CAPÍTULO X
Rania desejava tirar a mão de Aléxandros de seu queixo, mas não era tão fácil quanto imaginara. Mantendo os olhos baixos, respondeu com sinceridade.
— Acho que sim. Mas não deveria estar, não é mesmo? — Acrescentou rapidamente, antes que ele concluísse que ela era definitivamente ingênua. — Afinal de contas, você é um homem mais velho.
Não havia ninguém por perto e Aléxandros começou a acariciar-lhe suavemente o rosto. Rania se sentia cada vez mais excitada... O toque dele era reconhecido por sua pele e a sua alma pedia mais do que um simples toque.
— Eu sou um homem e por causa disso vou levá-la diretamente para casa, como disse a Pétros que faria. Não quero dar a ele nem a ninguém a mínima razão para duvidar de minha competência como seu tutor. Vamos!
— Aléxandros...
— Sem discussão, por favor, Rania! Não torne as coisas mais difíceis para nós dois. — Ele tomou-lhe o braço para ajudá-la a descer a ladeira. — Você está em condições de descer sozinha?
Ressentida pela determinação dele em bancar o severo, Rania encarou-o com os olhos cheios de desafio.
— E se eu não estiver?
Aléxandros não disse nada, apenas parou e observou-a por um momento. Então, subitamente, ele se inclinou e tomou-a nos braços.
— ALEX!
Rania segurou-se nele, passando um braço em volta de seu pescoço enquanto ele descia a ladeira. Quando chegaram ao local em que o carro estava estacionado, Aléxandros colocou-a no chão para abrir a porta. Ao retirar o braço da cintura dela, roçou a mão levemente na curva de seu seio.
— Entre! — Disse ele e fechou a porta quando ela o atendeu. — E nunca faça esse tipo de brincadeira com meu irmão novamente, ou eu farei questão de lhe dar uma lição pessoalmente. Você me entendeu bem, garota?
— Entendi! — Rania esperou-o dar a volta no carro e sentar-se ao lado dele, sem saber que emoções eram aquelas que se debatiam em seu íntimo. Olhou para o perfil de Aléxandros e tentou se acalmar. Quando ele ligou o carro, recuperou a coragem e perguntou. — Não compreendo por que você condena Pétros por se comportar como você mesmo se comporta.
— Ele não se comporta como eu. — Respondeu calma, mas firmemente. — Pétros não teria resistido à tentação de estar a sós com você lá em cima, Rania, esta é a diferença. — Ela protestou, mas, ao perceber que Aléxandros a provocara intencionalmente, baixou os olhos e calou-se. — Estou feliz por você estar começando a compreender melhor as coisas. Mas tenha cuidado sempre, garota! — Ele estendeu o braço e apertou-lhe a mão, fazendo com que ela se sentisse ainda mais excitada. — Vou levá-la para casa.
Ambos se olharam por alguns segundos, até que ela percebeu que o olhar dele havia se escurecido de repente.
— Pelo que percebi você gosta muito da companhia do meu irmão.
De repente Rania sentiu-se muito vulnerável e, como sempre nessas circunstâncias, pensou em Richard como sendo o seu paraíso, mesmo Papa não estando mais lá. Decididamente Aléxandros não lhe inspirava a mesma sensação de paz.
O silêncio que pairou sobre os dois acabou dando a certa de Aléxandros precisava naquele momento.
Serifos parecia tão pequena à distância, mas do momento em que a avistou Rania não tirou mais os olhos dela.
Aos poucos, começou a identificar as casas; logo atrás do fim do cais estava a que ela desejava ansiosamente ver. Esperava que Aléxandros não percebesse como seus olhos estavam úmidos quando a avistou e sentiu-se um pouco desiludida com Luke, pois ele não parecia estar partilhando o seu prazer. Os sentimentos de tia Summer eram difíceis de definir, mas quando seus olhares se cruzaram por um momento, e ela sorriu, Rania achou que também ela se sentia feliz por estar de volta.
Rania não sabia como voltariam e foi uma surpresa quando Aléxandros os conduziu para a mesma embarcação em que os trouxera. Era estranho, mas sentia-se feliz por ele também ter vindo. À medida que o porto se aproximava, seu coração começou a bater mais depressa. Ficou na ponta dos pés para não perder um só detalhe.
Olhou de relance para Aléxandros ao perceber que ele a observava; e, quando seus olhos se encontraram por um segundo, ela sorriu, sem saber por quê.
— Obrigada... — Sussurrou e voltou a olhar para a praia, já bem próxima.
Os barcos, ancorados, ainda levariam mais ou menos uma hora para sair para a pesca noturna. Os pescadores olhavam para eles, silenciosos.
Luke desceu primeiro, segurando nos cordões de amarração; depois Aléxandros ajudou Summer, e Rania ficou por último, mal contendo a felicidade de pisar novamente em sua ilha adorada. Segurando com força a mão dê Aléxandros, que a ajudou a descer, olhou demoradamente para o cais.
— Está feliz por ter voltado? — Perguntou ele.
— Oh, sim, Aléxandros, eu estava com tanto medo de que...
— De que eu não cumprisse a minha palavra? — Ele parecia bem-humorado e, com uma leve pressão dos dedos, lembrou-a de que ainda estava segurando a sua mão. Largou-a e seguiram Luke e Summer.
— Você não acreditava que eu fosse trazê-la de volta, não é, Rania?
— Sim, claro que acreditava você prometeu! — Ela parou de falar, pois se lembrou de que ele nunca fizera essa promessa. — Bem, se você não prometeu, pelo menos me deu a impressão de que me traria de volta.
— Olhou para Luke, com as mãos nos bolsos e andando de modo afetado, como se julgasse muito mais importante depois de uma temporada na cidade. — Quando Luke for para a outra escola, o que vai acontecer, Aléxandros?
— Vamos esperar para ver? — Sugeriu ele olhando em volta. Na nada, absolutamente nada mudará nesta ilha, mesmo que passe milhares de anos tudo fica do mesmo jeito.
Aléxandros nunca gostou de ficar num lugar onde ele mesmo tem tantas lembranças enterradas, ele conhece cada palmo dessa ilha. Onde foi feliz e extremamente infeliz no passado. Foi por causa de dois jovens homens que ele voltou a civilização. Ficar escondido em uma pequena ilha escondido foi a sua opção naquele momento.
A velha casa que surgiu à frente deles parecia abandonada, com a pintura descascando e o jardim parecendo mais do que nunca uma selva comparado aos jardins que haviam visto em Atenas. Porém, Rania a amava e prometeu a si mesma que nunca a deixaria, não importava o que Aléxandros decidisse. Afinal, por vontade de Papa, a casa era sua.
— Esta casa é minha!... — Lembrou-o Rania. — Você disse que Papa a deixou para mim, portanto eu posso ficar aqui, Aléxandros.
— Não é assim como você está pensando, Rania. — Disse ele com pesar. — Richard deixou a casa como seu dote, mas, até que você se case, vai morar no lugar que eu achar melhor. Eu sou responsável por você. Você sabe disso, já conversamos sobre isso antes.
— E se eu resolver não me casar? — Perguntou ela, com a respiração suspensa.
Rania fez a pergunta quando atravessavam o portão que dava para o jardim que ela conhecia tão bem. Aléxandros não disse nada, limitando-se a abrir a porta da casa. Deixou Summer entrar primeiro, depois conduziu Rania, passando o braço em volta de seus ombros. Esse gesto lembrou-lhe aquele dia em Acrópole, quando ele a carregou até o carro. Aquele contato raro e perturbador nunca fora mencionado por eles!
— Acho que há pouca chance de você continuar solteira. — Disse ele, contemplando pensativamente a enorme sala. — Esta casa é muito boa e uma mulher com um dote destes teria pouca dificuldade em arranjar um marido, por mais indisciplinada que fosse. Ainda mais em se tratando de uma mulher jovem e bonita. A falta de disciplina sempre pode ser remediada quando o homem correto aparece.
Aléxandros atravessou a sala e abriu a janela, deixando entrar o ar fresco e o perfume do jardim.
— Por que você faz tanta objeção ao casamento? Você é mulher bastante para ter sentimentos e necessidades normais. Ou não?
Rania enrubesceu.
— Não tem nada uma coisa a ver com a outra. — Conseguiu dizer depois de alguns segundos. — Uma vez você disse que sabia com quem Papa gostaria que eu me casasse...
— É verdade.
— Mas você prometeu que não insistiria, se eu não quisesse, seja ele quem for. — Aléxandros assentiu, respirando fundo na janela aberta e agindo como se estivesse apenas superficialmente interessado no assunto. — Você não voltaria atrás em sua palavra, não é?
— Você acha que eu faria isso? — Perguntou ele, virando-se e fitando-a.
Rania negou com a cabeça, incapaz de fazer outra coisa a não ser confiar nele.
Luke e Summer pareciam ter desaparecido. Estavam sozinhos quando Aléxandros atravessou a sala novamente e parou a seu lado. Embora não a tivesse tocado, sua proximidade fez com que ela sentisse arrepios percorrendo-lhe o corpo e percebesse como ele se tornara mais familiar durante os poucos dias que haviam passado em Atenas.
— Então, por que não confia em mim? — Perguntou ele calmamente.
— Se você sabe quem é que Papa escolheu, por que não me diz?
— Para que você não o odiei antes do tempo. Brincou ele desviando o olhar dela. — Muitas vezes os pais podem se enganar quando decidem o destino dos filhos. — Olhou para a porta aberta da cozinha onde Summer já estava preparando café para eles. — Não é melhor ir ajudar tia Summer a fazer o café? Aqui não há empregados, como havia em Atenas. E eu quero ficar um pouco sozinho.
Rania percebeu que, com relação à Aléxandros, as coisas tinham voltado ao normal: Mais uma vez era empurrada para as tarefas domésticas, executadas sob o olhar crítico dele.
— Eu já estava indo... — Disse ela, com ar de reprovação. — Não precisa começar a me mandar fazer coisas desde já, Aléxandros!
— Eu não o farei, a não ser que seja preciso.
Summer sorriu quando a viu e Rania mais uma vez deduziu que ela estava muito satisfeita por ter voltado.
— Vai sentir saudade de Atenas, tia Summer? Perguntou com curiosidade.
— Eu estou bem aqui minha querida. — Respondeu ela. — Mas você, querida, vai sentir muita saudade, não é?
— Acho que não, tia Summer, eu queria muito voltar para casa. Senti mais saudade de Serifos do que esperava.
Entretanto, o sorriso de Summer sugeria que ela não levara a resposta de Rania muito a sério.
— Mas você vai sentir falta de seu primo Pétros presumo. — Ela insistiu. — Ele é tão bonito e charmoso, não é? E ficou caído por você, querida, quanto a isso não há dúvidas.
— O que deixou Aléxandros muito aborrecido!... — Disse ela, rindo inquieta ao se lembrar da chegada dramática dele a Acrópoles quando descobriu que ela e Pétros estavam sozinhos e de sua advertência solene para que não brincasse daquele modo com o irmão. Ele não tem confiança em que eu fique a sós com Pétros, nem mesmo para dar um passeio de carro.
— Mas claro que Alex é cuidadoso com a sua reputação. Sabe que a nossa cultura exige isso. Além do mais, Pétros é um rapaz um pouco rebelde, mas tem bom coração. — Disse Summer, mostrando que concordava com ele. — Ele é um homem de princípios rígidos, e para você sair em companhia de um rapaz, mesmo que ele esteja prestes a ser seu... — Ela mordeu o lábio e olhou para a porta da cozinha como se temesse estar sendo ouvida.
Rania encarou-a no mesmo instante, curiosa.
— Tia Summer? — Tinha certeza de que a tia estivera a ponto de lhe dar a informação que Aléxandros omitira. — Mesmo que Pétros esteja prestes a ser o quê, tia Summer?
— Rania, querida. — Ela estava claramente arrependida por ter mencionado algo que não devia, mas a expressão de Rania convenceu-a de que o assunto não poderia morrer assim. Na verdade, sabia que ia deixar Rania contente se lhe contasse as novidades. — Eu tenho razões para acreditar que o homem com quem Richard desejava que você se casasse é o seu primo Pétros. — Ao notar a reação de Rania, ela ergueu as sobrancelhas, curiosa, e perguntou estranhado a palidez dela. — Seria uma coisa tão terrível assim, querida? Pétros é bonito e charmoso e muitas moças teriam inveja de você.
— Como sabe que era em Pétros que Papa pensava, tia Summer? Alguém lhe disse?
Rania sabia que Pétros, com a sua tendência para a boa vida e suas incontáveis namoradas, morreria de tédio em Serifos. Inexplicavelmente, não era Pétros quem ocupava os seus pensamentos de umas semanas para cá, mas Aléxandros.
— Aléxandros mencionou algo e... — Admitiu Summer, parecendo infeliz, como se desejasse não falar mais no assunto.
— Aléxandros! — Exclamou Rania.
Summer parecia aflita. Mas se Aléxandros havia lhe falado sobre o assunto em segredo, Rania podia entender a reação da tia. Aléxandros afirmara que dentro do possível faria com que os desejos de seu padrasto fossem realizados, mas Rania achava que a perspectiva de se casar estava muito distante para ser considerada seriamente. Agora tudo parecia prestes a se concretizar e ela levou alguns momentos para se dar conta disso.
Desde o começo, Aléxandros tinha se empenhado em transformá-la num tipo diferente de mulher e ela simplesmente ficara ressentida, sem tentar jamais entendê-lo.
Lembrou-se da generosidade dele comprando-lhe roupas novas e da maneira gentil como lhe explicara que estava tentando transformá-la numa mulher normal. — uma Magnus, de preferência. Lembrou-se também de como ele a separara de Pétros em Acrópoles, ameaçando-a caso ela se comportasse novamente com seu irmão daquele jeito. E tudo porque a estava preparando para entregá-la a Pétros, como esposa.
— Ele está me preparando para isso... — Sussurrou ela. — Aléxandros está se garantindo para que eu não desaponte o irmão! Ele nunca deu a mínima importância para os meus sentimentos!
— Oh Rania!... — Summer parecia abalada e mais uma vez olhou para a porta, inquieta. — Você não deve julgar Aléxandros tão severamente.
— Oh, eu posso julgar Aléxandros muito bem! — Assegurou-lhe Rania, amargurada. — Ele sabe exatamente como deve ser a noiva de um Magnus e pretende fazer com que eu seja essa noiva modelo.
— Não é isso, Rania!
— É, sim! Ele não está fazendo isso por minha causa, nem para algum homem misterioso que Papa tenha escolhido, nem para si mesmo! — Descobriu de repente que isso era o que mais a magoava e riu, nervosa. — Não importa quanto o noivo seja promíscuo, ele é um Magnus e sua noiva tem que ser exemplar! A futura esposa de um Magnus não pode ser uma pessoa qualquer, mas alguém treinado e aprovado pelo chefe supremo dessa família!
Summer se mantinha boquiaberta, mas Rania não estava em condições de se preocupar com quem estava magoando ou criticando. Lágrimas ameaçavam correr pelo seu rosto, pois se sentia profundamente magoada. Aléxandros não a via como mulher, apenas como uma noiva conveniente para seu irmão caçula, depois que ele tivesse aparado todas as suas arestas, é claro.
— Se não se importa, tia Summer, eu gostaria de sair e pensar sobre isso. Eu preciso pensar.
— Eu não devia ter lhe contado nada disso ainda. — Disse Summer, preocupada com as emoções que despertara nela. — Por favor, não culpe Alex, Rania; ele está fazendo o que acha certo.
— Oh, acho que na verdade eu não o culpo. — Respondeu ela. — Aléxandros só está fazendo o que acha que deve fazer, eu é que... Eu é que nunca conheci ninguém como ele e...
Rania balançou a cabeça, lançando um rápido olhar sobre o ombro quando a figura inconfundível de Aléxandros se aproximou da porta da cozinha. Virou-se então e saiu quase correndo, passando por ele no vão da porta e ignorando o seu chamado.
Sem parar para respirar, chegou ao jardim e atravessou o portão, indo até o atalho que levava ao cais. Nem mesmo os sapatos novos que apertavam seus pés fizeram com que parasse de correr. Já estava arrependida por ter dito quase tudo o que dissera a Summer, mas isso não a deixava menos ressentida com o jogo que Aléxandros Magnus estava fazendo. E, no seu presente estado de confusão, qualquer coisa era melhor do que ficar perto dele.
Sem pensar na direção que seguia, subiu instintivamente a colina acima do cais e rumou para uma caverna secreta no lado oeste da colina, onde costumava ir com Luke. Era a caverna que eles haviam começado a escavar. Tinha certeza de poder ficar sozinha ali, com tempo e tranquilidade para pensar.
A tarde chegava ao fim, mas o sol ainda estava quente o bastante para que Rania se sentisse suada. Sentando-se no chão fresco à beira da caverna, tentou pensar clara e objetivamente. Mas não conseguia esquecer que Aléxandros queria tirar proveito de sua situação como tutor para intimidá-la, e era muito difícil perdoá-lo por isso.
2821 Palavras
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