Capítulo 1
— Louis... — sussurro, na esperança de que apenas ele possa ouvir. — Preciso ir ao banheiro...
— O que foi? — meu namorado responde, mal humorado.
Respiro fundo, conquistando coragem para repetir meu pedido. Tudo bem que seus amigos bêbados poluem o som, mas não é tão impossível me ouvir.
— Eu realmente preciso ir ao banheiro...
— E o que você quer que eu faça? — Sua voz ignora meu tom de voz baixo, parecendo não se importar com a minha vontade de manter meu assunto em segredo.
— Sabe se aqui tem algum banheiro, ou qualquer lugar onde eu possa me aliviar?
Ele olha ao redor, com uma interrogação estampada no rosto.
— Claro, se você virar a esquina naquela árvore ali — ele aponta com o indicador para trás de mim — você já chega nele.
— Eu estou falando sério, realmente preciso ir ao banheiro, por favor.
Louis bufa. Respira fundo e parece pensar um pouco. Olha ao redor, e olha para as pessoas em volta da fogueira. Lucy, a única além de Zayn e da minha pessoa a estar totalmente sóbria, retribui o olhar dele.
— A noite está bonita, não? — Lucy tenta puxar assunto, enquanto beija a boca da garrafa. Ela é a única pessoa com quem mantive um diálogo por mais de 5 minutos em que meu namorado não foi o mediador.
Concordam.
Sim. Também concordo com ela, mas os outros não continuam o assunto por estarem com as bocas ocupadas. Os outros também atacam as garrafas. Há uísque e tequila, oriundos dos acervos domésticos de seus pais, que nem suspeitam de tais furtos. Eu não bebo, então apenas observo a cena dos bocais das embalagens das diversas bebidas serem direcionados às bocas jovens, sedentas pelo álcool, ou pelo efeito que ele causará em seu organismo.
As únicas fontes de luz são cinco lanternas, uma para cada uma das pessoas aqui presentes, menos eu. A luz da lua não é tão eficaz para iluminar o local. É praticamente impossível sair daqui sozinha, imagine estando bêbada. O céu está limpo, estrelado. A escuridão da noite se sobressai do branco extinto das nuvens. O único som que podia ser captado, além da baderna jovial, era o dos grilos. A lua aproveita sua soberania no céu. Por estar um pouco afastado da cidade, o matagal em que nos enfiamos proporciona uma visão privilegiada, principalmente pela falta de iluminação artificial, e as árvores ao redor emolduram a paisagem. Faz tempo que não o observava. Havia me esquecido da paz que o azul escuro me trazia, desde minha infância. Meu pai e eu costumávamos deitar no telhado de casa para observar o nosso pedaço de universo, e mamãe odiava isso, por medo de nós nos machucarmos. Nunca nos importamos com os arranhões que apareciam em nossos corpos causados pelas telhas.
Eu não devia estar aqui.
Eu não deveria ter prometido a Louis que sairia com ele para um lugar de sua escolha, ainda mais com seus amigos. Agora estou presa em uma clareira, e sequer lembro a rota que usamos para chegar até aqui.
Esses adolescentes bêbados são amigos do meu namorado, não meus. Tudo bem que eu sei o nome deles de cor, é meio difícil não saber o nome dos jogadores do time de futebol da escola. Louis é um deles.
A luz que a fogueira nos propicia dá um leve salto, sobressaltando um pouco todos ao redor da fonte de luz. Noah, um dos bêbados, solta um grito, e creio que me assusto mais com seu grito do que com a claridade repentina. Levo minha mão ao meu peito, instintivamente, e sinto-o batendo mais rápido por causa do susto.
Enquanto os meninos gozam o loiro pelo seu susto, Lucy parece ter tido uma ideia.
— Que tal alguém contar uma história de terror? Fogueira, mato, noite... Essas coisas combinam com isso. — Toda a atenção é voltada para ela.
Os garotos riem. Eu não acho uma boa ideia, só olhar para o local onde estamos já é o bastante para inúmeras histórias suficientemente assustadoras se montarem em minha cabeça.
— Eu começo! — diz Noah ainda sentado no chão, ao lado de sua preciosa fonte de luz e calor.
— Até parece que ele vai assustar alguém com alguma história. — Zayn diz, ao meu lado, enquanto rouba um cigarro do maço de Noah.
— Deixe ele contar, Zayn! — a única menina além de mim defende o loiro.
Noah se concentra e abre a boca para começar sua narração. Eu realmente não acho que ouvir histórias de terror, mesmo que sejam fruto da imaginação de alguém prestes a cair em coma alcoólico, seja uma atividade interessante. O ambiente é escuro demais para isso, me sinto observada aqui. Além de que dar uma de medrosa para eles não vai ser bom para a minha reputação. Para a minha sorte, Noah desiste:
— Ah, eu não sei o que contar.
— Mas eu sei! — E Larry começa uma história qualquer, começando com o famoso "era uma vez".
— Louis... — sussurro novamente para o meu namorado, que me ignora. Espero que ele não se esqueça do meu pedido, e antes que eu chamasse seu nome novamente, Zayn interrompe minha tentativa.
— Como vocês falaram sobre contar histórias de terror e não se lembraram da clássica história da nossa cidade?
Oh. A grande lenda da família Styles. Faz sentido, essa história se enraizou na cidade e até faz parte de nossa cultura. Se tem algo que eu realmente não quero que contem é essa história, que já me aterrorizou quando eu era mais nova. Não podia ouvir um barulho estranho à noite que implorava para passar a noite no quarto deles, dormindo entre ambos.
Todos ao redor da fogueira se concentram na voz grave de Zayn. E eu também, mesmo que todos nós conheçamos muito bem essa história. Seja ela uma estratégia de turismo para a cidade ou não, é impossível não temer as consequências.
— Louis escolheu muito bem o lugar. Parabéns, amigo. — Louis arqueia as sobrancelhas com o comentário do colega. Sei que tudo foi feito o mais aleatoriamente possível, além de que ser chamado de amigo por Zayn pode ser considerado uma ofensa. — Dando mais cinquenta passos para o leste, você vai encontrar a casa dos moradores mais queridinhos, porém assustadores, de Holmes Chapel.
— Ah, boa, Zayn. A casa foi destruída há o maior tempão, todo mundo sabe. Ou você acha que o prefeito já não teria se aproveitado? — Noah diz, dando a aparência de estar um pouco mais sóbrio.
— É, o turismo teria explodido com uma informação dessas! — Lucy afirma.
— Vocês não foram ensinados a não acreditar em tudo o que dizem a vocês, não? — O nosso narrador pergunta retoricamente, e retoma a narrativa. — Eu ouvia da minha mãe todos os dias para não sair sozinho de noite, pois podia ser Harry, o garoto incorrigível que matou os pais, e depois se alimentou da carne apodrecida deles.
"Sempre fui levado a odiar o garoto. Seus pais eram uns coitados, não? E o destino do garoto foi merecido, ninguém mandou mentir tanto a ponto de ninguém mais acreditar nele. A historinha de que Harry era um garoto mau que matou os próprios pais vocês já conhecem. Harry sempre é o monstro, mas já contaram para vocês a versão dele?
Todos se calam com a pergunta do moreno. Assim como ele, mamãe me contava as mesmas histórias, que vovó havia passado para ela e para minhas tias distantes.
— Harry sofria. Ele apanhava dos pais. Ele foi proibido de ir para a escola. Os pais o obrigavam a ficar em casa, além que ele viu diversas vezes o pai traindo sua mãe. — Todos o olham, espantados. Zayn inspira a fumaça de seu recém-aceso cigarro antes de continuar. — É, não acreditam?
— Nem um pouco. — Louis afirma.
— Deixa de ser chato, Louis. Ouve a história. — Lucy pede, se jogando sobre meu namorado, que enlaça seu pescoço naturalmente. — Continue, Zayn.
— Obrigada, princesa — agradece, antes de seguir com a narrativa. — Seus pais passavam a imagem de pais perfeitos, a família perfeita. E eles não deixariam de modo algum um filho rebelde e nem um pouco desejado acabar com tudo. Até dizem que Harry foi fruto de uma traição do pai...
— Mas dizem que ele era mau, não foi só uma legítima defesa. — digo.
— Qualquer um se tornaria mau com tanta dor. — Por qualquer que tenha sido o erro em sua frase, ele se retrata: — Não que essa seja a melhor maneira, mas é a mais fácil.
Todos permanecem em silêncio. A voz de Zayn, que no momento deixou de ser sexy, só transforma as coisas em mais assustadoras ainda. O barulho do matagal piora tudo. Folhas sendo arrastadas pelo vento, grilos cricrilando, o vento batendo em meus cabelos loiros e minha pele se arrepiando não só de frio. Esse seria um péssimo momento para ainda querer ir ao banheiro?
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