You can cry

'Cause your tears are gonna dry

(Você pode chorar, porque suas lágrimas vão secar)

Cry - Gryffin ft. John Martin

Com um movimento suave dos meus braços, o remo deslizava sobre a água, o único som cortando o silêncio além da minha respiração. Eu guiava o pequeno barco até aquela parte calma do oceano a qual visitei tantas vezes, não tão longe da costa, apenas o suficiente para guardar segredos.

Remei mais um pouco e parei no instante em que reconheci a rocha ali, alguns bons metros de uma enseada esquecida. Respirei profundamente, sentindo o peito pesar, e me consolei dizendo que logo estaria leve novamente.

Saquei uma garrafa de vidro colorida, destampada, e joguei em seu interior um papel enrolado como um pergaminho antigo, trancafiando-o na cela de vidro com uma rolha. Lá estavam as palavras nunca ditas, os sentimentos nunca processados e os segredos nunca revelados. Mais deles.

Ao vislumbrar a garrafa uma última vez e memorizar como o vidro cintilava com alguns raios do sol que nascia, eu tirei da minha bolsa uma pequena pedra atada a uma corda. Amarrei a extremidade livre da corda ao redor da garrafa, focando-me agora nas ondas suaves.

— Adeus. — sussurrei, soltando, por fim, todo o peso da minha mente naquele oceano, permitindo que afundasse. Olhei para baixo, acompanhando pela clareza da água a garrafa atingir o fundo de areia, enterrando-se juntamente com algumas outras muitas garrafas.

Ali, era o esconderijo dos meus desesperos. Então, para manter o segredo, antes que o sol acordasse a todos, voltei a remar em direção à baía, com medo de que descobrissem o que eu fazia, que descobrissem o que eu não dizia.

Respirei profundamente, sentindo meu peito mais leve, e sabendo que tinha o estado mental necessário para seguir em frente. Afinal, tudo estava resolvido, as palavras estavam fora de mim e bem guardadas ao longe.

Porém, a cada remada que eu dava, sentia um pensamento incontrolável crescer, a ideia de que aquilo não era o fim e que, mais cedo ou mais tarde, o oceano traria aquelas palavras engarrafas de volta para mim, cuspindo-as pelas ondas em direção à areia.

E assim eu estaria exposta aos olhos de todos, para qualquer um que pegasse as mensagens engarrafas e as lesse.

Sacudi a cabeça, tentando me livrar da sensação angustiante que aquilo trouxera, e continuei meu caminho de volta. "Nada vai acontecer, nada vai acontecer", eu me dizia, me convencia. No entanto, logo fui provada do contrário.

Eu não sabia naquela época, mas aqueles sentimentos, que eu tão desesperadamente tentava me desfazer, tinham um peso muito maior do que eu achava ser capaz de aguentar. E talvez tenha sido uma metáfora de mau gosto do destino, porém a forma que eu enrolava os papéis antes de jogá-los nas garrafas se assemelhavam a furacões, e foi isso que aquelas situações deixadas de lado se tornaram.

Eu tentei engarrafar furacões. Tentei contê-los em meras jaulas de vidro e esperei que nunca quebrassem.

Porém, como esperado, elas quebraram. Cada caco voou para os lados, as palavras foram expostas da mesma forma que as feridas. O oceano que as escondeu se tornou as lágrimas salgadas que molharam minhas bochechas.

Quando tudo isso aconteceu, eu aprendi que estava tudo bem chorar. Porque as lágrimas secariam, e as tempestades cessariam, e os furacões se dissipariam.

As feridas sarariam. E as cicatrizes se formariam.

Eu reli cada uma daquelas palavras, e atravessei por cada um daqueles sentimentos encravados no papel. E, hoje, não os engarrafo mais, mas sim os exponho ao mundo com suspiros suaves e momentos gentis.

Hoje, meu coração não está mais dentro de uma garrafa. 

E esse foi o texto de hoje! O que acharam?

Ele foi um dos meus favoritos de fazer, sem dúvida, creio que por mostrar algo que a maioria de nós consegue se relacionar, que são os sentimentos guardados que nem percebemos que ignoramos, por assim dizer.

São como pedras que nos afundam, e talvez seja melhor lidar com eles do que deixar que nos afoguem.

Bom, despeço-me com essa pequena reflexão XD Vejo vocês no próximo capítulo! 💕