Eu estava nervosa com o Shalom, como ele podia ser tão obtuso? Claro que eu não queria ser a coitada do tipo “Me sacrifiquei por você, você PRECISA me escolher”, claro que não, eu inventei a desculpa da vida de bosta e vazia em quanto ele estava dormindo, quero dizer eu não vou chegar de dizer “Shalom eu fiz o que fiz, porque simplesmente a ideia de vê-lo ferido me era insuportável”. Eu não iria me expor dessa forma para ver ele se agarrando com as outras? Não mesmo eu manteria para mim, assim quando ele me chutasse seria mais fácil.

Emma chegou junto com a Holly, e eu sorri. Emma deixou a Holly no meio do caminho e veio correndo na minha direção e me deu um abraço que me causou dor.

- Ai Emma – eu reclamei e ela me soltou.

- Desculpe me empolguei, fiquei feliz em saber que está bem – ela disse sorrindo.

- Como vocês souberam? – perguntei.

- Jaina foi bem gentil em pedir para avisar – disse Holly chegando e pegando minha mão, eu a puxei para um abraço, ela me abraçou delicadamente e sorriu.

Emma ajudou ela a sentar-se na poltrona onde antes estava Shalom e ela mesmo sentou na ponta da minha cama.

- Você enlouqueceu? Porque fez aquilo? – perguntou Emma e eu abaixei os olhos.

- Eu sei lá – eu respondi e ela riu.

- Às vezes fazemos loucuras por amor – comentou Holly e eu corei violentamente.

- E quem disse que eu amo o príncipe? – eu revidei com sarcasmo.

- Não acredito que alguém tomaria uma bala por outra pessoa, apenas porque é legal – disse Holly com aquela expressão de sabe tudo dela.

Eu virei o rosto de Emma que estava me olhando bobamente.

- Ok, está na hora de uma conversa franca entre nós três – ela disse olhando em volta, ela levantou-se e andou em volta para se certificar de que estaríamos sozinhas.

- Do que você está falando? – eu quis saber e Holly pareceu estar prestando atenção em seus passos.

- Eu estou falando que precisamos esclarecer o que sentimos, quero dizer somos amigas certo? – ela disse sentando-se de novo na minha cama mas mantendo um tom de voz baixa.

- Acredito que justamente por sermos amigas, que não queremos expor isso assim – disse Holly.

- Eu não quero falar de sentimentos se você se refere ao príncipe, meu atual status é ódio mortal – eu disse e elas riram.

- O que aconteceu Lex? – perguntou Emma e eu contei a elas o que havia acontecido desde minhas palavras até as dele.

- Suas palavras foram horríveis Lex – disse Holly séria.

- Porque? Era o que eu estava sentindo – teimei.

- Mas Lex, entenda que sabíamos que seria assim. Essa é a única maneira que ele tem de encontrar o amor da vida dele e ele está sendo cauteloso – disse Holly.

- Cauteloso até demais – comentou Emma.

- Sim, mas entendam que nós somos livres para amar e se não der certo podemos terminar e seguir em frente. Ele não tem essa opção, para a realeza isso seria um escândalo, sem contar que ele não terá outra seleção – disse Holly e eu me senti mal por ele, no final das contas era uma vida bem limitada.

- Sabe suas palavras me fizeram perceber a imensidão da seleção, quero dizer. É um contrato para o resto de nossas vidas – disse Emma parecendo ter acordado.

- Acredito que se ele nos deixa confusas ele está bem mais confuso, ele tem que lidar com todas nós – disse Holly.

- E não somos fáceis – comentou Emma rindo.

- Não sei o que pensar ou dizer – eu disse me sentindo péssima.

- Tente relevar as coisas que te magoam – disse Holly.

- Para você é fácil, você não vê ele se pegando com ninguém – eu disse com um pouco de maldade, mas ela pareceu não se incomodar.

- Isso não quer dizer que eu não sabia que ele faz e que não me magoe também – ela disse.

- Vamos voltar ao tópico inicial? – animou-se Emma.

- Que seria? – eu perguntei e ela rolou os olhos.

- O que você sente pelo Shalom? – ela me perguntou e eu corei.

- Eu não sei bem, eu gosto de ficar com ele, gosto quando ele é fofo, gosto dos olhos dele, do cabelo comprido dele gosto do...

- Tá, tá, tá já entendemos que você está apaixonada por ele – disse Emma me cortando e eu fiquei indignada, mas ela n me deixou falar e virou a pergunta para Holly.

- Eu gosto do interior dele, sabe eu não posso me apegar a sua aparência, embora eu tenho a ciência de que ele é musculoso – ela deu um sorrisinho e nós rimos – Quero dizer, eu posso ver além da aparência posso sentir sua essência e ela é maravilhosa, Shalom é uma pessoa maravilhosa, ele dá uns foras é claro, mas no todo ele é ótimo – ela terminou.

- Você não foi claro você está apaixonada por ele? Porque eu não entendi – disse Emma.

- Não sei bem, talvez – disse Holly pensativa.

- E quanto a você Emma? – eu perguntei a ela que parecia estar se esquivando da pergunta.

- Para mim é complicado – ela respondeu.

- Eu não entendi seja mais clara, por favor – eu pedi e ela riu.

- Bom eu gosto dele, mas eu não sei bem se eu estou apaixonada por ele, nós nos divertimos sempre, mas falta alguma coisa, e sem contar que eu não sei se iria querer essa vida. Ser princesa é uma grande responsabilidade e eu não sei se estou pronta para assumir algo assim, convenhamos o que eu poderia fazer de bom para Illéa? – ela perguntou e eu me fiz a mesma pergunta, o que diabos eu faria por Illéa?

Ficamos em silencio digerindo as palavras de Emma, se eu fosse princesa o que eu faria? Eu precisaria me esforçar mais, estudar mais, pensar mais porque com o que eu tinha não iria funcionar, eu teria o homem que eu queria, mas com ele viria um cargo de responsabilidade e atualmente eu não saberia lidar com isso, eu não gostaria de ser apenas o rostinho bonito ao lado do príncipe e não saber falar, e quando falar, falar besteira do tipo “meu robe favorito é um branco macio que tenho em casa”, sim e não queria ser o tipo de princesa inútil e fútil. Nesse quesito, eu acredito que Sabrine, Sarah, Holly e Zoey são bem mais qualificadas do que eu.

- Ahhh – gritou Emma parecendo extremamente agitada, nos retirando de nossos pensamentos e nos assustando no pacote.

- Caramba, Emma pare com isso, ou enfartaremos – eu reclamei.

- Pelo menos já estamos na ala hospitalar – brincou Holly.

- Mi, mi, mi. Lembrei de uma coisa, as outras já foram embora – contou Emma rindo.

- E...? – eu perguntei com sarcasmo.

- A pelo que eu soube foi, singular a partida delas – riu Holly.

- Se foi, primeiro que quando ele contou a elas, Samanta deu lhe um tapa na cara e Linda outro...

- E ela o acusou de tê-la usado – disse Holly.

- Sim, Chloe e Rebeca saíram chorando e Celine quase bateu nele de novo, Annie trocou umas farpas com ele e fim. O barraco aconteceu na saída mesmo – disse Emma animada.

- Me contaram que Linda xingou meio mundo e disse que o príncipe iria pagar por não ter colocando-a na Elite – disse Holly séria.

- Samanta deu um show! Ela queria levar as joias e não deixaram ela levar, os guardas revistaram as coisas dela, ela tentou bater neles, eles tiveram que segurar ela e retiraram todas as joias e coisas que pertenciam ao palácio que ela queria levar – disse Emma rindo.

- Acho que ela queria levar umas lembrancinhas – eu comentei e elas riram.

- Pior foi a Annie, quando ela foi embora a princesa Grace estava chorando e foi se despedir, Annie nem olhou para ela – disse Holly parecendo triste.

- Sim Annie foi a pior, a Grace não tinha culpa – comentou Emma.

- Como ficaram sabendo dessas coisas? – perguntei.

- Nossas assistentes – elas responderam juntas.

- Fofoca voa aqui no castelo – disse Emma rindo.

- E quanto a Celine, Rebeca e Chloe? – eu fiquei interessada em saber.

- Bom Celine saiu como uma dama, Chloe apenas saiu e a Rebeca ficou chorando o tempo todo – disse Emma.

Me trouxeram meu jantar e eu torci o nariz, Jaina havia me avisado que eu comeria apenas o que estava dentro da dieta por causa do meu fígado, ou seja a comida era sem graça e sem gosto.

- Verdade, Lex, amanhã nos vemos nós ao contrário de você vamos comer comida de verdade – disse Emma brincalhona e eu a olhei feio.

- Bom jantar Lex – disse Holly indo com Emma e me deixando com meu jantar.

Minha comida tinha gosto de... Nada! Minha estadia seria realmente dura nessa enfermaria. Eu terminei meu jantar sem graça e me deitei para dormir, foi revigorante. Me acordaram cedo com aquilo que disseram ser meu café da manhã era um chá que não tinha gosto de nada, sem açúcar e um leve gosto de alguma erva, eu era péssima para identificar essas coisas, me trouxeram apenas frutas para comer e eu não gostei, onde estavam os brioches? As tortas? Os pães? As coisas gostosas? Maldição!

Estava comendo tristemente uma pera, quando Shalom apareceu, ele ficou em silencio e me deu uma caixa de chocolates, eu não sei porque ele fez isso, mas foi fofo!

- Espero que você não resolva jogar esses chocolates da minha cabeça – ele disse e eu ri.

- Tive que segurar o impulso de jogar um só para, obedecer – eu respondi e ele riu.

- Depois de várias voadoras ontem e dois tapas na cara, não ficaria surpreso – ele disse.

- Não entendi as voadoras – eu disse confusa.

- Outro dia eu te conto – ele disse parado em pé na ponta da minha cama.

- Me desculpe por ontem – eu disse a ele e ele pareceu pasmo.

- E você nem comeu... – ele comentou baixo.

- Como?

- Nada não, o que a fez mudar de ideia?

- Bom eu conversei com as minhas amigas, elas me fizeram perceber que eu havia pressionado você com base no que fiz por você. Quero dizer você não me obrigou a fazer eu fiz apenas e você não precisa casar comigo por gratidão – eu disse olhando para a caixa de chocolates.

- Eu não faria isso, você podia dizer coisas terríveis e eu ainda assim não me casaria com você por gratidão, se eu me casar com você será porque eu amo você – ele disse e meu coração parou, ele disse isso retoricamente ou foi uma declaração de amor? Ele estava sério e não seria eu que perguntaria.

- Você está certo, uma pessoa mais sabia do que eu me disse que esta é sua única chance de encontrar o amor...

- Ela não mentiu, minha vida não é como a de vocês. Eu tenho responsabilidades muito maiores, eu não posso pensar apenas em mim e em minha família, eu preciso ver Illéa como um todo e não apenas pontos isolados, mesmo que eu não venha a ser o rei eu tenho que saber reinar, porque se acontecer algo com Amberly e Antony eu sou o próximo na linha de sucessão, até que Josh possa comandar, entende? E ainda assim ser príncipe exige muito, eu não posso escolher uma pessoa que não seja boa para mim e para Illéa – ele disse olhando seriamente para mim e eu me senti intimidada.

“Minha decisão não vai afetar apenas a vida de vocês, mas a minha e a de toda Illéa, eu preciso ser cuidadoso com isso, me desculpe se eu estou sendo indeciso e imbecil, peço perdão por não poder escolher agora, se eu fosse uma pessoa normal e não o príncipe eu te garanto que isso teria terminado, mas eu não posso. Eu sei que sou tapado e burro aos seus olhos, eu posso ver o que vocês sentem por mim e o que eu sinto por vocês quando estou com cada uma de vocês é real”.

“Mas eu preciso controlar meus impulsos Lexy, eu preciso ser cauteloso, preciso ser burro e preciso esperar, preciso de tempo, preciso que compreenda que eu sei que quando eu beijo outra garota isso machuca você e quero que você saiba que isso me dilacera porque eu sei que estou machucando cada uma de vocês com isso”.

“Compreenda que se para você é difícil, para mim também é. Eu tenho que lidar com vocês todas e nem sempre eu sei como agir com vocês, vocês são difíceis e simplesmente fascinantes ao mesmo tempo”.

- Eu vou tentar me controlar, me desculpe – eu disse, eu não sabia o que dizer e percebi que estava chorando, ele veio até mim e me abraçou, deixando-me que eu chorasse.

- Nunca pense que eu não me sinto grato por você e saiba que você é minha doida suicida preferida – ele disse beijando minha cabeça.

- Sou a única – eu disse entre os soluços.

- Viu como é especial para mim? – ele disse com sorriso na voz.

Seu abraço era sempre a melhor coisa que eu podia querer dele, claro que eu queria que fosse meu abraço para o resto de nossas vidas, mas percebi que estava na hora de me preocupar mais com isso, eu não podia esperar que ele me escolhesse apenas, eu teria que me esforçar mais, eu precisava ser uma boa princesa e uma boa companheira para ele e eu o faria, eu brigaria por ele. Porque? Porque ele valia apena brigar de verdade.