O silêncio tomou conta do lugar quase instantaneamente, mas ele logo é rompido pela pergunta de Louis para mim.

— Você ainda quer ir ao banheiro? — meu namorado me pergunta sugestivamente, logo após a narrativa ser finalizada e todos os outros voltarem às suas brincadeiras. Olho para os outros, minha vontade era algo pessoal, não queria que todos ficassem sabendo.

Minha bexiga não me incomoda mais tanto assim. Talvez eu esteja ficando paranoica, não é normal encontrar faces humanas em todas essas sombras e as folhas das árvores parecem ter vida própria enquanto o vento as carrega. As que já foram sugadas pela gravidade são arrastadas pelo chão.

Eu apenas afirmo movimentando a cabeça verticalmente. Melhor prevenir, não sei quanto tempo ainda permaneceremos aqui.

— Me segue, então — diz meu namorado. Brutamente, ele toma uma a lanterna de Larry, que estava tão preso em seus goles de vodka que parecia estar em outra dimensão.

Sem perder tempo, ele segura em meu pulso e me direciona para entrar entre as árvores. E eu, sem resistir, apenas sigo seu comando.

Fico espantada com sua reação, mas não demonstro isso. Mais uma vez, esperava que ele bufasse e ignorasse totalmente a minha necessidade, como ele sempre faz, mesmo que sua ação não tenha sido uma confirmação de que ele irá realmente me levar para urinar.

— Você vai mesmo me levar ao banheiro? — pergunto, agora mais em dúvida ainda a respeito de minha vontade quando vejo ele afastando alguns galhos. Se para urinar eu vou precisar atravessar esse matagal, prefiro que minha bexiga exploda.

— Com certeza. — E não sinto ironia em sua voz. Seria errado dizer que isso me surpreende ainda mais?

Meu coração se enche de gratidão, mesmo que a vontade de fazer xixi não exista mais. Ele se afastou dos amigos para atender a uma necessidade minha, e isso me faz querer beijá-lo.

É isso o que eu faço. Tiro minha mão de seu aperto, e é a vez de seu pulso ser puxado, só que para mais perto de mim. Seu rosto se contorce em surpresa e toco meus lábios nos seus, antes que ele possa ter qualquer reação.

Porém, mesmo que minha ação fosse rápida o suficiente, sua ação seria interrompida por Zayn. O barulho de folhas secas sendo pisoteadas faz com que eu me afaste rapidamente de meu ursinho.

Sua expressão é assustada, e ele encara Louis vorazmente. Depois, seu olhar é direcionado a minha pessoa, mas logo volta a seu alvo inicial.

— O que houve? — mal humoradamente, meu namorado responde.

— Eu não sei o que você vai fazer, mas é melhor eu avisar. — ele faz uma pausa, e novamente alterna seu olhar entre ele e eu, para levantar seu dedo indicador em forma de ameaça e continuar em seguida — pense bem antes de fazer qualquer coisa.

E como em um filme de terror adolescente, ele dá meia-volta e se junta novamente com seus companheiros, agora não tão bêbados quanto antes. Dialogar fez bem, a ideia de Lucy foi útil.

— O que ele quis dizer com isso? — questiono, entrelaçando nossas mãos.

— Ignora, você sabe como ele pode ser esquisito às vezes.

Sei. Os rumores são de que ele delatou todo o esquema de seleção entre os jogadores do time, onde aprovavam aqueles que aceitavam serem seus escravos pessoais, e por causa disso ele entrou. Ninguém gostou de perder as mordomias, e consequentemente, ninguém gosta dele, além de que, desde que ele se assumiu ser bissexual, correm boatos preconceituosos por aí de que Zayn apenas quis fazer parte do time para observar o corpo dos jogadores no vestiário. Lucy é a única que ainda busca manter contato no ambiente escolar, afinal, ela é sua irmã. E não é só isso, a sua mãe tem a maior popularidade de ser louca, chegando a chamá-la de louca de pedra, devido ao seu nome ser de uma pedra preciosa.

Nosso caminho é retomado, e a lanterna é a nossa guia dentro da escuridão da floresta.