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Capítulo 9 - parte 2

      Luna e eu andamos até onde deixamos a Paloma. Não conversamos muito dentro do carro por causa do cansaço. Já é tarde e a única coisa que eu quero é dormir, e quando chegamos na república, me deixo cair no sofá após tirar meu All Star vermelho. Luna sobe ao primeiro andar enquanto Paloma fica me fazendo companhia.

      — Está cansada? — ela pergunta tirando os brincos.

      Rio de olhos fechados, fazendo que sim com a cabeça.

      — E pensar que tenho que acordar cedo amanhã…

      — Então é melhor dormir.

      — Estou com preguiça de subir a escada. Me leva carregando?

      Paloma ri da minha brincadeira, atirando em mim uma almofada do outro sofá.

      — Eu tenho cara de quem tem uma filha adolescente?

      — Me adota? — estendo os braços fazendo cara de menina carente.

      Tomo outra almofada no rosto.

      — Obrigada por ter ido com a gente — agradeço, sorrindo.

      — Imagina. Eu é que não deixaria duas meninas andando sozinha à noite pelo Rio de Janeiro.

      — Mas você gostou, não é? Valeu a pena ficar quase duas horas assistindo.

      O brilho nos olhos da monitora dispensa palavras.

      — É bom fazer algo diferente de vez em quando — ela dá de ombros, vai à cozinha.

      Me levanto num pulo, vou atrás de Paloma. Ela está de costas para mim, tirando algo da geladeira que logo vejo que é uma garrafa de vidro com suco de uva, sem açúcar.

      Não sei quase nada dessa moça, a não ser que ela é de Botafogo e cozinha super bem. E claro, tem obsessão em manter tudo em ordem. Nunca a ouvi cantando nenhum trecho de música, não sei quais são seus cantores preferidos.

      Ela se importa conosco de verdade, como só uma mãe faz. Mas eu não sei quem Paloma é.

      — Quer um gole? — me oferece um copo vazio.

      — Quero — falo, e ela despeja o suco.

      A bebida lembra vinho, mas sem álcool. É simplesmente delicioso.

      — Bom — ela lava o copo e o guarda —, já é tarde e preciso me recolher. Você apaga a luz?

      — Claro.

      — Valeu, Danny. Eu venho amanhã cedo, antes de ir trabalhar.

      — Pah, já é a segunda vez que você fala nesse seu outro trabalho, mas até agora não falou o que é. O que você faz?

      A moça negra semiabre a boca, hesitando em responder.

      — Eu danço.

      — Não acredito. Sério? Que tipo de dança?

      — Aeróbica. Eu danço num programa de tv que apresenta variedades, sabe… Cantores, quadros… essas coisas. Ele passa aos domingos.

      — Então, você também é bailarina?

      Paloma ri como se tivesse ouvido uma piada.

      — Imagina. O que eu faço não pode nem ser chamado de balé. Eu só fico numa arquibancada com outras moças, usando um collant de cores neon, tênis de cano alto, meias e o cabelo preso em rabo de cavalo. Tudo o que eu faço é pular, mexer os braços e as pernas, de vez em quando rebolo, enquanto uma apresentadora fala pelos cotovelos.

      Balanço a cabeça negando.

      — A Letícia, minha ex-professora, me disse um dia que, se você mexe seu corpo, está dançando. Você pode achar que não, mas é tão bailarina quanto a Luna e eu. E o seu trabalho é muito legal.

      Paloma enleva a sobrancelha esquerda, em dúvida. Não demora para um sorriso de gratidão se formar em seu rosto.

      — Nossa, Danny. Obrigada. Fiquei feliz. Posso te dar um abraço?

      — Claro que pode, amiga.

      Deixando o copo com metade de suco na bancada, ando até a dançarina. Dou a ela um olhar carinhoso e terno, deixando que ela me aperte num abraço cheio de carinho e afeto.

                                  …

      — Por favor…

      Estou bem no começo da tarefa comum a toda bailarina, que é enrolar esparadrapos em volta dos dedos dos pés antes pôr as ponteiras de silicone.

      Levanto a cabeça bem devagar assim que ouço a voz com sotaque russo.

      Antes de eu ver Nastia à minha frente, o cheiro do desodorante Rexona que ela usa já me alertou de sua proximidade.

      Os olhos da russa estão fixos em mim, não vejo nenhum acanhamento ou medo em seu semblante, mas ela hesita antes de continuar.

      — Por… favor. Você… me ensina a girar quatro pirouettes?

      Ofereço um sorriso amigo à ruiva de sardas e aceno que sim.

      — Agora? — pergunto.

      — Da.

      — Ok. Só vou terminar de pôr esparadrapos nos meus dedos, tá?

      — Eu ajudo você — a bailarina se ajoelha, rapidamente cortando com a tesoura um pedacinho do rolo.

      — Não precisa, Nastia — recuso.

      — Eu ajudo você.

      Diante da insistência da russa, apoio as mãos no chão, só observando ela enrolar meus dedos. É melhor não contrariá-la. Não sei como autistas reagem quando são questionadas, e além disso, a garota quer ser prestativa. Não vejo nada demais.

      Eu a observo com atenção enquanto ela protege meus dedos. Todos os esparadrapos cortados têm o mesmo tamanho e o mesmo formato, o que me faz deduzir que ela é caprichosa até nas pequenas coisas.

      Me ocorre que eu não devia me surpreender. Basta Olga marcar nas aulas os movimentos dos passos para Nastia saber como se deve executá-los. Ela o faz de um jeito lindo, como se seus movimentos fôssem de uma fada.

      — Meu jeito de agradecer favor — ela explica.

      Faço um leve movimento positivo com a cabeça, sem nada dizer.

      — Pronto — ela diz animada.

      — Obrigada, Nastia — respondo.

      — Nie zachta¹.

      Ponho as ponteiras e calço primeiro a sapatilha direita. Nastia se mantém quieta, só me observando, de vez em quando delineando um meio sorriso e passando os dedos no coque bem feito.

      — Que sapatilha bonita — por fim ela fala, quando termino de fazer o lacinho.

      — Show, né? É uma sapatilha Fantini — sorrio.

      — Mas não é do uniforme da escola.

      — Não. É que eu sou Primeira Bailarina Promoarte Fantini. Quer dizer… era. Mas ainda uso essa sapatilha.

      — Por que você era? Não é mais?

      — Não. Eu perdi meu título quando saí da minha antiga escola. 

      — Ah! — Nastia faz com desânimo.

      — Eu sou Primeira Solista da Promoarte Rio — ela se anima de novo.

      — Eu sei.

      — E meu irmão é Premier Danseur.

      — O Yuri, né? Nós estudamos na mesma classe, sabia?

      — Ele contou.

      O sorriso de Nastia aos poucos se desfaz e ela fica séria. Para ser sincera, me sinto agora invadida pelos olhos azuis dela, como se de repente eu estivesse num aparelho de ressonância magnética e ela buscasse alguma coisa dentro de mim.

      — Podemos treinar agora — me levanto a fim de quebrar o contato visual com a garota ruiva.

      Instintivamente ela se põe em pé e fica na minha frente, com seu corpo quase colado ao meu. Semiabro a boca e um arrepio corre por minha espinha.

      — Nastia…

      — Conte sua história — ela pede.

      — Ela é muito longa — replico.

      — Conte sua história — sempre.

      Me calo, olhando para os olhos doces e suplicantes da russa. Não acho que ela vai desistir. 

      — Eu nasci em Joinville. Comecei a fazer balé aos dois anos de idade, aos cinco fui morar nos Estados Unidos com a minha mãe, que era bailarina, e aos dez voltei para o Brasil para me tratar de um câncer.

      — Ah! — Nastia fez com surpresa.

      — Aí eu me curei, entrei num estúdio de balé chamado Letícia Ballet e estudei lá por cinco anos antes de vir para o Ballet Imperial de Petrópolis.

      Sorrio dando de ombros. Espero que a garota se satisfaça com essas informações, porque sou péssima em entrar em detalhes. Ou melhor, não gosto de dar detalhes.

      — Por que você disse que sua mãe era bailarina? — Nastia frustra minha expectativa.

      Suspiro antes de responder.

      — Porque ela morreu há cinco anos, quando eu tinha só dez anos.

      Nastia abaixa os olhos. Posso ouvir um suspiro escapando de sua boca, seu rosto muda novamente.

      — Sinto muito. Mas você pelo menos viveu com ela até os seus dez anos de idade e tem lembranças boas dela. Eu perdi meus pais aos cinco anos. Não tenho lembranças deles.

      Minha garganta sente um nó se formando e o ar ficar preso dentro dos pulmões. Me entristeço por me lembrar que a história da Nastia e do Yuri é tão triste quanto a minha. Eu ainda tenho pai. E os gêmeos são órfãos.

      — Danny. Você sente muita falta da sua mãe, não é?

      Balanço a cabeça afirmando.

      — Pessoas boas nunca dizem adeus. Dizem até logo — o sorriso que surge no rosto branco e cheio de sardas da bailarina é como um raio de luz. De repente sinto um tipo de paz que não sei explicar.

      Ficamos alguns segundos em silêncio, só olhando uma para a outra, e mesmo não estando mais tão intimidada pelos olhos invasivos da garota, tenho medo de dar um passo em falso e sei lá, irritá-la.

      De repente ela ri e me puxa pela mão, me levando para frente da parede de espelhos.

      — Você gira e eu faço — sentencia.

      Recuo dois passos do espelho, suspiro. Faço a preparação e up! Executo quatro giros.

      — Como você consegue? — Nastia questiona de olhos bem abertos.

      Arrumo a russa em quarta posição de pernas. Passo as mesmas orientações que Letícia sempre me deu: perna de passé alta, meia ponta da perna de base também alta, escápulas baixas, braços na altura do umbigo e encaixe de quadril.

      Não é na primeira, na segunda ou na terceira que a garota pega o jeito. Ela resmunga irritada por não conseguir fazer como eu, e chego a ficar com medo da mudança de humor que autistas têm. Sou despreparada para interagir com jovens especiais.

      Escolho a melhor forma de linguagem que conheço: a paciência. Peço a Nastia para não desanimar, falo que eu demorei a girar dupla pirouette, que errar faz parte e que o importante é tentar até aprender.

      Para meu orgulho, ela aprende.

      Bastou ela marcar a cabeça corretamente para seus giros saírem iguais a se como ela estivesse sendo girada por um bailarino invisível.

      — Eu não falei que você conseguiria?

      A menina assente com gravidade, me agradece tocando meu rosto e corre para seu lugar na barra. O sorriso insiste em ficar na minha boca quando me lembro que eu estaria dando aula para meninas do baby class se eu estivesse na Letícia Ballet.

      Nastia é um tipo raro de pessoa para quem a gente olha e nunca se cansa, como um mistério da alma, como algo puro, parecida com uma criança. No fundo, todos nós devíamos ter essa pureza. E viver o momento.

      — Olha, parabéns — escuto atrás de mim barulho de palmas.

      Antes que eu me vire, suspiro entediada porque sei de quem é essa voz.

      — Você conseguiu um feito e tanto:  fez a Chuchukova falar.

      — Dominique, não fode, ok? — estou com zero paciência.

      A bailarina morena cruza os braços, mostrando os dentes brancos e perfeitos num sorriso cheio de maldade. Como uma alguém consegue ser tão irritante?

      — Marrenta — ela responde com sarcasmo.

      Não dou bola para a garota, e pegando do chão minhas botas de aquecimento, ando até o meu lugar na barra, ao lado de Nastia. Espero que ela não tenha ouvido o que Dominique disse há pouco.

      Começo a fazer elevés alternados na ponta dos pés a fim de aquecer os músculos. Vendo Nastia se aquecendo, me pergunto sobre seu irmão. Ele não participou das aulas teóricas hoje de manhã, então acho que está ensaiando pas de deux com a Lara ou fazendo aula com a companhia principal. 

      Um dia quero ser boa como a Primeira Bailarina do Ballet Imperial de Petrópolis, ser referência de técnica e beleza, fazer as pessoas ficarem maravilhadas ao me verem dançar. Quero alcançar as estrelas e ver o mundo de cima.

      Tenho que melhorar muito até que esse dia chegue e perder o vício de empinar a bunda durante a aula é só uma das muitas coisas que preciso trabalhar.

      — Seu corpo é uma estaca, Danielle — ela enfatiza, me segurando pela lombar.

      Qual bailarina não fica puta por achar que está fazendo uma aula bem bosta apesar de ter todo o material físico e artístico para arrasar? Mas tenho que ser resiliente.

      Dominique está girando fouettés como uma máquina perfeita. Não fico muito atrás dela e isso me deixa contente.

      O que faz um sorriso escapar de meus lábios, porém, é que Nastia está girando pirouettes super bem. Até a professora Olga a elogia e a ruiva sorri para mim em gratidão quando volta para trás.

      — Grande coisa! — Dominique murmura.

      Faço de conta que não escutei. Têm pessoas com quem não vale a pena perder tempo, e Dominique, com certeza, é uma delas.

                               …

      Os dois dias seguintes foram insanos. Olga retirou meu benefício de ser aluna novata e passou a me tratar como uma bailarina que está ali há anos, pegando muito no meu pé e me tratando com rigor. Disse que eu atraso meu braço de segunda ao girar pirouette e que eu derrubo todo o meu peso sobre minha perna de base, que eu preciso ter um olhar artístico ao olhar para minha mão, dar vida para minha personagem e (adivinhe) parar de empinar meu bumbum.

      Na sexta à tarde sai chorando da aula. Tive vontade de mandar tudo à merda e voltar para São Paulo, eu disse a mim mesma que não sou obrigada a aguentar tanta cobrança para ser bailarina. Só que no mesmo instante me lembrei que passei por coisa pior e sempre superei.

      Não é uma professora exigente que vai tirar de mim o amor pela dança. E eu trilhei um caminho muito longo para voltar atrás, por isso não vou desistir. Eu não sou uma mulher fraca.

      Passei a ver Lara, Mia e Lívia com mais frequência na cantina da escola. Às vezes nos sentamos na mesma mesa e conversamos. Ainda estou criando laços com elas, afinal, mesmo inseridas no mesmo mundo, nossos universos são diferentes.

      Elas são adultas, Lívia inclusive está noiva de um cara mais velho. E Lara ainda tem um arzinho superior, por mais que se esforce para parecer uma habitante do mundo normal.

      Yuri e eu não trocamos mais que bom dia e boa tarde, o que é bem incômodo, porque achei que ele se soltaria mais. Mas pelo menos agora não vejo hostilidade em seu rosto quando nos sentamos ao lado um do outro. 

      Acabei incorporando no meu dia à dia a tarefa de ensinar passos de balé para a Nastia, sinto que estamos nos tornando amigas, ao mesmo tempo que sinto caminhar numa corda bamba. Tenho medo de falar algo que dispare um gatilho dentro dela.

      As meninas e eu combinamos de passear de fazer compras no shopping. Isabella sugeriu o Saara, mas Melissa e eu rejeitamos a ideia, já que odiamos comprar roupas de comércio popular.

      Quanto à Dominique, continuamos nos estranhando. Não quero ser amiga dela, não faço a menor questão de puxar assunto com ela. Assisti ao ensaio do elenco do Ato 2 de Lagoa dos Cisnes somente porque Luna pediu e porque gosto da mesma. 

      Não tenho como negar que Dominique e Yuri são lindos dançando como Odette e Siegfried, e vê-los ensaiando só me fez sentir falta de quando dancei como Cisne Branco. Mas só sinto admiração pela técnica da bailarina, não pela garota.

      E assim termina minha primeira semana como aluna do Ballet Imperial de Petrópolis. Com muitas cobranças, choro, muita dança e por último um vislumbre de que logo vou estar de volta ao palco de um festival.

      Eu aguardo muito por esse dia.

      Quando o ensaio das bailarinas termina e elas se cumprimentam, me levanto e saio discretamente evitando que me vejam.

      Ando devagar pelo corredor, só de collant, meia calça e botas de camurça, com a mochila nas costas e ouvindo música através de fones de ouvido.

      A música sempre esteve dentro de mim. É ela que funciona como terapia quando me sinto suspensa no espaço.

Capítulo de 2,6k de palavras

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Не зашита¹: De nada

                            

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