Capítulo 9 - Parte II
Olivia observa atentamente a aldeia à sua frente, com o arco e flecha firmemente seguros em suas mãos. Ela está preparada para o inesperado, consciente de que pode haver perigos ocultos à espreita. Viktor, com suas habilidades aguçadas, percebe que o local está desocupado, mas isso não diminui sua vigilância. Conforme eles avançam, uma crescente névoa envolve o ambiente, dificultando a visão e tornando o ar mais denso. A aldeia que Olivia costumava conhecer, agora parece vazia e abandonada. O silêncio é perturbador e não há nenhum sinal de vida ou movimento.
À medida que se aproximam, Viktor e Olivia notam a presença de tendas de madeira espalhados pela região, como de costume. Eles examinam os arredores, cada um deles, prontos para agir caso algo surja repentinamente. Conforme Viktor avança, sente um inexplicável senso de perigo. Ele decide vigiar de perto seus arredores, especialmente atrás de Olivia, enquanto ela mantém seu olhar fixo na frente. Eles se posicionam de costas um para o outro, as mãos de Viktor guiando o corpo de Olivia, aumentando sua segurança e garantindo que todos os ângulos estejam cobertos. De repente, ela vê alguém parado à distância, próximo à tenda de madeira.
— Ei! Você! — ela berra, mas a pessoa não se move.
Viktor se vira para olhar rapidamente, mas então volta sua atenção para o seu lado, sentindo a presença de mais pessoas. Eles observam com cautela enquanto mais e mais pessoas se aproximam, formando uma multidão ao seu redor. As expressões nos rostos das pessoas variam, algumas com curiosidade, outras com suspeita e até mesmo medo. A sensação de serem cercados deixa um ar de tensão no ar, enquanto eles se encontram no centro daquela aldeia.
— Isso é uma armadilha. — Viktor fala.
Olivia aponta o arco e flecha para um deles, vendo-os se aproximar sincronizadamente. Enquanto as pessoas que se aproximam ficam mais visíveis aos olhos deles, uma figura sai de dentro da multidão e anda em direção à Olivia. Ela sente um formigamento em seu corpo de familiaridade e perigo.
— Viktor, aqui. — ela pede num sussurro.
Viktor se vira e aperta firmemente o punho de sua adaga, preparado para defender Olivia a qualquer momento. Ele compartilha um olhar de determinação ao lado dela, vendo o homem se aproximar cada vez mais, chegando perto o suficiente para que começassem a reparar em seus traços faciais. Enquanto a figura misteriosa se aproxima, Olivia sente seu coração acelerar. Ela mantém a flecha apontada para o homem, reconhecendo-o imediatamente como seu pai. As pessoas ao redor começam a se afastar, como se obedecessem sua autoridade. Olivia sentia uma mistura de sentimentos, desde a angústia em vê-lo novamente até a tristeza sobre seu passado com ele. Suas mãos tremem ligeiramente, e então, ela abaixa seu arco, ainda cautelosa, mas também aberta para uma possível explicação.
— Pai? O que está acontecendo aqui? — indaga Olivia, com a voz levemente trêmula.
— Olivia, peço que confie em mim. Sei que vieram para procurar o grimório. — ele afirma, caminhando até eles.
— Fique parado onde está. Não confiamos em você. — Viktor diz, enquanto se coloca firmemente diante de Olivia, protegendo-a.
O pai de Olivia parece entender a reação de Viktor e levanta as mãos em sinal de paz, mas seu olhar contém um ar de mistério e malícia.
— Não deixe que esse vampiro tome suas próprias decisões por você, filha. — o homem diz, parando de se aproximar de ambos.
Viktor se mantém alerta, não abaixando sua guarda, enquanto observa o pai de Olivia com cuidado. O pai de Olivia, Benjamin, mantém contato visual no vampiro, demonstrando fúria e repugnância. Olivia, sentindo-se dividida entre seu pai e seu amado, caminha até o lado de Viktor mostrando-lhe um olhar de confiança. Ela percebe a tensão no ar e compreende que essa situação é mais complexa do que aparenta.
— Tudo bem. — ela sussurra para Viktor, e se aproxima mais de seu pai.
— Por que essas pessoas nos rodeiam? Isso faz parte de mais algum ritual? — questiona Olivia, com uma mistura de sarcasmo e temor em sua voz.
O pai de Olivia olha profundamente nos olhos dela por um momento, um olhar cheio de nostalgia e segredos ocultos. Mas ele só responde de forma enigmática:
— Minha querida filha, há muito a ser revelado. Por enquanto, peço apenas que confie em mim e siga-me. Há muito em jogo e pouco tempo a perder.
A resposta continua a alimentar o mistério em torno da situação, deixando tanto Olivia quanto Viktor com mais perguntas do que respostas. A tensão aumenta enquanto eles decidem se devem seguir o pai de Olivia em busca da verdade desconhecida ou permanecerem onde estão em busca de mais respostas.
— Não vou a lugar nenhum com o senhor. — Olivia diz, deixando o arco e flecha pendurados em seu corpo. — Como sabe que vim pelo grimório? — ela indaga, indignada.
Benjamin entende a delicadeza da situação. Ele decide revelar o que é tudo isso.
— Estive procurando por você nesses últimos meses. Acompanhei sua luta em busca das verdades que envolvem a vida de Viktor com a nossa. — ele explica.
O coração de Olivia e Viktor agora confirmam que suas histórias se entrelaçam. Eles olham um para o outro brevemente antes que Benjamin pudesse continuar:
— Sei que minhas ações anteriores a deixaram receosa sobre mim, filha. Mas hei de explicar tudo o que não lhe foi dito. — o homem fala em voz alta, para que chegasse até eles.
— O que você quer dizer com as verdades que envolvem minha vida com a vida de sua filha? — Viktor pergunta, aproximando-se dos dois.
— Isso é um assunto que eu gostaria de ter com minha filha, em particular. — Benjamin explica, fazendo gestos com as mãos para que Viktor se afastasse.
Olivia sente um nó na garganta se formar, e suas orelhas e bochechas começam a ficar vermelhas. Ela olha para Viktor mostrando estar confiante de que seu pai não irá machucá-la dessa vez. A ansiedade e preocupação de Viktor se tornam palpáveis.
Olivia é guiada por Benjamin para um lugar mais privado, desaparecendo pela neblina.
Como num passe de mágica, Olivia começa a ter lembranças de sua vida adolescente e de sua infância. Não havia muito o que explorar sobre ambas as épocas, pois sempre viveu de forma humilde e rígida, mas havia uma memória em especial que se recordou num relance, e ela tinha um certo pressentimento de que a memória era importante. Ela tinha apenas cinco anos quando aconteceu, provavelmente a razão pela qual não lembra da história perfeitamente.
Ela se recordava dos detalhes do cenário – as árvores altas e imponentes, as folhas crocantes sob seus pés, o vento uivando em seus ouvidos. Então, aconteceu. Olivia cai em um enorme buraco no chão, perdendo-se nas entranhas da terra. Essa memória causa um arrepio em sua espinha. Por que ela tinha se afastado da aldeia? E o que a levou a cair naquele buraco profundo? Essas perguntas e mais começaram a surgir em sua mente, desvendando uma história que ela nunca imaginou existir.
Após cair no abismo, uma névoa misteriosa surgiu e de repente o céu ficou escuro. Ela gritava por ajuda, mas ninguém parecia escutar. Ela tentou usar sua magia para sair do local, mas descobriu que o nevoeiro estava impedindo-a de fazer quaisquer magias.
Enquanto Olivia se afasta, Viktor permanece imóvel no centro da vila. A neblina espessa envolve seu corpo, obstruindo sua visão e criando um ambiente misterioso e claustrofóbico. No entanto, ele não se deixa levar pelo temor do desconhecido. Ele guarda a adaga que carrega consigo dentro de sua calça, onde ninguém pudesse ver. Ele aguardava ansiosamente pelo primeiro corajoso que tentasse matá-lo.
Pouco a pouco, sussurros surgem ao seu redor, vindos das sombras e ecoando pelo ar carregado de magia. As vozes entrelaçadas não são palavras comuns, como Viktor as escuta. Ele se deixa envolver pelos sussurros, e uma sensação de sonolência o invade. Seus olhos começam a pesar e suas pálpebras caem lentamente. Os murmúrios hipnóticos das vozes desconhecidas o levam a um profundo sono, mergulhando-o em um mundo onde a realidade se mistura com sonhos e ilusões.
— Filha, eu não vou esconder nada de você. Realmente, eu tentei matá-la antes. Mas não fui eu, eu não queria isso, não queria que nada disso acontecesse. — ele diz, mas não há sentimentos em sua voz.
Olivia o olha com repulsa. — Então me fale o que aconteceu naquela noite.
— Como eu sempre te disse, filha, um dia você se tornaria a mais forte de todos os bruxos da vila, mas os nossos ancestrais deveriam abençoá-la. Durante o ritual, eles não quiseram deixá-la viver. Eles tomaram o meu corpo, e quase me levaram a matá-la. — ele diz, tentando se explicar.
A revelação do pai de Olivia não a deixou completamente abalada ou surpresa. Embora ferida pela revelação, uma parte de Olivia sabia que precisava ouvir toda a história antes de tomar qualquer decisão.
— Quem são nossos ancestrais, pai? — ela pergunta, mesmo que já soubesse a resposta.
— A história começa com Viktor. Você já sabe filha, você só espera que eu confirme à você. E, sim, nossos ancestrais são Andrei e Olivia.
Benjamin observa as lágrimas rolarem pelo rosto da filha e, com ternura, limpa-as delicadamente com os polegares. Os olhos dele mostram compaixão e arrependimento, enquanto ele busca palavras que possam amenizar a dor que acabara de causar em sua amada filha.
— Eu sinto muito, filha — Benjamin murmura, com a voz embargada. — A verdade é que os nossos ancestrais viram em você um poder tão intenso, tão puro, que talvez temessem o seu potencial. Eles acreditavam que você poderia se tornar uma ameaça, uma força incontrolável que poderia desestabilizar a ordem da vila e trazer o caos. Mais especificamente, eles temiam que você pudesse quebrar a maldição que aprisiona Viktor. É importante honrar os desejos de nossos ancestrais, filha. Lembre-se do que sempre lhe ensinei.
— Por isso tentaram me matar? — Olivia pergunta, sua voz perdendo sua força.
— Tentaram eliminar esse poder antes mesmo que pudesse se manifestar plenamente.
Benjamin pausa, buscando as palavras certas para expressar seus sentimentos mais profundos. Ele segura as mãos de Olivia com carinho, transmitindo sua conexão inquebrável como pai.
— Mas agora, minha amada filha, eu sei que eles estavam errados, e não damos mais ouvidos à eles. Eu vi a força e a bondade que emana de você, e percebi que seu poder é uma dádiva. Eu lamento profundamente o que aconteceu no passado, lamento que você tenha sido alvo dessa crueldade.
Olivia olha nos olhos de seu pai, capturando um vislumbre de seu genuíno arrependimento. Embora a dor do passado ainda esteja presente, ela sente uma centelha de esperança se acender dentro de si.
— É por isso que venho traçando meus próprios caminhos, filha. Eu encontrei uma forma de podermos construir nossas próprias regras, um novo mundo. Sem a intervenção dos ancestrais.
Olivia respira fundo e com curiosidade ela pergunta: — O que você quer dizer?
— Não somos nós que somos o problema, meu anjo. Viktor é. Temos que matá-lo. Encerrar este momento de tormento de uma vez por todas. Ele é um perigo para todos nós, e não podemos permitir que sua maldição continue assombrando nossa vila, os antepassados, e as futuras gerações.
As palavras de seu pai caem sobre Olivia como um golpe avassalador. Ela não pode acreditar no que está ouvindo. A ideia de tirar a vida de alguém que ela ama é inconcebível para ela. Ela olha para seu pai com olhos cheios de dor e descrença.
— Como você pode dizer isso, pai? — ela fala em tom alto, sua voz tremendo. — Eu nunca poderia fazer mal algum ao Viktor. Ele não é um monstro, ele está sofrendo! Nós precisamos encontrar uma maneira de ajudá-lo, de curá-lo. E eu o amo! Amo-o incondicionalmente! Com todo o meu ser!
Benjamin dá-lhe um tapa no rosto. Após o ato inescrupuloso, ele suspira em descontentamento.
— Sinto muito, Olivia. Não irei tolerar seu amor por este ser maligno. E você... — ele pega em seu rosto, fazendo-a olhar para ele. — Está do lado errado desta luta tentando defender uma abominação da natureza como ele.
Olivia sente suas lágrimas caírem incessantemente. — Ele pode ter a natureza de um monstro, mas se você acha que é melhor do que ele, você está enganado. — ela diz, encarando-o.
— Faremos uma troca. Você me dá Viktor, e eu lhe dou o grimório. — Benjamin diz, friamente.
— Só por cima do meu cadáver. — ela diz roçando seus dentes uns nos outros. Outrora triste, agora sentia uma raiva intensa por seu próprio pai.
— Você acha que seu amado nunca lhe faria mal algum, Olivia? Vejamos...
Espero que tenham gostado, clica na estrelinha pra me ajudar a crescer 🌟
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