CAPÍTULO V
Aléxandros a viu sair devagar, seu vestido era quase idêntico, naquela época estava mais desgastado e sujo por correr descalça. Sorriu com a lembrança que veio forte em sua mente.
"Chegou aos portais de entrada do Coliseu que já estava lotado de curiosos esperando pela hora em que os torneios começariam. Pensou por um rápido instantes e depois buscou uma rota alternativa – das tantas que conhecia para entrar naquele templo de sangue e dor – chegando até o túnel principal das masmorras e que dava diretamente para o local dos treinos.
Assim que chegou foi abordada por um centurião que perguntou-lhe o que estava fazendo naquele local de acesso restrito. Esperança não titubeou e disse-lhe que vinha a mando do governador da província, frase mais que eficiente para abrir portas e afastar pessoas indesejáveis. Imediatamente o centurião deu-lhe passagem. Mas quando Esperança avançou um pouco, parou e pensou que aquele centurião poderia lhe ser de grande utilidade. Voltou-se para ele e disse que queria falar em particular com o Celta a mando de seu mestre.
Sem pestanejar, o centurião dirigiu-se para dentro do "círculo interior", voltando quase que num piscar de olhos, trazendo o gladiador acorrentado. Esperança agradeceu e pediu-lhe para ficar a sós com o guerreiro. O centurião olhou para ela e depois de ponderar os riscos deu de costas afastando-se para longe de ambos. Esperança aproximou-se do combatente e disse-lhe em tom de súplica final que ele precisava matar o competidor vindo das terras escuras, pois disso dependia também a sua própria vida.
O Celta permanecia impassível mesmo ante o tom desesperado das palavras proferidas pela boca daquela pequena escrava submissa e altamente preocupada. Ele apenas olhava para ela, fixamente, pensando em como seria bom tê-la ao seu lado, compartilhando com ela da liberdade e podendo amá-la. Possuí-la todos os dias do resto de sua vida. E enquanto ela falava ele apenas a observava viajando através de seus pensamentos suaves e dóceis.
— "Está bem!" — a voz do gladiador ecoou dentro da mente e alma de Esperança que interrompera sua verborragia ante a frase inquietante e surpreendente ao mesmo tempo. Sentindo-se incapaz de fazer ou dizer alguma coisa, ela limitou-se a olhar para o Celta boquiaberta com a frase dita de chofre.
— "Está bem,..." — Continuou ele como se estivesse hipnotizado por sua beleza. — "Eu faço o que você quer, não o que a sua mestra quer,... Mato-o e depois quero ter uma sessão com ela onde direi qual é o meu desejo,... Diga-lhe apenas que ele deverá ser satisfeito, pois, caso contrário, ela poderá arrepender-se para o resto de sua vida miserável" A voz do Celta soava em um tom metálico, destituído de sentimentos ou de impressões; porém, Esperança – não sabendo bem o porque – sentia naquelas palavras alguma benevolência,... algum sentimento.
O Celta aproximou-se dela e tocando-lhe a face suavemente com uma das mãos sorriu-lhe um sorriso terno e depois cochichou em seu ouvido: —"Eu faço o que aquela rameira imprestável deseja, mas diga-lhe que não quero mais que ninguém toque em você outra vez,... compreendeu bem o que eu disse" — Sem esperar por respostas ou reações o Celta afastou-se e gritou pelo Centurião que o aguardava a uma distância discreta e vigilante.
E quando procurou afastar-se de Esperança sentiu a mão da menina em seu braço. Voltou-se para ela e ouviu a pergunta que não queria calar: —"Como você,... como é que você ..."
O Celta tornou a encarar aqueles olhos grandes e brilhantes que pareciam hipnotizá-lo e depois de um sorriso meio maroto disse apenas isto: — "Eu conheço meus inimigos pelo cheiro...".
Esperança não parava de pensar no que o Celta havia lhe dito. Ficou ansiosa – e preocupada ao mesmo tempo – com as consequências do pedido de sua Mestra. Porque, repentinamente, o Celta havia concordado em fazer o que ela havia lhe pedido sem mesmo dizer o que queria em troca? Porque ele não queria que mais ninguém a tocasse novamente? Muitas perguntas e nenhuma resposta! Aquilo não agradava Esperança. Decidiu que o melhor seria ficar por ali até o horário das contendas. De qualquer modo sua Dona também viria com seu marido para apreciar o espetáculo e descobrir se Esperança havia tido sucesso em sua empreitada.
Além da vida...
Me disseram que era uma fase, que era passageiro, coisa que o tempo acabaria apagando. Mas aí os dias foram passando, os meses e os anos... Na verdade foram seis séculos...
Me disseram que era apenas uma paixão boba que eu logo me esqueceria. Me disseram absurdos e quer saber? Estavam enganados. Nunca foi isso nem tampouco chegou perto de ser.
Esse sentimento sempre foi amor. Amor dos mais sinceros, dos mais verdadeiros e dos mais resistentes. Amor de corpo, de alma e coração, sem fim, sem limitações, sem prazo de validade.
E sabe, esse amor sempre vai ser assim, independente de tudo, de toda energia negativa, de todos os ventos contrários. Vai ser porque eu não preciso prever o futuro pra saber que meu amor é eterno, nem preciso ter bola de cristal pra saber que mesmo se tudo mudar amanhã, aqui dentro nada mudará.
Isso eu tenho certeza e te garanto que nada é capaz de desfazer, apagar ou matar esse amor. Nem o tempo, nem a distância, muito menos a morte, porque é além da vida. Estou lhe esperando a pelo menos 679 anos...
Era emocionante atravessar o mar grego na lancha que Aléxandros dirigia com tanta habilidade. Mesmo que o tamanho da lancha da família Magnus fosse extraordinária. O luxo e a tecnologia era impressionantes. Agora, Rania sentia-se menos apreensiva em relação à visita.
A viagem estava demorando mais do que imaginara, mas ela sabia que era grande a distância até da ilha Serifos à cidade Atenas, bem próxima ela estaria de pessoas que jamais imaginaria estar.
O sol estava quente, mas uma brisa fresca tomava-o suportável. Rania estava na cabine de comando do barco, com Alex e Luke.
— Ainda falta muito, Aléxandros? — Perguntou ela com ser ansiosidade e apreensão em sua voz.
— Agora não. Você não gosta de viajar de barco, Rania? Perguntou ele com certa curiosidade no olhar.
— Oh, sim! É que me parece uma viagem longa demais para passarmos apenas um dia.
— Não me lembro de ter dito que passaríamos só um dia. — Observou Aléxandros calmamente e Rania fitou-o, confusa demais para responder.
— Nós vamos passar vários dias. — Disse Luke, parecendo achar a reação dela muito divertida. — Você não sabia, Any?
Rania sentou-se no banco estreito da cabine; sentia-se um pouco aturdida ao imaginar o que lhe estava reservado. Será que Aléxandros pretendia nunca mais levá-los de volta a Serifos?
— Você não tinha o direito... — Protestou ela. — Por que, Aléxandros? — Olhou para o seu vestido e estendeu as mãos num gesto de frustração. — Você percebeu que eu só trouxe este vestido?
— Tudo isso será resolvido quando chegarmos lá. — Explicou ele com voz firme. — Você irá com tia Summer comprar tudo o que precisar.
— Grande compensação! — Exclamou Rania. — Você precisa me tratar como se eu fosse um bebê?
Aléxandros aparentava calma, mas seu tom de voz não escondia um esforço para se controlar naquele momento.
— Luke, quer descer e ver como está tia Summer? E caso ela precise que algo, a ajude por favor. — Pediu ao garoto. Luke fez o que ele disse, mas ficou claro que preferia ficar e ver o que ia acontecer. Aléxandros esperou que ele descesse a escada estreita para a pequena cabine, antes de se voltar para Rania e dar vazão à sua fúria.
— Eu tenho sido muito paciente com você, mas se insiste em se comportar como uma criança mimada e estragar esta visita, Rania Daddario, farei o que seu pai devia ter feito há anos! Você entendeu?
— Você devia ter me avisado! — Insistiu Rania. — Por que disse para Luke e não para mim? É por causa dessa superioridade masculina que você preza tanto? Eu sou uma mulher, portanto não preciso ser avisada de nada, mesmo que o assunto diga respeito a mim intimamente! Tia Summer sabia que seria levada para Atenas por sei lá quanto tempo?
— Tia Summer achou que você se preocuparia, caso soubesse. Como você parece detestar sair de sua preciosa ilha, nós preferimos não lhe contar, para evitar que ficasse se lamentando ou procurando razões para não nos acompanhar. O problema da bagagem nem foi mencionado, pois, como eu já disse, você e Luke comprarão tudo o que precisarem quando chegarmos em Atenas. Além disso, preciso apresentá-los ao restante de nossas famílias e tenho assuntos muito importantes para resolver lá também.
Os lábios de Rania não paravam de tremer e lágrimas começaram a correr pelo seu rosto, sem que ela pudesse pensar no motivo pelo qual estava chorando. Devia ser pela sensação de ter sido enganada, o que, aliás, fora feito com as melhores intenções. Levantou-se e fez menção de ir até a popa do barco, mas Aléxandros estendeu o braço, impedindo-a de passar.
Rania ficou parada por um momento, rígida, como se algo ameaçasse a sua segurança. Depois olhou para ele e achou a sua expressão estranhamente tranquilizadora. Seus olhos escuros lhe pareceram tão familiares naquele momento.
— Deixe-me passar. — Pediu com voz trêmula. — Eu quero ficar na popa, vendo o movimento da água.
— Não dá mais para ver a ilha, Rania. Aquela ilha não é sua prisão ouvi-me, ela era apenas o primeiro degrau para que fosse feliz. Por que você se permitir ser prisioneira de fatos do passado e... Droga! Você me faz perder a cabeça e acabo falando demais. Alex olhou em volta e continuou tentando aplacar os seus sentimentos. — É só o começo da viagem, por que você não o aproveita? Há várias pessoas esperando por você e tenho certeza de que vai gostar de Atenas quase tanto quanto de Serifos. — Ele sorriu e afastou o braço. — Além disso, você vai se divertir comprando roupas novas, não é?
Rania concordou. Havia algo de inacreditavelmente persuasivo naquela voz suave e ela não podia negar que gostaria muito de comprar um novo guarda-roupa.
— É muita bondade sua, Aléxandros. Sinto muito por...
Ele pousou as costas da mão sobre o braço dela e afagou-o lentamente, fazendo com que todo o seu corpo estremecesse.
— Não posso garantir que em Atenas você vá encontrar os últimos lançamentos, mas tenho certeza de que vai poder comprar tudo o que precisa. E por favor pare de tirar conclusões precipitadas sobre mim ou sobre as minhas decisões. Eu sempre vou fazer de tudo para que possa ser muito feliz.
— Estou certa disso, Aléxandros, e muito obrigada. — Respondeu ela, mais perturbada do que ousava admitir. Obedecendo a um impulso, ficou nas pontas dos pés e beijou levemente o rosto dele. Então afastou-se.
O impacto foi tremendo fazendo Alex fechar os olhos e sentir todo o seu corpo ficar febril. De repente ele se afastou bruscamente dela e virou de costas, passou a mão ligeiramente trêmula pelos e suspirou com profundeza. Rania ficou confusa e se afastou também em silêncio.
Quando apareceu na cabine, Luke subiu novamente para o convés, deixando-a a sós com tia Summer. Rania notou que ela parecia meio desligada, embora não houvesse dúvida de que estava muito contente com a visita aos parentes. Não fez, porém, nenhum comentário sobre o fato de Rania ter sido enganada.
Rania estava novamente no convés com Luke e Aléxandros quando avistaram o porto de Pireus ao lado de Atenas. À medida que se aproximavam do porto, sua apreensão aumentava. Logo iria conhecer os outros membros da família de Magno e seria julgada.
Quando finalmente chegaram, ela se apoiou no braço de Aléxandros para descer do barco, pois suas pernas tremiam.
Um carro esperava por eles, um rapaz alto e bonito que o dirigia correu para recebê-los. Sorrindo, ele abraçou Summer e beijou-a afetuosamente no rosto.
— Tia Summer! Oh, por que a senhora ficou tanto tempo sem nos visitar? Estamos muito felizes com a sua volta e nunca mais a deixaremos voltar! Seja bem-vinda, tia!
Seu bom humor fez com que Rania esquecesse a depressão que sentia e começasse a sorrir, sem perceber, até que o rapaz se voltou para ela. Examinou-a da cabeça aos pés e sua expressão deixava bem clara a sua admiração. Ela enrubesceu imediatamente.
— Rania, este é meu irmão, Pétros. — Disse Aléxandros. — Pétros, esta é Rania Daddario, a filha adotiva do nosso primo Richard.
Tudo, muito objetivo, pensou Rania. Com essa apresentação, ele define bem a minha posição dentro da família. Mas, fosse qual fosse a opinião de Aléxandros, Pétros Magnus não deu a menor importância a ela. Apertou a mão de Rania com firmeza e, antes que ela esboçasse qualquer reação, abraçou-a e beijou-a no rosto tão afetuosamente quanto fizera com Summer, embora com uma diferença sutil: seus lábios demoraram-se mais tempo sobre a pele macia do rosto dela e, quando falou, ele não despregou os olhos dela, tentando ver-lhe a reação.
— Então seja bem-vinda, prima! — Disse ele e depois riu. — Se eu a encontrasse numa ilha, eu a teria guardado só para mim! Mas foi Alexandre quem a encontrou, não é?
— Eu pedi que Phílippos viesse nos buscar. — Interrompeu Aléxandros.
— Mas vim eu... — Protestou Pétros. — Não faz diferença, Alex.
— Isso significa que, em vez de Luke e eu irmos fazer compras de táxi com a tia Summer e Rania usarem o carro, elas vão ter que usar um táxi e nós o carro, pois estamos sem motorista.
— Eu sou o motorista highlander. — Disse Pétros. — Estou disposto a levá-las onde quiserem.
— Não duvido, mas você irá comigo, Pétros. — Retrucou Aléxandros secamente. — Vamos deixar tia Summer e Rania fazerem as suas compras sozinhas. Tenho certeza de que elas levarão menos tempo se você não estiver ajudando.
— Alex...
— Por favor, chame um táxi agora mesmo. — Disse Aléxandros e ele obedeceu, resignado.
2370 Palavras
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