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– Por favor, me diz que isso não é o que eu estou pensando... – digo nervosa, saindo de dentro do carro.
– Não sei ao certo o que é. Mas parece um pouco diferente. Olha a letra.
Ele tinha razão nesse ponto. As ameaças que recebia eram sempre com uma letra cursiva muito bonita. Essa era uma letra diferente, e para mim quase que familiar. Fiquei completamente dividida se abriria o envelope ou não.
– Você acha que eu devo abrir?
– Vivian, eu estou aqui para apoiar as suas escolhas, seja elas quais forem. Mas se você quiser saber mesmo a minha opinião, eu acho que você deve abrir sim.
– Certo.
Pego o envelope e vou para dentro de casa. Nicolau fica ali fora para fechar tudo e diz que muito em breve entra. Destranco a porta da frente e vou andando devagar, com receio que alguém ainda poderia estar ali dentro. A mesma pessoa que entregou esse envelope.
Mas não há ninguém lá.
Vou direto para a minha saleta onde ficam as câmeras. Vou tentar ver se eu consigo ver quem foi a pessoa que deixou esse envelope aqui dentro, mas não vi alma viva no vídeo, somente o envelope sendo jogado para dentro por um homem alto com a cabeça baixa.
Vou sentar na sala e deixo o envelope entre as minhas pernas. Meus dedos traçam a linha que o fecha e a curiosidade fala mais alto nesse caso. Abro e retiro todo o conteúdo de dentro do envelope.
A primeira folha que eu vejo é uma carta, a letra na qual a carta foi escrita era similar a letra do meu nome no envelope. A carta era endereçada à mim. E fiquei um pouco surpresa ao descobrir quem tinha escrito.
"Vivian. Aqui quem te escreve é o Tadeu Barroso, ou Coronel Barroso, como queira. Se você está recebendo esse envelope, é porque alguma coisa aconteceu comigo e eu estou morto. Muito mórbido estar escrevendo isso para você, mas são poucas as pessoas que eu posso confidenciar essas informações... Não preciso nem explicar para você o conteúdo desses arquivos que estou te entregando, sei da sua capacidade e sei você vai tirar a mesma conclusão que eu ao analisar tudo com cuidado. Você pensa que saiu do jogo, mas o jogo está querendo voltar para você. Infelizmente essa é a realidade. Olhe sempre por cima do ombro e boa sorte, seja qual caminho você seguir."
Estou em choque. O conteúdo que ele tinha dito era um monte de provas contra o prefeito e mais um monte de gente com ele envolvida. Desvio de verba, cartel de drogas, e assassinatos. Aqueles arquivos eram perigosos demais.
– Puta que pariu! – digo alto e jogo os arquivos em cima da mesa. Mas o que diabos era que o Coronel queria que eu fizesse com isso? Eu não quero mais me envolver nesses problemas...
– O que é isso Vivian? – Nicolau pergunta preocupado. – Você está branca...
– O envelope era do Coronel, e o conteúdo, bem o conteúdo é bom o suficiente para mandar uma boa parte da "sociedade" de Capella para a prisão.
– Como assim?
– Pode pegar aí, e ver com os seus próprios olhos...
Nicolau analisa os papéis por cima e a sua cor também se perde. Ele parece tão perdido quanto eu. Acho que não adianta muito perguntar para ele o que eu faço agora. Mas sei de uma coisa que eu posso fazer agora.
Fico de pé e reúno todos os papéis. Junto tudo novamente dentro daquele envelope e os coloco dentro de uma gaveta na sala que eu nem passo por perto, nem a abro muito.
– Não preciso ficar vendo esses arquivos o tempo todo.
– Certo... – o celular do Nicolau começa a tocar e ele diz que e trabalho, então se afasta um pouco para atender.
Aquela gaveta parece pegar fogo. Ainda não tenho certeza do que eu vou fazer com aqueles documentos. Se o Coronel, que com certeza tinha muito mais influência que eu, acabou sendo morto por causa daquelas coisas... Não me parece muito inteligente pagar para ver e soltar aquelas informações.
– Vou ter um jantar de negócios mais tarde... Um possível comprador de um dos meus hotéis – Nicolau diz voltando a sala.
– Que maravilha...
– Quer me ajudar a escolher um terno pro jantar mais tarde?
– Isso é um convite para te ver sem roupa?
– Claro que sim. E então topa? Quem sabe eu te ajudo a escolher uma roupa pra você usar mais tarde também...
– Mas eu não vou a lugar nenhum... – digo entrando na brincadeira.
– Ah mandona... Eu planejo levar você pra um lugar bem alto daqui a pouco, sabe? Ali, bem pertinho das nuvens... – ele ri e me puxa para me dar um beijo. Estava tão envolvida com o beijo que nem percebi que a minha irmã tinha entrado em casa.
– Vocês sabem que tem um quarto bem pertinho de vocês, não sabem? – ela diz na brincadeira, quando eu paro de beijar o Nicolau.
– E perder a chance de você nos pegar aqui na sala? Nunca! – Nicolau diz na brincadeira e me dá um beijo na testa. – Mas aproveitando a oportunidade, eu vou indo logo pro carro, você me encontra lá mandona? Depois a gente se fala Vanessa... – Nicolau se despede e sai da sala.
– Sim... Oi Van! – cumprimento minha irmã.
– Viv!
– O que veio fazer em casa?
– Vim pegar mais algumas coisas minha, estou fazendo a minha mudança aos poucos sabe? Assim fica mais fácil...
– Então mana, estava aqui pensando. Você agora é noiva, vai mudar pra casa do Leonardo e tudo mais, mas eu ainda queria que tivéssemos uma noite só nós duas, para um jantar de comemoração, o que você acha?
– Amei a ideia Viv. E que tal hoje?
– Por mim, pode ser. Eu já tinha combinado de sair hoje a tarde com o Nicolau, mas no começo da noite eu já devo estar de volta... E pode escolher o restaurante que você quiser, que hoje é por minha conta. Aí eu venho pra casa e vamos juntas.
– Não precisa se preocupar com isso mana, eu vou de táxi mesmo, não precisa vir não. Vamos perder tempo demais.
– Se você diz... Então vou pegar uma roupa aqui pra me trocar – pego um vestido branco que eu gostava muito do armário e um conjunto de roupa de baixo para tomar um banho mais tarde.
– Combinado então. Hoje, às oito da noite naquele restaurante muito bom de frutos do mar, lá no centro da cidade... Pode ser?
– Nos vemos mais tarde mana. Tranca tudo quando sair, certo? Pode deixar que eu ligo pra fazer a reserva... – dou um beijo em sua bochecha e vou para a minha tarde de "trocar roupas" com o meu namorado.
° ° ° ° °
Nicolau estaciona o carro na frente do restaurante com dez minutos de antecedência. Ele vai para o jantar de negócios dele e eu peço a mesa que eu tinha reservado mais cedo. Ainda consigo ver o meu namorado numa mesa não tão distante da minha. Ele está com a sua pose de negócios e lindo com o terno que eu tinha escolhido para ele mais cedo.
Mando uma mensagem para a Vanessa avisando que eu tinha acabado de chegar.
"Pede logo um monte de camarão pra mim, que eu estou terminando de me arrumar e estou morrendo de fome. Já pedi o táxi, devo estar chegando por aí em quinze, ou vinte minutos."
"Pode deixar, vou pedir o maior prato de camarão que eles tiverem."
"Obrigada mana, você é a melhor. Te amo. Chego em vinte minutos :*"
Sorrio e guardo o meu telefone na bolsa. Chamo o garçom e vou logo fazendo o meu pedido e o da Vanessa. Vejo que o possível patrocinador do Nicolau chega e a conversa dos dois corre sem nenhum problema. Orgulho desse namorado.
Os minutos vão passando. Dez minutos viram vinte, que viram trinta. O pedido fica pronto e o garçom vem me perguntar se eu gostaria de esperar minha acompanhante para comer. Digo que sim e olho para o relógio mais uma vez.
Já tinham passado quarenta e cinco minutos e nada da Vanessa. Ligo lá pra casa e ninguém atende. Bom, pelo menos ela já saiu de casa. Ligo para o celular dela e dá fora de área. Ah, Vanessa e essas manias dela de deixar o celular desligado... provavelmente ela nem percebeu.
Pode ser que ela esteja presa no trânsito. Abro um aplicativo no meu celular que me permite ver se há algum ponto de engarrafamento por perto.
Meu coração aperta quando eu vejo que todos os caminhos para cá estão completamente livres. Porque ela ainda não tinha chegado? Ligo para o Leonardo, torcendo muito para que ele esteja com ela.
– Oi Vivian! – Leonardo diz com uma voz cansada.
– Oi Léo, a Vanessa está por aí com você?
– Não... Tive que remarcar o meu encontro com ela hoje, tive que ficar no hospital de plantão... Mas o que foi? Aconteceu alguma coisa? – a voz dele muda muito, e sinto sua preocupação.
– Não sei, a Vanessa está atrasada para o jantar que eu marquei com ela.
– A Van é assim mesmo Vivian... Ela sempre se atrasa uns bons vinte minutos.
– Ah, bom, certo Léo. Obrigada.
– Não há de quê. Mas só pra descarrego de consciência, você pode me mandar uma mensagem avisando que ela chegou?
– Mando sim Leo, sem problemas. Bom trabalho.
– Obrigado.
Ele desliga e o nó que estava se formando em minha garganta não vai embora de jeito nenhum. Meu olhar fica oscilando entre o meu relógio e a porta do restaurante. Já tinha passado uma hora desde que a Vanessa disse que chegava em vinte minutos. Não tinha como eu ficar sentada naquela cadeira agora.
Chamo o garçom e peço a minha conta. Ele ainda embala tudo o que eu tinha pedido para viagem e assim que eu pago, me levanto da cadeira e procuro na minha bolsa as chaves do meu carro. Mas aí que lembro que não vim de carro.
Nicolau ao ver a minha movimentação, vem na minha direção.
– O que aconteceu Vivian? Você já está indo? Mas espera aí... Onde está a Vanessa?
– Isso que eu quero saber. Ela não veio pro jantar. Vou pra casa.
– Eu levo você – ele diz decidido.
– Não precisa, você esta ocupado com o seu jantar, não quero atrapalhar...
– E nem vai atrapalhar. Eu vou com você.
– Deixa de coisa Nicolau... Pode terminar esse jantar com calma. Espero você lá em casa está certo? – fico na ponta do pé e dou um selinho discreto nele.
Nem dou a chance dele tentar argumentar. Vou saindo logo e dou a sorte de ter um táxi parado e vago na porta do restaurante. Dou o endereço da minha casa e peço para ele sentar o pé no acelerador. Olho para o céu enquanto o motorista vai numa velocidade assustadora. Estou com o olhar fixo numa estrela brilhante, mas num instante ela se apaga. Fiquei esperando ela acender novamente, mas isso não aconteceu.
Aquilo só serviu para terminar de revirar o meu estômago. Cinco minutos depois estou em frente de casa. Cinco minutos. Ela poderia ter chegado em cinco minutos... Só precisava desse tempo. Pago a corrida e vou até a porta.
A bile chega na iminência da minha garganta quando eu percebo que tem um bilhete preso na minha porta. A cor do papel não me deixava ter dúvidas. Corro para a porta e pego o papel. A letra já era uma conhecida minha e a frase me fez desejar morrer.
Nós avisamos
Meu coração perdeu a batida, perdeu a força. Meus dedos tremiam ao tentar encontrar a chave certa para abrir a porta. Só conseguia rezar. Rezei profundo, gritei rezando para que o meu medo não se concretizasse.
Sabe o coração de uma escritora que tá batendo alto na garganta? Pois é, é o meu coração mesmo... Vocês não sabem o quanto eu estou num estado crítico depois de escrever esse capítulo. Tive que levantar pra beber um pouco de água, juro.
E agora?! O que vocês acham que aconteceu? Será que os medos da Vivian realmente vão se concretizar? Por favor não me matem antes que eu poste o próximo capítulo ❤
Se gostaram do capítulo ou então estão com uma vontade grande de me esganar por parar aqui, deixem o seu voto e comentário aqui. Vou amar saber o que vocês acham que vai acontecer agora.
Por hoje é só pessoal amado, até o próximo capítulo :*
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