Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 19

Olhando pela janela, vejo a extensa ilha com terras a perder de vista. Talvez seja tão grande quanto os Reinos, a terra repleta de casas simplórias que abrigam famílias formadas por almas vindas dos quatro cantos. Aqui, não são os laços de sangue que unem aqueles que partiram de sua vida humana e encontram aqui o tão esperado paraíso perdido, onde vivem e constroem uma nova viva, até terem evoluído e se desprendido de sua vida anterior o suficiente para reencarnarem em uma nova realidade, prontos para viver uma nova história.

Com a grama verde e macia recobrindo toda a extensão de terra até onde posso ver e a brisa fresca bagunçando as folhas de cor vívida presas aos galhos de grandes árvores frutíferas esparsamente espalhadas, não é um lugar ruim de se morar. É claro que não, fui eu quem o construí e não faço nada menor do que a perfeição. Mas sinto falta da minha casa, sinto falta do meu lar.

A única alma que falta nessas terras é a de Dandara. Zader demorou mais tempo do que deveria para se dar conta de que não conseguia encontrar Kya porque ela estava presa à alma de sua mãe. Excelente trabalho para o Deus da Morte, como é possível que não consiga controlar uma alma perdida? Dandara deveria estar aqui, junto com o Antigo Rei, seu marido. Mas é a única alma da qual não temos controle, o que me causa uma dor de cabeça sem fim. Dandara faz o que quer, vai onde quer. O único lugar proibido é a Cordilheira das Almas Perdidas, onde aqueles que usaram seu tempo em vida para fazer mal a outros são penitenciados a passar o restante de sua existência agonizando, até que encontrem redenção e a luz brote em seu âmago, guiando-os até essa terra onde estabelecemos nossa casa desde que tivemos que fugir do Reino.

Nunca entendi porque ela se recusa a vir para cá, mas por ser mãe de Kya tem regalias que transpassam meu contentamento. Consegue ir e vir ao mundo dos vivos e se comunicar com a filha. Invejo-a. E tenho medo do que ela disse a Kya em seu último encontro. Dandara sabe que não deve interferir com a Profecia, que Kya precisa encontrar a resposta sozinha, faz parte da sua Jornada. Mas entre saber e não enfiar os pés pelas mãos há uma fenda gigantesca. Espero que essa mania ridícula de Zader de querer bancar o bom moço não prejudique o destino dela - e, mais importante, o nosso destino. Ele diz que carregar a responsabilidade pela morte de todos os seres viventes é o suficiente para assombrar seus sonhos e que não precisa adicionar a isso o fardo de ser o carrasco ceifador de vidas o tempo inteiro. O primeiro erro nessa colocação é que não temos sonhos. Deuses não sonham. Se algo diferente da pura realidade aparecer diante de nossos olhos, trata-se de uma visão. Provavelmente anunciando o apocalipse.

Tenho contado os dias nos últimos milênios para que a Profecia por fim se cumpra e, droga, Kya está demorando uma eternidade para chegar aqui. Está se deixando ser jogada de um lado para o outro ao invés de tomar o controle de sua vida para si. Enquanto não tomar uma medida definitiva, e se livrar do excesso de peso inútil que carrega, não encontrará luz em suas decisões. A tentação de enviar ajuda pulsa em minhas veias. Estou impaciente, e preocupado. Tenho medo, não sei quanto tempo mais o Reino se manterá de pé. A força pulsante que está colocando o Reino em risco, que Kya nunca soube identificar, tem nome e veste um corpo físico para abrigar sua alma sombria e destrutiva. Seus poderes são limitados, por enquanto, mas crescem a cada dia. A presença física de Kya impedia seu desenvolvimento, mantinha seus poderes sob controle, e agora que ela não está mais lá...

É questão de tempo até que o caos comece a se instaurar. Foi uma ideia estúpida escrever essa Profecia idiota, tirar Kya dos limites do Reino, expor toda a população ao perigo. A Deusa da Sabedoria às vezes pode ser bem burra. A justificativa é que essa era a única forma de trazer Kya até nós, de fazer com que ela descobrisse sua origem, descobrisse sua missão. Não poderíamos só ter deixado um bilhete? Uma carta explicando detalhadamente o que deveria ser feito? Instruções claras sobre como proceder? Um mapa para onde a maldita adaga foi escondida? Não consigo acreditar que um pergaminho com um enigma impossível de ser decifrado tenha sido a melhor alternativa. Mas ela jura por sua alma abençoada que sim, quem sou eu para questionar? Alguma coisa a ver com a necessidade de crescimento pessoal e desenvolvimento de suas habilidades. "Ela precisa aprender", Neka diz, "precisa aprender por si mesma como se proteger contra ele". Como proteger o Reino.

Ele. Ele, ele, ele, ele. Essa repetição maldita, esse medo interminável. Estou cansado de fugir, de ficar longe da minha casa, do mundo que construímos. Escondidos, exilados. O Reino é nosso exílio.

Éramos quatro, no princípio de tudo. No princípio dos tempos. Quatro trabalhando em conjunto para criar um mundo onde a paz reinasse, onde a sabedoria prevalecesse por sobre todas as decisões, e a justiça fosse palavra de ordem obrigatória em todos os corações. Onde não houvesse sofrimento nem dor. Éramos quatro, mas não somos mais. Fomos traídos e o pilar existencial se rachou. A ironia é que apenas os humanos criados a partir de nossa essência deveriam ser criaturas corrompíveis. Seus criadores, bom, era esperado que fossem serem de luz, de energia superior, espíritos luminosos a confortar aqueles que buscam por elevação.

Talvez ele não tenha sido corrompido. Talvez fosse assim desde sua criação. É impossível negar o mal que existe no mundo - antes mesmo de existir um mundo. Talvez eu tenha apenas sido ingênuo ao acreditar que o amontoado de partículas que se juntou levando à na nossa formação estivesse livre da desgraça de assola o próprio processo de criação. O funcionamento estrutural das coisas nada mais é do que caos ordenado, a interação perfeita entre moléculas desordenadas que gritam e lutam para se expandir, sendo eternamente confinadas em sua forma estável e reprimida. Talvez ele tenha sido criado por partículas caóticas e trazer o mal ao mundo fosse sua missão.

Ainda que tenha sido pura ingenuidade de nós três, tenho que dar o braço a torcer e admitir que seu plano foi executado com maestria. Quando menos esperávamos, vimos o mundo que criamos com tanto apreço e cuidado ser invadido por uma onda de caos. Tentamos lutar para reestabelecer controle e salvar as almas dos seres que habitavam nossos domínios, mas ele era forte demais, alimentado pelo caos e medo das almas perdidas e assoladas pela escuridão. Como um ciclo vicioso: quanto mais caos, mais medo; quanto mais medo, mais forte ele ficava. Nosso poder, então alimentado pela fé e bonança no coração de nossas criaturas, cada vez foi minguando mais, até atingir o ponto em que nos restou força apenas para fugir dali, para o canto mais remoto e inexplorado, o santuário preservado que havia sido criado e separado da humanidade para nossa aposentadoria. Quando a humanidade estivesse estabelecida o suficiente para comandar a si própria sem precisar de interferência divina e poderíamos, enfim, descansar e apreciar a obra criada.

Rompemos as portas do santuário e as lacramos pelo lado de fora. Ele não entraria, não contaminaria o último pedaço de grama verde sobre a superfície de nosso mundo, mas nós também não sairíamos. Ficaríamos presos aqui, condenados à eternidade de reclusão, longe do mal avassalador e sufocante de sua alma doentia. Recomeçamos do zero, então, e construímos o Reino. Reestabelecemos toda uma raça, criada a partir de descendentes das últimas almas não corrompidas que catamos pelo caminho antes de selar a passagem, antes de virar as costas à nossa criação e condenar suas almas ao sofrimento interminável sem que tivessem ajuda de ninguém. Abandonadas à própria sorte - ou azar.

Zader remói a culpa pelas almas até hoje, milênios depois. Sua força vital é alimentada pelas almas de nossas, e ele diz que pode sentir o gosto amargo de seus gritos de sofrimento. Bom, eu não posso, e essa realidade está há muito posta para trás, enterrada no fundo da minha mente. A única coisa que sinto é raiva. Raiva pelo mundo que perdemos, raiva por ter o Reino ameaçado novamente. Não consigo entender como ele rompeu o lacre dos portões selados, não consigo entender como conseguiu transpor as barreiras que criamos. Essa pergunta está entalada na minha garganta e me recuso a deixá-la não respondida. Preciso ficar cara a cara com aquele traidor, nem que seja a última coisa que faça na minha existência medíocre. O lado positivo, se é que é permitido proferir a heresia de que há um lado positivo nessa história, é que aqui as regras são outras.

Ele não participou da criação dessa realidade, o Reino a ele em nada pertence. Seus poderes são limitados aqui. É nossa terra, mesmo que tenhamos fugido como gatos covardes se escondendo em becos escuros quando veem um cachorro bravo. Ainda assim, é nossa terra. As guerras políticas e desacordos mundanos são o menor dos problemas e não vou me envolver em picuinhas irrisórias. Que dividam o Reino em quantos quiserem; são quatro agora, que sejam quarenta e sete, não me importo. Ainda é nossa terra. E se a Kya continuar demorando tanto assim para chegar aqui e compreender sua missão, nossa terra vai ser devorada pela escuridão mais uma vez. A diferença é que agora não há mais para onde fugir. O fim do mundo é aqui.

Neka pigarreia, sentada na confortável poltrona amarronzada, uma manta grossa em seu colo enquanto anota em seu caderno vai saber o quê, arrancando-me de meus devaneios por entre a história antiga. Sequer havia percebido que não estava sozinho no cômodo, tamanha minha inquietação. Olho-a de relance e vejo-a me encarar com uma expressão inquisitiva que não estou com disposição de enfrentar nesse momento. Apenas continuo encarando a paisagem pacífica a minha frente, torcendo para que seja assim por muito tempo. Vejo Zader conversando com uma mulher - com a alma de uma mulher -, o sorriso preguiçoso no rosto enquanto trocavam risadas.

- O mundo prestes a acabar e ele flertando com uma mulher morta. - Resmungo no que acho ser um tom de voz baixo, mas que é alto o suficiente para que Neka escute.

- Ela está morta e ele é um Deus. Não acredito que você ache que vá sair algo dali. - Ela cospe, e não preciso olhar para ver que está revisando os olhos. Não entendo essa mania de fazer isso o tempo inteiro. - Além disso, não se apegue demais a essa sua casca mortal. Nós não temos sexo. Deuses não tem sexo. Somos seres de energia, não um corpo pútrido guiado por um órgão sexual que parece ter mais controle de nossas ações do que o cérebro bem desenvolvido que demos a eles. - Ela debocha e concordo. Continuo chamando ele de ele, mas é só porque em nosso tempo juntos foi essa a casca que foi adotada para que se misturasse ao nosso povo. Podemos ser o que quisermos, e a Deusa da Sabedoria escolheu ser mulher.

- Bom, a casca terrena dele tem um órgão sexual pensante. - Dou os ombros - Me pergunto como exatamente isso funcionaria, entre um Deus e uma alma. - Devaneio e ouço Neka engasgar. Sorrio, apreciando o momento de descontração de não dura mais do que alguns segundos.

Exasperado, percorro as mãos pelo cabelo e me movo inquieto pelo salão do castelo ostentoso que foi construído aqui, nosso lar temporário que cada vez mais parece ser permanente. É simplesmente ridículo que Deuses tenham tão pouco poder dentro de suas próprias terras. Droga, Kya, acelera o passo! Alcanço a outra janela, a que está virada para Leste. Sei que de nada adianta, mas me acalma o espírito ao menos olhar para a direção de onde ela está vindo. Onde você está Kya?

- Espero que os Deuses tenham piedade de sua alma. - Murmuro, encarando o horizonte. Da janela, consigo ver a Baia dos Sonhos separando essa ilha do continente que nos leva de volta até os Reinos. A nuvem negra que se apossa da Cordilheira sempre me dá calafrios, e faz eu me perguntar se é uma boa ideia mandar almas já amaldiçoadas para um lugar cercado por uma nuvem de ódio e repressão. Como esperar que se regenerem se são apenas jogadas nas profundezas da destruição?

- Nós somos os Deuses - sabedoria aponta o óbvio. Olho para ela, arqueando a sobrancelha, percebendo a falha óbvia na frase que acabei de proferir.

- Bom, ela está bem ferrada então.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro