Margareth, tomada pelo medo da transformação iminente de Viktor, agiu rapidamente e separou o cavalo da carruagem. Ela partiu em desabalada corrida por milhas, deixando para trás tudo o que conhecia. As lembranças finais que ecoavam em sua mente eram as imagens de seu irmão, consolando Olivia e segurando Isabel em seus braços.

A face de satisfação do irmão mais velho, mostrando-lhe que o plano tinha saído minuciosamente como havia planejado, lhe deixou com o estômago revirado.

Enquanto cavalgava para longe, Margareth olhou para trás e ao que parecia, Viktor, ao se transformar, havia partido em voo, deixando para trás a destruição que fazia parte da maldição imposta por Andrei.

Margareth sentia-se atormentada pelas incertezas sobre o destino de Viktor, Olivia e, principalmente, de sua sobrinha Isabel. A angústia a consumia enquanto ela fugia, sem saber se havia deixado para trás uma tragédia ou se o destino lhes reservava um caminho diferente.

Enquanto isso, Viktor, agora uma criatura alada e amaldiçoada, percorria os céus distantes, afastando-se cada vez mais da área onde sua vida anterior fora despedaçada. Mas depois daquela primeira transformação, sonhou que havia matado todos naquela noite. As pessoas da vila entraram em pânico ao ver um monstro sobrevoando o castelo, e alguns que tiveram sorte, fugiram em direções opostas.

Margareth sabia que o irmão teria feito alguma magia diferente. O plano era apenas transformar Viktor em vampiro, e poderia ter sido facilmente concluído no castelo enquanto ele dormia. Ela sabia que algo estava errado.

Então, começou a estudar como as peças se encaixavam. O irmão mais velho, Andrei, havia forjado um colar de proteção para Olivia, e a entregou. Ele tinha dito que achar uma pedra de ônix preta tinha sido um desafio, e por isso, apenas conseguiu fazer um colar de proteção. Porém, ele garantiu que apenas um era o suficiente para protegê-los de qualquer ataque de Viktor. Contudo, ao Margareth pesquisar em livros de magia da época, ela não encontrou nada à respeito. Exceto, se a magia fosse proibida.

Movida pela desconfiança, Margareth mergulhou nos livros de magia oculta da época, em busca de respostas. Esses livros, extremamente raros, foram encontrados em outra aldeia em que ela se infiltrou, buscando por um novo começo.

Cada página virada, cada feitiço decifrado, levava Margareth a aprofundar-se ainda mais nos segredos obscuros da magia que cercavam sua família e as peças que agora começavam a se encaixar. Ela sentia que estava próxima de descobrir a verdade por trás dos eventos que desencadearam a transformação de Viktor e a tragédia que se abateu sobre eles.

Nos livros ocultos, Margareth descobriu que o ritual para transformar Viktor em um vampiro e monstro envolvia o sacrifício de uma vida inocente, que seria retirada da pessoa que usasse o colar. Assim, no dia da fuga, Andrei agiu como um protetor e pai quando sugeriu que Isabel usasse o colar para evitar que Viktor a levasse. Ele afirmou que o colar funcionaria como um repelente contra qualquer ameaça. Olivia confiou completamente em Andrei, sem saber das verdadeiras intenções por trás do parceiro, e infelizmente, a maldição levou a vida de sua preciosa filha.

Após aquela fatídica noite, Olivia e Andrei seguiram em frente com suas vidas, estabelecendo-se em uma vila isolada que, ao longo do tempo, se tornou um refúgio para bruxos e bruxas da Transilvânia. O colar de ônix preto, agora comprovadamente eficaz, funcionava como uma proteção contra os ataques noturnos de Viktor e qualquer outra ameaça que ousasse desafiá-lo, como as noites de lua cheia, como de maneira geral.

A vila florescia, cheia de magia e segredos, e Olivia e Andrei mantinham sua vigilância constante, garantindo a segurança daqueles que ali encontravam abrigo.

Margareth, embora pudesse encontrar o irmão com suas práticas mágicas, nunca mais teve coragem de vê-lo pessoalmente. A lembrança da traição e das terríveis consequências de seus atos era uma auto-acusação, que pairava sobre ela.

Conforme Margareth refletia sobre o passado, ela começou a perceber que o ressentimento de Andrei em relação a Viktor era profundo. Ela se recordava de como eles foram afetados pela pobreza, e sabia que seu irmão guardava rancor por Viktor não ter feito nada para ajudar a melhorar a situação do povo.

Essas lembranças trouxeram à tona questões e conjecturas na mente de Margareth. Ela se perguntava se o caminho obscuro que Andrei trilhou na busca pelo poder mágico era, de certa forma, uma forma de buscar vingança contra Viktor. Talvez ele acreditasse que, ao se tornar maior e mais habilidoso, poderia finalmente superar a opressão e a desigualdade que enfrentaram.

Margareth reconhecia que Andrei estava errado em sua abordagem e na escolha da magia oculta, mas não conseguia deixar de sentir empatia por sua dor e ressentimento. Ela se perguntava se as coisas poderiam ter sido diferentes se eles tivessem encontrado um caminho mais positivo para canalizar suas frustrações e lutas.

Além disso, Margareth encontrou evidências que revelavam o desejo de Andrei ter sua própria família com Olivia, e via a presença de Isabel como uma ameaça a esse plano. Ele não conseguia aceitar Isabel como uma legítima parte da família e nutria um ciúme irracional e doentio de sua própria enteada.

Após este período sombrio, Margareth optou por trilhar seu próprio caminho, buscando redenção consigo mesma e utilizando suas habilidades para proteger os outros e reparar os danos causados. A lembrança de Andrei permanecia como um lembrete constante de suas escolhas passadas e da responsabilidade que ela carregava em garantir que o mal que ele desencadeou jamais se repetisse.

Conforme os anos se passaram, Andrei e Olivia construíram uma vida tranquila na aldeia onde se instalaram. Juntos, eles criaram uma família e viram seus filhos crescerem. No entanto, o grimório, que desempenhou um papel fundamental na maldição que transformou Viktor em um monstro, permanecia escondido naquela mesma aldeia.

À medida que o tempo avançava, as anotações de Margareth no diário se tornaram cada vez mais escassas. Os registros de sua busca por redenção e sua luta para desfazer o mal causado começaram a desvanecer-se. Era como se as páginas daquele diário carregasse apenas memórias distantes, mas que ainda ecoavam nos corações daqueles que carregavam o peso das escolhas feitas.

As últimas anotações mencionavam que Margareth havia se estabelecido em uma vila de religiosos, mantendo uma vida secreta e afastada de todos.

Olivia percebe um vazio nas páginas finais do diário de Margareth, enquanto o fecha. A narrativa da vida da bruxa chega a um abrupto fim, onde ela deduz que o segredo de ser bruxa, foi a causa da morte prematura de Margareth.

Com tristeza e curiosidade, Olivia sente a responsabilidade de continuar a jornada que Margareth iniciou. Ela sabe que deverá desvendar os mistérios que ainda pairam sobre a magia oculta e tentar recuperar o grimório perdido, a fim de reverter o feitiço que aprisionou Viktor em sua terrível maldição.

Olivia suspira ao finalmente fazer a digestão das palavras escritas naquele diário, entendendo que Viktor realmente não é responsável pela morte de sua filha Isabel, como sempre acreditou. Essa revelação traz um alívio para a bruxa. No entanto, algo no diário a deixa intrigada.

Olivia relembra do colar de ônix preto, que foi mencionado na história e que sabe de alguma forma, que o colar tem uma conexão com sua própria família. Ela se lembra de seu pai sempre afirmar que o colar é uma tradição familiar.

Com o peso dessa descoberta, Olivia sente uma responsabilidade ainda maior em trazer justiça para a história de Viktor, Isabel e tantas vidas perdidas. Ela promete a si mesma que, com o poder do diário e seu conhecimento sobre a verdade, fará tudo o que estiver ao seu alcance para reparar o passado e garantir que a memória de Isabel e Margareth seja honrada.

— Não se preocupe, Margareth. Eu contarei à Viktor sobre a verdade. — Olivia sussurra para o diário, e para si mesma, trazendo-o até seu peito onde o abraça com um lampejo de esperança.

Determinada a desvendar os mistérios do grimório, Olivia guarda o diário com cuidado em sua mochila e começa a planejar seus próximos passos. Sua atenção é ofuscada quando alguém bate na porta.

— Ana, finalmente... — ela fecha os olhos em êxtase, suspirando fundo.

Quando Olivia abre a porta com expressão feliz, esperando ver Ana, seu rosto se transforma em surpresa ao deparar-se com o Reverendo. Ela se esforça para disfarçar sua decepção e responde com uma leve hesitação:

— Reverendo, que surpresa vê-lo aqui. Eu pensei que fosse outra pessoa.

— Elena, achei que estivesse doente. — ele fala, sendo passivamente irônico.

Olivia engole seco. — Eu estou, mas consigo andar para atender a porta.

Os olhos do Reverendo se estreitam como se aquilo tivesse sido uma provocação. Havia mais dois homens de cada lado do ombro do Reverendo, sem sinal de Ana.

— Posso saber o que querem aqui? — Olivia pergunta, com o coração querendo pular para fora do corpo.

— Posso entrar, Elena? — ele pede com gentileza.

— Acho melhor não. Eu estou...

Antes mesmo que Olivia terminasse a frase, o Reverendo adentra a casa, observando cada detalhe ao seu redor com um ar de superioridade. Seus homens o acompanham a fim de inspecionar o lugar.

— Algo muito precioso saiu dos meus aposentos nessa noite, e a única pessoa não presente na igreja foi você. Isso não é uma grande coincidência? — ele pergunta, com um tom ameaçador e diferente.

Olivia tenta manter sua calma diante da situação, embora seu coração esteja acelerado. Ela enfrenta o Reverendo com medo, mas com firmeza:

— Reverendo, não tenho conhecimento de nenhum objeto que tenha saído de seus aposentos. Eu não estive presente na igreja hoje, mas isso não faz de mim uma criminosa. Se você tem alguma suspeita, pode fazer uma busca, mas saiba que sou totalmente inocente nessa questão. — ela cruza os braços, tentando esconder os batimentos fortes de seu coração.

Os homens, seguindo as instruções do Reverendo, começam a vasculhar a casa em busca do objeto supostamente roubado. Olivia permanece em pé, observando cada movimento com atenção, ao mesmo tempo em que tenta pensar em uma maneira de proteger o diário que guarda em sua bolsa.

Os olhos de Olivia se arregalam ao ver os homens do Reverendo encontrar o colar em sua gaveta. Ela sente seu coração afundar diante da terrível acusação que está prestes a vir. Os homens mostram o colar ao seu chefe num piscar de olhos.

O Reverendo aponta o dedo para ela, seus olhos cheios de julgamento e condenação.

— Bruxa! — ele exclama com veemência, ecoando pela sala.

Um silêncio pesado paira no ar enquanto Olivia tenta processar o choque dessa acusação.

Ela se mantém inabalável diante do Reverendo e dos homens ao seu lado, embora o medo comece a se infiltrar em seu coração. Ela ergue a cabeça e o encara com coragem.

— Reverendo, você está enganado. Esse colar é apenas um objeto pessoal sem qualquer ligação com bruxaria. Não permitirei que uma falsa acusação manche minha reputação ou família.

Embora suas palavras soem confiantes, Olivia sente a pressão e o peso das suspeitas sobre ela. Ela sabe que precisa agir rapidamente para provar sua inocência, especialmente diante dos olhares julgadores dos homens ao seu redor. Seu instinto de sobrevivência a leva a pensar em um plano para reverter essa terrível situação e deter o Reverendo em suas investidas acusatórias.

O Reverendo, no entanto, não se deixa convencer. Seus olhos brilham com uma mistura de convicção e fanatismo.

— Não se engane, Olivia. Essa joia contém a marca do mal. Seja honesta consigo mesma e admita sua conexão com as forças das trevas. Vou garantir que a verdade seja revelada em breve.

Os homens do Reverendo se aproximam, suas expressões carregadas de julgamento e violência. Eles agarram os braços de Olivia, restringindo seus movimentos. Ela sente o pânico crescer dentro dela enquanto luta para se libertar. Com as palavras "bruxa" ecoando em sua mente, ela percebe que está enfrentando um perigoso e fanático inimigo.

Desesperada para escapar dessa situação, Olivia rapidamente pensa em uma estratégia. A coragem a invade enquanto ela desafia o Reverendo com seu olhar.

— Reverendo, a verdade prevalecerá. Você está cometendo um erro grave e inaceitável. Eu não sou uma bruxa e, quando essa verdade vier à tona, você terá que enfrentar as consequências de suas acusações injustas.

Com essas palavras finais, Olivia usa sua última reserva de energia para se soltar dos braços dos homens, empurrando-os com toda a força que consegue reunir. Ela corre em direção à porta da frente, sua mente focada apenas em escapar dessa situação perigosa.

No entanto, antes de alcançar a liberdade, algo atinge a parte de trás de sua cabeça com um impacto forte e doloroso. Olivia cai no chão, perdendo a consciência antes de conseguir entender o que aconteceu.

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