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– Bem que eu gostaria disso, mas infelizmente não consegui ver muita coisa... Acho que nem com ferramentas de edição e corte, vamos conseguir uma boa imagem do perfil dele...
– Imaginei... – mordo o lábio e tento me manter calma. – Não consigo deixar de ficar preocupada por conta desse vídeo Nicolau... Estamos em perigo por ter visto essa filmagem?
– Muito provável que sim... Não deve demorar muito para descobrirem que eu tenho aquelas câmeras. E vão saber que assistimos...
– Não tem como escapar dessa não é?
– Tem um modo, mas acho que é perigoso demais...
– Também pensei nisso... Se conseguirmos encontrá-los primeiro, quem sabe teremos uma chance... Mas como encontrar alguém que não se sabe quem é?
– Fica quase impossível. Mas atente para a palavra quase. Vou aproveitar os poucos momentos que temos onde eles ainda não sabem que nós os vimos...
– Não sei se essa é uma boa ideia Nicolau – meu coração aperta somente com a possibilidade de alguma coisa acontecer com ele. Não sei o que eu faria. Eu já tinha perdido pessoas mais do que suficientes...
– Eu vou tomar cuidado meu amor... – ele me dá um beijo na testa. – Mesmo sem querer, eu vou ter que tentar dormir agora. Amanhã eu tenho um dia cheio.
– Tudo bem, vem aqui então – o abraço bem apertado e embalo o seu sono.
Acabei dormindo bem mais rápido do que eu esperava. Um sono tranquilo, sem pesadelos, como eu há algum tempo não tinha, fiquei imensamente descansada.
° ° ° ° °
Sou desperta por um cheiro que eu conhecia muito bem.
Café. Extremamente forte. Quente. Hummm, eu sempre adorei o cheiro de café pela manhã... Mas só um momento.
O meu estômago revira de um jeito que chega a me assustar e eu corro do jeito que dá até o banheiro e vomito compulsivamente na pia. Ainda bem que o Nicolau não estava dormindo ao meu lado. Mesmo me livrando de todo o conteúdo do meu estômago, a sensação de enjôo não passou.
Lavo o rosto e tento me recompor. Escovo os dentes e prendo o meu cabelo. Estou um pouco melhor quando saio do banheiro.
Não contenho um sorrio ao ver o Nicolau na porta no quarto, segurando uma xícara de café. Conseguia ver a fumaça saindo da caneca. Era disso que eu estava precisando.
– Bom dia linda. Acordei mais cedo e fiz um café especialmente forte pra você acordar...
– Hum, estou precisando...
– Aqui mandona – ele sorri e começa a se aproximar de mim, mas assim que o cheiro de café me atinge, mais uma onda de enjôo bate com força em meu estômago.
Tento conter a minha cara de pânico quando coloco uma mão na boca e corro mais uma vez para o banheiro para vomitar. E um forte pensamento invade a minha mente. Enjôos matinais. Cheiros que ficam insuportáveis. Será possível?
Meu coração bate forte no peito e meu estômago mais uma vez se agita e coloca nem sei o que para fora. Minha respiração está cortada e difícil. Meus olhos arregalam e fico sem saber o que pensar.
– Ih meu amor, você comeu alguma coisa estragada? – Nicolau pergunta entrando no banheiro, ainda segurando a maldita xícara do café.
Meu nariz queima e mais uma vez vomito. Eu amo cheiro de café. Não deveria estar me sentindo assim...
– Leva esse café embora Nicolau. Por favor – imploro, fazendo gestos com minhas mãos, querendo afastar aquele cheiro de mim. – Leva esse cheiro pra longe – e lá vai meu estômago mais uma vez se pronunciar.
Por cima do meu barulho consigo escutar os passos do Nicolau se afastando e o cheiro aos poucos vai sumindo. Meu estômago vai se acalmando, mas me sinto um pouco fraca. Dou descarga e me ergo com um pouco de dificuldade.
Nicolau entra no banheiro e me olha um pouco mais sério do que o normal. Ele segura meus ombros e ergue o meu rosto, para que eu possa encará-lo. Abre e fecha a boca diversas vezes, até que fecha os olhos e toma uma grande respiração.
– O que você está sentindo? – ele pergunta.
– Estou um pouco enjoada, mas nada demais...
– Olha mandona, sei que não começamos a namorar há muito tempo, mas eu nunca vi você assim... Era o cheiro do café... Era... – ele olha para a minha barriga e não fala mais nada.
– Não sei. Na verdade pode não ser nada. Na verdade, eu acho que não é nada. Somente as últimas semanas no mínimo conturbadas, finalmente cobrando o preço delas...
– Mas e se... – suas mãos descem dos meus ombros e seguram minha cintura com carinho.
Agora que ele me atentou ao fato, minha menstruação está de fato atrasada, mas pensei que fosse o estresse que estivesse atrapalhando, nunca pensei que eu talvez estivesse...
– Nico, não vamos colocar a carroça na frente dos bois... Provavelmente não é nada. Mas vou fazer um exame, só pra descarrego de consciência...
– Quer que eu vá com você?
– Não precisa disso Nico... Ainda nem sei quando é que vou conseguir marcar uma consulta... Mas qualquer coisa, eu ligo para você.
– Claro – ele abre um sorriso tão feliz que quase não consigo esconder a minha surpresa.
– Ei! Sério mesmo que você está sorrindo assim por causa de uma pequena possibilidade de eu estar grávida?
– Pensei que não fosse ficar feliz. Na verdade sempre pensei que eu fosse ficar em pânico, mas quando parei para pensar agora, um pequeno pedaço meu e seu correndo por aí não seria uma coisa tão horrível assim...
Não consigo segurar a gargalhada. Joguei a minha cabeça para trás de tanto rir. Fazia tanto tempo que eu não ria assim. Ri tanto, que minha barriga começou a doer. Ri tão fácil que o sorriso permaneceu.
Parecia que fazia uma eternidade que eu não me divertia desse jeito. Parecia que fazia muito tempo que eu não sentia essa felicidade tão verdadeira.
– Que bom que a minha alegria diverte você – ele diz de um jeito engraçado e vai me puxando para um beijo, mas no meio do caminho, ele desiste. – Você fica tão linda quando está sorrindo que quase me fez esquecer que está com a boca cheia de vômito.
– Deixa de ser exagerado... Então deixa eu ir escovar os dentes... – me livro dele sorrindo e mais uma vez faço a minha higiene bucal.
– Enquanto você terminar de tirar o gosto da boca, vou na cozinha pra ter certeza que não tem mais café por lá... Será que você vai sentir a mesma coisa com suco de laranja?
– Acho que não – digo com a boca cheia de pasta.
– Te espero na cozinha mandona – ele dá um beijo em meu ombro e vai para a cozinha.
Assim que a porta do banheiro se fecha, eu cuspo a pasta na pia. Minhas mãos vão institivamente para a minha barriga e tento ver se há algo de diferente. Mas não consigo notar nada.
O sorriso não quer deixar os meus lábios e eu me permito ficar um pouco animada com a possibilidade. Eu bem que estava precisando de alegria na minha vida. Mas ainda não sei ao certo do que pensar sobre isso.
É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. A vida começou a acelerar e não me dava tempo de pensar nas minhas ações. Não poderia ficar na dúvida, hoje mesmo vou marcar um exame... Não confio muito naqueles testes de farmácia. Quero saber o quanto antes.
Quando eu chego na cozinha, me impressiono com a quantidade de comida que tem ali. Minhas frutas favoritas cortadas, algumas torradas, e uma caixa de suco de laranja. Ele tinha realmente preparado a mesa para o café da manhã.
– Uau... Não sabia que você era prendado assim...
– Poxa mandona, assim você me avacalha... Não sou tão inútil assim que não sei nem cortar um mamão ou arrumar uma mesa – ele diz se fazendo de inocente.
– Eu sei... Estou brincando com você... – fico de ponta de pé e lhe dou um selinho – Obrigada, você é um amor.
– Vamos sentar e comer, que eu estou morrendo de fome. Já que a minha barriga não vai acordar com café, que acorde com o monte de comida que vou ingerir.
– Vamos – sento e começo a comer algumas frutas. Nicolau se ocupa em fazer ovos mexidos e come alguns pedaços de fruta comigo. – Pensei que você tinha dito que o seu dia hoje ia ser bem corrido... Não me leve a mal, mas a visão de você com uma frigideira na mão, de cueca, não me passa a imagem de uma pessoa que está ocupada com horários e prazos hoje...
– Eu posso ter o dia que for mandona, mas eu sempre vou arrumar um tempinho pra ficar bem tranquilo e descontraído com você...
– Não sei como você consegue ser tão fofo assim à essa hora da manhã. Eu ainda estou um zumbi... – sorrio e abocanho um pedaço de torrada e empurro para dentro com um pouco de suco de laranja.
– Mas uma zumbi incrivelmente gostosa... – ele morde o meu ombro e eu solto uma risada.
– Ei! Eu que sou a zumbi aqui... Eu que dou as mordidas – deixo o meu suco e torrada para trás e começo a minha missão de morder o Nicolau.
Nem preciso dizer que eu fiz ele pedir penico de tanto que eu mordi os braços e costas dele. Mas o dever o chamava e Nicolau foi resolver alguns assuntos de trabalho.
Eu comeco a pensar se aquela não era uma boa hora para começar a pensar o que eu faria para me sustentar agora. As minhas reservas ainda estavam garantidas, mas não queria abusar demais delas. Tinha que dar um jeito de voltar a ter uma renda.
As únicas coisas que eu sabia fazer era ser da polícia e cantar. Mas acho muito pouco provável eu conseguir fazer qualquer um dos dois nessa cidade. Concentrando nas coisas que eu posso fazer hoje, consigo ligar para o meu ginecologista, e o danado ainda conseguiu me encaixar numa consulta hoje.
° ° ° ° °
Não me lembro de estar tão impaciente assim alguma vez numa sala de espera.
Meus saltos batiam repetidamente no chão liso e limpo do consultório enquanto eu esperava a minha hora de ser atendida. Cinco minutos depois do horário da minha consulta, a secretaria diz que eu já posso entrar na sala.
– Vivian! Que bom te ver! Linda como sempre! – o doutor me cumprimenta e eu sorrio. Éramos um pouco mais do que conhecidos, já que eu tinha salvado o namorado dele de um tiroteio logo nas minhas primeiras semanas aqui.
– Olá Pietro! Desculpe marcar essa consulta tão em cima da hora... Mas é como eu expliquei ao telefone... Isso é meio que urgente...
– Sim, então porque não senta logo ali na cadeira. A enfermeira já está vindo retirar a amostra do seu sangue...
– Claro...
A enfermeira vem pegar o meu sangue e fiquei surpresa quando descobri que os resultados sairiam em menos de meia hora. Enquanto dos exames não ficavam prontos, fiz os meus exames de rotina, e aparentemente estava tudo normal comigo.
Pietro conversava comigo e tentava me distrair sem muito sucesso. Cada vez que a porta abria, meu coração quase parava. Eu queria muito saber o resultado.
– Que tal fazermos o seguinte... Tem uma sorveteria muito boa aqui na esquina, que tal irmos lá, conversar um pouco mais... Quem sabe assim você não fica olhando pro relógio a cada dez segundos...
– Certo – digo com um sorriso fraco e acabo aceitando.
E deu certo. Quando voltávamos para o consultório dele, eu já não estava tão nervosa assim. Estava rindo e com a barriga cheia de sorvete de chocolate com menta. Sua secretaria assim que voltamos, avisa que os exames tinham chegado.
E o nervosismo volta com força total.
– Vamos ver se as suas suspeitas vão acontecer mesmo? – Pietro diz, abrindo um grande envelope branco que estava em cima da mesa dele. Conseguia ver o meu nome no exame. Minhas mãos suavam assim? Enxugo em minha calça jeans e respiro fundo, tentando me preparar para os dois casos.
Era isso, o momento da verdade.
Então é isso pessoal. Chegamos ao momento da revelação. Será que ela está mesmo, ou é tudo uma enorme confusão da cabeça dela? Deixem aqui nos comentários o que vocês acham ;)
Até o próximo capítulo, com o resultado dos exames da Vivian. Um beijo e até a próxima ;*
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