Capítulo XX
Já tinha quase amanhecido quando Rania conseguiu adormecer. A excitação daqueles poucos momentos com Aléxandros ainda persistia quando acordou. Depois de se vestir, desceu as escadas cantarolando e foi ajudar Summer a preparar o café da manhã.
Além de Aléxandros ter lhe dado um beijo de boa-noite, nada acontecera realmente para fazê-la se sentir daquela maneira; mesmo assim, nada poderia deixá-la de mau humor naquela manhã. Agora Aléxandros já sabia que estava a par do seu segredo sobre quem era o homem que Papa escolhera para ser seu marido e não acreditava que ele fosse achar ruim com Summer por ela ter-lhe contado. Ele também sabia o que sentia por Pétros, e nenhum homem que beijasse uma mulher como ele o fizera na noite anterior insistiria em que ela se casasse com outro homem, principalmente se fosse seu irmão.
Rania notou que Summer estava menos comunicativa do que de costume, mas provavelmente também tivera uma noite agitada.
Prepararam o café da manhã juntas e, no humor em que estava, Rania não se importou com o silêncio da tia.
Normalmente Aléxandros começava a tomar o café da manhã sozinho, porque era o primeiro a se sentar à mesa, até que Summer e Rania se juntavam a ele um pouco depois e terminavam a refeição juntos. Seu irmão aparecia sempre bem tarde e engolia tudo às pressas, pois estava sempre atrasado para ir à escola.
Naquele dia, quando Rania levou a bandeja para o terraço onde estava Aléxandros, surpreendeu-se observando-o detalhadamente: a maneira como ele apoiava o queixo sobre a mão enquanto lia os jornais, que sempre chegavam na primeira balsa do dia; como seus cabelos tinham um leve ondulado sobre as orelhas. Eram pretos, mas, conforme a luz, já se viam alguns fios castanhos.
Ao vê-la, Aléxandros levantou-se e foi ajudá-la a carregar a bandeja, como geralmente fazia. Sorriu.
— Conseguiu dormir um pouco, afinal? — Perguntou ele.
— Sim, obrigada, Andros. E você? — Ele fez que sim com a cabeça enquanto Rania lhe estendia uma xícara de café. — Eu só precisava de um pouco de ar fresco.
— Andros? perguntou com curiosidade em seus olhos. — Ninguém nunca me chamou assim!
— Eu sei, achei que eu poderia chamá-lo assim, sabe ter a minha própria maneira 'ESPECIAL' de dizer o seu nome e...
— Tudo bem, Any... Eu gostei e muito! Afirmou mantendo o sorriso. — Sabe eu estou curioso com outra coisa. Não tem janela no seu quarto? Ou você tem mesmo o hábito de ficar andando por aí de madrugada?
— Se eu tivesse esse hábito, você já teria descoberto há muito tempo! Rania sentia-se estranhamente nervosa. Estava arrependida por tê-lo enganado na noite anterior, escondendo que vira alguém no jardim. Devia mesmo ter sido Pétros, já que o próprio Andros esperava encontrá-lo quando foi ao estúdio.
— Sente-se... — Disse Aléxandros, mais sério de repente. — Preciso lhe dizer algo antes que tia Summer venha para cá, — O coração de Rania disparou. Ele olhou para a bandeja e perguntou. — Por que não trouxe uma xícara para você?
— Bem, não, eu ia trazer a minha depois, mas... — Ela já estava se levantando para ir buscar uma xícara quando ele a impediu.
— Não, quero conversar com você antes de sermos interrompidos. — Tremendo um pouco, Rania sentou-se e observou-o passar manteiga e mel numa fatia de pão. — Isso vai sustentá-la por enquanto, mais tarde você toma café. Coma você me parece pálida demais, pode ser falta de alimento em seu organismo.
— Andros, o que aconteceu? — Perguntou Rania, mordendo a fatia de pão, sem tirar os olhos do rosto dele.
— Ontem à noite... — Começou Aléxandros, e Rania ficou espantada por vê-lo hesitar pela primeira vez. Depois de um breve silêncio continuou, como se estivesse impaciente consigo mesmo. — Tia Summer ouviu você descer ontem à noite, Rania, e também me ouviu segui-la. — Rania esperou um pouco. — Viu também quando subimos juntos e quando beijei você.
O coração de Rania batia acelerado, pois o tom de voz de Andros a estava deixando nervosa. Baixou os olhos e lembrou-se de como Summer estava calada. Com certeza devia ter ficado chocada ao ver Aléxandros, a quem atribuía todas as virtudes, beijando a garota que ele pretendia que se tomasse a noiva de seu irmão. Mas ela estava mais preocupada em saber que explicação ele havia lhe dado, esperando, ansiosa, que ele não tivesse dito que não passara de um carinho sem importância. Isso ela não poderia suportar!
Aléxandros olhava fixamente para ela, provocando de novo as sensações que sentira na noite passada, em frente à porta de seu quarto.
— Rania, eu tive de dizer a ela que...
— Bom dia!
Rania suspirou quando a voz de Pétros interrompeu o que Aléxandros estava prestes a lhe dizer. Nunca ficou tão furiosa com alguém quanto com Pétros, naquele momento. Ele se sentou ao lado dela e dirigiu-lhe um sorriso malicioso, embora Rania não tivesse entendido o porquê. De repente, lembrou-se de Andros e olhou para ele.
— Bom dia, Meu irmão... — Aléxandros cumprimentou-o, imperturbável, passando manteiga em outra fatia de pão. Rania notou, porém, que ele apertava com força o cabo da faca.
— Que tal o seu quarto? Confortável?
Pétros pegou uma fatia de pão do prato de Rania e colocou-a na boca antes de responder. Havia um brilho perturbador em seus olhos.
— Bastante!... — Disse ele. — E o seu?
Aléxandros olhou para Rania e depois para o irmão outra vez, mas não disse nada.
— Posso levar nossa prima para nadar esta manhã? — Perguntou Pétros. — Você gosta de nadar, não é, prima?
Rania olhou para Aléxandros antes de responder.
— Acho que poderia, mas mais tarde, Pétros, quando acabar o serviço e tiver algum tempo livre.
— Você pode estar de férias, Pétros, mas ninguém mais está nesta casa. — Disse Andros. — Rania tem o que fazer e não pode ficar passeando com você o dia todo.
— Ora, Aléxandros! — Exclamou Rania. — Depois que eu tiver feito o meu trabalho, tudo bem; além disso, gosto de nadar. Por favor, seja compreensivo!
Aléxandros não gostava que ela o contestasse, Rania percebeu isso no olhar dele. Entretanto, não conseguia entender por que agir de forma tão convencional, em se tratando de ela sair com o seu irmão. A pergunta dele revelou o rumo de seus pensamentos e surpreendeu-a.
— Você está pensando em levar suas roupas de banho? — Rania enrubesceu.
Pétros escutou o comentário e obviamente ficou intrigado, mas não disse nada. Ela, entretanto, estava confusa, tentando entender por que Andros lhe fizera essa pergunta justamente naquele momento. Além disso, ele estava visivelmente magoado com ela, seria por que o havia chamado pelo nome completo e não pelo no ESPECIAL que havia adotado recentemente.
— Você... — Não conseguia encontrar palavras para se expressar. — Você se atreve a insinuar que eu...
— Eu me atrevo? — Repetiu Aléxandros. — Sou o seu tutor, mas parece que tenho que ficar repetindo isto sempre!
— Andros! Disse ela finalmente o fazendo fixar o olhar nela.
Rania tinha vontade de gritar, mas não o deixaria perceber quanto a perturbava. Não tinha ideia do que ele ia dizer quando Pétros o interrompeu com a sua chegada, mas era óbvio que Andros não estava satisfeito com a presença inoportuna do irmão nem com a disposição dela de ir nadar com ele. Estranhamente, essa reação não a enraivecera apenas se misturava confusamente com a mágoa que estava sentindo.
— Você deve saber que eu não faria isso. — Murmurou ela, quando o viu baixar os olhos. Era estranho! Desde que o conhecera, era a primeira vez que tinha o controle da situação, embora não soubesse como isso tinha acontecido. — Andros?
— Meu Deus! — Mais uma vez a voz impaciente de Pétros os interrompeu. — Você não tira os olhos dela nem para dormir? Perguntou. — Você a vigia de madrugada também? Um homem poderia morrer de tédio nesse mundo que acabou criando, prima! — Disse para Rania. — E não levaria vinte e quatro horas!
Aléxandros e Rania não disseram nada. Pétros deu um suspiro e deixou-os. Aléxandros levantou-se e ficou parado por um momento, de costas pata ela. Rania não sabia o que fazer! Talvez Pétros não pretendesse causar mal algum, mas só havia uma maneira de Andros interpretar as palavras dele e Rania esperou que a tempestade desabasse.
— Ele estava aqui e você sabia! Ele iria entrar em seu quarto e você sabia disso!
Não era fácil explicar por que mentira na noite anterior. Sentia-se muito vulnerável sentada, por isso resolveu levantar-se.
— Você sabia, não é? — Insistiu Aléxandros furioso.
Não era uma pergunta, mas uma afirmação, como se ele não tivesse a menor dúvida a respeito. Rania pensou, então, no que poderia dizer para não piorar as coisas.
— Eu não sei como explicar o que houve aqui agora. — Confessou ela com voz trêmula.
— Mas você sabia que ele estava aqui, não sabia?
— Eu pensei ter visto alguém no jardim.
— Maldição, Any, você sabia que devia ser Pétros! E fez então aquele número na janela, para que ele soubesse que eu estava com você e que o caminho não estava livre!
— Não!
— E eu fui logo persuadido, não, Rania? Tão pronto eu estava para ceder aos seus caprichos e sentar-me à janela com você! Mais uma vez você está tentando me usar, trair a minha confiança, eu não sei como confiar em você, se você mente e me engana sempre!...
Era difícil acreditar, a julgar-se apenas por sua voz, que havia mágoa e raiva em seus olhos. Rania sentiu um nó na garganta. Mesmo que consumisse todo o seu poder de persuasão, tinha que convencer Andros de que ignorava que Pétros fosse aparecer por ali durante a noite.
— Eu vi algo ou alguém se movendo no jardim. Mas... — Disse ela. — Não tinha certeza de que fosse Pétros. E não vim aqui para encontrá-lo, Aléxandros, você tem que acreditar em mim!
— Eu estraguei os seus planos mais uma vez? — Ele ignorou as negativas dela, parecendo sentir prazer ao recriminá-lo assim. — Ou será que ele voltou mais tarde, depois que eu a deixei? Me conte a verdade sobre isso, mesmo que me machuque ouvir.
Como se ela pudesse pensar em Pétros, com os lábios ainda latejando pelo beijo dele em seus lábios e se sentindo como nunca se sentira antes, com aquela sensação curiosa e assustadora dominando seu corpo como um fogo que ameaçasse consumi-la. Ela não havia pensado em ninguém a não ser em Andros a noite toda e ficara relembrando aqueles momentos de paixão nos braços dele até adormecer.
— Você sabe que ele não voltou, Andros!... — Sussurrou ela, não podendo fazer nada para impedir as lágrimas que corriam por seu rosto. — E se ele tivesse voltado, você sabe que eu não o teria encontrado. Você sabe que eu não poderia fazer isso!
Rania tentou relembrá-lo daquele beijo, mas talvez ele estivesse muito acostumado a tais momentos para valorizá-los como ela vinha fazendo desde a noite anterior. Estava muito magoada com ele, mas assim mesmo continuou a falar o que sentia naquele momento.
— Não espero que você admita que possa estar errado, nem que peça desculpas por ter pensado mal de mim, Aléxandros Magnus. Parece que você está sempre certo! Eu...
A necessidade de magoá-lo a levara até ali, mas ela não pôde mais continuar e engoliu em seco, incapaz de dizer qualquer outra palavra. De repente virou-se e correu para dentro de casa, quase dando de encontro com seu irmão, que vinha vindo tomar o seu café da manhã.
1929 Palavras
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