Capítulo 2 - Um Passo de Cada Vez
— Você está ameaçando o meu cavalo? — ela pergunta, sentindo-se verdadeiramente irritada.
— Não, apenas estou ressaltando que o cavalo parece ser mais inteligente do que a própria dona. — ele retruca, colocando uma de suas mãos apoiadas na parede à frente de Olivia, se aproximando dela.
Seus rostos estão mais próximos um do outro e a jovem bruxa se sente atraída pelos olhos vermelhos e penetrantes de Viktor. Embora estejam perto demais para o seu próprio conforto, é algo além do comportamento intimidador do vampiro que a faz sentir nervosismo. Ela não consegue explicar ou entender completamente o que está acontecendo, mas é como se a maldição que ele carrega, o faz ter uma aura irresistível.
O coração de Olivia pulsa freneticamente, um ritmo acelerado que Viktor consegue captar. Ele permanece numa postura imponente, tentando alertá-la sobre o perigo que ela enfrentará ao ficar no castelo.
Consciente de que a vida dela está em jogo, Viktor sabe que qualquer consequência trágica adicionará mais uma dívida a carregar. Ao escutar as palpitações rápidas do coração dela, ele reconhece o impacto profundo que sua presença exerce sobre Olivia e sente-se confiante de que seu posicionamento fará efeito.
— Eu sempre cuidei de Ébano, e nada ou ninguém jamais lhe fez algum mal. Então, mesmo com os perigos que a lua cheia trará, consigo proteger a nós dois. Bruxas adquirem um poder maior em noites como essa. — ela fita em seus olhos vermelhos.
O coração da bruxa fervia em poder e um sentimento recém-adquirido ao qual não conseguia denominar.
— Mesmo com perigos diferentes dessa vez? — ele arqueia uma sobrancelha.
— Sim. — ela o garante.
— Se você morrer, eu não quero carregar mais um peso de culpa na minha vida. Já estou assoberbado delas. — seus olhos transmitiam a dor de um passado que Olivia desconhecia.
Ela franze o cenho, apanhando um vislumbre de arrependimento em seus olhos.
— Posso saber mais sobre isso? — ela o encara, com curiosidade.
— Não. Não sei por que falei isso. Esqueça. — Viktor balança a cabeça, lutando para desvanecer seus sentimentos e se desaproximando.
Assim que o vampiro se afasta, Olivia se apronta a dizer, antes que ele vá embora:
— Espere, desculpe, não é da minha conta. Eu só... — ela suspira. — A única coisa que sei sobre você é que você foi afligido por uma maldição, transformado em um vampiro por uma bruxa que compartilha o meu nome.
— Isso é verdade. Mas sabe o que não entendo? Todos tem medo de mim. A maioria só vem até ao castelo para duelar, tentar me matar. Confesso que, eu já matei vidas inocentes antes, mas isso não importa. — ele tenta escutar o coração de Olivia, mas não vê diferença alguma. — O que não entendo, é que você não parece se assustar, seu coração não pula quando lhe digo que já matei inocentes antes, então me fale o que faz no castelo. Você está planejando algo contra mim? — Viktor pergunta.
— Não, não. — ela responde, afligida e sem pensar duas vezes. — Tive problemas familiares.
Ele solta um riso irônico. — Só um problema familiar?
— Não é como você pensa... Bruxas como eu, têm vidas diferentes das demais pessoas, Viktor. — ela pausa. — Temos responsabilidades, deveres, ordem e regras. Eu simplesmente, não me encaixava em nenhuma delas, pelo visto. — ela diz, definhando a voz lentamente, olhando para o vazio. — Era como se ninguém pudesse me ver. Eu existia, mas não estava ali. Eu deveria servir a um propósito, mas então, me arrancaram todas as expectativas, me apunhalando de olhos abertos.
Viktor percebe o palpitar acelerado do coração da bruxa e observa atentamente quando seus olhos se enchem de emoção, as bochechas coram e as orelhas ficam vermelhas. Uma estranha sensação de empatia o envolve, enquanto ele observa as manifestações físicas da emoção de Olivia. Ele sente uma compreensão súbita de que o passado dela é uma ferida aberta, algo que a consome intensamente.
O vampiro compartilha da mesma visão sobre seu próprio passado, reconhecendo o turbilhão de emoções que o consomem. Nesse momento, Viktor se identifica profundamente com Olivia, compreendendo que ambos carregam feridas abertas provenientes de seus passados.
Decidindo mudar de assunto para aliviar um pouco a tensão, Viktor volta sua atenção para Ébano, um tópico mais leve e menos invasivo.
— Olivia, reparei que Ébano está precisando de ferraduras novas. As atuais estão desgastadas e não estão oferecendo a proteção adequada. — ele a olha, arqueando uma das sobrancelhas.
A jovem olha atenciosamente para as patas de Ébano e suspira. — Ah, ótimo.
Antes que ela continuasse a falar, ele a interrompe, impensável.
— Não se preocupe, eu consigo consertar. Vou te ajudar a trocá-las. — ele diz, prontamente.
Olivia observa Viktor com admiração e surpresa. Neste momento, ela percebe que o vampiro é muito mais do que aparenta ser. Há uma bondade genuína e cuidado em seu gesto de se disponibilizar para trocar as ferraduras de Ébano. Uma sensação de gratidão e curiosidade toma conta de Olivia, fazendo-a se perguntar sobre as histórias que podem existir por trás daquela expressão séria nos olhos dele. Percebendo que há muito mais do que uma aparência ameaçadora, ela fica sem palavras diante desse ato generoso.
Após alguns segundos de silêncio, Olivia percebe que Viktor está lentamente deixando um pequeno sorriso se formar no canto de seus lábios, enquanto observa seu cavalo. Essa simples expressão de felicidade genuína traz uma sensação de calor ao coração da bruxa. Ela sente uma alegria especial ao notar que, apesar da aparência intimidadora e misteriosa, Viktor também é capaz de sorrir à gestos de bondade.
— Você gostaria de montar em Ébano? — ela pergunta, querendo proporcionar uma recompensa à Viktor pelo seu ato generoso.
— Seu cavalo não irá gostar da ideia, Olivia.
— Por que você não tenta? — ela pergunta, inclinando a cabeça, em direção à Ébano.
Viktor olha para Ébano com curiosidade em seus olhos e hesita por um momento, ciente de que o cavalo pode reagir negativamente à sua presença. Ele dá um passo em direção ao majestoso animal, mas Ébano recua, erguendo sua cabeça e relinchando com um misto de medo e desconfiança. Ele estanca o passo imediatamente, percebendo que sua presença está perturbando o cavalo.
Com cuidado, Viktor levanta as mãos em um gesto pacífico, tentando transmitir tranquilidade. Ele fala de maneira suave, para não assustar Ébano.
— Se acalme, Ébano. Pode confiar em mim.
No entanto, o cavalo permanece inquieto, balançando a cabeça de um lado para o outro em sinal de alerta.
Olivia sente uma pontada de tristeza ao ver a reação de Ébano, mas confia na sua intuição de que Viktor não representa uma ameaça. Ela se aproxima lentamente, colocando uma mão reconfortante no pescoço do cavalo. Segurando firmemente as rédeas, ela olha para Viktor, tentando transmitir confiança.
— Ébano, ele não vai te machucar. Viktor está nos ajudando e quer ser seu amigo. Dê uma chance a ele, por favor.
Ébano olha para Olivia, reconhecendo a confiança em seus olhos. Aos poucos, ele abaixa a cabeça e relaxa um pouco, percebendo que talvez Viktor não seja tão ameaçador quanto inicialmente pensou.
Com cautela, Viktor se aproxima mais uma vez, abaixando-se levemente para se mostrar inferior ao cavalo. Ele estende a mão, oferecendo a palma aberta para que Ébano possa cheirá-la e se familiarizar com seu cheiro. O cavalo observa atentamente, mas dessa vez não recua.
Olivia sorri, encorajando Ébano a se aproximar de Viktor com palavras gentis. E então, com uma dose de coragem, Ébano estende o pescoço e toca levemente o dorso da mão de Viktor com o seu focinho. Um sorriso surpreendido surge nos lábios de Viktor, enquanto ele acaricia suavemente o pescoço de Ébano. Apesar do receio inicial, uma conexão tímida começa a se formar entre o vampiro e o cavalo, algo que Olivia jamais imaginou presenciar.
Naquele momento, Viktor compreende que mesmo nas circunstâncias mais improváveis, a confiança e a paciência têm o poder de superar o medo e construir pontes entre diferentes seres, seja com Olivia, Ébano, ou qualquer pessoa ou animal que cruze seu caminho. Essa lição valiosa permanecerá gravada em seu coração, sabendo que a união e a compreensão são possíveis, independentemente das diferenças.
Viktor se afasta delicadamente, deixando uma expressão de surpresa em Olivia e Ébano. Ele sorri de forma sutil, voltando para sua expressão séria e enigmática, como se não quisesse se permitir sorrir ou ter um momento de felicidade. Olivia percebe, voltando com sua expressão cautelosa e formal.
— Eu deveria ir preparar as ferraduras. Vejo que Ébano está com dificuldade de pisar no chão. — seus olhos vermelhos ficam escuros, e então ele sai do estábulo por uma porta escondida.
Olivia o segue com os olhos e se pergunta aonde aquela porta irá levá-lo. Ela sente que é melhor não explorar além do que lhe foi permitido, e então, ela permanece junto à Ébano, esperando até que Viktor retorne.
Dê um voto para me ajudar a crescer, por favor? 🥹❤️👉🏻👈🏻
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