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CAPÍTULO VII - Especial


Rania atravessou a sala e, embora Linus os tivesse visto enquanto saíam para o terraço, notou que Luke nem mesmo levantara a cabeça. Aléxandros seguiu-a parecendo casual, com as mãos enfiadas nos bolsos e a cabeça erguida levemente na direção do sol.

No pequeno jardim era difícil encontrar algum lugar realmente isolado para conversarem, mas, assim que ficaram fora do campo de visão da casa, Aléxandros parou. Automaticamente Rania virou-se para ele mas manteve os olhos baixos enquanto ele a observava em silêncio. Quando Alex voltou a falar-lhe, parecia impaciente.

— Luke está encantado por descobrir que tem dois irmãos e sobrinhos, mas acho que você não está tão satisfeita, estou certo?

Aquele era um desafio direto, para o qual ela não estava preparada; entretanto, conseguiu responder-lhe rapidamente.

— Eu gostei de Linus e Raíssa e os dois meninos são adoráveis, mas foi um choque muito grande, Aléxandros.

— Um choque? — Aléxandros ergueu as sobrancelhas, surpreso.

— Uma surpresa, se você preferir então... — Corrigiu-se, também um pouco impaciente. — Você devia imaginar que seria assim. — Virou e recuou alguns passos, até avistar o grupo na sala. — Se você tivesse dito antes, ou mesmo a caminho daqui, eu estaria mais preparada.

— Eu pretendia contar a vocês dois antes de conhecerem Linus, mas quando ele telefonou esta manhã, pedindo para trazer Luke, eu não pude negar. Ele é um homem bom e tolerante, além disso, ele estava verdadeiramente ansioso para conhecer seu irmão mais novo. Luke aceitou isso muito bem, por que você não aceita também? Não posso entendê-la, Rania.

— Você nunca me entendeu, nem nunca vai entender! — Afirmou ela com amargura. Ainda de costas para ele, tentou verbalizar os seus sentimentos, pois torcia para que Alex a compreendesse, embora não acreditasse nessa possibilidade. — Eu e Papa éramos tão chegados um ao outro, e ele falava tanto de quando era criança aqui em Atenas e de como era esta ilha comparada com Serifos. Eu tinha certeza de que ele abria o seu coração para mim, principalmente depois que eu fiquei maior, depois que mamãe nos deixou, mas ainda assim... — Sua voz estava carregada de desencanto. Virou-se para Aléxandros, mas não o encarou. — Ele falava pouco sobre a sua família, mas eu pensei que...

— Nunca lhe ocorreu que ele pudesse ter uma boa razão para não mencionar a própria família? — Perguntou Aléxandros.

Rania percebeu que havia algo por trás daquela pergunta, o que a deixou inquieta.

— Linus não viu mais o pai desde os treze anos, Rania. Desde que Richard fez a sua escolha.

Rania arregalou os olhos, sem querer acreditar no que ele dizia.

— Não acredito nisso... Papa não!

— Mas é verdade, sinto muito, Rania. Você já tem idade suficiente para saber a verdade e pode compreender a situação, já que seus pais...

— É diferente! Papa não pode ter feito isso!

— Você esteve escondida naquela ilha por muito tempo. Não sabe nada da vida real e... — Disse Aléxandros, suspirando. — Você precisa ver as pessoas e as situações com outros olhos, ou nunca irá amadurecer.

— Se você está querendo dizer que eu nunca ficarei cruel e cínica como você, espero que não, mesmo!

— Não há nada de cruel e cínico em amadurecer e enfrentar os fatos reais que a vida nos disponibiliza. — Afirmou ele. — E se você compreende a situação de Luke, tem que reconhecer os fatos, tem que perceber como Linus está sendo generoso. E ele está agindo assim porque é muito parecido com Richard, o pai dele.

— Não entendi o que você está querendo dizer.

— Quero dizer que Linus enxerga o lado certo e o errado da situação e age de acordo com isso. Você vê o mundo e as pessoas por um prisma cor-de-rosa. A não ser no meu caso é claro. No mundo real fazemos escolhas e colhemos as consequências delas. E as nossas escolhas também requer confiar e perdoar!... — Acrescentou com bom humor. — Já está na hora de você pôr os pés no chão, Rania Daddario Magnus.

— Não há nada de errado na maneira como eu vivo. — Sua voz tremeu e ela teve vontade de sair correndo dali. — Sei que você não concorda com a maneira como Papa me criou, mas ele era gentil e compreensivo e eu o amava.

— Claro que sim. Ele era tudo o que você diz. Mas não era o santo em que você insiste em transformá-lo, Rania, e ele teria sido a última pessoa a querer essa reputação. Richard era um homem cheio de vida, que vivia como bem entendia, sem ligar para convenções, para a família ou para qualquer outra coisa.

— Não! — Gritou Rania, pois não podia aceitar o que ele estava dizendo.

Aléxandros, então, puxou-a para mais perto dele.

— Rania! — Segurou-a com firmeza, tentando conseguir sua atenção. — Escute! Richard amava você. Ele era um homem bondoso e gentil, mas era um homem, garota, não um deus! Não entende isso? Ele era tudo o que você pensava dele, só que não era perfeito. Nenhum homem é perfeito! Cometemos erros grandes e pequenos por vários motivos, alguns por egoísmo, outros por amarmos demais. Foi por isso que ele não mencionou a você a sua primeira família; porque você o adorava e ele tinha medo de que você o considerasse menos se soubesse.

— Você é tão implacável! Você mal conheceu Papa.

— Mas eu o conheci, Rania! E muito bem... Ele e meu pai foram a minha salvação.

— Você não aprova a maneira como ele nos criou, mas não sabe como era bom vivermos só nós quatro lá. — Disse ela sem prestar atenção direito em suas palavras, as mãos seguras pelas dele. — Sem Papa, tia Summer e eu poderíamos tomar conta de Luke até ele se tornar um homem. Nós poderíamos continuar como antes, não precisávamos de você!

— Você poderia continuar se escondendo do resto do mundo, sim. Mas, e Luke? Ele não merece mais?

— Ele era feliz! — Ela estava numa batalha perdida e sabia disso, mas tinha que continuar.

— Você era feliz a seu modo. Duvido que tenha parado para pensar se seu irmão também o era. Eu até tinha percebido o quanto você tem medo do mundo, mas não imaginava que seria tanto assim e de qualquer tipo de mudança. Eu não estou depreciando Daddario ou a sua preciosa ilha, Rania, estou simplesmente tentando trazê-la para o mesmo mundo em que nós vivemos. Você precisa sair dessa sua prisão emocional.

— Foi por isso que você me trouxe aqui? Para que eu pusesse os pés no chão? Oh, você é cruel, Aléxandros! Mais cruel do que eu pensava!

Ele aparentemente ignorou aquele comentário.

— Eu queria que você estivesse informada antes que eu comunique meus planos para Luke. — Disse ele. — Você como a irmã mais velha, deve compreender. Não quero que você mencione coisas como Ricard ter casado três vezes, quando ou onde. Eu sei que as mulheres têm a mania de se deter em detalhes. Mas, isso é algo pessoal e... É difícil...

Rania não estava raciocinando com a clareza de sempre e olhou para ele, confusa.

— Não estou entendendo como você pode me pedir isso. — Disse ela.

Aléxandross olhou para o grupo na sala de estar, ainda distraído vendo as fotografias.

— Você pode ver como Luke é um garoto ainda imaturo, ele deve conhecer a verdade gradualmente, ele gosta de companhia, exatamente como o seu pai, e em matéria de educação ele precisa mais do que eu ou os seus irmãos podem oferecer. Pretendo mandá-lo para a escola aqui em Atenas inicialmente e depois, espero, para a universidade, ele vai escolher se fará aqui ou em outro lugar do mundo.

— Você vai mandá-lo embora?

— Você acha que ele vai chorar como uma mulher por causa disso? — Perguntou Aléxandros, impaciente e irritado por causa do egoismo dela. Notou então a expressão dos olhos de Rania e acariciou-lhe o rosto com a mão. — Ele vai gostar, Rania, e você sabe disso, não é? Por que precisa dificultar tudo dessa vez? Por que não aprendeu nada com o Richard?

Não havia como negar isso, pois Luke sempre gostava quando os vizinhos ou os amigos da colônia de artistas os visitavam e as conversas se prolongavam noite adentro. Ele era, como Aléxandros havia dito, muito parecido com Richard, nesse aspecto. Mas o mundo todo de Rania mudava e muito de repente! Ela não se sentia preparada para isso ainda. Na verdade, ela não sabia por que se sentia tão oprimida quando as pessoas podiam se afastar dela. Era um sentimento estranho que a apressionava muitas vezes.

— Se você está dizendo que sim... — Ela falou, encolhendo os ombros. Lembrou-se então de algo que ele dissera logo que saíram para o jardim e perguntou: — O assunto delicado a respeito do qual você queria conversar é sobre o fato de Papa ter abandonado a família?

Aléxandros concordou, evitando encará-la por um momento.

— Não apenas isso. É também sobre não conversar sobre casamentos e datas. Todos da família já concordarão e não farão isso, mas você poderia causar uma situação embaraçosa, apenas mostrando a sua curiosidade. Richard era viúvo quando se casou com a sua mãe, você sabia?

— Sim. A mãe de Luke morreu quando ele nasceu. Fazia um ano mais ou menos que ela havia morrido quando Richard se casou novamente.

— Quando se casou com a sua mãe, Richard era viúvo somente há três meses, Rania. — Por um momento, Aléxandros apertou as mãos dela com mais firmeza. — Foi quando a esposa legítima dele, a mãe de Linus, morreu. Ela era a primeira esposa dele.

Rania levou alguns segundos para compreender o que ele dissera. Então desviou os olhos rapidamente para onde estava seu irmão, cercado carinhosamente por seus familiares. Então Luke tinha nascido enquanto Richard ainda estava casado com a mãe de Linus! O garoto era filho de uma união ilegítima, com outra mulher. Richard era um homem infiel, onde tinha diversos casos com mulheres diferentes.

— Oh, não! — Murmurou ela.

— Ele não deve saber, Rania, ainda não. Mas não pode continuar escondido naquela ilha pelo resto da vida. Ele tem direito às mesmas vantagens que seus irmãos tiveram. Linus está ansioso para que ele fique em sua casa enquanto estiver frequentando a escola aqui e eu sei que Luke será feliz. Era isso o que Richard queria realmente para ele. Sei que ele errou demais em sua juventude e ele colheu tudo o que provocou, mas Luke não pode pagar pelos erros do pai e nem você.

Rania assentiu, confusa demais para dizer qualquer coisa. Tudo à sua volta parecia estar se desintegrando desde a morte de Daddario. Queria voltar para casa antes que todos os vestígios de seu ambiente familiar desaparecessem. Como quando era pequena, sentia que não havia verdadeiramente um lugar para ela, nenhum lugar ou rosto familiar que a fizesse se sentir segura. Olhou ansiosamente para Aléxandros e perguntou.

— E quanto a mim, Aléxandros?

— O que você quer fazer?

— Eu gostaria de voltar para casa se possível. — Respondeu ela, sem hesitar.

BÔNUS

Como se esquece o passado?

As horas passaram suave e rapidamente. Não tardou para que o Coliseu estivesse repleto de espectadores ávidos pela contenda dos gladiadores que lutavam por suas próprias vidas. As feiras de variedades e os leilões de escravos já estavam em seu término, pois todos queriam ver o sangue escorrer pela arena. Era o "circo" que divertia os mais nobres e fazia com que esquecessem de suas atribulações, ameaças e perigos constantes que rondavam uma nação que já não podia mais delimitar as fronteiras de sua dominação e, portanto, estava diuturnamente sobre o risco de ser destruída e perder-se nas brumas do tempo e da história. As contendas dos gladiadores era uma espécie de remédio capaz de suavizar os efeitos dessa enorme pressão que pesava sobre os corações e mentes de todos os habitantes daquela terra antes tida como o berço do sol e de guerreiros civilizados dos demais.

Esperança apenas deu por si quando viu-se perdida em meio à multidão apinhada nas arquibancadas urrando e clamando por sangue e morte. Ela já viera àquele antro de iniquidade, porém jamais se acostumara com aquele vozerio insano e aquela movimentação irracional de pessoas buscando na batalha pela vida a satisfação que fosse capaz de descarregar seus temores e desesperos diários. E foi nesse ambiente que ela ouviu o soar das trombetas anunciando que a contenda já iria ter início, aumentando, assim, a expectativa do público presente.

Ela olhou à sua volta e vislumbrou sua mestra e o marido na parte superior – nos camarins reservados às autoridades, convidados do imperador e governador geral – e assim que a viu percebeu que ela também a procurava com os olhos. Olharam-se e Esperança fez uma reverência moderada. Heléne sorriu para ela e depois meneou a cabeça como que perguntando sobre o resultado de sua investida. Esperança, por sua vez, sorriu de volta balançando a cabeça em tom afirmativo dando a entender que o desejo de sua mestra seria realizado.

Heléne abriu um sorriso largo repleto de sarcasmo; sentia-se bem com a informação codificada de sua escrava e, logo em seguida, desviou sua atenção para a entrada triunfal dos gladiadores. Perfilados em duas colunas os lutadores avançavam arena adentro. Cada um utilizava uma arma apropriada ao combate. Todos usavam elmos com ou sem máscaras de proteção. Eram homens rudes e acostumados à vida em contínua batalha pela própria vida. Aquele era apenas mais um dia em que alguns iriam sobreviver e outros (talvez muitos) iriam morrer para a satisfação de um povo outrora forte e conquistador e que agora limitava-se a sentir prazer com o sangue alheio escorrendo em um campo de batalha simulado e protegido por uma guarda fortemente armada.

Um bando de covardes! Esse era o pensamento que vez por outra assolava a mente e o espírito tanto de Esperança como o meu...

Que mais uma vez foi tirada de suas divagações pelo cessar das trombetas e a saudação uníssona dos gladiadores posicionados em frente ao camarim principal onde estava o imperador, os senadores, os tribunos e um séquito sem fim de sanguessugas que viviam às expensas de um império em franca decadência.

"AVE SOBERANO, NÓS QUE VAMOS MORRER TE SAUDAMOS!" - a voz forte e robusta daquele coro de homens guerreiros ecoou por todo o Coliseu enchendo seu interior de um silêncio quase reverencial, e que foi seguido de novo som de trombetas enquanto o imperador, levantando-se de seu trono sinalizava que os jogos mortais daquela tarde deveriam ter início.

Esperança não se continha de expectativa à espera do combate do Celta que já havia vencido vários de seus primeiros enfrentamentos, deitando por terra corpos inertes e eivados de sangue. Do outro lado, em outro grupo de lutadores, o guerreiro de pele escura também fazia a sua parte, degolando inimigos que até algumas horas atrás haviam partilhado uma refeição com ele. Era um ser vindo de terras desconhecidas, vendido assim que nesceste por mercadores de escravos, assim muitos desses guerreiros, ele era musculoso e ágil como um felino. Nada, nem mesmo ninguém conseguiam dar cabo de suas investidas que eram, na maioria das vezes, mortais.

Aléxandros caminhou pensativo ao se lembrar novamente de sua antiga vida, tentava entender por que tais lembranças o atormentavam tanto. Seria a semelhanças dos acontecimentos agora.

O livro que ele mantinha nas mãos nem ao menos havia sido aberto, pois seus pensamentos teimavam em interferir tanto em seu sono como em sua leitura.

Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la. Comigo nesse momento é assim, Esperança vem e vai, mas até agora ela só está me atormentando.

Sonhar com aquilo que você quer. Hoje sou o que eu quero ser, porque eu possuo muitas vidas e nelas só tive uma chance de fazer aquilo que eu quis. Pensou Aléxandros, se levantando cansado. Talvez caminhar pelo jardim pela madrugada o fizesse se sentir melhor.

Será que eu teria felicidade bastante para fazê-la doce e feliz ao meu lado outra vez?... Se já estou tendo dificuldades para fazê-la forte. A tristeza por ela ser humana outra vez. Suspirou profundamente.

— Não sou humano e muito menos um deus, mas foi amaldiçoado com a imortalidade deles no final. Murmurou Aléxandros angustiado.

Mas ainda teimo em carregar uma esperança suficiente para tentar fazê-la feliz dessa vez. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Ele aprendeu isso a muitos anos atrás. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. E é isso que ele deve fazer agora, mesmo que o condenado ao sofrimento seja ele.

Um dia um sábio me disse que "A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas." O engraçado que tudo isso já ocorreu comigo e o destino insiste em me deixar de joelhos, prisioneiro de algo que nunca desejei.

O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido por mim e por aqueles que o destino colocou no meu caminho. Eu só tive sucesso na vida quando aprendi a perdoar os erros e as decepções do passado que sofri. A vida humana é tão curta, mas as emoções que eles podem deixar duram uma eternidade.

A vida não é de se brincar, porque um belo dia se morre. Menos eu... Todos partem, menos eu...

Aléxandros caminhou descalço por alguns minutos sentindo os pés serem molhados pelo orvalho noturno, parou diante das rosas de sua mãe e olhou para trás, percebeu a luz do quarto de Rania ainda acesa. Sorriu se lembrando o quando ela gostava de ler os escritos românticos.

— Realmente certas coisas não mudam apesar que o tempo possa passar! Afirmou ficando mais triste ainda. — Preciso colocar na minha mente que Rania não é a minha Esperança.

Aléxandros desvio o olhar e resolver ir para o outro lado do jardim, sentou-se e depois deitou na grama para observar o céu. Olhar as estrelas o deixava mais calmo em noites perturbadoras assim.

Fechou os olhos e deixou a sua mente voltar a suas lembranças passadas.

Mais algumas horas se passaram. Algumas dezenas de corpos jaziam no solo da arena. Cabeças separadas de corpos, membros retalhados e restos de pessoas estavam espalhados por todos os cantos. O sol forte e o sobrevoo dos abutres deixavam claro que a decomposição já havia sido iniciada e quanto mais tempo os combates se prolongassem, mais o ar dentro da arena tornar-se-ia insuportavelmente carregado e impróprio.

O coração da escrava Esperança pareceu saltar do peito quando, finalmente, o Celta e o guerreiro implacável colocaram-se frente a frente. O destino estava selado – o destino dela, é claro – pois apenas um deles poderia sair vivo daquela arena. E mesmo tendo em mente que o Celta não podia morrer – mesmo que não vencesse – Esperança sentia em seu interior um desejo incontrolável de pertencer a ele, de entregar-se àquele homem duro e rude, mas que também sabia ser dócil e gentil quando queria.

O embate iniciou-se com os contendores avaliando-se mutuamente. Golpes curtos e precisos eram trocados apenas com a intenção de saber-se o potencial do inimigo. O Celta, como era de seu costume, tinha um sorriso irônico no rosto, enquanto seu oponente mantinha uma expressão agressiva e vigilante, esperando pelo melhor momento para desferir o golpe que faria dele o vencedor daquela tarde. Mesmo os gladiadores que ainda mantinham-se em pé, cessaram seus embates observando aquela que parecia ser uma luta para jamais ser esquecida. As armas brandiam no ar, desferindo golpes que algumas vezes eram certeiros enquanto outras podiam ser anuladas pelo inimigo. Por duas vezes o Celta causara um ferimento profundo no corpo do guerreiro fazendo com que sangrasse profusamente. Os minutos tornaram-se horas e o público já não aguentava tanta apreensão em saber que sairia vencedor.

Os lutadores estavam exaustos; suas forças haviam se esvaído após tanto tempo de combate, e tornava-se cada vez mais difícil apostar em um vencedor. Os demais gladiadores também estavam surpresos com a resistência de seus companheiros e desejavam que tudo acabasse logo, mesmo sabendo que um deles pereceria.

E no exato momento em que o seu oponente deferira um golpe certeiro no ombro direito de seu inimigo, sentiu a penetração da lâmina da espada curta que o Celta sempre trazia por baixo da armadura peitoral feita de pele de urso perfurando seu peito bem na altura do coração. Os olhos do guerreiro imediatamente ficaram congestionados, e sua expressão tornou-se pétrea evidenciado que a morte o havia abraçado definitivamente. Sem forças e esvaindo-se em sangue ele caiu por sobre o Celta que depois de jogar o corpo inerte para o lado levantou-se, erguendo sua espada em sinal de vitória.

O público foi ao delírio! Fora uma batalha e tanto. A gritaria era geral e apenas foi cessada pela aproximação do imperador do parapeito de seu camarim erguendo uma das mãos em saudação ao vencedor, enquanto o orador dava por encerrada a sessão daquela tarde. Esperança olhou para trás e viu o olhar vitorioso de sua mestra que imediatamente deu de costas retirando-se em companhia de seu marido, o soberano atual daquela cidade, Dários.

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