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– Pela sua cara não deve ter sido uma conversa muito agradável – Nicolau me olha preocupado quando eu entro em seu carro parecendo um furacão, batendo a porta com força ao fechar.
– Não tem como se manter uma conversa saudável com aquele inútil. Então eu saí.
– Fez bem. Não adianta conversar com quem não nos escuta.
– Não foi bem isso, eu saí. Saí mesmo.
– Da delegacia? Você não trabalha mais lá?
– Sim.
– Sinto muito Vivian. Sei como você gostava de trabalhar lá.
– Sim, eu amava. Mas posso encontrar outra coisa para amar fazer. Não sei ainda. Mas não quero pensar sobre o assunto agora...
– Claro. Não tiro a sua razão. Você quer ir para casa? Para algum lugar pra extravasar?
– A pista de corrida não está disponível não é? – falo brincando.
– Desculpe mandona, mas acredito que hoje não haveria como fazer isso... Algum outro local?
– Pra casa mesmo. Preciso de um banho e uma boa noite de sono para colocar as minhas ideias no lugar.
– É pra já então.
Ele segue silencioso para minha casa e quando ele estaciona em frente, percebo que não quero que ele vá agora. Me surpreendo quando sinto sua mão sobre a minha e o aperto que ele dá é tão reconfortante.
– Você quer passar a noite? – pergunto não num sentido malicioso, mas somente para ter a sua presença perto de mim.
– Claro – ele sorri, também não de um jeito malicioso e desliga o carro, retirando as chaves da ignição.
Entramos em casa e vejo minha irmã sentada no sofá, comendo uma fatia de pizza e tomando chá. Ela nem se surpreende quando vê Nicolau entrando em casa. Nicolau vai usar o banheiro e eu sento do lado da minha irmã.
– Boa noite Van.
– Boa noite Viv – ela me encara por alguns segundos. Uma ruga se forma em sua testa. – O que foi que você fez Vivian? – minha irmã pergunta e dá uma mordida em sua pizza.
– Como assim o que foi que eu fiz? – ela me pega de surpresa com a sua pergunta.
– Conheço essa sua cara, você sempre tinha esse semblante quando tomava as "grandes decisões da sua vida".
– Sério mesmo?
– Tudo o que você considera importante você usa essa cara. Você fez essa mesma cara quando escolheu o curso que prestaria vestibular. A mesma cara quando se inscreveu para o concurso da polícia. A mesma cara quando decidiu sair da casa dos nossos pais... – ela dá de ombros e abocanha mais um pedaço da sua pizza.
– Você é bem observadora.
– Aprendi com a melhor – sorri e pega a xícara de chá. – Mas então, o que foi que aconteceu? Isso é, se você quiser me falar é claro – ela leva o chá aos lábios e toma um gole.
– Eu me demiti – falo baixo e sinto uma sensação esquisita na boca do meu estômago.
– Você fez o quê? – minha irmã cospe o chá que estava tomando. Cospe em cima da nossa mesinha de centro.
– Eu me demiti.
– Mas como? Porque? Você ama o seu trabalho...
– Ah Vanessa – me jogo para trás no sofá. Estico as pernas e solto um longo suspiro. – Eu amo ser policial. Mesmo no meu escritório ainda conseguia sentir um pouco da ação, da adrenalina, era a melhor coisa do mundo. Mas cheguei a um ponto que não tem mais volta.
– Viv, só não tem como voltar atrás na morte, mas o resto... – ela diz colocando as suas mãos sobre as minhas.
– Eu sei Van. Mas o negócio era que eu não suportava mais as situações no trabalho. Me sentia sempre pisando em um campo minado e qualquer passo que eu desse, a minha cabeça e a da cidade iriam explodir.
– Entendo Viv. Me desculpe por ouvir isso. Você deve estar arrasada não é?
– Não sei ao certo como eu estou me sentindo mana. Mesmo não me sentindo muito bem. Estou com o sentimento em mim de que eu fiz a coisa certa. E isso vai bastar para mim por agora.
– E isso que é importante – no sorriso que ela me dá agora não vejo nada menos do que aprovação e felicidade.
Eu, que até a pouquíssimos meses atrás não me importava com a opinião de ninguém, agora vejo o quanto é importante você ter pessoas que você gosta e se importa por trás das suas ações. Isso faz um bem que não há palavras.
Saber que essas pessoas estão lá, para te apoiar nas decisões que você fez... Nicolau chega e senta ao meu lado no sofá. Ele tem cheiro de sabonete e o seu corpo perto do meu relaxa um pouco os meus músculos.
– Obrigada por entender Vanessa.
– E como não entenderia? Sempre que leio o jornal local eu sinto um calafrio na espinha por conta das notícias que aparecem por lá. Nem imagino como deve ser exaustivo para você ver toda aquela barbárie!
– Não é por conta da violência que eu saí Van. Sai por causa da administração.
– O coronel estava de dando nos nervos?
– Não era ele.
– Ué, pensei que você só precisasse responder a ele em suas atitudes na delegacia.
– A ele e ao prefeito.
– Ah. Então foi por causa do novo prefeito que você decidiu sair do seu cargo.
– Sim. A história é um pouco longa. Certeza que você quer ouvir?
– Melhor do que novela – ela faz uma piada para descontrair um pouco e funciona. Me ajeito no sofá e começo a narrar os últimos acontecimentos, ela escuta tudo com uma atenção que faz com que eu me sinta um pouco melhor.
Alguns detalhes da história eram desconhecidos até mesmo para o Nicolau, e vi como ele ficou tenso em alguns momentos da história, e mesmo sabendo que era errado eu fiquei feliz por ele se envolver com a história. Mesmo não querendo que ele ficasse preocupado, ou frustrado, ou raivoso por conta disso, gostava de saber que ele gostava de mim a esse ponto.
Vanessa escuta tudo, não me interrompe em nenhum momento, mesmo olhando em seus olhos e percebendo que ela queria saltar dentro da história por diversas vezes.
Contando tudo, desde o começo, me fez pensar melhor nos fatos, e percebi que mesmo sendo uma decisão extrema, ela foi necessária para mim. Eu estava fazendo o melhor de mim, e aquilo estava me desgastando de modo que se eu demorasse mais a perceber que aquela era o melhor que eu poderia fazer, eu perderia minha sanidade e o meu amor e respeito pela polícia.
– Você fez o certo Viv! – minha irmã me abraça e me dá um beijo na cabeça. – Mas agora eu tenho que ir, vou num encontro com o Leonardo – ela diz toda feliz. – Vamos jantar fora.
– Mas você não acabou de comer meia pizza? – aponto para a caixa de papelão que ela tinha devorado a metade do conteúdo.
– Mas a minha fome agora é um negócio de maluco mana! Sempre dizem que grávidas tem que comer por dois, mas eu estou com fome de no mínimo umas quatro pessoas! E não quero fazer feio na frente dele!
– E ele não fala nada que você come pouco?
– E quem disse que eu como pouco? – minha irmã solta uma gargalhada e se retira ao seu quarto para se arrumar para o seu encontro.
– E você quer comer alguma coisa?
– Sinceramente, eu estou sem um pingo de fome, mas e você? Quer pedir alguma coisa? Quer que eu veja se tem alguma coisa na geladeira?
– Na geladeira provavelmente nada, pois a sua irmã estava comendo pizza...
– Não custa nada olhar se tem alguma coisa por lá – levanto e vou até a geladeira, procurando alguma coisa.
Encontrei uma lasanha, e fui logo esquentando. Assim que o timer que eu tinha colocado no meu celular avisa que a lasanha já está pronta, minha irmã sai do seu quarto, ela está adorável com um vestido cinza com uns detalhes em vermelho. Uma sapatilha baixa e seus cabelos estavam soltos e caiam lisos naturalmente sob seus ombros.
– Você está muito bonita Vanessa – Nicolau elogia minha irmã.
– Obrigada. Você não acha que eu estou redonda demais? – ela pergunta alisando o tecido na lateral de seu vestido.
– Deixa de bobagem mana, acredite na opinião masculina, você está linda! – pisco um olho pra ela.
– Obrigada. Vocês dois. Mas eu vou indo, que ele já mandou uma mensagem dizendo que está ali fora esperando – ela diz toda animada e sai a passos rápidos de casa.
– Bom encontro! – grito, nem sei se ela escutou. Olho para o Nicolau e ele parecia bem descontraído e à vontade na minha cozinha.
Seu tronco estava projetado para frente e seus cotovelos apoiados na bancada de mármore da cozinha. Suas mãos estavam unidas de modo que seus dedos escondiam parcialmente sua boca. Mesmo assim dava para ver um resquício de sorriso em seus lábios.
Seus olhos me encaravam com algo diferente.
– O que foi? Tem algo de errado comigo? – falo rindo.
– Não mesmo – ele fica de pé e se aproxima de mim. – Só estou gostando de olhar para você assim...
– Assim como? Não entendi.
– Relaxada, sem preocupações. Dá até pra ver que a sua postura mudou um pouco, você está sorrindo mais fácil...
– Você acha?
– Tenho certeza – ele fica na minha frente e coloca suas mãos sob meus ombros, massageando com certa pressão. Fecho os olhos, me deixando levar. – Preferia que as condições para você ficar assim fosse outras, mas o resultado é uma coisa maravilhosa de se ver.
– Mas e agora, qual é a desculpa que eu vou ter pra ganhar as suas massagens? – digo em tom de brincadeira.
– Não precisa de desculpas pra que eu amasse o seu corpo com as minhas mãos minha bravinha... – ele desce suas mãos e contorna os meus seios, continua descendo, me trazendo para perto dele, enlaçando a minha cintura e me beijando sem pressa os lábios.
– Obrigada por ficar aqui comigo.
– Sempre que quiser – ele sorri. – E até quando você não quiser também...
– Vamos comer? Que agora comecei a ficar com fome, e um cara do seu tamanho tem que se sustentar... – sorrio e pego um par de pratos no armário.
Montamos nossa mesa de jantar ali mesmo, e jantei numa das melhores companhias que eu pude imaginar. Conversamos bobagens. Ele me fez chorar de tanto rir. Assistimos a metade final de um filme e enfim resolvemos encerrar a noite e irmos dormir.
Nicolau praticamente apagou assim que encostou a cabeça no meu travesseiro, e não acordou nem comigo beijando o corpo dele de maneira bem sugestiva. Encontrei então um lugar especial no seu peito e me aninhei lá, adormecendo sem muito esforço.
– Vivian! – o grito cortou o silêncio da madrugada fria e gelou a minha alma. Abro os olhos, e fico logo de pé, alerta. – Vivian! – era perceptível o pânico na voz da minha irmã.
Nicolau também desperta e me olha preocupado.
Corremos para o quarto da Vanessa e abrimos a porta sem a menor cerimônia. A luz do abajur ilumina parcialmente o rosto da minha irmã e ela está desesperada. Os lençóis estão no chão e só de olhar para ela, fico assombrada também.
Nicolau fica de prontidão na porta e eu me aproximo da Vanessa. E antes de alcançar ela, o meu nariz desperta e eu sinto o cheiro metálico. Meu coração bate mais forte.
– Tem algo bem errado – Vanessa diz e se encolhe na cama, contorcendo o rosto em dor.
– Precisamos ir ao hospital agora! Você consegue levantar? – pergunto e quando ela nega com a cabeça, peço para que o Nicolau entre no quarto.
Nicolau toma a minha irmã em seus braços e com passos ágeis sai do quarto. Demoro uns bons segundos olhando para o sangue em cima dos lençóis azuis. Mas pela quantidade que tem ali em cima, estamos correndo contra o tempo.
Pego as chaves do meu carro e Nicolau fica no banco de trás com a Vanessa, tentando controlar e acalmar a minha irmã. Piso fundo como nunca tinha feito. Estaciono de qualquer modo no estacionamento vazio e corro ao lado do Nicolau.
Escancaro as portas da emergência e logo a minha irmã está sendo colocada em cima de uma maca e entrando pelos corredores. A acompanhei até onde me deixaram, e quando não pude mais avançar, eu desabei de chorar no ombro do Nicolau.
Ele me toma nos braços, e nem vejo para onde ele está me levando. Meus olhos ardiam e ouço Nicolau me chamar, me nego a abrir, mas ele insiste e até sacode meu ombro para chamar a minha atenção. Quando ergo o olhar vejo uma médica loira, de cabelos loiros e grandes olheiras debaixo de seus olhos.
Boa noite a todos! Sim, eu estava sumida. Desculpem pessoal, mas semana passada foi semana de Avaliações Finais e eu precisava me sair bem naquelas provas. Obrigada a todos que vieram falar comigo, perguntando do livro, acho que isso é sinal que vocês estão gostando da história ^^
Estava bem cansada, de um modo, que não quis saber de computador por alguns dias... Canetas então? Passei foi longe, me dei umas folguinhas... Nem sabia o quanto estava precisando, espero que você entendam... E então, depois de algumas semanas de espera, aqui está o capítulo :X
O que será que vai acontecer agora? O que vocês acham? Deixem aqui num comentário p que vocês esperam da história e qual rumo ela vai tomar agora... Saudades de vocês ;* E se gostaram do capítulo, deixem seu voto aqui. Beijos e até a próxima.
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