Rubi
Depois de uma leve caminhada, encontram-se na província mais luxuosa que haviam entrado. Com enormes monumentos e a aparição de alguns magos circulando pelo local, avista-se em uma placa no meio da rua principal "Bem-vindos a Alupes", nome da cidade.
Aurora, aos poucos, começa a se afastar do lobo, que com a túnica dada pela menina escondia as suas feições. A garota se encanta com as coisas que vê: artefatos de magia, teatro ao ar livre, roupas mais elegantes... E sente um aconchego perante o falatório e consumo.
Sem muita pressa, ela utiliza do pacote de ouro que guarda por debaixo do vestido para comprar comida, pois está faminta. O cheiro de uma barraca de espetos a atiça por completo. Compra três, quando Baal chega perto o vendedor lhe oferece um. É um churrasco misto com pedaços suculentos de carne, frango e linguiça.
Baal encontra-se irritado quando caminha de encontro à fedelha, mas ao perceber que está com tanta fome quanto ela, sua mente agradece. Ele põe a boca para fora da túnica e começa a comer enquanto caminham lado a lado na enorme capital.
Ao sair de perto da barraca de churrasco, uma mão pútrida e suja segura a canela de Aurora, quando a garota vê e olha bem, percebe ser uma menina que aparenta ter praticamente a mesma idade que a dela.
— Comida... — fala a garota, com as forças que a sua boca ressecada pode proferir.
— Toma, come. — Aurora oferece o outro espeto que comprou. Ela automaticamente se levanta e começa a comer.
— Obrigada, pirralha! — A garota está com a cara suja e empoeirada.
— Vem cá, quem é você para... — Aurora recebe um beijo na boca. Por um momento, a boca ressecada a deixa com nojo, mas ao receber sentimentos antigos deixa-se ficar parada, até que a desconhecida se afasta.
— Continua linda como sempre — diz a garota suja.
— Você é maluca de ter me beijado!? Está com bafo, sua pele encontra-se pegajosa, e seus lábios grandes, tão ressecados quanto o deserto.
— Com licença, garoto gostoso, negro e alto! Poderia dar assentimento para a minha namorada e eu nos falarmos? — A garota suja dá um sorriso amarelado e com um fiapo de frango agarrado. Seu cabelo preto volumoso e cacheado desce sobre o seu rosto.
— "Gostoso"? — A mente de Baal esbanja amor-próprio após o elogio. — Espera, namorada?
— Ela não é minha namorada! — O rosto de Aurora fica cada vez mais avermelhado.
— Fui eu quem deu o primeiro beijo dela há dois anos atrás. — A garota desconhecida ignora a fala de Aurora, que se irrita mais ainda. — Ela disse que só queria ficar comigo, mas agora rejeita-me, o mundo é muito cruel. — Ela aconchega o seu rosto no peito de Baal.
— Rubi! Solta ele! — Aurora tira à força sua conhecida de infância.
— Viu só? Ela ainda sente ciúmes por mim.
— Poderiam situar-me? Estou confuso. — Baal continua a mastigar.
Eles vão até uma pousada. Aurora, no caminho, compra roupas novas para Rubi. No aposento, a menina suja toma um banho há mais de meia-hora. Aparentemente, já não sente a água batendo em seu corpo por bastante tempo.
Quando Rubi termina o banho, sua "namorada" lhe dá novas roupas para vestir, pedaços de pano vermelho e calça de couro.
Ela acopla sua ombreira de ferro no lado esquerdo e encaixa suas botas de couro, além de pôr a cinta que mantém a sua espada embainhada. Uma nova mulher havia saído do banheiro. Sua pele negra de tonalidade clara surge após a retirada de toda aquela sujeira do corpo.
— Obrigado pelo banho. Ah! Nossa! Estava precisando muito! — Rubi dá um sorriso amarelado a Baal e Aurora. Contudo, a menina loira continua com a cara emburrada.
— Pare com tanta falsidade, Rubi. Você some da vila sem dar explicações e, agora que eu te encontro, pensa que posso sorrir para ti como se nada tivesse acontecido?
— Sei que está nervosa comigo, mas... — A voz de Rubi é grossa e melosa como a de uma cantora.
— Mas o quê? Você disse que esqueceria essa ideia de ser um soldado de Myan e olha aonde encontro-te. — A voz agressiva de Aurora recua os sentimentos de Rubi. — Enquanto isso eu lá sozinha, tendo que ver o nosso vilarejo ser destruído por pessoas dessa laia!
— Aurora. — Baal põe a mão no ombro da garota para acalmá-la.
— Voltei ao nosso vilarejo há dias atrás. Quando vi a enorme casa de medicina de Sophia e Frederico destruída, fiquei em choque. Perguntei a todos que haviam sobrevivido onde você estava. Nenhum deles soube me responder. — Ela aproxima-se da garota loira e põe a mão em sua bochecha delicada. — Vim a Myan por sua causa, estava disposta a fazer o império se reduzir a pó para te achar.
— E por que estava caída como um pobre desleixado na rua? — pergunta Baal, cortando o clima.
— Fui roubada e fiquei com muita fome para idealizar um ataque à capital, então estava desesperada por comida. — Baal ri da explicação. — Nunca mais vou te deixar... — Rubi curva-se até chegar próximo ao rosto da sua confidente, e em seguida a beija, um beijo mais forte e intenso que aquele dado na rua.
Baal, ao observar, vê uma fina lágrima de alegria escorrendo na face de sua amiga enquanto o seu amor é entregue a quem prometeu. Rubi ergue-se e olha para o lobo, desta vez mais sorridente do que antes.
— Então, para onde estão indo?
— Iamune — Baal tira a faixa da sua cabeça —, para eu reconquistar o meu império.
— Você é um cachorro? — Rubi começa a acariciar as orelhas do garoto. — É muito fofo.
— Eu não acredito que vou ter que aguentar duas fedelhas...
Durante o tempo rápido de estadia, ambos explicam toda a história para Rubi, que a cada cena impactante fica mais boquiaberta e pensativa.
— Entendi... — Rubi mantém-se agarrada com Aurora no seu colo. — Bem, quero proteger Aurora, então levem-me com vocês.
— É perigoso, Rubi — diz Aurora com uma voz baixa.
— Se é perigoso vão precisar de ajuda.
— Agradeço o apoio. — Baal aperta a mão de Rubi. — Bem, vamos, a estadia aqui é cara.
Arrumam as coisas e colocam algumas na mochila da espadachim. Saindo do quarto, começam a descer as escadas. Ao se ausentarem da pousada, um rosto familiar aparece na entrada. Aurora visualiza o cabelo azul raspado e o braço com queimaduras, além do olhar violento, sem ter dúvidas de quem era.
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