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Capítulo 9 - parte 1

No fair
You really know how to make me cry
When you give me those ocean eyes
I'm scared
I've never fallen from quite this high
Falling into your ocean eyes
Those ocean eyes

Billie Eilish, Ocean eyes

      Uma vez escutei uma canção com letra muito triste, que diz que a paixão quer corações arruinados. Alguns dizem que esse sentimento é egoísta, porque quer tudo para si, e que o amor é diferente. O amor perdoa, constrói, cria pontes.

      Sempre que alguém me diz isso tenho vontade de falar um monte de merdas, e não é porque não acredito no amor. Eu acredito em finais felizes. Mas amar é uma coisa séria e eu não estou pronta para dizer eu te amo para um namorado ou uma namorada.

      As histórias que deram origem aos balés que enchem nossos olhos e nos fazem sentir o coração batendo forte falam, na maioria das vezes, de amores inconsistentes que não suportam provações. E que terminam em morte.

      Por mais assustador que seja, são essas mortes que fazem com que o balé pareça incrível, porque a bailarina morre e fica linda para sempre, e se o amor que a fez optar por esse caminho sem volta for forte e verdadeiro, sua morte será uma ponte para que possa ficar com seu amado. E como se diz nas histórias, viverão felizes para sempre.

      — Essa mulher é um escândalo — Luna fala ao meu lado.

      Olho sorrindo para a minha amiga, concordando com a cabeça. Volto a prestar atenção no palco enorme diante de mim e na bailarina que está dançando. que tem no rosto um brilho e um frescor que parece emanar do fundo de sua alma. Os movimentos da Mia são leves, seu corpo dá a impressão de flutuar ao executar aqueles sauté chevals assustadoramente desconcertantes. Ela está simplesmente linda como Gamzatti.

                          Gamzatti

      Mas quem ali não é lindo? Todos os passos são executados lindamente e de forma limpa, e a sensação que tenho é de estar na Índia, de estar vivendo uma vibe cheia de mistério, paixão e magia, imersa nesse mundo cheio de misticismo que o balé La Bayadère oferece.

      De vez em quando viro a cabeça para o alto, para os camarotes iluminados ocupados por expectadores ilustres, que podem pagar mais para ter os melhores lugares. Mas não consigo ficar por muito tempo sem olhar para o palco. Todos os meus sentidos estão presos como que por encanto nas danças daqueles homens e mulheres de corpos perfeitos.

      Dançar é mesmo lindo e o sentido de tudo, penso.

      Odin não quis vir comigo. Não sabe o que está perdendo. Pelo menos ele não se importou de eu ter vindo com a Luna e a Paloma. Minha colega de balé e eu pagamos meia entrada. Pois é, Por mais absurdo que pareça, o fato de nós duas sermos estudantes do Ballet Imperial não quer dizer que podemos assistir de graça aos espetáculos da companhia.

      Consigo reconhecer só algumas das bailarinas com barrigas à mostra. Uma delas é Lívia. Tanto ela quanto a Mia podiam muito bem ser a estrela do espetáculo, mas essa honraria tem dona.

      No último ato, quando Lara surge caracterizada como Nikiya, meu coração bate mais forte. A garota ocupa todos os espaços do palco, vistosa com sua calça vermelha, os seios cobertos com um top e a barriga reta à mostra. Posso ver de longe suas costelas salientes.

      — Linda demais — solto um suspiro.

      — Perfeita! — Luna pontua.

      — Shhhh! — Pah, do meu lado, faz com o indicador na boca. — Enxuguem essa babinha de vocês e fiquem quietas.

      Lara parece despertar em nós todo o tipo de sonhos mais intensos. Uma parte minha sente sua dor quando ela oferece a rosa vermelha ao seu amado e cai em seguida ao ser picada no pescoço por uma cobra venenosa. Esse momento me destrói, e me arrebata ao mesmo tempo. Parece que lágrimas querem rolar pelo meu rosto ao ver a bailarina se encolhendo, tendo espasmos de agonia e com o olhar aflito, até finalmente morrer sob os olhares desesperados dos demais cortesãos.

                              Nikiya

      De novo prometo a mim mesma que um dia vou ser como ela, não importa o quanto minha professora me leve ao limite, não importa o quanto eu tenha de ensaiar e treinar. Porque ganhar um lugar nos corações das pessoas e estar para sempre em suas memórias não tem preço.

      Luna e eu nos mantemos em pé aplaudindo o fim do espetáculo mesmo quando as cortinas estão fechadas. Olhamos uma para a outra emocionadas, agradecendo uma à outra em pensamento por termos vindo acompanhadas, e de repente, todo o elenco volta ao palco para ser ovacionado.

      Lara reverencia seu público apaixonado e corre até uma das laterais do palco, buscando alguém. Ela volta sorridente ao centro puxando o maestro da orquestra pela mão, para que ele também receba o carinho dos expectadores.

      — Bravo! Bravo! — gritos explodem.

      A primeira bailarina recebe seu buquê de flores, se despede de todos acenando com beijos. Por fim, as cortinas se fecham.

      — Vamos lá — Luna me puxa pela mão.

      — Para onde? — pergunto.

      — Como para onde? Para o camarim, tirar uma foto com a Lara, a Mia e a Lívia.

      — Não sei se é uma boa ideia, Luna.

      — Acha que elas não vão dar atenção para nós? Somos alunas do Ballet Imperial, nós fazemos balé na mesma escola.

      — Mas elas são profissionais e…

      — Danny, fica quieta e vem.

      Olho por sobre meu ombro para a Paloma.

      — Você não vem?

      A moça de pele negra acena em recusa.

      — Esse pessoal da dança é um pouco esnobe pra mim — ela sorri. — Eu espero vocês terem seu momento tiete.

      Uma verdadeira multidão se aglomera em torno dos bailarinos principais. Lara é a mais assediada e imagino que ela não esteja gostando de ter os flashes daquelas câmeras em seu rosto enquanto conversa com um grupo de pessoas bem vestidas. Às vezes ela se abaixa para abraçar uma criança, posando em seguida com a mesma para uma foto de recordação.

      — Parabéns, Lara. Você esteve maravilhosa, como sempre — uma senhora de taileur azul a cumprimenta.

      — Obrigada — a bailarina sorri ao agradecer.

      Olho para a Luna e ela dramatiza uma careta blasé.

      — É a secretária municipal da Cultura.

       Balanço a cabeça. 

      — Danny! — me viro assustada ao ouvir meu nome.

      Mia aparece diante de Luna e eu, linda em seu figurino de Gamzatti. A maquiagem a deixa com uma beleza exótica, igual a de uma princesa indiana. É incrível que existam no balé papéis feitos especialmente para nós.

      A solista e eu nos cumprimentamos com beijinhos no rosto, e Luna se aproxima com cautela.

      — Não acredito que você veio — Mia sorri animada me balançando de um lado para o outro num abraço apertado e cumprimentando minha amiga. Tem como não gostar da bailarina da companhia principal?

      — Você estava linda hoje — segurei sua mão por entre as minhas. — Parabéns.

      — Oh! Obrigada.

      E olhando para a garota morena ao meu lado:

      — É sua amiga?

      — É, sim — parece estranho eu achar que uma moça que não conheço há mais que três dias possa ser chamada de amiga, mas eu já considero a garota da Paraíba uma pessoa digna da minha confiança. — É a Luna, nós moramos na mesma república.

      As duas se cumprimentam trocando um oi. O bumbum da Mia aparece sob a curta saia bandeja quando ela se inclina para abraçar minha amiga.

      — Eu conheço você — Mia fixa seus lindos olhos verdes em Luna. — Está aqui há um ano, não é?

      — Sim, eu entrei aqui com catorze anos — pode parecer impressão minha, mas a garota de João Pessoa está um pouco tímida.

      Deve ser por causa da aura pulsante que a bailarina caracterizada de Gamzatti irradia.

      — Eu já te vi várias vezes nos corredores. Acho que você estava na turma de bailarinos para quem dei aquela aula ano passado, no World Ballet Day. Tô certa?

      — Eu estava, sim — Luna se surpreende por Mia se lembrar.

      A solista expande seu sorriso. O aparelho de dente aparecendo, em nada tirando seu encanto, fazendo-a parecer ter minha idade.

      — Não sabem o quanto estou feliz por vocês terem assistido nosso espetáculo. São vocês que motivam a gente a fazer aquilo no palco.

      Me emociono pela solista entonar a voz como se a qualquer momento fôsse chorar de gratidão, e eu sei bem o que é isso, porque já experimentei muitas vezes. Não tem nada igual, não existem palavras que possam expressar este sentimento de vitória.

      De repente, horas de ensaios exaustivos, treinos pesados, palavras duras mexendo com sua autoestima nas aulas e muitas vezes pondo em dúvida seu talento, tudo isso não tem mais nenhuma importância quando tudo termina como a gente sonha.

      Mordo meu lábio inferior e Luna me olha suplicante.

      — Podemos tirar uma foto com você? — capto na hora o pedido da garota ao meu lado.

      — Claro! — Mia concorda, sempre sorridente.

      E olhando para trás:

      — Gabriel — o homem que havia dançado como o guerreiro Solor, que traiu Nikiya com a Gamzatti, se vira em nossa direção. 

      — Tira uma foto nossa?

      O Premier Danseur da companhia principal se aproxima, tentando ser o mais simpático possível mas não sendo discreto o suficiente para esconder que quer sair logo deste teatro e brindar com seus colegas.

      — Façam pose ali, em frente ao piano de cauda — ele pede com voz neutra, segurando o celular da minha amiga.

      Mia fica entre Luna e eu, com uma perna dobrada atrás em pose de balé e segurando nossas cinturas. Não estou tão sorridente quanto as duas, mas a foto saiu legal. Claro que minha camiseta preta, meu jeans desbotado e meu All Star vermelho não batem de frente com o figurino de filha do rajá que a Mia usa, mas estou bem.

      — Valeu, Mia — Luna agradece emocionada ao ver a foto. Ela lembra uma criança que abre uma caixa de presentes e fica feliz ao tirar de dentro uma boneca que sempre quis ter.

      — De nada.

      — Danny — a Ganzatti me faz olhar para ela ao tocar meu ombro —, quando você fará aula conosco de novo?

      A pergunta me pega de surpresa.

      — Sei lá — dou de ombros. — Quando eu ficar boa o suficiente e quando acharem que eu mereço.

      Uma risada explode da garganta da solista.

      — Quando você ficar boa? Gata, você é um prodígio e nem se deu conta? Ah, faça-me o favor, Danielle Raluca. A Tatiana adorou sua aula.

      Olho com cautela e descrença para a bailarina.

      — Não faça essa cara de quem está escutando uma mentira, Danny. É verdade. A professora gostou muito de você. Disse que você é atrevida, forte e leve, e salta muito, e isso faz muita diferença aqui.

      — Nossa! — estou claramente encabulada, embora esta informação faça com que eu me ache a bailarina júnior. — Não imaginava. Eu errei muito.

      — E quem não erra? 

      Luna enlaça seu braço no meu, concordando com um sutil gesto afirmativo com as palavras de Mia.

      — Onde está a Lívia? — mudo bruscamente de assunto.

      — Deve estar por aí — a filha do rajá dá de ombros.

      — Meninas, se me dão licença, tenho que ir — ela encena uma expressão triste. — Daqui a pouco meu namorado me liga pela centésima vez perguntando a que horas eu desço para irmos jantar — agora, olha para o teto fingindo tédio.

      — Tudo bem — compreendo.

      Mia se despede de nós com beijinhos e um abraço apertado, vai em direção ao camarim.

      — Ela é legal — a morena comenta.

      — Um amor — confirmo.

      — Vem, vamos cumprimentar a Lara!

      Mas recolho meu braço, fazendo Luna me olhar e me ver acenando a cabeça em negação.

      — O que foi, Danny?

      Aponto com meu queixo por sobre o ombro de Luna, para as muitas pessoas que cercam a Primeira Bailarina do Ballet Imperial como abutres pulam sobre uma carne podre. Elas não dão à garota um segundo para respirar, a todo momento fazem perguntas que eu sei que ela já não está curtindo responder.

      — Ah, deixa de ser fresca, Danny. Vem!

      Não adianta eu objetar, sou arrastada para perto da estrela do balé, que dá um meio sorriso ao me ver.

      — Oi, Danny — ela fala com voz doce.

      — Oi — é só o que sai da minha boca.

      A estrela do Ballet Imperial fixa seus olhos verdes em mim, irradiando gratidão e alegria.

      Não sei o que dizer. Não quero parecer uma admiradora imbecil que se derrete diante de seu ídolo. Tudo bem que ela fez uma coisa mágica no palco, mas é humana e não gosto de idolatrar ninguém.

      — Queríamos te dar parabéns — por fim me adianto para abraçar a garota.

      — Obrigada.

      — A gente quer uma foto com você — Luna pede. A cara que ela faz é tão infantil e meiguinha que duvido que alguém pudesse recusar qualquer pedido seu.

      — Claro, venham meninas.

      Suspiro profundamente olhando para o teto, onde um lustre de cristal belga balança.

      Uma das solistas se aproxima ao chamado de Lara, que como Mia fez há pouco, fica entre Luna e eu. Me pergunto se o cara vai pedir para dizermos “xis”, para que eu possa fugir do padrão e dizer “ipsolon”.

      Me lembro que Alice contou uma vez que quando seu bisavô judeu foi capturado pelos nazistas numa vila polonesa, foi obrigado a posar para uma foto de recordação com todos os prisioneiros, antes de serem levados de trem para um campo de extermínio (acho que era Auschwitz). Ele não saiu pela chaminé na forma de fumaça e cinzas, mas contou que posar para aquelas fotos foi um dos momentos mais assustadores que passou, porque sentiu que sua alma tivesse ficado presa nelas.

      Ainda bem que as coisas são diferentes hoje. Nossa alma não fica presa na foto, mas mostra o quão vaidosos e vazios somos, porque temos uma necessidade doentia de mostrar para as pessoas que estivemos um dia ao lado de uma celebridade, de mostrar como ficamos com looks diferentes ou onde estamos.

      — Sorriam! — a fotógrafa improvisada pede ao apontar o celular de Luna para nós três.

      Mostro meu sorriso com aparelho de dente, minha mão esquerda segurando a cintura magra de Lara, sentindo a proeminência de suas costelas.

      Click!

      Luna não faz questão de esconder sua felicidade ao ver a foto e a acho um pouco infantil. Mas a Lara faz a gente se sentir crianças até numa foto. Ela está linda como Nikya.

      A primeira bailarina continua sustentando meus olhos nos dela. Um suspiro foge de seus lábios.

      — Danny, eu queria me desculpar pela maneira como falei com você naquele dia, quando você entrou na nossa aula por engano. Devo ter passado uma imagem muito ruim para você. De esnobe, sei lá. Ou de arrogante.

      — Ah, tudo bem — dou de ombros.

      — Para mim, não está tudo bem. Eu te subestimei, achei que você ia passar vergonha, mas você arrasou.

      Gosto de estar ouvindo essas palavras. Claro, é puro eufemismo. Outro defeito das pessoas, que exageram em tudo quando querem pontuar uma qualidade.

      — Eu não abaixo a cabeça para ninguém, sejam bailarinos profissionais ou amadores — não me preocupo de talvez estar sendo arrogante.

      — E faz bem.

      — Quando eu estou na barra e a música começa a ser tocada, a única coisa que eu posso fazer é deixar meu corpo se mover livremente, sem pensar em mais nada.

      Lara morde pensativamente o lábio inferior.

      — Posso te perguntar uma coisa, Danielle?

      — Claro.

      — O que é dançar, pra você?

      Tenho a resposta pronta.

      — É uma coisa instintiva pra mim, que vem daqui de dentro — ponho a mão no meu peito. — Eu não preciso ouvir uma música clássica para me movimentar, ela nasce dentro de mim do nada. E quando isso acontece, tudo ganha sentido. Eu nasci pra isso. Pra mim, dançar é viver.

      Lara torna a morder o lábio inferior. Percebo que está refletindo sobre minha resposta.

      — Eu fiquei com essa impressão mesmo, que para você é instintivo — confessa.

      — Acho que é assim para todas nós, mulheres que calçam pontas.

      — Nem para todas.

      — Pra você não é? — a questiono.

      Como que atingida por um tapa e sem saber o que responder, Lara suspira, fechando os olhos. Deve ser seu jeito de mostrar que não está à vontade.

      Finalmente me lembro que Luna está do meu lado e viro a cabeça para ela.

      — Vamos? — a convido.

      A morena faz um gesto afirmativo.

      — Tchau, Lara — aceno com os dedos, me despedindo.

      A bailarina sorri. Logo uma outra leva de meninas e pessoas bem vestidas se aproxima dela para elogiá-la e inflar seu ego de estrela principal.

      Vendo-a se esforçando para ser simpática com desconhecidos e tirar sorrisos não sei de onde faz com que eu me pergunto como vou reagir quando um dia eu dançar esse papel, se vou ter tanta paciência assim ou se vou explodir.

      Às vezes penso que pessoas vaidosas só têm ouvidos para elogios. Acho isso tão errado. São as críticas que nos fazem melhorar e crescer como pessoas, e espero sempre me lembrar disso.

Continua...

Capítulo de 2,8k de palavras

     

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