Epílogo
Eu estava com quinze anos e faria dezesseis em breve, a cada dia que passava de minha vida eu me surpreendia mais com o fato de como ser adolescente era assustador, ninguém havia me prevenido disso, mas ao contrário de mim, meu irmão parecia gostar bastante de tudo isso.
Olhei para ele, ele estava em um canto do salão flertando com uma jovem funcionária do castelo, ela ficava cheia de risinhos enquanto ele a levava em sua conversa mole. Rolei os olhos e fui até ele, tinha que acabar com essa patifaria de uma vez por todas.
- ... Aposto que seus lábios são tão doces, quanto um favo de mel – ele dizia a pobre garota que estava ruborizada e encantada ao mesmo tempo.
- Alteza eu não sei o que dizer – ela disse colocando sua mão na frente da boca sem fala.
- Diga que gostaria de deixar-me provar desses lábios, que deixaria que eu mergulhasse nesses seus olhos que parecem dois lagos de águas que me chamam, águas que me inundam... – ele ia dizendo e ela parecia hipnotizada.
- Águas que deveriam te afogar! – eu disse quebrando o clima dos dois.
- Grace! – ele disse com enfado.
- Com licença altezas – disse a garota apressando-se a sair meio desorientada.
- Lucky Clarkson Schreave, mas você não tem um pingo de vergonha nessa sua cara? – eu disse colocando minhas mãos na cintura.
- E porque eu deveria ter? – ele disse dando de ombros olhando sua presa fugir.
- Porque fica iludindo as mocinhas mais novas no castelo? – eu o repreendi.
- Ta, ta, ta, só porque você é uma frigida eu não preciso ser igual – ele disse me olhando com olhar calculista.
- Seus insultos fazem apenas cócegas ao meu ego – eu disse friamente.
- Ora irmã, deveria se divertir mais! Você é bem bonita, aposto que faria sucesso entre os guardas mais novos do castelo – ele disse com um sorrisinho nos lábios.
- Eu não quero fazer isso, de que serve? Porque eu irei partir o coração de alguém se eu não posso me relacionar com essas pessoas?
- Uma palavra, diversão. Quem se importa com os corações partidos? A diversão é o que prevalece – ele disse dando de ombros.
- Um dia você irá cair na sua própria armadilha Luc – eu disse abismada com suas palavras frias.
- Quem sabe? Mas até lá eu te garanto que eu me divertirei bastante – ele disse gargalhando e saindo de perto de mim.
- Ah! Que bom achar os dois juntos, quero falar com os dois – disse Shalom, ele chegou ontem no castelo e iria embora amanhã, tinha que resolver umas coisas e voltaria para o sul, Zoey estava nas ultimas semanas de gestação e ele queria ficar ao lado dela.
- Vai falando com a Ce, eu tenho um assunto para tratar agora – disse Lucky saindo sem dar muito importância para ele.
- Mas quer falar sobre a seleção, com você – disse Shalom.
- Tenho meu plano para a seleção, eu não vou pastelar como você fez – disse Lucky antes de se retirar.
- “Pastelar”? – perguntou Shalom confuso.
- Ignore-o – eu disse olhando para onde Lucky esteve eu podia imaginar o ele iria fazer.
- Quero saber como você está? – ele disse me olhando seriamente.
- Estou bem, por quê? – eu quis saber sem entender o que ele queria dizer.
- Mamãe disse que você age tão mecanicamente, que ela acha que você pode estar traumatizada por causa, “daquilo” – ele disse e eu o olhei com sagacidade.
- Não, mamãe me fez ir à terapia e a terapeuta sempre me fez muitas perguntas – eu disse dando de ombros e ele me olhou sabiamente.
- Mas é diferente falar comigo – ele disse me incentivando a dizer algo.
- Shal, eu estou bem. Sério!
- Mas deve ter sido horrível ver o que você viu – ele disse, e eu olhei para fora.
- Já fá sete anos, porque falar disso? Não há um propósito em remexer o passado o que aconteceu, aconteceu e nada poderá mudar, algo morreu aquele dia e não foi apenas a Ella – eu disse seriamente.
Ele me abraçou com força, Shalom era uns dois palmos mais alto que eu, eu tentei relaxar deixando-o me abraçar.
- Nada morreu minha princesinha, ficará tudo bem – ele disse.
- Eu não sou sua princesinha mais Shalom – eu disse rolando os olhos e o afastando gentilmente.
- Olha Grace eu sinto muito, as coisas aconteceram tão rápido, e eu...
- Está atrasado? – eu o interrompi – Acho que você se atrasou aí uns sete anos, não me leve a mal, mas eu não sou mais a garotinha que eu era quando você partiu, eu não o culpo por nada e nem por ter partido, você merece ser feliz, mas eu não quero tocar nesse assunto, ele morreu. Sentir pelo que? Por Bianca ser uma louca e Ella uma psicótica? Não Shal nada disso é culpa sua, as coisas aconteceram apenas, porque era para ser assim, agora vamos apenas colocar uma pedra em tudo isso que é o que eu fiz – eu disse incisiva, eu não queria falar sobre essas coisas.
- Mas não foi justo com vocês eu...
- Olha Shal, durante os últimos sete anos eu estive com você no sul, várias vezes. Você nunca teve interesse em falar sobre isso então apenas deixe para lá, com licença eu vou voltar aos meus aposentos – eu disse finalizando essa conversa ridícula e deixando-o no salão com cara de tacho.
Ora francamente era só o que me faltava, querer vir falar disso agora, sinceramente eu não estava nem um pouco à vontade para desenterrar esse assunto, eu o enterrei ele que tratasse de fazer o mesmo. Enquanto eu caminhava de volta aos meus aposentos, vi Lucky aos beijos com aquela funcionária de antes, eu suspirei e segui meu caminho. Não adiantaria nada eu falar qualquer coisa, ele não me escutaria e aquela imbecil apenas iria achar que eu estava sendo má em quebrar o clima, no mínimo ela achava que meu irmão iria ser apaixonar por ela e blá, bla, blá serei princesa, blá, blá, blá conto de fadas. Patética! Lucky usaria essa pobre garota como ele já havia feito com tantas outras, seria mais uma em sua coleção.
Coloquei minha mão na maçaneta e um guarda me cumprimentou.
- Bom dia alteza – ele disse alegremente.
- Bom dia – eu o cumprimentei com gentileza abrindo minha porta.
- Sou novo e fui designado para fazer sua segurança – ele disse feliz, e eu olhei bem para ele, cabelos dourados, olhos azuis, bem bonitinho.
- Fico honrada com sua proteção – eu disse tentando livrar-me dele – Soldado Bunck – eu disse ao ler a plaquinha em seu uniforme.
- Princesa... – ele disse me reverenciando e eu rolei os olhos e entrei em meu quarto.
Fechei a porta e o senhor fofinho veio me cumprimentar, eu fui colocar comida aos meus amiguinhos e trocar sua água.
- Podem me deixar sozinha por gentileza? – pedi a minhas assistentes, Giovanna, Eduarda e Carolina.
- Claro! Estávamos mesmo querendo ver os novos guardas – disse Giovanna rindo alto.
- Podem começar cobiçando o rapaz que fará a minha guarda – eu disse dando de ombros.
- Bonito? – perguntou Eduarda que carinhosamente eu chamava de Duda.
- Pode ser – eu disse dando de ombros.
- A vá! Diga a verdade! – disse Carolina.
- Vão logo e tirem a prova vocês mesmas – eu disse e elas explodiram em risinhos antes de saírem e eu rolei os olhos.
Com coisa que isso realmente importava, o guarda podia ser um deus da beleza isso não faria a menor importância, eu estava fadada a um casamento arranjado e nada disso iria mudar, eu não queria que mudasse eu estava pronta para isso eu me casaria por uma aliança auspiciosa para Illéa e iria governar um país longínquo, mas estaria satisfeita porque Illéa teria algo de bom em sua barganha.
Sentei em minha cama e peguei meu violino, comecei a tocar.
A verdade é que sempre foi assim, a barganha não acontece apenas com a coroa, todas as famílias de poder, seja político, sejam monárquicas sempre se casará entre eles sempre serão feitas as alianças de poder. Porque é assim que o mundo sempre funcionou.
Parei de tocar quando escutei algo na porta, ele estava encostado na porta de braços cruzados com seu sorriso fácil nos lábios.
- Não pare, eu gosto de escutar você tocar – ele disse vindo até mim e eu voltei a tocar.
Lucky sentou-se eu meu lado apreciando minha música, quando terminei a música ele suspirou.
- Suas melodias são suaves, e sempre muito tristes Cê – ele disse deitando na minha cama.
- O que quer aqui? Cansou de perseguir as criadas? – eu disse me levantando e indo a penteadeira soltando a trança dos meus cabelos.
- Nunca, nunca me canso de cortejar as moças – ele disse rindo.
- O que me dá à honra de vossa ilustre presença? – eu perguntei com sarcasmo.
- Agora sim está falando minha língua – ele disse apoiando os cotovelos na cama, me olhando com um sorriso zombeteiro.
- Seja objetivo Luc – eu disse friamente.
- Cê, um certo guarda estava muito interessado em sua música também quando entrei – ele disse com zombaria.
- Ele é novo, ainda não conhece minha fama – eu zombei.
- Frigida? Fria? Gélida? Sem graça? – disse Lucky e eu rolei os olhos.
- Entendo, veio aqui para me aborrecer, bom irmãozinho, precisará de mais de isso, porque já estou acostumada com esse tipo de amolação – eu disse com expressão entediada.
- Hoje você está excessivamente chata – ele se queixou voltando a deitar-se.
- Retire-se então – eu disse dando de ombros, pegando uma escova para pentear meus cabelos.
- Não! Minha simples presença já te deixa aborrecida, prefiro ficar – ele disse.
- Não tem nada melhor para fazer não? Vá trabalhar no escritório do papai!
- Para que? Eu NUNCA governarei o país, por que eu preciso aprender a governar?
- Porque faz parte da vida de um príncipe? – perguntei com sarcasmo.
- Bobagem, estou pouco me importando com essas coisas, quero que as funções de príncipe vão para o inferno – ele disse colocando suas mãos atrás da cabeça.
- Queria ver a cara do papai se escutasse isso – eu disse rindo.
- Ele não ia gostar, mas eu não me importo.
- E quanto à seleção? Faltam quatro anos – eu disse terminando de escovar meus cabelos.
- A melhor parte – ele disse entusiasmado.
- Não parece algo fácil – eu disse.
- Ah, mas será o segredo é você não se importar eu estou pouco me lixando para corações partidos, eu quero me divertir e no final eu fico com uma que seja bonita e está tudo certo – ele disse dando de ombros.
- Não deveria pensar dessa forma, você será infeliz – eu disse pesarosa.
- Cê, você vai se casar com alguém que nem conhece, realmente não deveria se preocupar comigo – ele disse.
- Mas me preocupo porque eu amo você – eu disse olhando-o seriamente.
- E eu amo você, amo a todos vocês, mas do meu jeito – ele disse dando de ombros.
- Quero que você seja feliz Luc...
- Eu serei ao meu modo, sempre sou feliz assim – ele disse mexendo em um fiozinho fazendo o senhor fofinho rolar pela cama para pegar o fio.
- Seu modo de pensar é tão frio que assusta – eu comentei.
- O seu também, a diferença é que você é fria por inteira, e eu não, mas somos iguais até nisso Cê, somos frios – ele disse rindo sem humor.
- Não acho que isso seja algo bom – eu disse.
- Bom ou não, é assim que as coisas são – ele disse levantando-se e jogando o fiozinho para o senhor fofinho.
- Shal queria falar com você – eu o lembrei.
- Era por isso que eu estava aqui, ele estava me procurando eu vim me esconder aqui – ele disse indo para a porta.
- Não quer falar com ele?
- Não, ele é muito chato, muito certinho é tão chato quanto falar com a Amberly – ele disse com cara de tédio e eu ri.
- Só você para me fazer rir – eu disse.
- Com você posso ser eu mesmo, você sabe que eu não presto mesmo e sabe guardar para você meus segredos – ele disse piscando para mim.
- Não deveria, mas eu guardo – eu disse suspirando.
- Por isso que eu te amo – ele disse sorrindo e saiu rindo.
Eu suspirei, era verdade eu nunca falava sobre esse jeito safado do meu irmão, não comentava suas leviandades, não falava sobre seu modo desleixado de pensar, a verdade é que eu sempre encobri suas travessuras como ele sempre encobriu as minhas e muitas vezes, ele levou a culpa por mim.
Mas era sempre assim nossa relação de amor, sarcasmo, ironia, ódio e cumplicidade. Eu não era a pessoa mais fácil de conviver, mas o Lucky tinha essa máscara que o tornava ainda mais difícil do que eu.
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