Enquanto Olivia traça um plano recém-formado, Viktor, consumido por um desejo primal e faminto, continua a seguir o rastro do cheiro de sua amada, como um predador seguindo sua presa. Seu corpo parece ter se desconectado de qualquer senso de humanidade, restando apenas seus instintos mais básicos. Viktor, se encontra em um estado perdido e sombrio. O sabor do sangue de Olivia em seu rosto o atenta irresistivelmente, alimentando seus desejos mais profundos. Por séculos, ele reprimiu seu lado mais sombrio, mas agora é liberado, obscurecendo sua humanidade. No entanto, em meio a esse caos interno, um fio de amor verdadeiro por Olivia ainda persiste dentro de Viktor. É esse amor poderoso e indomável que está lutando contra sua sede de sangue, tentando desacelerar seus passos.

Enquanto Viktor continua sua busca incansável por Olivia no cemitério sombrio, a noite parece se estender infinitamente. Cada caminho leva a uma nova lápide e o cheiro de Olivia permeia todo o lugar, enchendo o ar com seu aroma único. O vento frio e forte dificulta ainda mais a busca, não permitindo que a frescura do sangue possa ser analisada por ele. Olivia deixou vestígios de sangue em cada lápide do local, como se intencionalmente tivesse dificultado a busca de Viktor.

A cada momento que passa, a fome dele clama por saciedade. Confuso e desesperado para encontrá-la, Viktor decide afastar-se dos mausoléus e das lápides. Ele trilha um caminho ao norte do cemitério, seguindo seu instinto e esperando encontrar qualquer sinal de seu paradeiro. Enquanto caminha, ele começa a notar pegadas frescas na terra e gotas de sangue.

Finalmente, Viktor chega a uma grande cova na entrada norte do cemitério. É ali que o cheiro de Olivia parece se concentrar. Um misto de excitação e voracidade toma conta dele, enquanto ele se aproxima da cova e, com olhos nebulosos, avista as roupas dela jogadas ali. Sem hesitação, Viktor salta para dentro da cova e pega as roupas de Olivia. Seu toque nas peças de vestuário é ao mesmo tempo revigorante e angustiante. Com as roupas dela em mãos, Viktor emerge da cova determinado a seguir o seu rastro. O cheiro característico impregnado nelas o guiaria pelo caminho certo desta vez. Ele sabia que estava prestes a encontrá-la, e não descansaria até tê-la em seus braços, ou em sua boca.

Viktor segue em direção à vila, guiado pelo novo cheiro no ar. Sua intuição de caçador o impulsiona a continuar, mesmo quando não tem certeza do que encontrará. Ao se aproximar de uma das tendas de madeira, ele percebe o aroma da queima de algo ainda desconhecido.

Ao entrar na tenda, Viktor vê Olivia diante dele. Seus olhos se encontram, e ele sente uma adrenalina inexplicável. No entanto, à medida que respira profundamente, a mente de Viktor começa a ficar turva e uma sensação de fraqueza o consome. Ele percebe que Olivia está queimando sálvia branca, usando o fogo de uma das velas acesas para criar uma fumaça purificadora. No entanto, aquela fumaça parece afetar negativamente a sua natureza vampírica. Seus sentidos ficam embotados, sua força se dissipa e ele se sente profundamente vulnerável. Com dificuldade, Viktor tenta se afastar da fumaça, lutando para recuperar sua compostura. Ele olha para Olivia, confuso com a situação. Segundos depois, ele cai ao chão, completamente inconsciente.

Viktor desperta no chão, sua visão ainda turva após ter desmaiado. Conforme a neblina se dissipa, seus olhos encontram os de Olivia e ele se torna plenamente consciente de suas ações. Após se levantar com a ajuda de sua amada, eles se abraçam com uma mistura de alívio e amor.

— Ah! Funcionou! — ela suspira, com alegria.

Enquanto Viktor segura Olivia em seus braços, ele nota que o braço de sua amada está enfaixado, indicando que ela usou os tecidos de sua antiga roupa para fazer um curativo. Ele percebe também que ela veste uma túnica vermelha e um lenço na cabeça, uma aparência diferente da que ele havia visto antes.

— Olivia, o que está acontecendo? Por que mudou de roupa? — Viktor pergunta, confuso.

— Viktor, não há tempo para explicar agora. Precisamos encontrar o grimório antes que seja tarde demais.

— Então, vamos, minha amada. Você já sabe onde está?

— Sei que meu pai me fez escolher entre você ou o grimório. Então, creio que está com ele. — ela afirma, e Viktor assente, engolindo seco.

Ele aperta a mão de Olivia, unindo suas forças enquanto se preparam para sair da tenda. Porém, ao dar o primeiro passo, eles se veem repentinamente cercados por bruxos da vila, encabeçados por Benjamin. Viktor mantém uma expressão cautelosa, enquanto Olivia tenta esconder sua apreensão. Ela sabe que seu pai não é confiável e teme o que ele poderia fazer em seguida.

Benjamin observa a situação com um sorriso satisfeito. Consciente de seu poder sobre Olivia, ele se dirige a ela, de um jeito manipulador e controlador.

— Vejo que conseguiu domá-lo, filha. Mas se não fosse pela sálvia branca, você estaria morta. Abra mão desse amor por Viktor e aceite a condição que estou prestes a lhe impor. — Benjamin profere.

Ele estende suas mãos para receber o grimório, entregue à ele por um súdito fiel. Seus olhos brilham com triunfo ao observar Olivia e Viktor, percebendo o quanto estão ansiando pelo objeto.

— Veja, Olivia, eu avisei que estava com o grimório em minhas mãos. Não menti sobre isso. Você não terá outra chance de se juntar a mim. É agora, ou nunca. Escolha sua família, e seremos finalmente livres de todo o mal imposto sobre nossos ancestrais. Seremos donos de nossa própria liberdade. Nada poderá nos impedir. Podemos até mesmo... Criar um novo reino, onde apenas bruxos como nós terão lugar. — Benjamin diz, escolhendo suas palavras com cuidado. Seus olhos brilham e é possível sentir sua determinação no ar.

— Pai, não vou sacrificar meu amor por Viktor. — responde Olivia, sua voz ecoando com autoconfiança. — Eu o escolho e nossa união é imutável. Se quiser matá-lo, irá ter que me matar também. Isso se chama amor verdadeiro. — ela diz, por fim.

— Você acredita sinceramente nisso, Olivia? Você sempre foi ingênua. — ele pausa. — É uma pena. Uma pena imensa. Um desperdício de magia. Mas, se você realmente está disposta a morrer por seu amado, então, que o veja morrer primeiro.

Benjamin, determinado a controlá-los, lança um poderoso feitiço. Viktor é empurrado para um lado, enquanto Olivia é puxada para o outro, ambos suspensos em uma nuvem de fumaça. Tal fumaça, parece inibir a natureza deles. Olivia, é incapaz de usar sua magia, e Viktor, incapaz de se defender e atacar. Com isso, Benjamin continua o ritual, proferindo palavras incomuns e incompreensíveis, vindas do grimório sombrio que reflete uma luz vermelha em seu rosto.

— Ele não pode morrer! Ele é imortal! — Olivia grita, tentando ganhar tempo e pensar numa solução.

— Com o grimório, farei um ritual. Viktor voltará a ser humano brevemente, e poderá finalmente ter a morte que merece. — Benjamin sorri, enquanto a responde.

Após alguns minutos, um dos súditos de Benjamin aparece entregando-lhe uma adaga. Antes que a adaga fosse ceifar Viktor, Benjamin olha para Olivia, acompanhando o desenvolver da trama e pergunta:

— Quais serão as suas últimas palavras para seu amado, Olivia?

— Por favor, não faça isso! Não faça isso! Eu lhe imploro, pai. Por favor, me leve primeiro! Você não precisa fazer isso, pai, me escute, por favor... — ela suplica, lágrimas rolam de seu rosto.

Num ato de covardia e desprezo, Benjamin corta a garganta de Viktor, que começa a sair sangue incessantemente. Ele sente falta de ar, sufocamento e afogamento de uma só vez, misturando-se com outros sentimentos como desespero, medo e relutância.

Olivia grita, e então, ela percebe que, mesmo nessas circunstâncias adversas, ela já havia encontrado as respostas em suas memórias e experiências passadas. Ela recupera sua confiança e compreende que ainda há uma maneira de reverter essa situação. Com um olhar determinado em direção a Benjamin, Olivia o encara e diz:

— Você esqueceu de um detalhe importante, pai. Eu não estou sozinha. — suas últimas lágrimas rolam de seu rosto, enquanto ela assobia tão forte à ponto de ressoar pelo ar, ecoando ao longe.

Nesse instante, Ébano adentra o local, mantendo a carruagem fora da vila, mas seu corpo dentro. Olivia sorri, pois sabe que consegue usar sua magia agora, e mais forte do que nunca, ela ergue suas mãos livremente e, com um movimento fluido, lança uma onda de energia mágica contra Benjamin. Ele cambaleia, deixando o grimório desprotegido.

A nuvem de fumaça se dissipa, e Viktor e Olivia aterrissam suavemente no chão, recuperados de seu controle. Viktor se regenera e consegue usar suas habilidades vampíricas. Ele apanha o grimório com rapidez, distanciando-se imediatamente da região, indo em direção à Olivia para carregá-la em seus braços, preparando-os para fugir.

— Como fez isso? — Benjamin pergunta, totalmente incrédulo, caído ao chão.

— Me lembrei de quando eu tinha 5 anos, pai. Eu vi a barreira inibidora de magia pela primeira vez, assim como a neblina que a mesma causa, e ela nos detia de sair, ao mesmo tempo que também nos impedia de usar nossa própria magia. Tudo o que tive que fazer foi achar um meio de quebrar a barreira, assim eu e Viktor poderíamos voltar à nossa natureza mágica. Não foi você quem me ensinou, mas eu aprendi sozinha.

— Isso não vai ficar assim, Olivia. Me devolva o grimório, agora! — ele levanta rapidamente, tentando alcançá-la.

No entanto, quando Benjamin colocou os pés no solo, ele virou-se rapidamente e percebeu que Viktor e Olivia já não estavam mais ao seu alcance de visão. À distância, eles eram apenas pequenos pontos ao lado de Ébano.

Com uma voz feroz, Benjamin ordenou que seus homens os perseguissem a cavalo, mas a ideia foi prontamente descartada quando perceberam que ainda era noite, o horário propício para ataques de lobos.

Viktor mantém sua concentração na vigilância da carruagem, enquanto Olivia faz um curativo no braço, envolvendo-o cuidadosamente com mais panos para conter o sangramento.

Viktor tenta não inalar o cheiro do sangue de Olivia, consciente de como pode afetá-lo negativamente. Percebendo a importância de manter-se vigilante, ele decide sair da carruagem e continuar a observar Ébano do lado de fora. Querendo manter sua mente clara e suas habilidades intactas, ele se afasta do aroma do sangue enquanto se mantém alerta.

Os instintos de Viktor lhe dizem que há algo mais na floresta, e ele percebe que os uivos de lobos aumentam. Ele pede a Olivia que se prepare para um possível ataque. Os uivos cessam subitamente, e num movimento ágil, um lobo parte para cima de Viktor. Com agilidade e reflexos afiados, ele consegue desviar do ataque e lança o lobo para longe, se protegendo efetivamente.

— Defesa! — Viktor pede, com voz alta.

Ao escutar a instrução de Viktor, Olivia prontamente coloca seu arco e flecha em posição de atirar pela pequena janela da carruagem. Com destreza, ela dispara ocasionalmente contra os lobos que se aproximam perigosamente da carruagem, tentando mantê-los afastados e proteger a si mesma e a Viktor.

Enquanto Viktor estava distraído com Olivia, um lobo consegue arranhar seu braço. No entanto, antes que o ferimento possa causar qualquer dano, seu instinto de sobrevivência é acionado e uma regeneração rápida ocorre. Seu braço se cura instantaneamente, deixando-o ileso. Estranhamente, suas garras afiadas se desprendem de sua mão, parecendo ter um efeito intimidador nos lobos. Os lobos parecem recuar momentaneamente, provavelmente surpreendidos pela resistência de Viktor. Isso permite a ele e a Olivia um breve momento de alívio e vantagem para se reorganizarem e pensarem em suas próximas ações.

Com o sol começando a surgir, Viktor decide entrar novamente na carruagem. Olivia permanece vigilante, mantendo-se atenta a possíveis perseguidores, mas à medida que avançam em direção ao castelo, nada nem ninguém parece segui-los mais. A calma relativa que os envolve é um alívio, pois dá a eles a sensação de que estão se afastando do perigo imediato. Finalmente, eles chegam ao castelo, esperando encontrar segurança e respostas sobre os eventos que se desenrolaram.

Estacionando a carruagem no estacionamento do castelo, Viktor e Olivia descem juntos. No entanto, eles tomam caminhos diferentes para cuidar de suas tarefas imediatas.

Viktor, reconhecendo a importância e a sensibilidade do grimório, opta por levá-lo diretamente para a biblioteca do castelo. Com cuidado e atenção, ele caminha rapidamente pelo interior do castelo, mantendo-se seguro da exposição ao sol que brilha intensamente do lado de fora. Olivia, por sua vez, decide levar Ébano para o estábulo, sabendo que o cavalo precisa de cuidados e descanso após a longa jornada. Ela sai pelo lado de fora do castelo, expondo-se diretamente ao sol que brilha no céu.

Enquanto cumprem suas responsabilidades, um sentimento de antecipação enche o ar, pois eles sabem que, ao se reunirem novamente e desvendarem os segredos do grimório, podem estar mais perto de alcançar a tão esperada liberdade e felicidade para suas vidas. Eles anseiam pela possibilidade de finalmente quebrar a maldição e viverem juntos, superando todos os obstáculos que atravessaram em sua jornada.

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