Capítulo 10 - Parte III
À medida que se aproximavam de Constança, o tempo se encurtava, deixando Viktor inquieto. Enquanto a lua brilhava intensamente em seu estado quase cheio, as últimas noites trouxeram consigo uma sensação arrepiante e uma ansiedade crescente.
Durante as breves cinco horas de descanso que tiveram pelas noites, Olivia adormecia, porém, atormentada por pequenos pesadelos. Viktor, preocupado com sua amada, tentava acalmá-la e oferecer conforto. Mesmo que Olivia afirmasse estar bem, era evidente que a bruxa testava seus limites. Ela não conseguia lembrar dos detalhes desses pesadelos, mas assegurava a Viktor que não eram importantes.
A bússola, por outro lado, já apontava para o norte, indicando que se aproximavam cada vez mais do paradeiro do Reverendo Norris.
Viktor e Olivia adentram a cidade de Palas, em Constança. A atmosfera ali é de uma comunidade pacífica, com a presença de várias aldeias próximas. Não havia sinais aparentes de outros bruxos, apenas ferreiros e comerciantes transitando pelas movimentadas ruas. A pequena cidade ganhava vida com a presença de carruagens e uma população considerável em comparação com as demais. Eles percebem que o local é uma parada popular para os viajantes que passam pela região.
Além disso, as inscrições no grimório avançaram durante a jornada, revelando sua forma final. Contudo, eles ainda teriam que evidenciar quais eram as condições do grimório e as consequências da falha do feitiço.
Um colar de onyx preto, um portal a romper,
De pecados envolto, um destino palpitante.
O Sol, símbolo do poder resplandecente,
Embalado em vínculos de um destino ardente.
Na quebra desta terrível maldição,
Três condições se impõem com precisão.
Desafie o mandato, enfrentando o fim,
Pois a vida será ceifada, sem redenção enfim.
Terás que ter um bruxo virtuoso e hábil,
Mas cuidado, a escolha é complexa e vil,
Atente ao labirinto da tentação,
Desvios fatais trarão a escuridão.
Pois o preço é a morte ou tornar-se eternamente um monstro hostil.
Um sacrifício obscuro, o impuro deverá dar,
Em oferenda sombria, para a praga findar.
No poder corrompido, a maldição descansa,
Mas o sacrifício certo, quebrará a sua dança.
À medida que avançam pelas ruas banhadas pelo sol dentro da carruagem, eles procuram meticulosamente por qualquer vestígio que pudesse confirmar a presença do Reverendo na cidade. No entanto, Olivia começa a sentir uma sensação sombria em seu coração, instigando-a a compartilhar seus temores com Viktor.
— Viktor, meu amor, você se lembra da vez em que tive aqueles pesadelos, em que meu pai e o Reverendo teriam se encontrado? Logo após o que aconteceu em Sighisoara.
— Claro que lembro, meu amor. Você está sonhando com isso, não é? — ele segura a sua mão enquanto pergunta.
— Eu não consigo mais me lembrar dos meus sonhos... Isso é tão frustrante! — ela bufa e inspira fundo. — Tudo o que sei, é que tenho um mal pressentimento sobre isso. Meu pai sabia que teríamos que buscar o colar, então ele provavelmente disse ao Reverendo para ir embora da Transilvânia. E se chegamos tarde demais? E se ele já atravessou o Mar Negro? — ela pergunta, indignada.
O coração de Viktor começa a bater acelerado pelas incertezas, mas ele queria mostrar à Olivia positivismo.
— Tenho certeza que ele não teria ido longe sem recursos. Ele não teria moedas de troca, nem muitas pessoas ao lado dele para ajudar. Então, o que o faria ir tão longe? — questiona Viktor, tentando acalmar Olivia. Ele segura sua mão com firmeza. — Lembre-se, meu amor, nossa determinação é maior do que qualquer obstáculo que possa surgir. Se o Reverendo realmente fugiu, encontraremos um jeito de alcançá-lo. Confie em mim.
Olivia olha nos olhos de Viktor, encontrando confiança e resiliência em seu olhar. Ela respira fundo, tentando afastar suas preocupações. — Você tem razão, Viktor. Não podemos deixar o medo dominar nossos pensamentos. Precisamos agir com determinação. Vamos continuar nossa busca, não importa o quão longe ele tenha ido.
Ambos se enchem de coragem renovada e, juntos, decidem seguir seu caminho, procurando por pistas.
— Espere! — Olivia pede, fazendo Viktor parar a carruagem. — Vou me conectar com a natureza novamente, procurar por ele entre as florestas ou campos. Ele só irá se safar de meus poderes se não estiver em terra firme.
— Minha amada, não podemos fazer isso aqui. Não sabemos se essas pessoas têm algo contra bruxos e bruxas. — ele lembra.
— É exatamente isso, não é? — ela pergunta, em contrapartida. — O Reverendo Norris não tinha nada a oferecer, mas essas pessoas, se forem religiosas, não teriam deixado com que um Reverendo passasse por dificuldades.
Viktor reflete sobre as palavras de Olivia e compreende o ponto que ela levanta.
— Você está certa, Olivia. Se essas pessoas são realmente devotas à fé, é provável que tenham ajudado o Reverendo Norris. E se eles têm algo contra bruxos e bruxas, poderiam nos colocar em perigo se nos expormos aqui. Mas talvez haja uma solução. Lembra-se da cabana abandonada que encontramos nas últimas terras que percorremos? Podemos nos refugiar lá por um tempo, enquanto você se conecta com a natureza e usa seus poderes para procurar por pistas do Reverendo. Será um lugar seguro, onde ninguém poderá nos incomodar.
Os olhos de Olivia brilham com esperança. — Sim, a cabana seria perfeita para isso. Podemos estar mais próximos da natureza, e eu poderia me concentrar adequadamente em minha busca. Vamos fazer isso, Viktor. Vamos buscar respostas e encontrar o Reverendo Norris, nem que precisemos enfrentar o desconhecido para isso.
Juntos, eles traçam um novo plano e seguem em direção à cabana. Com o mapa em mãos, Viktor traça um caminho mais curto que os levaria lá em menos de uma hora.
A cabana abandonada se ergue solitária em meio à paisagem sombria. Sua estrutura de madeira envelhecida conta histórias de tempos passados, com tábuas desgastadas e janelas quebradas. O telhado de palha está parcialmente deteriorado, permitindo que raios de luz penetrantes iluminem a escuridão interna.
A vegetação selvagem e desordenada cerca a cabana, praticamente engolindo-a em um abraço de samambaias, heras e arbustos espinhosos. A grama alta e seca sussurra enquanto o vento sopra, criando uma atmosfera de abandono e mistério.
Por mais que agora esteja vazia e solitária, há algo na cabana que ainda emana uma sensação de conforto. Mesmo negligenciada pelo tempo e pela natureza, esta cabana abandonada preserva o que resta de sua beleza passada. É como se ela guardasse a esperança de ser restaurada, para ser mais uma vez um santuário para aqueles que a procuram com corações abertos.
Sem delongas, Olivia se afasta silenciosamente da carruagem, seguindo o caminho atrás da cabana. Ela se concentra em sua magia, abrindo suas mãos para se conectar com a natureza ao seu redor. Seus pés pisam com cuidado no solo, em harmonia com a energia da terra.
Enquanto sua intuição a guia, Olivia procura pelo Reverendo Norris, deixando-se guiar pelas pistas sutis que o universo lhe oferece. A natureza responde ao seu chamado, sussurrando segredos ocultos nas árvores e no vento.
Em meio a essa sinfonia natural, a bússola que Viktor carrega em sua mão começa a se agitar, girando desorientada. De repente, o vidro da bússola se quebra, fazendo com que ele a solte surpreso. Viktor observa pela janela da carruagem, para garantir que não há ninguém por perto. Enquanto espera ansiosamente, ele sente uma mistura de preocupação e esperança preenchendo seu coração.
Olivia continua mergulhada em sua busca mágica, sua visão se expandindo além do tempo e espaço. Ela tem vislumbres de um navio sendo preparado por pessoas que aparentam ter relações comerciais, mas também estão equipadas como se fossem piratas ou caçadores de recompensas.
Enquanto observa a organização do navio, Olivia escuta uma conversa distante entre os passageiros, indicando quando o navio partirá. Seus ouvidos captam menções ao Reverendo Norris, que entra no navio com uma mochila nas costas, usando o colar em seu pescoço, embora o mantenha escondido.
A mente de Olivia corre em busca de respostas e próximos passos. Ela retorna rapidamente à carruagem para compartilhar as informações com Viktor, seu olhar agora cheio de uma determinação renovada.
— Viktor! Eu o achei! — ela diz, entrando na carruagem.
— Isso é ótimo! Onde ele está? — ele pergunta, esperançoso.
— Está saindo daqui depois de amanhã, à tarde. Não disseram um horário, mas creio que será antes do sol se pôr. O nome do navio é Aurora Estelar.
— Aurora Estelar, certo. E qual a aparência dele?
— Como todos os outros. — ela diz, sem pensar. — Espere, é algo com a bandeira dele... O navio em si, é feito de madeira. Três mastros se erguem ao céu, suas velas são de linho branco, e sua bandeira... Sua bandeira é... — ela gesticula com as mãos, tentando se lembrar.
— Aqui, meu amor. Pena e papel. — ele a entrega, esperando que ela desenhasse o que viu.
— Obrigada, meu amor! — ela os pega com entusiasmo, fazendo um desenho breve de sua visão.
— A bandeira é composta por um fundo azul escuro, representando o profundo oceano e o céu noturno estrelado. No centro da bandeira, há um desenho de uma estrela brilhante em um tom dourado radiante. A estrela é cercada por um círculo, simbolizando a união da tripulação. Saindo do círculo, há três faixas onduladas na cor prateada, que representam os oceanos pelos quais o navio viaja.
Apesar da falta de coloração, Olivia escreve os nomes das cores no desenho, fazendo com que Viktor pudesse ter uma ampla visão da bandeira, como se estivesse a vendo de perto.
— Isso está ótimo! Estou muito feliz por ter você ao meu lado, meu amor. — ele se aproxima de Olivia e deposita um beijo em sua bochecha.
Ela o olha com alegria e motivação, seu coração se enchendo de amor, e então ela retribui o beijo em Viktor, puxando-o pelo pescoço e tocando seus lábios com paixão e desejo. Após alguns segundos, o corpo de Viktor se eletriza de sensações que desconhecia.
— O que foi, meu amor? — Olivia pergunta, com um leve sorriso.
— Nada, minha amada. Apenas estou feliz por estarmos aqui, agora. Longe das pessoas que não nos querem ver juntos, possivelmente mortos. — ele acaricia seu rosto.
Ela segura a mão dele apoiada em seu rosto. — Eu também. Que tal dormirmos aqui durante à noite? Ébano está cansado de andar, assim como eu. E, agora que sabemos exatamente por onde procurar, creio que chegaremos à tempo. — ela diz, com um olhar cheio de esperanças.
— Claro. Vamos aproveitar nosso último dia e noite juntos. — ele enfatiza.
Olivia sente seu coração afundar diante das palavras de Viktor, a incerteza tomando conta dela. Ela olha fixamente para ele, seus olhos cheios de preocupação e desejo de entender melhor o que ele está dizendo.
— Viktor, o que você quer dizer com nosso último dia juntos? Isso me parece uma despedida. — ela diz, sua voz um pouco trêmula.
Viktor suspira, reunindo coragem para expressar seus sentimentos da maneira mais clara possível.
— Meu amor, nossa jornada juntos tem sido maravilhosa, e você é a pessoa mais especial que já conheci. Mas a verdade é que nossos caminhos podem divergir. Não sabemos as consequências da quebra da maldição ainda, quanto mais seus requisitos. Temos que ter certeza do que elas significam, para saber que tudo irá dar certo.
Olivia assente. — Claro, meu amor. Podemos fazer isso agora, juntos. Quando o sol cair, você poderá caçar, trazer nossos alimentos, e então, descansaremos até amanhã. E no dia seguinte à esse, encontraremos com o Aurora Estelar.
— Me parece ótimo. — ele lhe dá um beijo acolhedor.
Olivia e Viktor planejam passar seus últimos dois dias imersos em estudos sobre o grimório, além da recuperação de seus próprios corpos e a preparação emocional e física para o final deste capítulo de suas vidas. Com sua imersão nos estudos, práticas de cuidado e apoio mútuo, o grimório lhes proporciona conhecimentos valiosos, além do que Olivia já ousou aprender em sua vila antiga. Através de sua conexão mútua, eles encontram coragem para encarar os problemas que virão.
Espero que tenham gostado, clica na estrelinha pra me ajudar a crescer 🌟
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