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O teto da sala era bem alto naquela parte e iluminado por uma grande lâmpada de LED, localizada bem ao centro.
Mesmo conseguindo olhar somente o perfil dos dois rapazes, era fácil de identificá-los. Pedro estava conversando de uma forma muito concentrada e baixa com Erick. Os dois ignoravam completamente a cena horrenda que acontecia a poucos passos dele.
Reconhecia os cabelos da mulher que tinha perseguido até ali. Ela estava em pé, e me cobria a visão do homem que estava sentado numa cadeira, fazendo diversos cortes no braço de uma pessoa que estava deitada e amarrada numa espécie de maca, daquelas que são equipadas com diversas amarras para manter a pessoa firme no local.
Não sei como o irmão de Nicolau e o Pedro conseguiam manter uma conversa normal com a pessoa amarrada na cama gritando descontrolada.
Era o atual prefeito ali deitado.
Pensei que ele tinha sido engolido e morto pela explosão de mais cedo, mas pelos gritos desesperados que ele estava dando, ele estava bem vivo. Não sei por quanto tempo ele aguentaria aquela sessão de tortura tenebrosa, mas ele ainda estava vivo.
Tinha a certeza em mim que o prefeito merecia a sua dose de sofrimento, mas quando eu pensava no sofrimento dele, não imaginava ser uma coisa tão crua e dolorida assim. Pensei em algo mais parecido com uma perca de poderes, quem sabe até uma prisão.
Mesmo odiando aquele homem, ninguém merecia estar amarrado em uma cama e ser torturado assim.
Nenhuma das pessoas que estavam ali pareciam se importar com o sofrimento do prefeito, e fiquei espantada ao ver um pequeno sorriso de satisfação nascer no rosto do Pedro ao olhar na direção da maca e observar o seu sorriso alargar cada vez mais com cada grito que saia sofrido da garganta do prefeito.
– Vocês já conseguiram o que queiram! Eu já admiti tudo o que fiz para vocês! O que mais vocês querem de mim?! – o prefeito grita desesperado quando o homem que o cortava dava uma pequena trégua em sua tortura.
– Você sabe muito bem o que eu quero de você – Pedro diz, se aproximando da maca e segurando com força o rosto do prefeito.
– Pedro, seja racional seu moleque! – agora que o prefeito não gritava, eu conseguia escutar os outros barulhos do armazém. Conseguia escutar o que eles falavam com clareza.
– Você não está numa posição que é recomendável chamar ninguém de moleque. Você não tem saída. Tem certeza que quer continuar me chamando assim? – quase não reconheci o tom do Pedro. Era como se tivesse outra pessoa ali usando seu corpo e sua voz.
– Mas isso é o que você é... Um moleque que está perdido demais depois que o papaizinho foi assassinado e não pensa nas consequências dos seus atos!
– REPETE! – Pedro diz possesso.
Acredito que o prefeito não esperava a mão de Pedro descer com tanta velocidade e força em seu rosto. O barulho do soco foi tão alto, tão seco que me fez recuar um pouco o corpo, me fez ficar petrificada no meu lugar.
Uma cena dessa alguns meses atrás não me chocaria tanto assim, mas não sei se era o fato de estar grávida, ou o fato de ser uma pessoa que eu conhecia e sinceramente não esperava um comportamento assim, que eu não consegui afastar o tremor que tomou conta do meu corpo.
Nicolau percebe a cena e me puxa para seu encontro, segurando com delicadeza a minha cabeça e desviando o meu olhar de Pedro.
Eu não via mais, mas consegui contar os socos que foram desferidos. Um. Escuto outro. Mais outro. Quando pensei que ele tinha terminado ainda escuto outro barulho seco. Pedro deu mais quatros socos no prefeito antes de parar.
Escuto uma tosse sofrida e me viro bem a tempo de ver o prefeito cuspir um monte de sangue no chão.
– Ainda quer ficar de gracinhas excelentíssimo? – Pedro diz, sacudindo um pouco seus punhos no ar.
– Uma coisa eu tenho que admitir... Você realmente tem coragem Pedro... E eu que pensei que você fosse um cara mais observador... Mordi a língua. Quando precisa, você sabe colocar a mão na massa – o prefeito diz entre respirações bem entrecortadas.
– Você deveria ter pensado melhor nas suas ações antes de fazer o que você fez... Assim não teríamos chegado a esse ponto.
– Se você espera que por me amarrar aqui, explodir o meu discurso, e me torturar vão trazer algum tipo de conforto para você, tenho que dizer que você está completamente enganado.
– E o que você sabe sobre mim? E parou de ter o direito de pensar sobre a minha vida quando resolveu matar a melhor parte dela.
– O Coronel não cumpriu a sua parte no acordo... Ele sabia que isso poderia acontecer com ele se não seguisse as regras...
– Bastava um recado... Não precisava matá-lo...
– As vezes um recado não é o suficiente... Pedro, agora você sabe que um recado não passa a mensagem certa. Se quiser um recado bem dado, você mesmo tem que dar.
– Disso eu não tenho dúvidas agora.
– Se seu pai tivesse permanecido de olhos fechados para os erros dessa cidade ele ainda estaria aqui, daqui a poucos meses estaria no comando da cidade. Mas ele não suportou ficar de bico fechado, tinha que mexer onde não foi chamado...
– Meu pai sempre foi um homem bom, o melhor que conheci. O seu senso de justiça deve ter falado mais alto do que o dinheiro ou o poder envolvido. Ele não conseguiria dormir se não denunciasse o que viu. Assim como eu não dormirei se eu não fizer o que vim aqui fazer. E não quero saber mais disso. Sei bem das ações do meu pai, sei que ele não queria que eu me envolvesse em tudo isso, mas não tem mais jeito. Meu pai não vai voltar a vida, não importa o que você diga. Não importa o que eu faça. Agora é só uma questão de acerto de contas para mim...
– Entendo... Então não há nada que eu possa fazer.
– Exato... – Pedro saca uma arma e aponta para a cabeça do prefeito. – Você quer dizer as suas últimas palavras?
– Só faça.
E ele o fez. Três disparos e um silêncio ensurdecedor se instalou. Pedro joga a arma no chão, perto da maca e mesmo ele falando extremamente baixo, consegui escutar os fantasmas em sua voz.
– Isso foi por mim. Meu pai não merecia isso, e você não tinha o direito de mandar assassiná-lo.
Pedro dá as costas para a cena e vejo suas costas tremerem de leve. A mulher vai para o seu lado e parece querer consolá-lo de algum jeito. Os dois homens agora começam a conversar e Erick pega no ombro do homem que eu ainda não sabia quem era.
– Então doutor... Falta alguma coisa para o pedido que você recebeu? – Erick dá um tapa descontraído no ombro do homem. E ele vai virando devagar e eu tenho que controlar um grito e minha vontade de sair correndo em sua direção e dar uns bons socos na cara daquele infeliz.
Lá estava o Leonardo, com luvas de látex, um bisturi na mão e alguns elementos cromados no bolso frontal de um jaleco bem encardido. Então era ele a quarta pessoa? Era ele que retirava os órgãos e pele das vitimas? Meu coração perdeu uma batida e só de pesar que a Vanessa estaria morando junto, ou pior, casada com esse dissimulado... Me senti mil vezes pior... Ah Vanessa...
– Só precisava mais dessa pele de mão... Então vou receber o ordenado. E como combinado, vocês vão receber quarenta por cento do ordenado...
– Não me lembro de ter ganhado dois milhões assim tão facilmente... – Erick diz com um sorriso triunfante e escuto os dentes do Nicolau ranger atrás de mim. Ele também se segurava ali.
– Pois então deixa eu começar o meu trabalho, você sabe como essa coisa de retirar a pele demora. Quero ver se consigo bater o meu recorde e fazer o serviço em três horas.
– Vou te deixar trabalhar então... –Erick diz, se afastando e eu tenho que desviar o meu olhar da cena. A primeira incisão mexeu com o meu estômago, e não queria fazer barulho quando eu vomitasse.
Agora tudo estava silencioso, não escutávamos muita coisa além do tic-tac de um relógio que não consegui ver onde estava. Tudo estava real demais. E eu estava ficando nervosa por ainda não ter nem notícias da polícia. A cada minuto que passávamos ali, estávamos correndo um risco. Mas não tinha como sairmos de lá agora.
Escutamos passos apressados se aproximando de nós, então temos que mudar o nosso esconderijo e nos escondemos atrás de três caixas grandes de madeira. Merda! Estava tão envolvida vendo tudo isso que acontecia na minha frente, que eu me esqueci que tinham mais pessoas ali dentro daquele armazém. Não poderíamos dar nenhum passo em falso.
Dois homens com pistolas em punhos corriam de forma organizada para dentro da sala onde aquelas quatro pessoas ainda interagiam. Um era bem baixo, extremamente forte e ostentava longos cabelos pretos. O outro era magro e andava um pouco mais devagar, pois parecia que mancava um pouco da sua perna esquerda, careca e a pele com diversos cortes e cicatrizes.
– Encontramos os dois seguranças que faziam a segurança da porta! Com ele mais alguns companheiros pelo caminho. A segurança do local foi comprometida! – o homem mais baixo diz e parece bem preocupado.
– Vocês são bem incompetentes! – a mulher esbraveja e ergue os braços.
– Será que o prefeito tinha alguma carta na manga? – Erick pergunta baixo, direcionando as suas palavras para o Pedro.
– Não seja precipitado. Conheço bem esse homem. Ele não tinha nada. Tudo o que ele tinha, foi lhe dado por nós. Esse homem era um belo de um inútil e ingrato, isso sim – Leonardo diz com naturalidade, retirando as luvas de látex que utilizava e guardando em seu bolso.
– Mas e se nós tivermos sido seguidos? – Pedro pergunta, e se dirige a janela, olhando entre as venezianas, procurando por qualquer atividade suspeita.
– Ninguém nos seguiu Pedrinho – a mulher se aproxima de Pedro, alisando com cuidado suas costas. – Eu tenho certeza disso. Vim olhando o caminho todo!
– Mas então como foi que conseguiram nos encontrar aqui Lisa?! – Pedro diz alterado, fugindo do carinho que a mulher lhe oferecia.
– Acho que isso é o que vamos descobrir agora Pedrinho... Não se preocupe, eu volto logo – ela sorri de uma forma perturbadora.
Nem sei da onde aquela mulher tinha retirado aquilo, mas ela saca uma arma e num movimento que não tinha como prever, ela dispara sua arma duas vezes, acertando com facilidade a cabeça dos dois homens que tinham entrado ali para avisar dos intrusos.
– Lisa!! – Erick briga com ela. – Já te disse umas mil vezes que não é pra sair assim matando as pessoas que fazem a nossa segurança! Dá muito trabalho encontrar esse tipo de gente!
– Não sei aonde você encontra esse povo Rick, mas sinceramente não consigo engolir esse povo tão incompetente! Não tenho a menor paciência para aguentar esses inúteis que não conseguem nem fazer o trabalho deles direito!
– Pois você que vai arrumar as pessoas da próxima vez, quero só ver você conseguir encontrar alguma pessoa que se encaixe nos seus padrões impossíveis!
– Espere e verá Rick meu querido! – ela sorri e olha para os lados. – Acho que isso vai ser que nem nos velhos tempos. Eu sendo a minha própria segurança!
– Tenho é pena da pessoa que você encontrar Lisa! – Leonardo ri alto.
– Espero que seja divertido! – ela diz com uma alegria que era sinistra demais. Ela sorria de ponta a outra e ainda dava pequenos pulinhos.
– Acho melhor você e o doutor ficarem aqui enquanto eu e a Lisa olhamos por aqui, tentando encontrar o invasor... – Erick diz decidido.
– Ou invasora! – Lisa complementa.
– Vamos ficar aqui – Leonardo responde, já que o Pedro parece estar perdido demais em seus pensamentos para dar importância para qualquer coisa que seja discutida agora.
– Leo, cuida bem do meu Pedrinho viu? Se alguma coisa acontecer com ele, eu vou ficar muito puta da vida, e você não quer me ver puta!
– Vai logo sua linguaruda! – Leo reclama e ela começa a se aproximar da porta.
A cada passo que ela dava mais perto, mais eu prendia a minha respiração. Somente quando ela e o Erick não podiam mais ser vistos por nós, foi que eu me permiti respirar novamente. Olho novamente para dentro da sala, e o Pedro estava sentado no chão, com a cabeça entre os joelhos e balançava rapidamente para frente e para trás. Leonardo olhava distraído pela janela.
– O que faremos agora? – Nicolau pergunta baixo em meu ouvido.
Agora? Bem, estávamos em território desconhecido, em desvantagem numérica, e tínhamos tudo a perder ali. Mas o que faríamos? Bem, nos tínhamos entrado ali e daríamos um jeito de sair.
Oi pessoal! Quem esperava que o Pedro surtasse assim e ele mesmo matasse o Prefeito?! Algo se quebrou dentro dele e será que não vai ter mais jeito?
Bom, e o Leo? Sei que muita gente já estava desconfiando do rapaz, então acho que não foi surpresa pra quase ninguém... Kkkkkk
E temos o nosso quarteto do perigo! Eles já sabem que não estão sozinhos ali... Será que eles tem algum medida de contingência? O que acham que vai acontecer agora? Se gostaram do capítulo não se esqueçam de deixar o voto e/ou comentário de vocês!
Até o próximo capítulo e estamos já na contagem regressiva 💔 Beijos melhores leitores :*
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