Humanos fedem
Após descansarem na casa de uma senhora e utilizarem a magia de cura de Aurora, o grupo embarcou em uma carroça de caravana para partirem em viagem, juntos a homens desconhecidos de aparência esquisita e mulheres tímidas com suas crianças de colo.
Baal é o único acordado, enquanto a Aberrante dorme em seu peito e Rubi baba de cansaço sobre seu ombro. O Sol bate forte nesse dia e a carroça parece uma terrível sauna, em que todos pingam de suor.
O lobo mantém o seu rosto com a túnica para esconder dos humanos suas feições animalescas, mas as pessoas ainda assim desconfiam dele.
"Que calor! E que humanos fedidos!". O Hast sente-se incomodado.
A carroça dá um baque, o freio bruto acorda algumas pessoas e faz Rubi cair no chão.
Enquanto eles tentam entender o que está ocorrendo, um homem abre o enorme tecido que cobre a parte de saída da carroça. O dono pede para que saiam, pois já chegaram ao seu destino.
Aos poucos, as pessoas obedecem e sentem uma imensa pancada de vento abafado. Os três amigos descem em uma estrada que mistura pedras de calcário e areia. Quando se voltam para a cidade, percebem que este é o ambiente que a compõe.
Eles caminham para dentro da cidade imperial, que tinha um formato de redoma, entrando assim no poderoso império de Saluem.
Bem diferente do ambiente de Myan, Saluem é muito mais animada e festiva. Ouve-se gritos por todas as partes, porém não só vindos das mercearias, pessoas conversam gritando, dançam, cantam, tendo muito mais paixão e acolhimento.
Rubi logo sorri entusiasmada com as saudações vindas de diversas pessoas, ao passo que Aurora, um pouco tímida, esconde-se próxima a seu amigo Baal, com o máximo de expressividade que pode passar através da túnica.
Rubi ouve, próxima à outra rua, uma enorme cantiga se aproximando, então corre até ela. Aurora até tenta chamá-la, mas é em vão, os seus amigos a seguem enquanto os cabelos cacheados voam e o pé afunda sobre as areias.
— Ela sempre foi tão animada assim? — questiona Baal.
— Quando criança, todas a chamavam de pivete, ela era amada por algumas pessoas do vilarejo e odiada por outros devido às suas travessuras — responde Aurora.
— Eu senti o cheiro da aura dela. — Baal olha para a sua amiga. — Ela esboça um misto de felicidade e tristeza, algo familiar, aparentemente.
— Aparentemente, ela foi vendida, não sabe o paradeiro dos pais.
— Entendo.
— Baal... Por que os seus olhos ficaram vermelhos? — A pergunta de Aurora assusta o lobo, que imediatamente trava. Os seus pés se recusam a caminhar, enquanto ele leva a mão ao rosto.
— Tenho isso desde criança, chamado de olhos de Fenrir, o deus dos Hast. É um poder que amplia minhas capacidades físicas. Contudo, não sei controlar, então caso eu fique pior do que você presenciou, fuja. Ou me mate.
Aurora pensa em questionar, entretanto vê o medo que as palavras dele transmitem, por isso apenas assente.
Chegando na outra rua, ainda em busca de Rubi, percebem uma vasta multidão rodeando uma praça. As pessoas aplaudem e gritam em alvoroço, contentes, até jogam algumas moedas de ouro, as palmas incessantes e as fofocas barulhentas incomodam os dois jovens.
Aurora olha para o lobo, que com o nariz para fora da túnica funga o ar, no entanto ele devolve a encarada balançando a cabeça em sinal de negação. Provavelmente a multidão dificulta devido à enorme quantidade de cheiros e, pelas caretas de Baal, muitos ali estão fedendo.
A garota puxa seu amigo e eles começam a perfurar a multidão, Baal tampa as narinas com os dedos para tentar amenizar os odores que sente.
Na frente de tudo aquilo, há a resposta do alvoroço.
A garota vê.
Os olhos de Aurora brilham em paixão e a sua boca sorri em felicidade.
Rubi dança com tudo o que tinha em meio a todos, descalça das botas de ferro.
Os seus olhos não se abrem e a sua agitação é contagiante, ela sente-se liberta como se fosse um pássaro a cortejar o seu parceiro, sabendo para quem está dançando.
Aurora nota a alegria passada pela dança, pelo sorriso enorme que Rubi esboça, trajado da boca carnuda e o seu cabelo cacheado, que balança como mola.
Com o término junto à música tocada pelo pequeno grupo de músicos ao fundo, os dançarinos aplaudem-na enquanto ela coloca as suas botas novamente.
Os aplausos deixam a dançarina estrangeira feliz e grata, mas ao ver Aurora, sente-se mais recompensada do que qualquer salva de palmas.
Os dançarinos repartem parte do ouro recebido com Rubi. Quando ela pega o pequeno saco, agradece, curvando-se, e desce com o caminhar acelerado em direção à Aurora, jogando-se em seus braços para beijá-la.
— Você estava magnífica! — O elogio de Aurora faz Rubi corar e esta retribui com um sorriso suave e malicioso.
— Eu consegui dinheiro para podermos comer, por minha conta desta vez. — Rubi olha para Baal, que permanece com os dedos fechando o nariz.
— Qualquer lugar para longe dessa gente fedida — Baal fala com uma voz fanha e arranhada, partindo na frente.
— O que houve com ele? — Rubi pergunta à Aurora, que fica dando selinhos em seu pescoço.
— Ele sente o odor de todo mundo, então está incomodado.
— Que cachorro mais mal comportado. — Elas riem.
As garotas vão atrás de Baal para levarem-no em algum restaurante. Elas não param de rir ao perceber que a maior parte das pessoas que foram ver a atração na praça decidiram justamente comer no lugar que o lobo escolheu.
Suas feições, ao sentirem cheiro de carne, são românticas sobre o rosto negro, carinhoso e agressivo, mas alteram-se rapidamente para o desgosto ao reconhecer o fedor das pessoas.
O lobo range os seus caninos afiados de raiva por ter que aguentar o cheiro e, com suas unhas grandes, tira pequenos fiapos de madeira da mesa.
— Boa tarde, o que vão querer? — pergunta a única atendente do local.
— Que mate esses humanos — responde Baal em um tom baixo. Aurora imediatamente tampa a sua boca.
— Hã?
— Ele quis dizer pato assado! — Rubi corta a conversa depressa.
— Por favor, traga-nos um belo pato assado! É que o nosso amigo está com fome. — As garotas riram envergonhadas, tentando fazer a garçonete perder a atenção do olhar amarelo violento de Baal. Sem falar nada, a mulher sai, deixando as garotas aliviadas.
— Baal, você tem que se acalmar. — Aurora dá um tapa forte no braço do seu amigo, contudo é a sua mão que dói.
— Vocês que precisam tomar um banho, todos vocês...
— Está dizendo isso, mas estava fedendo a pelo molhado até poucos dias atrás — retruca a loira.
— Inclusive, o que temos que fazer aqui? — pergunta Rubi.
— Estamos procurando as filhas de Afonso, um senhor que nos escondeu em Myan — responde Aurora, enquanto tira os pingentes da roupa.
— Elas eram donas destes pingentes, tenho que achá-las para falar sobre o pai delas.
— Não precisam. — Uma mulher de cabelo azul e seios fartos aparece atrás de Baal, ela possui um tapa-olho em seu lado direito e fuma um enorme cachimbo, sua pele clara e seu corpo musculoso causam admiração nas duas garotas.
— Quem é você? — Aurora pergunta, escondendo seu pingente.
— É uma das filhas de Afonso — responde Baal. Em seguida, ele olha para cima onde os peitos dela recaem sobre o seu rosto. — Ela fede a magia como ele.
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