Capítulo XXII
"Rania, posso tratá-la assim porque fui eu que escolhi o seu nome; o nome que você manteve mesmo depois de ter tomado o sobrenome de seu padrasto. Sei que isso pode significar algo, respeito, consideração e quem sabe até amor! Mesmo eu não sendo um pai tão presente como deveria ser!..."
Sentada em sua cama, Rania lia aquelas palavras pela centésima vez seguida, tento ler algo mais nas entrelinhas.
"Eu devia pelo menos ter tido a coragem de lhe dizer quem era quando conversei com você naquela noite naquela caverna. Devia também ter lhe pedido perdão, mas coragem nunca foi o meu forte e você mostrou claramente que desprezava o homem que só conhecia de nome. Então optei por ficar em silêncio diante de você, mesmo que o meu coração estivesse gritando para lhe revelar toda a verdade. Quem poderia culpá-la? Seu padrasto, claro, mereceu muito mais o seu amor do que eu. Ele foi um pai presente e amoroso, eu sei muito bem disso, ele te criou e nada mais natural do que ter e recebr toda a sa admiração e amor. Mas agora eu gostaria de pedir que você me perdoasse, Rania, e, quem sabe, tentasse pensar um pouco mais carinhosamente em seu velho pai irresponsável. Que os deuses a protejam, minha filha amada e que lhe faça imensamente feliz. Receba a benção de seu pai,Thor, na verdade Gaybriel Thor Carter"
Rania sabia as palavras quase de cor, mas ainda não conseguira compreender completamente seu pai. O que tornava tudo mais difícil, percebeu, era o fato de Gaybriel Thor Carter ter muito mais coisas em comum com Papa do que ela ousava admitir. Seu padrastro também não era um homem santo que tanto imaginou, ele tinha qualidades excepcionais, mas havia defeitos também. Como qualquer ser humano, agora ela sabia muito bem dissso. Ambos haviam abandonado suas famílias por uma vida mais livre; mas, como um fora privado do seu amor por causa do outro, ela achava difícil vê-los sob o mesmo prisma. Os filhos do primeiro casamento de Daddario o compreenderam e perdoaram seu pai; Rania achava isso difícil.
Pretendia mostrar a carta para Aléxandros, mas precisava de um pouco de tempo mais para pensar, pois, afinal de contas, era o primeiro contato esclarecedor que tinha com o seu verdadeiro pai há mais de quinze anos.
Quando resolveu descer, Aléxandros foi a primeira pessoa que ela viu. Estendeu-lhe o envelope, sorrindo. A última conversa que haviam tido, poucas horas antes, não terminara bem, e Rania não desejava repetir a experiência nesse momento.
— Recebi uma carta do meu pai. Gostaria que a lesse, Andros.
Sem dizer uma palavra, Aléxandros pegou a carta e, pelo tempo que levou, leu-a mais de uma vez. Depois dobrou-a e recolocou-a no envelope, antes de falar. Suas palavras pegaram-na de surpresa.
— Você o perdoou, Rania?
— Ora, sim, claro. — Ela pegou a carta, depois olhou para o rosto estranhamente preocupado de Andros. — Você não acha que eu devia perdoá-lo? Foi você mesmo quem me disse que o achava digno de piedade, nas atuais circunstâncias.
— Mas isto não quer dizer que você concorde comigo. De qualquer forma, estou contente por você não ser mais tão implacável com ele, Any.
— Acho que nunca mais o verei!... — Disse ela, melancólica. — E, a meu ver, não faz sentido odiar alguém de quem de certa forma, se tem pena.
— Não faz mesmo!... — Concordou Aléxandros, com um sorriso nos lábios. — Você não é muito capaz de odiar as pessoas, não é, minha pequena deusa grega? — O olhar interrogativo de Rania fez com que ele sorrisse novamente. — Você me odiava, pelo que me lembro, mas... — Inesperadamente ele tocou nos cabelos dela. — Você não continua me odiando, continua, Any?
— Você sabe que não!... — Murmurou ela, com o coração disparado.
— Então você também me perdoa? Me perdoa por minhas péssimas escolhas e por tudo que eu tentei lhe fazer?— Aléxandros continuou a afagar-lhe os cabelos, tocando em seu pescoço levemente com as pontas dos dedos até um ponto em que ela quase não conseguia mais controlar o próprio tremor. — Esta manhã, Pétros e eu tivemos uma conversa muito esclarecedora antes de ele partir e eu percebi que a julguei mal. Desculpe-me. Meu irmão me contou tudo, ele confessou que tentou te seduzir por diversas vezes. Mas que você nunca permitiu nenhum de seus avanços. Isso foi por minha causa?
Rania meneou a cabeça, pois não sabia que eles haviam discutido.
Lembrava-se, porém, com clareza das palavras de Pétros, quando afirmou que ela gostava de Andros. Era verdade, mas não tinha percebido quanto até aquele momento. Seus lábios tremiam e ela não estava conseguindo pensar em nada que não fosse a força dos braços de Aléxandros e o calor de sua boca. Nisso surgiu tia Summer, interrompendo-os com sua voz calma e gentil de sempre.
— Ah, você esta aí, minha menina. Foi tudo bem na partida de Pétros?
— Oh, sim, tia Summer.
— Ele estará em casa amanhã de manhã com certeza. Anão ser que aquele maluco faça algum desvio. Céus me esqueci disso!... — Disse Aléxandros e, a julgar pelo seu tom de voz, aqueles poucos momentos de intimidade pareciam não ter acontecido. — Tenho algumas coisas para fazer antes do jantar. — Continuou ele. — Se alguém puder levar um pouco de café para mim no estúdio eu agradeceria muito...
Um breve olhar não deixou dúvidas sobre quem ele esperava que o fizesse e Summer assentiu.
— Vou fazer o café, Aléxandros, e Rania o levará para você.
— Por favor e muito obrigado! — Disse ele.
Na cozinha, Summer e Rania começaram a fazer o café e a arrumar a bandeja para servir.
— Eu não sabia que você já tinha descido minha querida. — Disse Summer, sorrindo um pouco embaraçada.
— Desculpe-me, tia Summer, eu devia tê-la avisado, mas recebi uma carta do meu pai e queria ler enquanto estivesse sozinha. tinha muito o que pesar sobre isso e outras coisas que estão acontecendo.
— Seu pai? Aléxandros já sabe?
— Oh, sim... — Rania tentou parecer casual. — Eu dei a carta para ele ler. Não se preocupe, tia Summer, nós nunca mais vamos vê-lo. Infelizmente o meu pai possui o espírito nômade e ele não tem parada fixa! Raizes nunca foi importante para ele na realidade.
— Rania, querida...
— Oh, está tudo bem. Não vou armar uma confusão depois de todo esse tempo, embora esteja ansiosa por pelo menos ter conversado com ele. — Ela estava ansiosa para mudar de assunto também. — Tudo vai parecer muito calmo sem Pétros aqui, apesar de ele só ter passado poucos dias.
— Não se preocupe, querida, nós logo estaremos junto da nossa família de novo.
— A senhora está querendo dizer que voltaremos para Atenas? — Perguntou ela, assustada.
— Sim, claro... Temos muito o que organizar e comemorar!... — Concordou Summer, sem esconder seu prazer com essa perspectiva. — Luke vai começar a frequentar sua nova escola dentro em breve e nós temos que nos estabelecer lá antes disso.
Aquele era o momento que Rania temera desde que haviam voltado daquela primeira visita a Atenas. Como sempre, ela se sobressaltou com a simples ideia de deixar Serafos.
— A senhora tem certeza?
— Você devia saber que esse dia chegaria mais cedo ou mais tarde, Rania. Eu gostaria que você não ficasse tão abalada assim, querida. As mudanças são necessárias minha filha.
Rania tinha deixado de pensar naquele assunto. Sabia que Summer estava feliz por ir embora, mas naquele momento preocupava-se consigo mesma. Estava com um pouco de medo de deixar a sua vida segura na pequena ilha, como Aléxandros a chamava às vezes, mas não esperava que ninguém entendesse como se sentia. Serafos sempre significara algo especial para ela, a ponto de ficar desesperada com a perspectiva de morar em qualquer outro lugar.
— Eu não quero ir com vocês, tia Summer! — Disse, mas Summer, claro, não compreendia o seu temor, a sua relutância em partir para uma vida inteiramente nova. — Quero ficar aqui em Serafos, onde conheço todo mundo! Tenho que explicar a Andros que ele não pode...
— Rania, ele não pode deixar você aqui sozinha! — Summer segurou-lhe as mãos. — Ele não a deixaria aqui, querida, você sabe que não.
— Então eu me recusarei a ir e ele não poderá me forçar! Oh, por que as coisas não podem continuar sendo como são, tia Summer? Por quê?
Rania virou-se e saiu correndo, como já fizera antes; e, exatamente como naquela outra ocasião, procurou refúgio na colina do outro lado da caverna. Mas assim que chegou lá, exatamente como naquela noite em que seu verdadeiro pai apareceu, foi até a caverna. Mas em vez de se sentar ali, continuou caminhando até a praia onde Aléxandros a encontrara.
Pétros tentara avisá-la, Rania percebia agora, mas ela não tinha considerado essa possibilidade como iminente, preferindo ignorá-la. Assim como fazia com o casamento, até o momento em que ele se tornasse inevitável. A casa era sua, Aléxandros havia lhe dito, e se insistisse ele teria que deixá-la ficar. Ou pelo menos era o que dizia a si mesma enquanto caminhava pela praia. Mas, supondo que Andros a deixasse ficar, será que ela seria feliz? Sem Luke, sem Summer e sem ele?
— Oh, Andros!
O grito saiu quase em forma de soluço. Rania pressionou a boca com as mãos, enquanto lágrimas lhe corriam pelo rosto. Nunca se sentira como naquele momento. Não era justo que Aléxandros a afastasse de tudo o que ela amava e a colocasse no meio de estranhos. Andros era cruel, como ele mesmo tinha dito várias vezes. Mas, se era assim, por que ela não sentia prazer em ficar em Serafos sem ele?
Será por que ela agora sentia que a felicidade só existiria aonde ele estivesse?
1638 Palavras
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