Capítulo 5 - Parte V
Olivia sente o olhar perscrutador de Ana e percebe que talvez ela conheça lendas e histórias que envolvem o objeto. Ela hesita por um momento, ponderando se deve falar o que sabe. No entanto, movida pela confiança que está se desenvolvendo entre elas, Olivia decide revelar um pouco mais sobre sua história.
Com um leve sorriso, ela responde:
— Este colar representa uma herança valiosa transmitida de geração em geração em minha família.
Ana olha para Olivia com uma expressão séria e adverte:
— Elena, é importante que você entenda a delicadeza dessa situação. Foi pura sorte que ninguém tenha visto o colar, pois o uso de cristais é algo fortemente associado às bruxas. Nossa vila é habitada por pessoas que não acreditam nesse tipo de coisa, e se descobrissem sobre o colar, isso poderia colocar em risco não apenas o seu disfarce, mas também o meu. Precisamos ser cautelosas e manter essa informação em segredo.
Olivia abaixa o olhar, compreendendo a seriedade das palavras de Ana.
— Me desculpe, Ana. Você está certa... Foi um descuido meu... Vou ter mais cuidado e garantir que o colar esteja escondido.
Ana faz uma pausa e depois olha diretamente nos olhos de Olivia.
— Elena, por questões óbvias, peço que você guarde o colar em um local seguro dentro da minha casa. É importante que evitemos qualquer exposição desnecessária. Se alguém descobrir, tudo estará em risco, incluindo nós mesmas. Prometa-me que não o usará novamente enquanto estiver aqui.
Olivia concorda com um aceno solene.
— Prometo, Ana. Vou mantê-lo guardado e seguro, longe dos olhos curiosos. Não quero colocar em perigo tudo o que construímos até agora.
Ana suaviza seu tom de voz e coloca a mão no ombro de Olivia, transmitindo apoio e compreensão.
— Eu entendo que seja difícil esconder algo tão valioso e cheio de significado, mas é necessário para nossa segurança. Irei te ajudar a descobrir mais sobre o colar sem levantar suspeitas, se é isso que você quer. Você já está fazendo o suficiente por mim, ao continuar comigo. Confio em você, amiga.
Olivia sentiu-se apoiada por sua nova amiga. Seus olhos brilharam com essa nova intimidade, e ela promete a si mesma que vai ficar mais ciente da situação delas.
Curiosa e intrigada, Ana não consegue conter sua pergunta:
— Agora, me desculpe se parece uma suposição ousada, mas a sua família está de alguma forma relacionada à lenda do vampiro da Transilvânia?
Olivia fica surpresa com a pergunta, mas tenta esconder seu espanto enquanto responde:
— Por que você pensaria em algo assim?
Ana hesita por um momento, ponderando se deve compartilhar o conhecimento sobre o colar e sua suposta ligação com a maldição do vampiro. Decidindo confiar em Olivia, ela revela o que sabe:
— Eu entendo que são apenas lendas, mas há uma história que diz que o colar que você está usando, lapidado com ônix preto em formato de lágrima, foi feito para selar a maldição do vampiro da Transilvânia. As lendas ainda falam que existe apenas um colar dessa pedra e formato, criado pela mesma bruxa que amaldiçoou o príncipe. Claro, não passa de uma história antiga, mas isso é muito estranho.
Olivia olha para o colar com renovado interesse, ponderando sobre as possíveis conexões entre sua família e a lenda do vampiro. Ela se sente atraída pela ideia de que seu legado possa ter um significado mais profundo e histórico do que jamais imaginou.
— É uma história intrigante, de fato. Quem sabe o que realmente aconteceu no passado? Talvez haja mais mistérios e segredos a serem desvendados. Me fale mais sobre o colar e sua história, por favor.
Ana percebe o genuíno interesse de Olivia e decide comentar:
— Todos da Transilvânia conhecem essa história e os medos que a cercam. Você realmente nunca ouviu falar dela? — Ana pergunta.
— Bom, claro que já ouvi falar do monstro da Transilvânia. Mas o que o colar tem a ver com isso? — Olivia pergunta, curiosa.
— O colar foi o objeto principal da realização da maldição. A mesma que foi imposta no príncipe da Transilvânia. Diz-se que foi usado em seu ritual, aprisionando-o no castelo e o fazendo se transformar num monstro todas as luas cheias.
Olivia decide abrir-se e revelar algo que guardou em segredo até agora.
— Na verdade, há uma razão pela qual esse assunto me intriga tanto. — Olivia diz, sentando-se na poltrona. — Nunca conheci minha mãe. Meu pai sempre foi muito protetor e sempre omitiu muitas coisas durante minha vida. Recentemente, fugi de casa quando meu próprio pai planejava me sacrificar em um ritual sinistro, acreditando que isso traria poderes e proteção para eles.
Ana fica chocada com a revelação de Olivia e se aproxima dela.
— Meu Deus, Elena, eu não tinha ideia de tudo o que você passou. Foi por isso que te encontrei na floresta?
— Sim. — Olivia diz, omitindo qualquer relação com Viktor.
Ana deixa escapar um suspiro profundo. — Nós nunca sabemos as cargas e bagagens que as pessoas levam consigo, não é? Você me parece uma pessoa tão meiga e doce, sinto muito que isso tenha lhe acontecido... — Ana transmite sinceridade em suas palavras.
Ao presenciar Olivia com os olhos marejados, Ana se apronta em lhe estender os braços, que logo é alcançado pela jovem, tentando encontrar conforto imediato em algum gesto de carinho. Olivia soluça enquanto estão abraçadas e Ana compreende o turbilhão de emoções que poderiam ter se desenvolvido dentro da pequena bruxa.
Ao passar de alguns minutos em silêncio, Ana interrompe o abraço e olha para Olivia com uma expressão de surpresa e curiosidade.
— Espere, então a história que você contou sobre perder sua casa e seu marido... Era falsa?
Olivia suspira, sentindo a necessidade de falar a verdade com sua amiga.
— Sim, Ana, eu admito. Eu inventei aquela história para proteger minha identidade e me manter segura. Meu nome verdadeiro é Olivia. Na verdade, encontrei refúgio aqui, com você. É o único lugar onde me sinto verdadeiramente segura. — Olivia descarta todas as relações que poderia ter tido antes, por segurança.
Ana a encara, compreendendo a importância dessa revelação.
— Olivia, certo, estou aqui para você. Obrigada por confiar em mim. Sei que deve haver uma razão válida para sua necessidade de se esconder. Continuaremos com o disfarce, e você poderá ficar aqui pelo tempo que desejar. Saiba que pode contar comigo, está bem? — ela ergue uma sobrancelha, tentando demonstrar afinidade com Olivia.
Ela, por sua vez, sorri, sentindo-se aliviada por ter o apoio de sua nova amiga.
— Obrigada, Ana. Prometo não trazer problemas. Apenas gostaria de obter mais informações sobre os ataques de vampiros nessa área, e como isso está relacionado com o meu colar. Minha família já me negou muitas informações, e eu sentia que precisava investigar melhor sobre isso sozinha. Sua amizade e apoio significam muito para mim. Sei que posso confiar em você.
Ana assente, dizendo: — Claro, sinto que também posso confiar em você, mas eu não escondi nada de você até agora.
Olivia enxuga as lágrimas com o punho, concordando.
— Espere um pouco. — Ana se afasta para perguntar: — O nome de Noturno também é falso?
Olivia solta um riso envergonhado. — Sim, é falso. O nome dele não é Noturno. É Ébano. E ele não me ajudou nada com o disfarce. Mal queria me obedecer hoje de manhã. Não está acostumado com esse nome.
— Eu prefiro Noturno. — Ana diz, e isso faz ambas rirem genuinamente.
Após alguns minutos, Olivia inspira fundo, indo em direção à cômoda da sala, guardando o colar dentro da gaveta. As duas se olham reafirmando a promessa silenciosa de protegerem seus segredos e manter suas identidades ocultas na vila.
Durante o dia, Ana se dedica a ensinar Olivia sobre a vida sem magia. Ela mostra a importância de cuidar das plantas manualmente, regando-as, podando-as e oferecendo-lhes os nutrientes necessários. Explica como a fé no catolicismo é uma parte significativa da vida dos humanos e como eles encontram conforto e orientação através de suas crenças religiosas.
Enquanto relembra suas experiências, Ana abre seu coração e revela um pouco sobre sua vida pessoal. Ela fala sobre a separação de seus pais devido a um relacionamento abusivo, o que levou ela e sua mãe a fugirem da vila onde só haviam bruxos. Elas encontraram refúgio entre os humanos, mas tiveram que esconder suas verdadeiras origens desde o início, vivendo uma vida de segredos e disfarces.
Olivia ouve atentamente, compreendendo cada vez mais a complexidade da vida de Ana e como elas têm experiências em comum, de esconder quem realmente são em outras regiões que adentram. A conexão entre elas se fortalece à medida que Olivia percebe que não está sozinha em sua jornada de autodescoberta e proteção.
— Ana, fiquei curiosa... Você mencionou que fazia parte de uma vila de bruxos antes daqui. Quem era o líder dessa aldeia?
— Bem, o líder da nossa vila era um homem chamado Benjamin. Ele era viúvo e assumiu a responsabilidade de liderar nossa comunidade. Você conhece esse nome?
Olivia sente um calafrio percorrer sua espinha, mas decide disfarçar sua conexão com Benjamin, seu próprio pai.
— Não, não conheço esse nome. — ela engole seco, e então troca de assunto. — Ana, você mencionou que sua mãe decidiu sair da vila por causa de um relacionamento abusivo. Isso deve ter sido muito difícil para vocês. Você se lembra de algo sobre a vila antes de saírem?
— Sabe, Olivia, eu era muito jovem quando minha mãe decidiu deixar a vila. Eu tinha apenas alguns anos de idade, então não tenho muitas lembranças claras da vida lá. Mas minha mãe sempre falava sobre como o ambiente na vila era sufocante e como precisava proteger a mim e a ela mesma. Foi uma decisão corajosa da parte dela abandonar tudo e buscar um novo começo.
Olivia compreende a situação de Ana e respeita a privacidade de sua história familiar. Ela decide não pressionar mais sobre o assunto, sabendo que cada um tem suas próprias razões para manter segredos.
No fundo de sua alma, Olivia sabe que Ana não poderia fornecer muitas respostas, pois havia deixado a vila antes dos acontecimentos que quase tiraram sua vida. Era curioso como Olivia nunca havia realmente notado Ana antes, e agora parecia que Ana também não sabia muito sobre a verdadeira identidade de Olivia. Incertezas crescem dentro do coração da bruxa, em busca de informações sobre seu próprio passado.
Quanto mais se aproxima o dia da próxima lua cheia, mais ações de segurança são tomadas pela população de Sighisoara. Cada lar é protegido com símbolos sagrados para afastar o mal. Os portões da vila são fortificados com reforços de madeira e ferro, e torres de vigia improvisadas são erguidas ao redor do perímetro. Os guardas da vila patrulham incessantemente, olhos penetrantes buscando qualquer sinal de ameaça. Caminhos e atalhos são marcados com uma erva desconhecida, seu cheiro cítrico era conhecido por machucar o monstro. É uma atmosfera de tensão, onde os mais corajosos entre os moradores perdem a própria sanidade, temendo serem as próximas vítimas da besta.
Olivia consegue notar as expressões preocupadas do povo ao passar dos dias. As conversas ficam cada vez mais zelosas, todos temendo por seus pecados e ponderando sobre suas próprias razões de viver. Ela, porém, sente uma angústia crescente em seu coração. Por mais que entenda a necessidade das precauções e a importância de proteger a si mesma, algo está chamando-a para longe da segurança da vila. Seus pensamentos voltam para Viktor.
"Será que ele está bem? Será que ele sabe que estou bem?" Uma semana se passou, como havíamos previsto. Contudo, não tive tempo de lhe mandar algum sinal de que estou bem... — Olivia pensa todos os dias.
Ana lhe diz que a cada lua cheia que se aproxima, o monstro da Transilvânia corre pelos arredores de Sighisoara, se alimentando de tudo e todos que encontra em seu caminho. Olivia compreende os perigos que pode correr se por acaso se afastar da vila nas noites de lua cheia. Mas, mesmo diante dos possíveis problemas e pessoas que cercam a vila durante essas noites, a bruxa decide se afastar sorrateiramente quando a lua cheia aparece, sabendo que essa será sua única oportunidade de enviar a Viktor um sinal, a fim de mantê-lo afastado e despreocupado.
Zelando pelo seu disfarce e pela segurança de Ana, Olivia sabe que terá que fazer sua magia longe dos olhares vigilantes da vila.
Espero que tenham gostado, clica na estrelinha pra me ajudar a crescer 🌟
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro