Capítulo Oito: Baranga de rosa, a onda de azar não acabou
Terça-feira, 30 de abril de 2024
Bangchan sentiu seus olhos em carne viva enquanto terminava de digitar um relatório para entregar na quinta-feira. Suas costas doíam e ele estava com fome, mas preferiu terminar as coisas antes de finalmente esticar o esqueleto. Aquela coisa de sacrificar um momento para ter a compensação da tarefa concluída.
— Ei Channie — dois toques foram deferidos na porta, Heeseung entrou com uma careta de descontentamento —, tenho péssimas notícias.
— Manda.
— O Kevin voltou.
Chris parou tudo o que estava fazendo, olhando para seu amigo de apartamento com uma cara feia ao dizer:
— Não brinca com coisa séria.
Heez se acomodou e abraçou um travesseiro da cama de Chan, ele o olhou seriamente enquanto amassava as pontas do travesseiro.
— Eu nem sou doido de brincar com isso. Vi ele na faculdade — Heeseung disse num suspiro cansado — Aquele cara é insuportável. Se a coisa ficar pior do que antes você pode ir pro meu quarto. O Soobin fica mais tempo na casa da namorada dele do que aqui.
Isso vai ser a treva, pensa o australiano, fazendo uso de seu pessimismo.
O dormitório da faculdade é uma carta de sorte e eles gastaram todas nos demais membros do apartamento e esqueceram de um. Kevin é tudo o que se pode esperar de um universitário filho da puta. Por sorte que o estudante passava mais tempo fora com os pais ou enchendo a cara em festas – o negativo é chegar porre a qualquer hora – mas sua ausência era muito bem quista. Chan não consegue imaginar o inferno que será passar pela última bateria de provas com ele ali. Talvez eles devessem se juntar na casa de Taehyung novamente, mas o problema é os estudos que o australiano costuma fazer antes... Ah Deus...
— Eu posso te ajudar se quiser — Heez se levanta e deixa um beijo nos cabelos de Chris —, ninguém merece aguentar dividir quarto com esse cara.
— Eu vou dar um jeito — Chan puxa os lábios num sorriso sem vontade. — Nem que pra isso eu me mate na frente dele.
— Claro — Heez foi até a porta, então parou ali como quem luta com suas decisões. Chan esperou — Você vai sair hoje?
Terça-Feira a noite, Minho havia dito: Eu te busco depois da faculdade, nós podemos ir juntos. Confie em mim, vai dar tudo errado. Ser odiado é um benefício.
— Vou — respondeu. — Aliás, nem sei que horas volto.
Heeseung assentiu, seus olhos varrendo o rosto de Chris, ele suspirou, antes de fechar a porta fez menção de falar algo, mas desistiu e saiu.
A tarde continuou como previsto. Chan não estava exatamente preocupado em achar um novo trabalho de imediato, havia uma boa ressalva em sua conta depois de Minho o mandar vários "Faça esse bolo pra mim, por favor" e logo em seguida a notificação do branco de Chan estava brilhando em sua tela. É como se ele fosse um boleiro caríssimo com o qual o Lee fazia questão de encomendar.
Sem muito o que fazer, ele estudou boa parte do dia, adiantou trabalhos e se preparou para um pequeno seminário que haveria naquele dia.
Horas mais tarde o Bang estava encarando seu guarda roupa sem saber o que diabos vestir. Ele precisava ir para a aula – se vestir para isso era fácil – e então iria para a casa dos pais de Minho – aí era só ralo abaixo. Ele não sabia o que fazer.
Chan queria usar uma bermuda com correntes e camisa justa, mas não parecia adequado, ele não estava preocupado com como iria vestido para a faculdade, e sim como diabos estaria bem para o inferno do jantar. Por ele? Ah, uma saia preta longa e camiseta, meias e tênis brancos resolveria tudo, mas primeiro, ele não se sentia seguro de se expressar através de roupas, e segundo, ele não tinha uma saia.
Com um suspiro sôfrega ele olhou ao redor procurando onde estava seu telefone, não demorando a pegá-lo sob uma pilha de camisas e buscar o contato de Minho.
Três bips após, uma voz diferente sai dos alto falantes.
— Ei Christopher! É o Hyunjin — ele parecia animado. — Tudo bem? O Minho saiu rapidinho.
— Ah, não. Tudo bem. É... você entende de roupas?
Ele ouviu uma engasgada do outro lado da linha e uma barulhada repentina.
— Tá brincando? Eu amo perrengues de moda, você quer ajuda pro jantar? Mude para uma videochamada bebê! Você vai ser o cara mais gato dessa noite, e olha que eu vou estar lá!
Chris nem sabia o que fazer, mas ele se apressa em obedecer. Apoiando o telefone na mesa ele muda o modo da ligação e coloca os fones para ter mais privacidade.
— Então, — ele vê Hyunjin se apoiar em uma mesa — o que você gosta de vestir? Mais ousado, reservado, crente, mega comum?
Ele riu da brincadeira do outro, já pegando algumas cruzetas para mostrar o que havia pensado.
— De verdade, gosto de ser ousado... mas ainda não me sinto muito seguro. Gosto de roupas pretas e prata, cropped, braços de fora, sabe?
— Oh! Temos um bom caminho então, me mostre essas que você tem na mão. Você vai sair antes do jantar, né?
— Algumas horas de aula e depois vamos pra lá — diz mostrando a calça de alfaiataria preta e uma camisa larga, mas ele torce o rosto duvidando de si mesmo. — Não sei.
— Chris, você vai ser odiado independente do que vista. Eles são uma galera mega insuportável, quadrada, sem ânimo e cheia de grana — Hyunjin deu de ombros — Se for pra ser, seja odiado por ser você mesmo, e não algo que os agrade. É um conselho geral.
Chan considerou, assentindo enquanto vasculhava seu guarda roupa. Na linha de Hyunjin, ele ouviu uma porta abrir e bater, seguido da inconfundível voz de Minho.
— Tá falando com quem?
— Com o seu garoto, agora saia daqui, estamos falando de moda, coisa que você não entende.
Com o seu garoto.
— É isso, Bangchan?
Os pelos do braço do australiano se eriçaram por ouvir seu nome coreano saindo dos lábios alheios. Ele conteve sua voz gaguejante, mas o sorriso de Hyunjin denunciou que havia percebido.
— É. Foi um pedido de ajuda. Era pra ser pra você mas os céus me mandaram um especialista no assunto. O que acha desse? — ele mostrou uma camisa toda preta de gola alta mas não era confortável, Chris a jogou pro lado e voltou a procurar — Ela incomoda. E é muito formal.
— Confortável e Street, acertei?
— Majoritária. Punk também.
Do outro lado da chamada alguém engasgou, e não foi Hyunjin. Na verdade ele olhou para longe do celular e riu, voltando-se para a camisa branca com uma estrela preta no centro que Chan mostrava, parecia boa.
— Sou a pessoa mais feliz do mundo. Gosto dessa, e você?
— Tem um bônus — Chan mostrou a costa da camisa, havia um corte em estrela que mostraria boa parte das costas. — Ela... e essa — ele pegou a calça de alfaiataria e então um cinto com metais — brincos e tênis preto alto.
— Uma make meio sassy, aquela coisa mais sombra preta, lápis de olho e tal? — perguntou Hyunjin, Chan assentiu.
Minho estava se roendo por não poder ver e ser torturado ouvindo os dois conversarem. Hyunjin baixou o celular enquanto dizia:
— Se troca rapidinho, quero opinar.
O Lee encarou seu celular do outro lado da mesa e então olhou para seu primo. Havia uma tecla insistente sendo apertada em sua mente.
— Chan?
— Sim?
— Hoje vai ser horrível — alertou novamente enquanto olhava nos olhos de seu primo, mas ele queria mesmo era poder segurar a mão de Chan enquanto o avisa, com seu jeito compreensivo e protetor —, desconfortável e péssimo. Me desculpa te colocar no meio disso. Minha mãe vai tentar te diminuir e humilhar, a Shu é calma, mas a maioria do resto é tão hostil quanto a Chaewoon. Caso você se sinta mal nós vamos embora, literalmente a qualquer momento, tudo bem?
— Não se preocupe muito comigo — Chris falou enquanto vestia a camisa, mas achou outra na metade do caminho e a vestiu —, eu estou aqui porque quero. Você me escolheu e eu também te escolhi, nós acordamos, vamos fazer.
A ligação ficou muda, Minho absorvendo as palavras do australiano, "Você me escolheu e eu também te escolhi" formava uma nova marca em suas digitais enquanto era pirografado nas paredes de seu crânio.
— Pronto, Hyunjin!
Ele voltou para a frente do celular, e o coreano se apressou em levantar a tela, de queixo caído, ele sem nenhum escrúpulo admirou como o rapaz estava bonito. Então olhou para seu primo como quem faz uma oração por piedade.
— Eu tô de queixo, sabe? Ficou lindíssimo! Coloca uns anéis no dedo! Correntinha leve. Com todo respeito mas ficou... porra. Uma jaqueta também ficaria perfeita!
Minho queria comer a madeira da mesa pra ver se alguém tinha piedade de si e o deixava ver como seu noivo estava. Mas ele não pôde, porque Hyunjin desligou a ligação quando Chan afirmou ter o que queria.
— Se eu fosse você tomava um calmante — avisou o primo mais velho. — Seu noivo é um tesão.
— Vou me matar na frente de vocês dois.
— Têm que ver ele primeiro — Hyunjin levantou de onde estava, empurrando o celular para seu primo — Vamos esperar até a noite. Juro que vale a pena!
E ele realmente esperou, roendo as unhas bem feitas, balançando a perna de nervosismo, bebendo goles maiores de água e sendo obrigado a ir ao banheiro fazer xixi mais vezes — seus rins pareciam gratos —, ele conferia o relógio de pulso a cada vinte minutos, às vezes cinco ou seis.
Quando finalmente os ponteiros marcaram nove horas ele estava de prontidão na frente da faculdade, um carro de luxo chamativo e um Minho de terno. Christopher sabia que ele estava o esperando, até o indicou o melhor lugar para estacionar.
Minho esperou, as pessoas saíam das salas e o encaravam curiosas, ele não ligava, seus olhos varriam por aqueles que não desejava focar, somente para buscar aquele que deixava seus ossos afundados num afeto puro e assustador.
E então, naquela montanha instável de pessoas, com um sorriso gigante direcionado a um estranho, estava Christopher Bang.
Ou melhor, aquele deveria ser Bangchan.
Cujos olhos estavam comprimidos pela força de sua risada, os cabelos ondulados e revoltos, joviais, lindos. Seu corpo era envolvido por uma camisa preta semi transparente justa em seu torno com estrelas na forma da roupa, ele tinha uma jaqueta jeans no braço e a bolsa que sempre tinha consigo no ombro, suas pernas eram cobertas numa calça social que ajustava de forma bonita no corpo, ele usava prata e correntes no cinto. Era bonito. Tão... bonito.
Minho estava atordoado. Encantado. Cativado.
Calma coraçãozinho, ele pediu a si.
Quando Bangchan o viu e acenou alegremente, se despedindo de seu amigo com um abraço e virando-se totalmente para Minho, o mundo teve a audácia de acelerar e não permitir que o coreano admirasse aquele homem por mais alguns minutos.
— É muito? — perguntou, mostrando suas roupas.
Os ombros do CEO cederam imediatamente enquanto seus lábios eram puxados num sorriso doce e afetuoso..
— Se é você, é perfeito.
Ah Deus Chan podia sentir suas bochechas formigando, ele procurou observar outra coisa, sem forças para encarar a profundidade ameaçadora que eram os olhos do Lee, o puxando levemente pelo braço.
— Deixe de galanteios. Vamos.
O Lee sorriu, e ah ele se sentia bobo.
Ao entrar no carro, Minho pegou uma caixinha de jóias no porta luvas e respirou um pouco. Uma, duas, três vezes. Ele viu Chris colocar o cinto de segurança e esperar.
— Preciso que você escolha uma música, é bobo, mas... — mas eu sou um romântico incurável que sonhou em entregar as alianças de noivado, se ajoelhar e fazer promessas. — Escolha, por favor.
Minho colocou seu celular na mão de Chan, que nem pensou muito antes de procurar Angel baby de Troye Sivan, então ah
Eu preciso de um amor para me manter são
I need a lover to keep me sane
Que me tire do inferno, que me traga de volta novamente
Pull me from hell, bring me back again
Toque para mim os clássicos, algo romântico
Play me the classics, something romantic
Darei tudo de mim mesmo não tendo nada
Give it my all when I don't even have it
Minho limpou a garganta e tentando se livrar das agulhas sentimentais que perfuravam sua pele, ele pegou o celular e o colocou de lado, virando para Christopher e tentando não suar muito na palma das mãos.
— Eu não sei como... eu não sei como te dar os anéis. Porque... geralmente vem com uma declaração, lágrimas e beijos. — Minho evitou os olhos de Chris, os dedos raspando suavemente a camurça da caixinha vermelha — Então vou fazer isso como posso, porque eu acho que isso ainda precisa ser mágico e sincero. Nós nos conhecemos de uma forma atípica e cômica, eu achei fantástico a coisa dos anúncios, os encontros, as saídas, os gansos assassinos — eles gargalharam —, bolos, jantares e todas essas pequenas coisas fantásticas. Você abriu portas que eu havia fechado. Me ensinou a tentar confiar e bater de frente com meus próprios limites, eu não estou totalmente aberto, tenho ressalvas e muitos medos mas... — os dedos de Bangchan envolveram os de Minho, a caixinha guardada entre suas mãos na esquerda, os olhos de Minho tremulavam e sua respiração desestabilizou, seu coração estava acelerado quando disse — Você é a pessoa mais fantasticamente sincera que eu conheço. Nunca pare com isso. Mas Bangchan, isso além de um contrato. O que eu vou te pedir... você sempre pode me dizer não.
Chan assentiu, seus olhos presos nas orbes brilhosas de Minho. Seu estômago se revirava de ansiedade devido aquelas palavras, aquela maldita frase que carrega todo um romance e suspiros, mas que pra eles precisa ser mais cumplicidade do que qualquer outra coisa.
— Christopher Bang, você aceitaria se casar comigo?
Todas as noites doentias e conturbadas
All the sick and twisted nights
Que eu estive esperando por você
That I've been waiting for ya
Elas sempre valeram a pena, sim
They were worth it all along, yeah
Eu só quero viver neste momento para sempre
I just wanna live in this moment forever
— Vou ser piegas se disser sim e começar a chorar? — Chan brincou, mas seus olhos estavam vermelhos. Minho tirou um dos anéis da caixinha e pegou a mão do australiano.
Porque temo que viver não possa ficar melhor
'Cause I'm afraid that living couldn't get any better
Eu tinha começado a desistir da expressão para sempre
Started giving up on the word forever (on the word forever)
— Pode ser que sim — Minho fez menção de encaixar o anel, mas antes levantou seu olhar para aquele homem esplêndido e disse — Se importa?
Até que você abriu mão do céu para que pudéssemos ficar juntos
Until you gave up heaven so we could be together
— Tudo bem ser piegas, né? Eu aceito.
Você é meu anjo
Minho beijou o anel, seus lábios tocando o metal frio e parte dos dedos de Chan, ele baixou a mão do outro em seu colo, ao que seu olhar se fixou na imensidão brilhosa que eram os olhos do australiano.
— Eu só posso te oferecer meu carinho, dedicação e cuidado — Bangchan pegou o outro anel, acariciando delicadamente a mão de Minho — Não por causa de uma aliança, mas porque é o que fazemos quando admiramos e respeitamos alguém. Lee Minho, você aceita se casar comigo?
Anjo querido, anjo
— Eu aceito.
Minho estava sorrindo, os olhos pesados enquanto via o anel escorregar por seu anelar direito, na parte interna estava cravado o nome de Chris, seu noivo. Mas havia algo mais profundo do que isso, ele sabia. Em algumas partes de seu coração, exatamente como naquele anel, estava desenhado em cursivas delicadas Christopher Bang nas paredes de sua alma, e ele não sabia mensurar o quanto tal fato balançava seus nervos. Quando seus olhos se encontraram, ainda embolados nesse sentimento denso de serem noivos, as mãos conectadas e os corações batendo lentamente no peito, eles queriam mais.
Bangchan percebeu que sua respiração estava ficando pesada, as batidas lentas contra suas costelas sendo lembretes suaves de que sua mente estava turva, ele só tinha olhos para Minho quando Minho também só tinha olhos para ele. Estudando os pequenos detalhes de seu rosto esculpido, ele quis tocar, colocar as pontas dos dedos ali e sentir. Quando Chan umedeceu os lábios numa tentativa de recobrar seu controle, os olhos de Minho seguiram o movimento de sua língua, ele precisava sentir, porque parecia macio e bom.
Como duas cargas fisicamente opostas, seus rostos se aproximavam lentamente enquanto os olhos pesavam, semiabertos e enevoados por aquela vontade que agarrava seus estômagos e os revirava de nervosismo. Minho não conseguiu conter um arfar suave, bem pertinho dos lábios de Bangchan ao dizer:
— Posso te beijar? Por favor...
Chan abriu a boca para responder, mas sua voz desapareceu, seus lábios eram traiçoeiros ao não conseguir deixar uma letra sequer escapar, então ele decidiu agir, sua mão subindo pelos braços de Minho, uma apertando seu bíceps enquanto a outra subia até seu pescoço...
Eles estariam se beijando se a música não fosse interrompida pelo celular vibrando no porta treco do carro. Eles riram, a névoa se dissipando aos poucos quando Minho beijou a bochecha de Chan sussurrando um pedido de desculpas e se afastava para pegar o celular. Bangchan se afundou no banco olhando para as próprias mãos enquanto absorvia os últimos minutos.
— Oi Hyung. Oh, ela já tá pronta? Eu passo lá, sem problema. Pede pra ela ficar de olho no celular, vou avisar quando chegar na frente. Okay, okay. — Ele desligou, devolvendo o telefone para onde estava — Vou passar na casa da Tia Jiwoon para buscá-la, tudo bem? — Minho diz, suas bochechas estavam vermelhas e ele respirava com certa dificuldade — Ela é a mãe do Hyunjin, você vai amar ela.
Chan assentiu, ainda processando seus próprios sentimentos enquanto Dance To This de Troye Sivan com Ariana Grande tocava nos alto falantes. Eles passaram o caminho calados, cada um dentro de seu próprio nevoeiro de sentimentos.
Eles pararam para buscar a Senhora Hwang, cuja primeira coisa que fez após entrar no carro foi oferecer um alegre "Boa noite" e erguer levante a sobrancelha ao se deparar com Chan no banco da frente.
Ela tinha os cabelos de Hyunjin, aquela densidade negra de fios escorregando pelos ombros com um cabelo branco aqui e ali, era bonita e doce, seu sorriso carregava um tipo de humor quase materno, Chan imediatamente sentiu falta de sua mãe Haeri, até mesmo seu vestido rosa floral era característico.
Mas a respiração do australiano travou quando Minho disse:
— Tia Hwang, esse é Christopher, meu noivo.
Os olhos dela se arregalaram.
— Você está noivo?! — ela bateu palminhas — Oh Deus, meus parabéns queridos. Que seu casamento seja próspero e saudável! Me chamem para ver as roupas, por favor!
Casamento, Chan ficou tonto só de pensar. Ele evitava a todo custo se deixar imaginar como tudo estava prestes a virar de ponta cabeça, o sim ele já havia dado, a depender do caminhar desse jantar, eles estariam pensando no casamento.
No entanto, como uma flor murchando, a senhora Hwang parecia ser tomada por um difícil choque, a animação deixando sua voz a cada letra dita.
— A sua mãe... ela...
— Ela não sabe — interrompeu Minho —, vai saber hoje junto com todos os outros.
Jiwoon assentiu, então colocou a mão no ombro de Chan, afagando ali como se tivesse poderes de confortar alguém só com o toque.
— Não espere uma reação positiva das pessoas hoje, minha irmã é uma pessoa... difícil, para dizer o mínimo. Não haverá parabéns por parte de todos, Isso serve pra você também Minho. Sua mãe vai fazer desse jantar um inferno.
— Venho dizendo ao Chan sobre isso.
— Eu espero que o amor de vocês seja suficiente para aguentar esse caminho. Estarei torcendo por vocês, meninos.
Ela não insistiu no assunto, sabendo que se o sobrinho alertou ao seu noivo sobre, com certeza havia sido muito sincero. Era algo de Minho, desde muito pequeno, ser uma pequena pimenta inquieta e sincera.
O trajeto não foi de todo confortável, Bangchan sentia nitidamente que estar em silêncio só com Minho era diferente de haver uma terceira pessoa em silêncio com eles, mas cada um parecia muito preso em seu próprio mundo para reclamar de qualquer coisa.
Os devaneios acabaram quando o carro de Minho entrou em um condomínio de luxo, seguindo até uma das casas grandiosas. Seu jardim era impecável, gramíneas verdes numa altura perfeita, pequenos arbustos com flores guiando o caminho até a casa, mas o espaço a ser usado parecia ser o lateral, ao considerar que haviam portais cortinados indicando o caminho pelo lado da casa.
Hyunjin estava de pé perto de um dos portais enquanto olhava o celular, parando ao ver que seu primo havia chegado. O Hwang veio até o carro, abrindo o carona para sua mãe e estendendo a mão a sua mão para que ela saísse antes de fechar a porta. Hyunjin deixou um sorriso amigável aos outros dois, levando sua mãe pelo caminho cortinado.
— Bangchan — o mesmo se virou para ver seu noivo totalmente concentrado em seu rosto, ele envolveu seus dedos e apertou sua mão levemente —, me deixe saber se for demais.
O australiano assentiu, deixando um beijo tranquilizador na costa da mão de Minho e depois bem onde estava o seu anel. Eles desceram, a música ambiente invadiu os ouvidos de Chan enquanto ele analisava como Hyunjin se vestia – uma camisa social branca com pequenas pérolas nas costas, uma calça social preta e sapatos pretos. Ele era clássico e bonito com os cabelos parcialmente presos e sombras nos olhos.
— Ficou realmente incrível — ele encarou Chan, dando uma piscadinha em direção a Minho — Temos um modelo em potencial, mamãe.
— Ah eu vejo, — ela diz animada, então se vira para dizer ao australiano — amaria costurar para você, querido, me deixe saber quando quiser uma agulhadinha.
— Oh. Muito obrigado — Bangchan sorriu todo tímido, buscando apoio nos braços de Minho, envolvendo a mão em seu pulso.
— Me diga quando devemos ir embora — Minho sussurrou, ele estava preocupado, Chan assentiu.
O Lee tentou afastar o olhar preocupado de sua face, caminhando de mãos dadas com Christopher até deslanchar numa grande área de jardim, havia uma mesa no quintal, panos brancos bailando com o vento, pratarias, taças de cristal, luzinhas e garçons devidamente aprumados em seus ternos rodando o espaço com drinks e bandejas de aperitivos. Chris estava encantado e sufocado, porque, mesmo com toda a beleza e encanto daquilo, havia uma tensão na forma rígida com que todos se moviam, calculando seus passos, risadas baixas e conversas limitadas com sotaque rico.
Minho apertou sua mão. Ele estava ali. Eles estavam ali.
— Lee Know-ah, que prazer em revê-lo! — uma linda mulher de cabelos pretos firmemente presos num coque alto com flores veio até eles, ela tinha uma taça de champanhe em uma mão, mas usou a outra para dar um meio abraço no Lee.
— Shu, é bom vê-la. Meus parabéns pela conquista — ela o soltou, então olhou para Chris, que sorriu para ela dizendo um "Prazer. Como vai, tudo bem?" — Esse é Christopher Bang, meu noivo.
No meio do abraço que ela estava dando no australiano, seus olhos se arregalaram. Bangchan queria sair correndo de lá, mas aguentou.
— Você?! Faz quantos anos que eu não lhe via com alguém e quando vejo está encaminhado para o noivado, eu estou assustada. Mas espero que dê tudo certo!
Novamente o tom de aviso, o mesmo que a senhora Hwang usou. Ela não desejou parabéns ao sair, isso só deu a sensação de caixão sendo lacrado. Chan podia sentir a terra sendo jogada por cima de seu pobre corpo.
— Não foi tão ruim... — Chan declarou, suas sobrancelhas estavam torcidas em incerteza.
Minho riu.
— O espetáculo está prestes a acontecer, meu bem. Vem, vamos para a mesa.
Houve um leve silêncio quando a música parou, todos pareciam reconhecer aquele sinal, reunindo-se na mesa, como sussurrou Hyunjin: por ordem de importância. A cabeceira estava vazia, à direita dela estava Minho, Chris, Hyunjin, a senhora Hwang e outras pessoas que Chan não sabia nomear, esquerda estava uma mulher toda vestida de rosa e com pérolas adornando o pescoço, cujo olhar era hostil e julgador, ao seu lado estava Shu, seguida por um homem que parecia ser seu pai e depois sua mãe. A mesa estava cheia, e todos os olhares vinham com curiosidade em direção a Minho e Chris. Por debaixo da mesa ele sentiu Minho dar tapinhas tranquilizadores em sua perna.
A senhora de rosa se levantou erguendo em sua mão direita uma taça de champanhe, só então Chris notou que todos tinham uma e todas estavam cheias, ela olhou para todos na mesa menos para ele.
— É com grande alegria que os recebo em minha casa, agradeço às vossas companhias em comemorar mais uma conquista do nome Lee. Um brinde à nossa querida Shu! Muito sucesso para você querida. Que o nome Lee continue sendo próspero, poderoso — então um olhar de estranhamento e soberba foi direcionado a Chris —, temido e respeitado! Um brinde!
Ele não era bem vindo ali.
Minho apertou sua mão. Eles brindaram, mas somente Shu, Minho, Hyunjin e a senhora Hwang tocaram suas taças com ele.
— O jantar pode ser servido.
Vieram os garçons, houve uma troca de pratos, o estômago de Chan estava embrulhado em um desconforto que ia além daquele espaço, mas ele aguentou de cabeça erguida. Os talheres foram levantados, Minho e Hyunjin se entreolharam preocupados, mas Chan deu um mínimo sorriso, avisando sem usar palavras de que estava tudo bem. Os burburinhos voltaram, a música voltou.
Na terceira garfada, Chris sentiu sua nuca queimar. Lee Chaewoon colocou os talheres de lado e o encarou com nojo. Christopher Bang queria virar aquele prato que ele nem sabia o nome na cabeça dela.
Minho não era do tipo que prestava conta de suas coisas, Hyunjin sabia disso, todos sabiam disso. Mas Chaewoon é controladora e seu único filho não se deixar cair sob seus comandos sempre foi seu maior ódio. Ele via as faíscas de nojo e raiva saindo de seus olhos levemente sombreados com rosa e salmão, ela só estava esperando o melhor momento para abrir a boca e torturar Chris na frente de todos.
O Hwang não sabe bem o temperamento ou o quão forte para esse tipo de embate Christopher é, mas ele espera que o outro consiga aguentar bem.
Os garçons voltaram, o jantar foi servido.
Vinte minutos depois, quando tocou um jazz muito suave e todos pareciam descontraídos, Lee Chaewoon disse, com sua voz afundada em algo parecido com nojo:
— Quem é esse... rapaz, Lee Minho?
— Meu noivo.
Todos se calaram.
Minho sabia muito bem que havia acabado com qualquer chance de um jantar tranquilo, ele estava feliz. Ah, ele estava feliz.
Seus olhos buscaram os de Chris enquanto sua mãe balbuciou tentando se recompor, ele via que uma grande camada de gelo parecia ter sido posta sobre o australiano, uma frieza tão bonita que ele se sentiu tonto. Ele nunca tinha visto o rapaz assim, queixo erguido num desafio silencioso enquanto seus olhos eram um escuro denso e difícil de ler.
— Sou Christopher Bang — ele disse, e meu Deus, Minho queria correr pela grama e gritar. — É um prazer conhecê-los.
— Eu não reconheço seu sobrenome, garoto. De onde vem sua família? — ela perguntou, numa mínima fagulha de interesse, mas interesse num possível dinheiro de uma possível família muito rica que a tornaria mais rica ainda.
— Somos australianos.
Ela olhou para Minho, e perguntou a ele:
— Trouxe um estrangeiro para minha casa?
— Tia Kim passou um ano traindo o marido dela com um estrangeiro e quando ela o trouxe para cá você nada disse. Ao contrário, lambeu o chão por onde ele pisou.
— São falácias! Não desvie do assunto.
Minho descansou os talheres no prato e apoiou os pulsos na mesa.
— Estou me casando com um homem belíssimo que por acaso quer conforto, ao mesmo tempo que eu quero um papel assinado. Na verdade, eu queria dar continuidade ao trabalho de meu pai em paz, mas você insistiu tanto em casamento que finalmente achei como juntar o útil ao agradável. Eu me caso, você me deixa em paz.
Chaewoon parecia estafada, ela pediu uma água ao garçom mais próximo e apontou de Chris para Minho.
— Eu lhe ofereci noivas! Lindas moças de famílias prestigiadas. E é isso que você escolhe?
— Um homem forte, bonito, inteligente, poliglota, com seios fartos e quentes? — ele dá de ombros — Sim mamãe, eu escolhi isso. Graças aos céus eu escolhi isso.
Bangchan corou levemente, ele não fazia ideia de onde essa discussão chegaria, mas a matriarca Lee parecia irredutível.
— Você está jogando o nome da nossa família no chão e pisando em cima. Esse garoto sem nome e sem status não tem nada a acrescentar na nossa vida!
— Com tanta hostilidade, prefiro me manter são e afastado de tanta falta de educação e cordialidade — Christopher baixou os talheres e bebeu um pouco de champanhe, voltando-se para a baranga de rosa — Se me permite, Senhora Lee, você também trata seus colaboradores com tanto amor assim? Ou seu esposo? Minho me contou algumas coisas, acho cabível que o querido tenha ido embora.
— Você está insinuando que meu marido
— Ah — ele colocou a mão no peito, soando ofendido quando a interrompeu — não pense assim querida, não são insinuações. É difícil escrever em páginas já preenchidas, me entende? — Christopher sorriu quando as sobrancelhas dela se franziam levemente — Me permita explicar, não preciso insinuar algo quando a realidade já mostra como tudo está acontecendo. É muito óbvio.
Hyunjin crispou os lábios para não rir, sua mãe o deu uma leve cotovelada. Todos estavam entretidos vendo as farpas sendo soltas, o fogo cogitando se alastrar nas palhas secas de uma só vez.
— Eu estou ofendida — ela diz, trocando de tática sua expressão se entristecendo enquanto olhava para seu único filho. — Você me daria netos, ainda pode, desista dessa loucura. Deixe este... rapaz para lá e case-se com alguém que mereça seu sobrenome.
— Eles podem te dar netos — Hwang Jiwoon interviu, sua voz era calma — Chaewoon, a adoção está aí para isso.
— Não se meta na conversa, Jiwoon, ainda não me direcionei aos fracassados.
Hyunjin se levantou em defesa da mãe e logo tudo virou uma praça de guerra.
Chan olhou para o lado, Minho tinha um olhar distante e exausto, ele parecia triste e ferido. O australiano pegou sua mão, deixando um carinho singelo na costa de sua pele e o chamou, oferecendo uma saída:
— Vamos?
Minho não conseguiu falar, mas entrelaçou seus dedos nos de Bangchan, deixando que ele fizesse o que fosse de sua vontade. Ele sempre precisava respirar fundo e aguentar, deixar aquele campo minado de ofensas nunca fora uma opção, não porque ele não queria ir, mas sim por não ter para onde ir.
Bangchan o levou embora de lá, eles entraram no carro, Chan no volante e Minho no carona, o australiano colocou a chave na ignição após o Lee o entregar a mesma, então o mais novo lhe disse:
— Escolha uma música.
Os olhos de Minho se arregalaram, ele parecia desprotegido de uma forma que Chan nunca tinha visto, seu coração estava despedaçado de ver o outro assim. Havia um senso de proteção e cuidado minando seu peito, ele queria fazer Minho sorrir de alguma bobagem e o encarar com aqueles olhos espertos, mas tudo o que restava ali era um homem de meia idade com um rosto cansado.
Chan esperou que ele colocasse uma música, esta que foi Nothing, de Bruno Major.
Minho disse:
— Quero ir pra minha casa. Comer bolo e abraçar meus gatos.
Ele inspirou e expirou os primeiros versos da música, então continuou:
— Gosto dos bolos que você faz. Faz eu me sentir melhor.
Chris olhou para ele, sentadinho com as pernas contra o peito, o cinto de segurança como a única barreira física que o tornava real, ele quis tocar os cabelos de Minho e dizer que tudo ficaria bem, mas ao invés disso ele pediu que Minho colocasse seu endereço no mapa.
Faz muito tempo que eu não dirijo, ele pensa, mas posso fazer isso pelo Minho. O princípio é sempre o mesmo.
Ele pisou no freio e na embreagem, girou a chave, deu a seta, colocou a primeira marcha, baixou o freio de mão e deixou o carro desenvolver enquanto saía lentamente após checar os retrovisores, desenvolvendo a segunda, e então a terceira, por fim a quarta e talvez a quinta. Ele dirigia devagar e no seu próprio tempo, Minho não parecia desgostar, olhando as luzes noturnas pela janela, vagando em seus próprios pensamentos, ou talvez só tenha caído no sono.
Mas Chris soube que ele estava errado quando ouviu a voz do coreano após um longo tempo.
— Eu queria que o papai não tivesse ido embora. Haviam muito menos brigas quando ele estava aqui, mas eu não sei ser ele. Eu não preciso ser ele, né? Eu não sou — então Minho se desencostou do vidro e virou o rosto para frente — Chan?
— Oi meu bem — ele desviou rapidamente os olhos do trânsito.
— A sua família te ama?
Foi como um soco no estômago, todo o ar saindo, a dor de alastrando pelo abdômen e sobrancelhas franzidas. Ele apertou as mãos no volante e umedeceu os lábios.
— Sim. Por quê?
— Eu acho que não sei como é o amor. O amor de família... e talvez nenhum outro tipo.
Os olhos de Chan se encheram de lágrimas, ele segurou e respirou fundo, mas havia uma gotinha caindo de seus olhos e escorregando por sua bochecha.
Fez-se silêncio o resto da viagem, mas não demorou até chegarem na frente do condomínio de Minho, a entrada foi liberada e logo ele estava estacionando na garagem, as luzes acenderam automaticamente. Minho respirou fundo e olhou para Chan.
— Obrigado por vir. Eu vou chamar um táxi pra você. Vamos entrando enquanto isso — ele abre a porta, Chan faz o mesmo —, é hora de conhecer o Sonnie e o Doongie.
O apartamento de Minho é grande, mas muito bem ocupado e aconchegante. Minho faz as honras de pendurar as chaves do carro num chaveiro da parede direita e ao lado da porta a jaqueta, Chan tira os sapatos e segue Minho até a sala.
Antes mesmo de sentarem há uma sequência de miados e logo duas bolinhas alaranjadas estão entre as pernas de Minho, esfregando suas cabeças na calça social deste e exigindo toda sua atenção.
Eles cheiram a Chris meio receosos, se encostando aos poucos, farejando e reconhecendo. Minho admira seus filhos silenciosamente. Chan estende o indicador a Sonnie, raspando a lateral do queixo do felino, ele recua um pouco e volta para buscar mais, sempre meio desconfiado, mas aos poucos se soltando, Doongie vê isso, interessado naquele novo humano que seu pai trouxe.
Eles são arrancados daquele momento quando o celular de Minho apita e ele olha para Chan logo após ler uma mensagem.
— Chegou.
Bangchan se levanta junto com o Lee, Minho olha para ele, como estava bonito e sendo ele naquelas roupas meio punk. É estiloso, corajoso e sincero.
— Obrigado por hoje — ele espalmou os ombros de Chan como se afastasse poeiras invisíveis — Você deve estar cansado, né?
O australiano balançou a cabeça negativamente, usando seu indicador para erguer levemente o queixo de Minho, enquanto tombava a cabeça para o lado e delicadamente buscava ter os olhos do coreano novamente em si.
— Me avise se não estiver bem.
Minho desviou os olhos e assentiu, levando Bangchan para calçar seus sapatos e pegar sua jaqueta.
— É um táxi prata, vai estar na entrada do prédio. Boa noite, Chan.
— Boa noite Minho-ssi.
Por que dizer tchau parece tão difícil?
Eles se olharam uma última vez, os detalhes de seus rostos, o timbre de suas vozes.
— Vou indo nessa — Chan deu um risinho triste — Se cuida, tá?
Minho assentiu, o viu sair, entrar no elevador, e nada explica como tudo ficou frio sem Bangchan ali.
🐰🐺১ NOTAS
última att do ano!! chega de emoções em? me contem o que acharam!!
não esqueçam de usar a #pumgminchan no tt!! é só escrever essa hashtag na barra de pesquisa que vocês vão ter todos os 817382 memes e quotes q eu e o pessoal postamos hehe
bom fim de ano pra vocês!! 🤍
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