Capítulo 10 - Paraíso Sombrio
Após Olivia ter realizado o feitiço, ela se ajoelha na grama, exausta. As lágrimas começam a escorrer pelo seu rosto enquanto um colapso emocional toma conta dela. As emoções da culpa e remorso a consomem, pois se sente responsável pelas vidas que ela e Viktor tiraram. Apesar de seu pai ter sido um tirano e ameaçar a vida deles, o fato de ter tirado sua vida e a de seu súdito, ainda a assombra. O único homem que restou poderia querer vingança, o que também é algo preocupante. Ela se pergunta se havia outra alternativa, se poderia ter agido de forma diferente. O peso da responsabilidade e a dor do arrependimento parecem esmagá-la por completo.
Viktor, vendo o estado emocional de Olivia da carruagem, sente seu coração apertar de angústia. O sol está quase completamente baixo e ele sabe que é perigoso se expor demasiadamente à luz solar, mas decide arriscar para tentar consolar sua amada. Com coragem, Viktor sai da carruagem e imediatamente sente um leve desconforto ao ser tocado pelos últimos raios de sol. No entanto, para sua surpresa, não é um desconforto insuportável capaz de imobilizá-lo. Ele se esquiva entre as sombras das árvores, aproveitando a diminuição da luz solar, e se aproxima cautelosamente de Olivia.
Quando ele chega ao lado dela, Viktor se ajoelha suavemente e coloca suas mãos gentilmente nos ombros de Olivia. Sua voz doce transmitia segurança.
— Olivia, minha querida. Você não precisa passar por isso sozinha. — ele diz em um sussurro, o coração cheio de empatia.
As lágrimas de Olivia não cessam, e ela se agarra às palavras reconfortantes de Viktor. Ela permite que ele a segure e se apoia nele, deixando todo o peso da culpa e dor escorrerem através de suas lágrimas. Enquanto Viktor acalenta Olivia entre seus braços, ele sente a agonia emanando dela. Ele sabe que não pode simplesmente apagar o passado e as escolhas que foram feitas, mas está determinado a ajudá-la a encontrar um caminho adiante.
— Olivia, eu entendo sua dor e sua culpa. Mas precisamos lembrar que agimos para proteger as nossas vidas, e quem sabe, a vida de muitos outros. Você fez o que precisava ser feito. — Viktor diz com voz suave, buscando transmitir sua convicção.
— Eu sou uma assassina, Viktor. O que adianta nós dois chegarmos até aqui para mudar nossas vidas, mas não conseguirmos nos manter sãos? Até onde isso irá nos levar? — ela pergunta, soluçando.
Olivia solta essas palavras com um misto de desespero e frustração, seus soluços se intensificando enquanto ela luta contra o sentimento avassalador de culpa. A realidade de suas ações pesa sobre ela, deixando-a com dúvidas sobre o próprio sentido da jornada que eles empreenderam juntos.
Viktor segura firmemente o rosto de Olivia entre suas mãos, seus olhos fixos nos dela, transmitindo determinação e compreensão. Ele respira fundo antes de responder, buscando as palavras certas para ajudá-la a encontrar um caminho para seguir em frente.
— Olivia, ouça-me com atenção. Nós não podemos mudar o que foi feito, mas podemos encontrar um propósito em nosso presente e no futuro que construiremos juntos. Nossas ações foram difíceis, mas foram movidas pela necessidade de proteção e justiça. Não deixe que a escuridão consuma sua alma.
O vento sopra suavemente em Olivia, fazendo com que seus cabelos voem e cubram o seu rosto. Viktor gentilmente os afasta, colocando-os atrás da orelha dela.
— Eu sei como se sente, mas seu amor me guiou e me levou a crer que posso ter a redenção que todos têm o direito. Faça o mesmo agora. Faça o mesmo comigo, por mim, e por si mesma. — ele a pede, dando-lhe um beijo em sua mão.
Olivia engole o choro e o encara com brilho nos olhos. Uma expressão quase renovada surge em seu rosto.
— Apenas quando enfrentamos nossos erros e assumimos a responsabilidade por eles, podemos começar a construir uma vida melhor. Vamos fazer isso juntos. — ele pede, dando-lhe um olhar preocupado.
As palavras de Viktor ecoam na mente de Olivia, penetrando em sua dor mais profunda. Ela se esforça para controlar o choro, consciente da sabedoria que há na voz serena de Viktor. Com um gesto delicado, ela leva a mão de Viktor ao seu coração, sentindo-o bater contra a palma da sua mão.
— Eu não vou permitir que minha culpa me destrua completamente. Eu quero encontrar um propósito, perdão, uma maneira de redimir nossas almas atormentadas. Sei que somos capazes de redenção, sei que encontraremos paz. Acredito que temos um coração aflito buscando apenas por justiça. — Olivia responde com determinação, buscando um raio de esperança em meio à escuridão.
Viktor sorri com um brilho de orgulho em seus olhos, enquanto seus corpos se entrelaçam mais. Eles sabem que a jornada pela cura e redenção será árdua, mas estão dispostos a enfrentar o desafio, lado a lado, encontrando a luz mesmo quando a escuridão tentar consumi-los.
Com cuidado e gentileza, Viktor auxilia Olivia a se levantar e juntos adentram a carruagem. A bússola mágica continua apontando para o objetivo, guiando-os por um novo caminho que gradualmente os aproxima do Reverendo Norris.
Durante a jornada, eles compartilham os poucos alimentos que Viktor trouxe em sua sacola, saciando a fome e fortalecendo-se para os desafios que ainda enfrentarão. Olivia também oferece sua ajuda na decifração das palavras do grimório, complementando os conhecimentos de Viktor.
A noite avança e o céu fica completamente escuro, mas eles continuam seguindo em frente. A paisagem ao redor se ilumina apenas pela luz tênue da lua e a constante orientação da bússola mágica. A escuridão aumenta a sensação de mistério e suspense na jornada, instigando a determinação dos dois.
Após algumas horas, eles finalmente chegam a um local de hospedagem, situado próximo à cidade de Sinaia. A fachada da pousada é acolhedora e sugere um refúgio tranquilo em meio à natureza. Rodeada por campos verdes e ar puro, a pequena fazenda da própria pousada acrescenta um toque rústico ao ambiente. O aroma da terra fresca e da natureza circunda o ar. O barulho dos animais ecoa ao longe, com uma melodia harmoniosa de mugidos de vaca e cacarejos de galinhas no galinheiro. Viktor, apesar de ter crescido em um reino, encontra uma sensação familiar e acolhedora nesses sons e vislumbres da vida rural. Ele sente uma proximidade com a simplicidade e a autenticidade daquele lugar humilde, que o faz se sentir verdadeiramente humano novamente. Enquanto Olivia, já familiarizada com o ambiente, sente-se finalmente segura e protegida ao lado de Viktor.
Viktor interrompe a carruagem e desce primeiro, oferecendo a mão para ajudar Olivia a sair com cuidado. Eles são recebidos por uma anfitriã amigável, cujos cabelos prateados emolduram seu rosto sorridente. Ela os acolhe calorosamente, oferecendo-lhes uma estadia acolhedora e Ébano é separado da carruagem pela idosa que o leva até o estábulo, onde é lhe garantido segurança e cuidados.
Viktor, com um sorriso terno, retira alguns florins húngaros e entrega à mulher idosa em agradecimento pela hospitalidade.
— Aqui estão os florins húngaros, minha senhora. Muito obrigado pela sua gentileza e acolhimento. — diz, com gratidão em sua voz.
A mulher idosa recebe as moedas com um sorriso amável e um aceno de cabeça.
— É um prazer recebê-los em nossa pousada. Que desfrutem de uma boa noite de descanso. Se precisarem de algo, estarei aqui para ajudar — responde, demonstrando hospitalidade genuína.
Com um aceno de agradecimento, Olivia e Viktor seguem a mulher até o quarto do estabelecimento. Ela os deixa a sós com uma pequena reverência, dando-lhes privacidade.
Cuidadosamente, Olivia abre a porta de madeira e eles adentram o quarto, sentindo-se surpresos com a acomodação. Há uma cama de casal aparentemente confortável, com um colchão revestido com a macia e aconchegante pelagem de ovelhas especificamente coletadas e processadas. Essas pelagens são certamente selecionadas a partir de ovelhas criadas no próprio estabelecimento, garantindo um preenchimento macio e natural. A cama é arrumada com lençóis limpos e um edredom agradável. Ao lado da cama, uma simples cômoda oferece espaço para guardar objetos pessoais, enquanto uma janela grande leva à sacada. A cortina alta em um tom roxo escuro adiciona um toque de elegância ao ambiente. Olivia sorri encantada com a atmosfera hospitaleira do quarto e entrelaça a mão de Viktor na sua.
— Viktor, esse local é verdadeiramente especial. A preocupação com o conforto dos hóspedes é notável. Nossa estadia aqui será maravilhosa. — diz ela, seus olhos brilhando de gratidão.
Viktor retorna o sorriso, apreciando a tranquilidade que envolve o ambiente. Ele sente-se em paz e conectado com a simplicidade e a autenticidade daquele espaço.
— Concordo plenamente, Olivia. Estou grato por estarmos aqui juntos.
Sentindo-se abraçados pelo conforto e cuidado do ambiente, Olivia e Viktor exploram lugares diferentes. Olivia vai até o banheiro e curiosamente inspeciona o local. Um pequeno gaveteiro ao lado da banheira de madeira abriga uma bandeja com uma jarra de água limpa, um pano macio e alguns suprimentos básicos de primeiros socorros.
Com entusiasmo, Olivia retira a faixa que envolve o ferimento de seu braço e limpa-o suavemente com a água. A dor diminui gradativamente, e ela sente alívio ao ver que a ferida começa a cicatrizar. Em seguida, usa um pano limpo e estéril para cobrir o machucado e protegê-lo de possíveis infecções. Quando ela termina de cuidar de seu braço, ela retira suas roupas e toma um banho reconfortante na banheira.
Antes de se recolher para descansar, Viktor deixa o grimório e suas pesquisas sob a cômoda ao lado da cama e abre a grande janela da sacada, decidindo aproveitar a vista da paisagem da pousada. Os campos verdes, estendendo-se até onde a vista alcança, cercados pelas majestosas montanhas ao longe, cativam profundamente seu coração. Enquanto Viktor vislumbra da paisagem, ele ouve o longo uivo de uma coruja noturna ecoando entre as árvores majestosas de abetos e carvalhos que cercam a cidade de Sinaia. A presença imponente dessas árvores, juntamente com a bétula de tronco branco e o abeto-silvestre com suas agulhas verdes, criam uma paisagem arrebatadora e mágica.
Olhando para o céu estrelado, Viktor nota a lua em seu penúltimo estágio, quase completamente cheia. A luminosidade prateada que ela emana dá-lhe calafrios, mas também desperta sua curiosidade. Ele se pergunta quantos dias faltam para a lua cheia, e deseja abordar Olivia sobre o assunto, para que ela possa lhe ajudar a descobrir.
Após um banho revitalizante, Olivia se junta à ele na sacada, envolvendo-se na brisa suave da noite. Viktor, com curiosidade em seus olhos, vira-se para ela e pergunta com um sorriso:
— Olivia, fico feliz que tenha cuidado de si mesma. Você está bem, meu amor? — ele pergunta, seus dedos passeiam por seu cabelo molhado.
— Estou me sentindo renovada, meu amor. E você? — ela pergunta, com um sorriso leve se formando nos lábios.
— Estava vendo a paisagem. — ele suspira fundo. — Seria perfeito, se a lua não fosse um lembrete da minha próxima transformação. Você consegue averiguar quando será a próxima lua cheia? Sinto que precisaremos nos apressar ao amanhecer.
Olivia sente um leve aperto no coração ao ouvir a pergunta de Viktor. Ela esperava o momento certo para revelar o que já descobrira sobre as fases lunares, mas temia que fosse difícil compartilhar essa informação delicada com ele. Ela olha para ele, cautelosa e pensativa, antes de finalmente responder:
— Viktor, eu... Na verdade, eu já verifiquei quando será a próxima lua cheia. Mas eu queria esperar o momento certo para discutir isso com você. É uma questão complexa e acredito que essa revelação possa ser um choque para você.
Espero que tenham gostado, clica na estrelinha pra me ajudar a crescer 🌟
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