamos mesmo motivos para comemorar: mamãe tinha conseguido seu primeiro papel importante na Broadway.

Ela era atriz de musical, e era boa, mas no Brasil ninguém tá nem aí pra musicais, então nos mudamos pra Nova York no ano passado com a ajuda do namorado dela. Até agora, mamãe trabalhava num daqueles restaurantes que os garçons dançam e cantam, e o chefe dela era um porco horroroso.

Não tínhamos ninguém. Nós duas e mais recentemente meu irmãozinho Mario Henrique e o namorado da mamãe contra o mundo. Ainda mais agora que nem no nosso país não estávamos mais. E eu não era normal. Não mesmo. Nunca conheci outra criança que saiba ficar invisível – Harry Potter não conta, ele precisava de capa e eu não.

Onde estávamos mesmo? Ah, sim! Sorveteria. Pois é, TDAH faz isso com as pessoas: não sou boa com essa história de "foco". Mas quem se importa?

Entramos na sorveteria e parecia que ia ficar tudo bem, até a atendente do caixa olhar pra mim e sorrir com mais dentes que um tubarão. E tubarões têm muitos dentes. Trezentos, tipo os espartanos que Leônidas liderou. Mamãe quem disse. Ela é muito específica quando diz que o TDAH só quer dizer que eu sou tão inteligente, mas tão inteligente, que aprendo de um jeito diferente que outras crianças.

Bom, já deu pra entender que a minha mãe era tipo a Mary Poppins, né? Praticamente perfeita em todas as maneiras. Essa tradução soou estranha... Perdi o fio da meada de novo! Que saco, Laura!

Vamos lá, foco! Sorveteria, atendente Sorriso de Tubarão, e... Ah, é! No instante seguinte mamãe estava me enfiando dentro do pangaré que a gente chamava de carro – que a gente na verdade, na verdade mesmo chamava de Pé de Pano, o Corsa branco – e empurrando dois picolés no meu colo enquanto afundava o pé no acelerador antes mesmo de terminar de fechar a porta.

Por algum motivo besta, a primeira coisa que eu disse foi:

– Mamãe, o cinto.

Segurança em primeiro lugar, pessoal! (Atenção: essa história não é patrocinada pelo Detran).

Mas, como eu disse, Cristiane Azevedo era praticamente perfeita de todas as maneiras, e respondeu enquanto colocava o cinto:

– Come esse sorvete antes que vire meleca derretida de chocolate e fique parecendo que você cagou nas calças, Maria Laura!

E sinceramente? Antes morrer engasgada com picolé de chocolate do que parecer que caguei nas calças durante uma perseguição de carro super-radical a 69 km/h, que é o máximo que um motor de Corsa aguenta.

Atrás de nós, Sorriso de Tubarão já não tinha nada de humano e aparente conseguia correr na mesma velocidade que um Corsa, o que não é nenhum grande feito, afinal é um Corsa.

– Onde a gente tá indo? – perguntei com a boca toda melada de sorvete.

– Merda! – mamãe xingou alto olhando pelo retrovisor antes de murmurar. – Não vai dar pra chegar lá... Plano B.

– Plano B? Que plano B? Mãe, que merda tá acontecendo? – isso aí, eu aos 8 anos de idade. Falando "merda". E acham que mamãe se importava? Não, porque a cada 10 palavras que ela falava, pelo menos 4 eram "merda".

– Mãe é a sua fuça, garota! Eu sou mamãe! – ela brigou girando o carro 180° graus na manobra mais ousada que qualquer pessoa na história já fez com um Corsa. – Estamos indo pra um lugar seguro. E lá vamos falar do seu pai.

Então ela virou numa viela apertada, passamos por cima de um monte de grama e quando saímos na estrada o Pé de Pano continua funcionando, impressionante, eu sei. Eu juro juradinho que minha mãe tava igualzinha a Gal Gadot em Velozes e Furiosos.

Contei pra vocês que sou um bebê de festa junina? Pois é. Resumo da ópera: mamãe conheceu um cara numa festa junina, eles foram pra cama juntos e em 15 março do ano seguinte eu nasci. Nunca conheci o doador de cromossomo. A única coisa que me perguntava a respeito dele era se ele podia ficar invisível também.

Por um tempinho pareceu que a Sorriso de Tubarão tinha desistido da gente, mas assim que passamos de uma placa escrito "Long Island - 6 milhas" a coisa – que tinha cabeça de leão, corpo de um não sei o que lá e rabo de escorpião – simplesmente pulou do meio do mato na nossa frente. Daí você pensa: "Ah, a D. Cristiane desviou o carro né?"

Já ouviram falar da expressão "avião tentando subir com motor de Corsa"? Pois parece que essa foi a ideia da mamãe, tendo em vista que ela decidiu que "atropelar" era uma solução melhor que "desviar".

Se sem Sorriso de Tubarão pendurado no capô o Pé de Pano já era lerdinho, agora então dava praticamente pra sentir o motor falhando.

– Laurinha? Bebê? Esse é o momento em que você faz aquele truque. – mamãe falou entredentes mudando de marcha toda hora e sentando o pé no acelerador com tanta força que parecia que o pedal ia quebrar a qualquer momento.

No momento em que fiquei invisível, o para-brisa quebrou, mas quem disse que Cristiane Azevedo tinha espírito de derrota? Pois Sorriso de Tubarão levou o extintor de incêndio no nariz pelo menos três vezes antes que Pé de Pano desistisse da luta e enguiçasse no meio da estrada.

Antes de abrir o carro, mamãe tirou a própria blusa e estendeu pra mim enquanto pegava meu casaco e o amarrava no pescoço:

– Maria Laura, você vai vestir isso e vai correr invisível até ver uma placa escrito "Bem-Vindo ao Acampamento Meio-Sangue". Não vai parar até chegar lá, entendeu? E vai se lembrar sempre que você é o meu mundo e que o meu amor por você nunca, nunca vai acabar. Nem se eu morrer! O Ares vai te achar, com o Mario Henrique. Cuida do seu irmão, tá bem?

Assim que eu vesti a blusa – mamãe sempre tomava um banho de perfume – ela abriu a porta do carro. A obedeci e saí correndo apavorada. Mal tinha me afastado do Pé de Pano e ouvi um grito. Me virei para ver e fiquei tão horrorizada que não consegui emitir um sonzinho sequer.

Lá estava minha mãe, Cristiane Azevedo, praticamente perfeita de todas as maneiras, com o ferrão de Sorriso de Tubarão atravessado em seu peito, os olhos fixos no nada. Morta.

Morta.

Morta.

Minha mãe estava morta.

Então corri. Do jeito que ela mandou. Corri até ver a placa, ouvindo os rosnados de Sorriso de Tubarão no meu encalço. Ela tinha me derrubado algumas vezes, mas de alguma forma sempre consegui fugir, mesmo depois dela ter me jogado de ombro numa árvore.

Nem quando passei da placa tive coragem de me mostrar de novo. O que eu não percebi – e só sei disso porque me contaram – é que estava tão assustada que minha habilidade estava falhando, então eu estava piscando como uma luzinha de Natal em curto.

Parecia que Sorriso de Tubarão tinha desistido de mim, e logo um monte de gente de laranja começou a se aproximar falando enrolado e eu não entendi nada, porque só fazia um ano que eu morava nos Estados Unidos, e só falava inglês na escola.

Dei um berro alto quando encostaram no meu ombro machucado e caí sentada no chão, chorando. Mamãe estava morta. Morta como em "nunca mais vai voltar" morta.

Me lembro de um garoto moreno e uma garota loira cortando o mar de camisetas laranjas e me abraçando, e então o garoto apoiou a mão com falta de jeito no meu ombro machucado, uma dor lancinante e então eu... Apaguei.

Agora, você deve estar se perguntando: o que aconteceu fora do acampamento quando a polícia achou sua mãe morta no meio da estrada?

Bem, resumo, porque não gosto de falar disso: Sorriso de Tubarão largou o corpo morto da minha mãe em cima do capô do Pé de Pano. Acontece, que durante a perseguição, o motor foi danificado e explodiu, danificando qualquer evidência de uma causa mortis. A polícia tomou como um acidente de carro e me deu como desaparecida ou morta. Porém eu sou:

1º. Menina

2º. Imigrante

3º. Latina

Você acha mesmo que a polícia dos EUA ia perder seu tempo me procurando?

Me disseram que isso gerou repercussão pra caramba depois. Tiveram passeatas do movimento "Where Is Laura Azevedo?" e a tag #WhereIsLauraAzevedo continuou rolando nas militâncias depois que eu fui "encontrada".

Ok, de volta à linha principal, eu acordei em um lugar todo cheio de cortinas com um cheiro herbal e um vento fresquinho e gostoso.

Meu ombro estava doendo, mas eu não tava nem aí porque por um momento eu acreditei de verdade que eu finalmente tinha conseguido ir pra Nárnia. Eu juro que choro até hoje quando lembro que eu achei que estava em Nárnia, porque a realidade era tão diferente.

Já ouviram falar daquele mal de intercambista que quando você finalmente precisa, parece que esquece como falar outro idioma? Então, parece que depois do que eu vi a Sorriso de Tubarão fazer com a minha mãe, a parte do meu cérebro que falava inglês pifou.

Tinha mais três pessoas além de mim naquele lugar: um menino de cabelo castanho claro mexendo em uns frascos, o menino moreno que encostou no meu ombro machucado e a menina loira jogando... Aquele jogo que tem os bloquinhos de letrinhas e você tem que formar palavras e ganha pontos. Qual era mesmo o nome? SCRABBLE! ISSO!

– Four lettered word for "clumsy"... Humm... Oh! I know! – a garota exclamou, e moveu as pecinhas.

– "Luke"? Seriously, Barbie? I didn't know her shoulder was hurt! – o menino respondeu indignado.

Se vocês acham mesmo que eu vou traduzir a conversa, acharam errado. Encarem essa história como uma experiência imersiva: eu não entendi o que eles disseram, e vocês que não falam inglês também não vão.

– You know what? I give up on this game! I'm dyslexic anyway. – disse o menino dando de ombros.

– Mamãe? – chamei erguendo o corpo com um gemido de dor baixinho.

– She's awake! – a loira exclamou pulando de sua cadeira e se aproximando. – Hey sweetie! I'm Barbie, and those are Luke and Josh. Welcome to Camp-Half Blood!

– Onde eu tô? Cadê a minha mãe? MÃE! – gritei pronta pra pular da cama e ir revirar aquele lugar atrás da minha mãe.

– Wow! Wow! Easy there, sweetheart! – exclamou o menino de cabelo castanho claro me segurando na cama. – Don't wanna hurt yourself, do ya?

– Eu não tô entendendo! Cadê a minha mãe? MAMÃE! – chamei de novo lutando contra ele.

– Wait! Josh! I don't think she speaks English! – interrompeu a menina e então apontou para si mesma. – Barbie.

– Laura. – respondi apontando pra mim mesma. Então olhei ao redor angustiada. – Mamãe?

– That sounds a bit like French, maybe? – opinou o de cabelo castanho, e olhou para mim. – Parlez-vous français?

E agora eles estavam falando outra língua que não era nem inglês e nem português... Perfeito!

– Não! Não! Mamãe! – digo pausadamente e alto na esperança de que entendam.

– Wait, I have an idea! – disse o desastrado antes de sair.

– Should we worry? – questionou o menino que ficou, antes de apontar para si mesmo. – Josh.

Antes que eu pudesse responder, o outro menino voltou com um globo terrestre daqueles de escola na mão e mostrou pra mim.

– Luke. – ele disse apontando para si mesmo, antes de apontar para os Estados Unidos no mapa. – America.

– Maria Laura. – respondi, entendendo o que ele queria dizer, e apontei pro Brasil no mapa. – Brasil.

– Well, for once he did have a good idea. – Josh exclamou parecendo surpreso.

– If she's Brazilian we should call someone who speaks portuguese. – opinou Barbie.

– I think I can still speak a little Spanish from my mom. – disse Luke e se virou para mim com a tentativa mais vergonha alheia de espanhol da história. – Holla. Soy Luke. Bienvenida to... To...

Fato curioso fora de hora: todo brasileiro é trilingue. Sabemos falar português, várias merdas e espanhol. Então eu respondi:

– Soy de Brasil. ¡No hablo español!

– I'm going to call Inez...– disse Barbie com um alto suspiro antes de sair.

Suspirei profundamente e abracei meus joelhos com o braço bom. O dia hoje estava confuso e uma droga.

– Είσαι ασφαλής. Θα σας φροντίσουμε. – disse Luke colocando minha franja pra trás com um sorriso encorajador.

Eu praticamente conseguia ouvir o som do Windows travando no meu cérebro. Tela azul completa. Pra mim tava falando grego, porque eu não entendi absolutamente nada.

– Brasil! – repeti apontando para mim mesma. – BRA-SIL! Futebol, samba, Pelé.

Os dois meninos piscaram para mim confusos como se eles tivessem dado tela azul também antes de se entreolharem.

– She... Doesn't understand greek? – disse Josh com a cara que alguém faria se tivesse visto o sol nascer roxo.

– She's traumatized, duh! – falou Luke revirando os olhos e apertando minha mão reconfortantemente.

E então eu percebi que eu tinha entendido: ele disse que eu estava traumatizada. Gente, o alívio e a confiança que dá quando o bug de intercambista começa a ir embora! Então eu consegui voltar a arranhar o inglês:

– Cadê a minha mãe?

E voltaram as caras de tela azul.

– Espera... Você fala inglês? – perguntou Luke como se tivessem comido o último pedaço de pizza. – Esse desespero todo e você sabia falar inglês o tempo inteiro?

– Eu tô traumatizada. – respondi dando de ombros antes de soltar um palavrão em português por esquecer do meu ombro machucado. – Cadê a minha mãe?

– Ué, eu achei que ela não falava inglês? – disse Barbie voltando de mãos dadas com uma menina da minha idade de trança e franja.

– O trauma deve ter bloqueado. Ela está lembrando agora. – explicou Josh.

– Não era melhor chamar alguém mais velho? – Luke questionou franzindo as sobrancelhas pra menininha que estava com a Barbie.

– Vai saber. Não sei de mais ninguém que fale português. – a loira deu de ombros e trouxe a menininha pra perto de mim. – Maria, essa é a Laura e ela também é brasileira.

Eu quis morrer, repito, MORRER com o jeito que a Barbie pronunciou o meu nome. Soou um treco estranho de estadunidense tipo "Lorrra", simplesmente horrível!

– Acho que tu quisestes dizer "Laaaura". E para o vosso bem é melhor que tu me chames de Inez! – disse Inez alongando a primeira sílaba num português de Portugal pesadíssimo antes de voltar para o inglês. – Para quê eu to aqui se ela sabe falar inglês?

Barbie se abaixou e começou a cochichar alguma coisa no ouvido da Inez, e foi cômico ver as sobrancelhas da Inez se juntando, se juntando e se juntando até ela ficar com a cara mais indignada do mundo e berrar:

– EU NÃO VOU DIZER ISSO PARA A MENININHA! – parecia até que tinham comido a torta dela.

"Menininha"? Ah não! Eu posso engolir muita coisa, mas isso?

– MENININHA NADA! EU TENHO OITO ANOS! – gritei de volta.

– E EU TENHO NOVE! – Inez respondeu mostrando a língua.

– Grande coisa, é só um ano! – devolvi cruzando os braços emburrada. – Vocês vão continuar enrolando ou vão me dizer logo onde tá a minha mãe?

Os três mais velhos ficaram trocando olhares como se estivessem se comunicando com telepatia até que o Luke segurou a minha mão e perguntou:

– Do quê você se lembra?

– Eu lembro desse sonho super estranho que eu tive que eu e a minha mãe éramos perseguidas por um bicho cheio de dentes e ela mandava eu fugir e o monstro matava ela. – contei franzindo as sobrancelhas e fazendo bico.

E de novo eles estavam lá se olhando, mas dessa vez parecia um jogo mental de batata quente... Quente... Quente... Quente... E queimou na mão da Barbie.

– Então... Não foi sonho, docinho. – ela disse apreensiva.

Eu tinha um pressentimento de que não tinha sido um sonho mesmo. E agora eu precisava ser forte. Mamãe sempre dizia que somos brasileiras, e por isso as coisas não acontecem com a gente. A gente acontece com as coisas. Então minha única reação foi pigarrear e dizer:

– Eu tenho seguro, mas está no nome da minha mãe, então não sei como vou pagar a conta médica. Preciso ligar pro namorado dela, ele tá com o meu irmão. – o quê? Sou criança, não burra. É lógico que sei que nos EUA não tem SUS e que despesa médica aqui é de falir qualquer um.

Naquele momento todo mundo me olhou como se tivesse crescido um par de antenas na minha testa e ficaram um bom minuto piscando em silêncio com cara de ponto de interrogação.

– Err... Aqui não é hospital, docinho. – disse Josh sentando na beira da cama e alisando o meu cabelo. Foi muito estranho porque eu meio que sabia que o Josh era meu irmão antes de saber que ele realmente era meu irmão.

– Então o que é aqui? – perguntei antes de lembrar da minha primeira impressão. – Aqui é Nárnia?

Eu poderia ter dado um chute no saco do Luke e tenho certeza que ele teria feito a mesmíssima cara que fez no momento que eu perguntei se lá era Nárnia.

– Por favor, não me obriga a fazer isso! – implorou Luke olhando de Barbie para Josh. Uma nova batata quente de olhares antes que ele suspirasse e dissesse: – Aqui está bem longe de ser Nárnia... Infelizmente.

– VOCÊ GOSTA DE NÁRNIA? – Inez exclamou pulando em cima da cama com um sorriso enorme na cara. – Qual o seu livro favorito? O meu é O Cavalo e Seu Menino.

Foi naquele momento que eu soube que Maria Imaculada Montearroyo de Monsanto seria minha melhor amiga pro resto da vida.

– É o meu também! – sorri de orelha a orelha. Mas, não com a ajuda do meu TDAH, logo voltei ao assunto que interessava no momento. Eu tinha certeza de que Inez e eu teríamos muito tempo pra falar de Nárnia (ALERTA DE SPOILER: tivemos muito tempo pra falar de Nárnia). – Mas se aqui não é Nárnia, o quê é aqui? Eu tenho certeza que vi um fauno.

– Na verdade o que você viu foi um sátiro, querida. – disse Barbie com um sorriso daqueles que deixava o sol e as estrelas se sentindo feios e insuficientes.

– Aqui é o Acampamento Meio-Sangue. É um acampamento de verão para crianças muito especiais. – disse Luke. Ele tinha um jeito de quem era meio pateta a maior parte do tempo, mas sabia ser sério quando precisava. – O que você sabe sobre os deuses gregos?

– Eu gostava de assistir com a minha mãe aquele filme do Hércules da Disney. Então eu sei que tem Zeus, tem Hera e tem Hades que é o meu favorito. – respondi sem nem titubear porque Cristiane Azevedo me criou na base de Disney, Pixar e A Era do Gelo.

– Ugh, é pior do que eu pensava... – Luke suspirou passando a mão pelo rosto como se fosse um pai de família de 40 anos que acabou de ouvir do mais novo dos 5 filhos perguntar de onde vêm os bebês. – Não tem jeito fácil de dizer isso: a Disney mentiu muito e mentiu feio nesse filme.

– Faz sentido. Eles fizeram isso com os contos de fadas. – respondi balançando a cabeça. – O que tem uma coisa a ver com a outra?

– Bem, primeiramente o nome dele não era Hércules, era Héracles. – disse Luke com cara de quem o cérebro tava fazendo o download da informação com a internet da época, que era discada (vocês velhos também conseguem ouvir o barulhinho da rede conectando que eu sei!) – E ele era um semideus. Filho de Zeus com uma humana. Aqui, todos são assim: semideuses, filhos de um dos deuses gregos com um humano.

Minha primeira impressão foi: seita de crianças drogadas. E se existem duas coisas que minha mãe me ensinou a evitar mais que o diabo evita a cruz, essas coisas são seitas e drogas. Me virei para Inez e analisei bem sua expressão.

– Se você foi sequestrada e está sendo forçada a usar drogas por uma seita de gente maluca pisque duas vezes. – sussurrei em português.

– Bem que eu queria... – disse Inez revirando os olhos. – Ainda é uma opção melhor que a realidade.

Assenti e respirei fundo olhando para os mais velhos:

– Pessoal, usar drogas não é legal e nem saudável. – falei de volta ao inglês.

– Nós sabemos querida. – disse Barbie rindo baixo. – Não estamos usando drogas. Estamos falando a verdade. Já aconteceu com você alguma coisa esquisita que os adultos não saberiam explicar? Algo como quando Harry Potter fez sumir o vidro do viveiro daquela cobra no zoológico?

Franzi as sobrancelhas pensando em Dentes de Tubarão e na minha habilidade especial. Talvez fosse possível que eles estivessem mesmo sendo sinceros e estivessem sóbrios.

– Já... – mordi o interior da bochecha hesitante os analisando por um tempo. Eu já não tinha mais a minha mãe pra me apoiar, e eu não era as gêmeas Olsen pra sobreviver sozinha com oito anos. Essas pessoas tinham cuidado de mim, eram gentis comigo e gostavam de Nárnia, Harry Potter e Disney, então talvez eu pudesse confiar neles. – Se eu mostrar uma coisa pra vocês, prometem não contar pra polícia?

– Juro pelo Leão. – disse Luke com um sorriso. – Juramento de narniano. Não dá pra quebrar.

Poxa será que ele topa me adotar?

Respirando fundo, olhei para eles e fiquei invisível.

– HOLLY COW! – gritou Josh dando um pulo pra trás e olhando para onde eu estivera bem visível um segundo atrás.

– Laura?! – exclamou Barbie atônita (pronto, Annabeth, usei a palavra do dia) olhando ao redor. – Pra onde raios ela foi?

– Eu continuo aqui. – falei e Luke quase caiu no chão de susto.

– Incrível... – murmurou Inez com um sorriso.

– Você... Ela... A tampinha fica invisível! – exclamou Josh como se de repente eu tivesse me transformado na Mulher Maravilha bem na frente dele. – Como você consegue fazer isso?

– É um pouquinho complicado. Minha mãe me fez estudar muita física de ensino médio pra entender. – faço uma careta voltando a ficar visível. – Sabe aquele negócio que a gente não vê as coisas e sim a luz refletida nelas? Bom, eu consigo fazer a luz parar de refletir em alguma coisa.

– Você tem mais alguma habilidade, Laura? Pode ser uma pista sobre qual deus é seu pai. – perguntou Barbie e eu sacudi a cabeça. Ela olhou para os meninos. – Quem vocês acham?

– Talvez Apolo? Ou Éos? Ou Iris? – Josh sugeriu.

– Ela é a mini Susan Storm! A mini Mulher Invisível! – exclamou Luke passando a mão pela ilusão de maçã na minha mão. Ele me olhou sorrindo como se tivesse uma promoção na sorveteria de "coma o quanto puder por 5 dólares". – Eu não sei pronunciar o seu nome certo, então de agora em diante, você é a Stormy. 

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